sexta-feira, 17 de setembro de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (50)

Então, tá, moçada, chegamos a 50 programas! E justo no fim de semana em que completamos também um ano no ar - em 19 de setembro do ano passado, COMPANHIA MAGNÉTICA foi ao ar pela primeira vez na FM CULTURA. Neste sábado, 22h, na 'Rádio Pública dos Gaúchos' - 107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br -, tem dois especiais, um dos lançamentos mais bacanas do ano e várias presenças femininas de respeito. Enjoy!

1º bloco:

MOUNTAIN MAN – Soft Skin
Trio feminino americano de Vermont, formado pelas estudantes de artes Molly Erin Sarle, Alexandra Sauser-Monning e Amelia Randall Meath, formado no final dos anos 2000. Tem apenas um álbum, ‘Made The Harbor’, lançado em junho, em que as três dividem as composições, bastante influenciadas pela tradição folk americana, tanto em termos de melodia quanto de imagens. Algumas canções, inclusive, são interpretadas à capela.

VIVIAN GIRLS – Tension
Outro trio feminino americano, cultuado, este é do novaiorquino do Brooklyn, mas de proposta sonora bem diferente: fazem um pop lo-fi garageiro com referências que vão de Raincoats a Black Tambourine. Começaram a chamar atenção em 2008, com seus primeiros singles, lançados por pequenos selos independentes. O álbum de estreia, homônimo, veio no mesmo ano de 2008, e o seguindo e até agora último, ‘Everything Goes Wrong’, em setembro do ano passado. A formação do grupo teve uma alteração recente: a baterista Ali Koehler saiu para tocar com o Beach House e foi substituída por Fioan Campbell. As outras duas integrantes são as mesmas: Cassie Ramone (guitarra e vocais) e Kathy Goodman, também conhecida por Kickball Kathy, baixista e também vocalista. As duas têm projetos paralelos: a primeira toca num grupo chamado The Babies, já com dois singles na praça, com o baixista dos Woods, e a segunda tem um projeto-solo chamado La Sera, cujo disco sai em novembro, e outro, All Saintes Day, com um dos músicos da Cat Power.

HOPE SANDOVAL & THE WARM INVENTIONS – Wild Roses
Gatona de voz doce e melancólica, filha de americanos e mexicanos, cresceu em East Los Angeles, fez fama no mundo do rock alternativo com vocalista do Mazzy Star, um dos pioneiros do som slowcore dos anos 1990, tem 44 anos de idade, e muita história pra contar: pencas de colaborações com gente bacana – Chemical Brothers, Death In Vegas, Massive Attack, Air – e um namoro com William Reid, do Jesus And Mary Chain, banda com a qual também gravou. Formou o Hope Sandoval & The Warm Inventions ainda em 2000, já que o MS encontra-se em standby desde 1997, com o baterista Colm Ociosoig, ex-My Bloody Valentine, lançando no mesmo o E.P. ‘At The Doorway Again’, e no ano seguinte o álbum ‘Bavarian Fruit Bread’. O segundo disco só veio no ano passado, ‘Through The Devil Softly’.






2º bloco: MODEST MOUSE – ‘The Moon In Antarctica’ (2000)

Completando dez anos de lançamento um dos discos mais importantes de uma das melhores bandas americanas dos últimos quinze anos, o Modest Mouse de Isaac Brock, um dos vocalistas e compositores mais peculiares que há no mercado há tempos. ‘The Moon & Antarctica’ é o terceiro álbum de carreira do MM, lançado em junho de 2000, o primeiro por uma grande gravadora – a Epic Records –, e junto com o anterior, ‘Lonesome Crowded West’ (1997), o melhor de sua discografia. Se o anterior tinha a aspereza característica do início dos primeiros trabalhos do grupo, ‘The Moon ...’ já se caracteriza por uma placidez, climas acústicos, um certo suíngue herdado dos Talking Heads, além de instrumentos antes pouco comuns ao som dos caras – que ate´então eram basicamente uma guitar band –, como piano, cellos. Mas o estranhamento continua intacto.

‘The Moon & Antarctica’ já havia sido relançado em 2004, com quatro faixas-bônus – gravações da banda para a BBC –, e este ano ganhou versão em vinil duplo em abril, e nova edição em CD em agosto, mas sem novidades. À época de seu lançamento, o disco chegou a ser comparado a ‘Ok Computer’, o antológico álbum do Radiohead.

O Modest Mouse ainda era um trio naquela época, composto por Brock (guitarra e vocais), Jeremiah Green (bateria) e Eric Judy (baixo). Depois, sua formação foi inchando até chegar ao quinteto atual – acrescido por um terceiro guitarrista, Jim Fairchild, nas apresentações ao vivo. Johnny Marr, ex-Smith, participou do último álbum, ‘We Were Dead Before the Ship Even Sank’ (2007) e tocou com o grupo até o ano passado, quando decidiu juntar aos ingleses The Cribbs. Os outros integrantes são Joe Plummer, baterista, e Tom Peloso, guitarrista e baixista.

3rd Planet
Gravity Rides Everything
Dark Center of the Universe
Tiny Cities Made Of Ashes
Paper Thin Walls






















3º bloco: BIRTHDAY PARTY – ‘Junkyard’ (1982)

Mítica, seminal, sombria e barulhenta banda australiana de Melbourne, formada em 1976, responsável por apresentar ao mundo o carismático cantor e excelente compositor Nick Cave, que a partir de 1983 tornou-se, com o auxílio dos seus Bad Seeds, uma das personalidades mais marcantes do pós-punk. As histórias de culpa sem direito a redenção, violência, perversidade, religião, amor e morte de Cave fizeram dele um clássico moderno, e esse talento narrativo ele levaria depois para a literatura e até para o cinema.

Nicholas Edward Cave nasceu em 22 de setembro de 1957 – completa 53 anos na próxima quarta-feira, portanto – em Wangaratta, no estado de Victoria, na Austrália, e criou-se em um ambiente familiar propício para o desenvolvimento artístico: se pai, professor, era apaixonado por literatura, sua mãe, bibliotecária, e o avô, radialista e produtor de documentários. Cantou em coros de colégio, mas rebelou-se contra as autoridades dos colégios pelos quais passou, e mais tarde praticaria alguns atos de delinquência bem no momento em que seu pai morria de acidente de carro, o que causaria impacto profundo e duradouro em sua já atormentada existência. Estudou arte por pouco tempo, largando a universidade para dedicar-se à carreira musical. Sua primeira banda, The Boys Next Door, formada em 1973, tinha, além dos seus vocais, a guitarra de Mick Harvey – seu escudeiro até hoje –, e a bateria de Phill Calvert, ambos colegas de escola. O baixista Tracey Pew entraria em 1975, último ano escolar dos caras no colégio, e o guitarrista Rowland S. Howard, em 1978. Esta seria a formação clássica do Birthday Party, nome adotado pelos caras quando da mudança para Londres, para onde mudaram-se em 1980, e inspirado no título de uma peça do dramaturgo inglês Harold Pinter.

Cave sempre foi a figura mais marcante do grupo, mas foi com a entrada de Howard que o som do Birthday Party tomou forma definitiva: se antes os caras soavam como uma banda típica da new wave com referências do proto-punk dos Stooges e dos conterrâneos The Saints e Radio Birdman, com a adição de Howard o som do BP, além de tornar-se ainda mais agressivo e ruidoso, passou a incluir elementos do free jazz, do rockabilly e mergulhou ainda mais fundo na influência do blues – também uma referência decisiva para Nick Cave. E o múlti-instrumentista, arranjador e produtor Mick Harvey (Michael John Harvey, nascido em 29 de setembro de 1958), que depois acompanharia Nick Cave nos Bad Seeds, gravaria trilhas sonoras e participaria de outra banda, o Crime + The City Solution, contibuía com sua guitarra concisa para o som minimal do grupo – a dramaticidade e sofisticação dos Bad Seeds também devem muito a ele.

O Birthday Party lançou três álbuns – ‘The Birthday Party’ (1980, então creditado ainda a The Boys Next Door), ‘Prayers On Fire ‘ (1981) e ‘Junkyard’ (1982) –, e vários singles e E.P.s. O derradeiro disco, ‘Junkyard’, trouxe alterações significativas na formação do grupo: o baterista Calvert foi chutado pelos companheiros de banda por que os caras acharam que ele não era capaz de tocar satisfatoriamente o ritmo frenético de ‘Dead Joe’, sendo substituído nas gravações por Harvey. Tracy Pew, o baixista, foi preso por dirigir alcolizado, vindo a passar três meses na cadeia, sendo substituído pelo ex-Magazine Barry Adamson – outro que tocaria nos Bad Seeds de Nick Cave depois. Mas outros problemas já ameaçavam a continuidade dos trabalhos: as diferenças entre Howard e Cave tornavam-se cada vez mais evidentes, e o abuso de drogas tmabém já cobravam a conta. A banda, com mais mudanças na formação – o alemão Blixa Bargeld, líder do Einstürzende Neubauten e mais um a integrar os Bad Seeds na sequência, tocou guitarra na última turnê – resistiria pouco.

Em 1983, anunciou sua dissolução. Mas o estrago já tava feito: a influência do blues gótico e noisy do Birthday Party permaneceria como referência para inúmeras bandas de variados estilos: My Bloody Valentine, LCD Sound System, Dinosaur Jr., 16 Horsepower, Cocteau Twins, Gogol Bordello, Jesus And Mary Chain, Deerhunter ... todos assumem com orgulho a influencia de Cave, Howard, Harvey e companhia.

Blast Off
She’s Hit
Dead Joe
Kiss Me Black
Release the Bats

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (49)

O playlist do programa da semana passada, pra registro. Em instantes, o de amanhã - o 50º!

1º bloco:

OBERHOFER – I Could Go
É cria de um garoto chamado Brad Oberhofer, de apenas 19 anos, que nem álbum completo tem ainda: tem apenas alguns singles, que já viraram objeto de culto entre o povo indie, um E.P., recém-lançado, ‘o0Oo0Oo’, e vídeos feitos pelos próprios caras e postados no Youtube e no MySpace. Oberhofer é orinudo de Tacoma, Washington, e começou a gravar seu material na casa dos pais mesmo, antes de se mudar pro Brooklyn, em Nova Iorque, pra um apartamento que faz pouco tempo andou incendiando – mas pelo menos os caras conseguiram salvar o sofá e um arquivo com algumas gravações.

WILD NOTHING – Chinatown
Banda novíssima, formada no ano passado, por Jack Tatum, ex-Jack and the Whale e Facepaint, faz um pop indie inspirado na famosa ‘class of 86’ – as bandas inglesas de meados dos anos 1980 que faziam um som melodioso e despojado, inspirado nos Smiths, tipo The Loft, Pastels e Shop Assistants. O Wild Nothing, que chamou a atenção com uma versão de ‘Cloudbusting’, de Kate Bush, tem apenas dois singles e um álbum, ‘Gemini’, lançado este ano.

THE MICROPHONES – The Moon
Banda cult americana de Olympia, Washington, berço da mítica gravadora K Records, que lançou todos os seus discos, assim como das outras bandas do líder Phil Evrum, D+ e Old Time Relijun. Fazia um som lo-fi muito bacana, por vezes barulhento, por vezes delicado, falando de amores perdidos ou sobre as memórias da infância. Evrum, que começou a tocar nos anos 1990 em uma banda chamada Anacortes, anunciou o fim dos Microphones em 2004 pra iniciar outro projeto chamado Mount Eerie, mas dois anos depois lançou um disco usando novamente o nome da antiga banda, de modo que desde mais ou menos 2007 não se sabe se os Microphones ainda vivem ou não. De qualquer maneira, o álbum de 2001, ‘The Glow Pt. 2’, segue sendo um dos mais festejados do som alternativo da década.



2º bloco:

MELVINS – Evil New War God
Patrimônio da barulheira, uma das principaisbandas do rock americano dos últimos 25 anos, passaram à história não apenas pelo brutal mix de Black Sabbath, punk rock e experimentalismos, mas por serem uma das principais inspirações do grunge, em especial do Nirvana – Kurt Cobain não apenas era fã de carteirinha, como acabou virando produtor do grupo. Estão na estrada há 25 anos, são da mesma Aberdeen, no estado de Washington, onde nasceram Cobain e seu parceiro Krist Novoselic. Apesar da força de Kurt e do estouro do Nirvana ter aberto as portas para um sem-número de bandas, os Melvins não duraram muito no universo das grandes gravadoras: após excelentes serviços prestados à causa indie, assinaram com a Atlantic no começo dos 90’s, mas foram dispensados após três discos – um deles, justamente ‘Houdini’ (1993), produzido por Kurt. Voltaram ao gueto independente, e desde então gravam pela Ipecac Records, selo de propriedade do maluco Mike Patton, vocalista do Faith No More. A última porrada é o recém-lançado ‘The Bride Screamed Murder’. Na atual formação, além dos sócios-fundadores Dale Crover (bateria) e Buzz Osbourne (guitarra e vocal), há ainda Jared Williams (baixo e vocais) e um segundo baterista, Coady Williams.

TAD – Jinx
Uma das bandas que mais claramente foi influenciadas pelos Melvins – e também pela Gang Of Four, pelo Killing Joke e pelo Birthday Party. A mais escrotona das bandas do grunge de Seattle, durou exatos dez anos – de 1988 a 1998 –, começou gravando pela Sub Pop, passou por outras gravadoras – entre eles, a Elektra –, deixou apenas 5 álbuns, até seu vocsliasta, Tad Doyle, decidir formar outro grupo, o Hog Molly, que lançou apenas um disco e também desapareceu. Mais tarde, Tad teria outras duas bandas, Hoof e Brothers of Sonic Cloth, seu projeto atual. O rotundo Tad, além de grasnar suas brutais composições, na companhia de Gary Thorstensen (guitarra), Kurt Danielson (baixo) e Steve Weid (bateria, depois substituído por Josh Sinder), tinha como profissão a atividade de açougueiro. ‘8-Way Santa’, o segundo álbum, de 1991 – produzido pelo mesmo Butch Vig que pilotou as picapes de ‘Nevermind’, do Nirvana, no mesmo ano, é o melhor disco do Tad.

WAYNE COUNTY & THE ELECTRIC CHAIRS – Storm The Gates of Heaven
Figuraça da cena novaiorquina dos anos 1970, Wayne Rogers, nascido em 13 de julho de 1947 (tem 63 anos de idade, portanto) em Dallas, na Georgia, entrou para os anais da história por ser, se não o primeiro, o mais famoso transexual do meio. Atuou em vários filmes dirigidos por Andy Warhol e assumiu seu nome de guerra em um espetáculo chamado ‘Femme Fatale’. Em 1972, fazia performances vestido de drag no lendário Max’s Kansas City e já cantava com o aopio de uma banda curiosamente chamada The Back Street Boys, mas como não arrumava gravadora, mudou-se para Londres, onde registrou seu primeiro álbum, ‘The Electric Chairs’, em 1977, ano do estouro punk na ilha. Ainda mudaria-se pra Berlin – onde transformou-se de Wayne em Jane – até voltar pra América em 1980. Um de seus registros clássicos é ‘Storm the Gates of Heaven’, de 1978.










3º bloco: AMERICAN MUSIC CLUB – ‘Everclear’ (1991)

Cultuada e prolífica banda californiana de San Francisco, durou 12 anos, deixou 9 álbuns, revelou um excelente compositor, mas sua trajetória, ainda que amplamente respaldada pela imprensa especializada – em 1991, o vocalista Mark Eitzel foi eleito “compositor do ano” pela Rolling Stone –, não foi muito diferente da maioria das bandas indie das três últimas décadas: sua passagem pelo mainstream foi discreta, e num dado momento os caras decidiram se separar. Mas assim como a maioria das bandas cult, beneficiaram-se com a aura criada em torno de si, e acabaram decidindo voltar dez anos depois.

Tudo começou em 1983, quando o itinerante John Mark Eitzel, depois de perambular por Okinawa, Taiwan, Reino Unido e Ohio, volta para sua San Francisco natal. Antes de unir-se ao guitarrista Scott Alexander, ao baterista Greg Bonnell e ao baixista Brad Johnson e fundarem o American Music Club, Eitzel lançara dois singles com outras duas bandas, The Cowboys e The Naked Skinnies. O AMC teria algumas mudanças de formação, mas seu núcleo básico se consolidaria com Eitzel, Danny Pearson (baixo), Matt Morelli (bateria), Brad Johnson (transefiro para os teclados) e o guitarrista Vudi. Os dois primeiros álbuns, ‘The Restless Stranger’ (1985) e ‘Engine’ (1987) chamaram a atenção para o ecletismo sonoro e as composições de Eitezl, mas foi só no terceiro, ‘California’ (1988), que o grupo firmou-se como uma das forças do underground americano, a essas alturas apoiado também nas caóticas apresentações do grupo: apesar da aparente calmaria das canções – o AMC é um dos inventores do chamado slowcore –, Eitzel, alcóolatra desde os 14 anos, frequentemente desafiava seus demônios em pleno palco, com resultados absolutamente imprevisíveis.

O álbum seguinte, ‘United Kingdom’, curiosamente seria lançado apenas no Reino Unido, como o título já sugere, embora tenha sido todo gravado em um hotel de San Francisco. E o quinto pôs definitivamente os nomes dos caras em destaque: ‘Everclear’ foi eleito álbum do ano pela Rolling Stone e Eitzel o melhor compositor. Mas em termos de resultado prático, nada mudou muito. É eitzel quem recorda: “Eu lembro que estávamos na Alemanha quando soubemos da eleição da Rolling Stone, e aquilo me fez realmente bem. Mas no próximo show haviam apenas 20 pessoas na platéia, e eram caras do exército, que acharam que pelo nome – ‘Clube Americano de Música – fôssemos uma espécie de ‘American Freedom-Fighters’”. O fato é que o grande público não se sensibilizou com canções como ‘Rise’, uma candidata a hit que teve alguma rotação no 120 Minutes (o ‘Lado B’ da MTV americana) nem com canções como ‘Sick of Food’, uma das mais pungentes músicas sobre o drama da AIDS, e o álbum não teve maior repercussão. Lançariam apenas mais um disco, ‘San Francisco’, em 1994, e então desistiram.

Voltaram em 2004 com ‘Love Songs For Patriots’, sucedido por ‘The Golden Age’, lançado há dois anos. Quem sabe, agora vai.


Why Wont’t You Stay
Rise
Crabwalk
The Confidential Agent
Sick Of Food

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (48)

Conforme o prometido, o programa deste sábado, dia 4, às 22h na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br) é um especial com os Pogues de Shane McGowan, com material dos dois principais discos da banda.


1º bloco: ‘Rum, Sodomy and Lash’ (1985)

Uma das raras unanimidades no pós-punk europeu, um grupo que não apenas tinha conceito entre os punks – afinal, começou inspirado no Clash –, como entre o pessoal de gerações anteriores: Tom Waits é seu fã, Bob Dylan convidou-os para abrir uma turnê sua. Unindo o punk à música tradicional irlandesa, os Pogues legaram também ao rock uma dos frontmen mais carismáticos, talentosos e atormentados dos últimos 30 anos.

Shane Patrick Lysaght MacGowan nasceu em 25 de dezembro de 1957 em Pembury, Kent, Inglaterra, de pais irlandeses, e cresceu justamente imerso na cultura do país vizinho – sua mãe, por exemplo, era cantora e dançarina da tradicional música irlandesa. Aos 14 anos, Shane ganhou uma bolsa de estudos na renomada Westminster School, mas acabaria sendo esxpulso no segundo ano por posse de drogas – e o convívio com os abusos químicos seria um problema que o acompanharia para sempre: Shane conta que começou a beber aos 4 anos de idade, com uma tia, e mais tarde, cultivaria o vício em heroína também. O que não o impediria de desenvolver sua carreira musical. Inspirado no Clash, participou de uma banda punk chamada Nipple Erectors, que mudaria seu nome para Nips depois. Com o fim desse grupo, formou os Pogues em 1982, com um cara que viu tocando flauta celta numa estação de metrô, Spider Stacy. Inicialmente, deram à banda o nome de Pogue Mahone – que no dialeto gaélico irlandês significa “kiss my ass” (“beije meu rabo”) –, logo mudado simplesmente para The Pogues, pra evitar boicote de emissoras de rádio e TV. Além de Shane e Spider, a primeira formação dos Pogues tinha o antigo guitarrista dos Nips, Jim Fearnley, o baterista Andrew Ranken, a baixista Cait O'Riordan, e Jem Finer, que tocava guitarra e banjo.

Os primeiros shows dos Pogues foram nas ruas e em tradicionais pubs irlandeses de Londres, e os caras tocavam basicamente canções tradicionais da Irlanda, mas logo as composições de Shane foram ganhando espaço. Assim como a música, a selvageria das apresentações ia ganhando fama – não era raro Shane subir ao palco totalmente embriagado. O primeiro single do grupo, independente, viria no começo de 1984, ‘Dark Streets of London’, e em seguida os Pogues já estariam abrindo uma turnê do Clash. Também não tardaria a aparecerem gravadoras interessadas, e a banda assinaria com a Stiff Records, histórica gravadora que lançou o primeiro single (‘New Rose’) e o primeiro álbum (‘Damned, Damned, Damned’) do punk britânico, ambos do Damned, e tinha no catálogo também Ian Dury e Elvis Costello. ‘Red Roses For Me’, o primeiro álbum, veio no mesmo ano de 1984, e continha canções clássicas do grupo, como o citado single de estreia e ‘Streams of Whisky’, mas os discos que fariam dos Pogues uma das bandas mais importantes do rock nos anos 1980 seriam os dois seguintes.

The Sickbed of Cuchulainn
The Old Man Drag
A Pair Of Brown Eyes
Sally MacLennane
Dirty Old Town
The Band Played Waltzing Matilda



2º bloco: ‘If I Should Fall From Grace With God’ (1988)

Transformado em septeto, com a entrada de mais um guitarrista, Phil Chevron, os Pogues lançariam em 1985 o disco que os estabeleceria como um dos grandes grupos de sua época. Produzido por Elvis Costello – que declarou que logo percebeu que sua tarefa era “capturá-los em toda sua glória decadente, antes que um produtor profissional os ferrasse” – e tirando seu título de uma frase falsamente atribuída a Winston Churchill sobre as verdadeiras tradições da Real Marinha Britânica – “Não me fale sobre tradição naval. Não é nada mais do que rum, sodomia e chicote” –, ‘Rum, Sodomy and Lash’ trazia um Shane MacGowan ainda mais inspirado como compositor, e uma banda afiadíssima. Há algumas versões para temas tradicionais, como no primeiro disco, mas aqui as canções próprias, como ‘The Sick Bed Of Cúchullaín’, ‘The Old Man Drag’ e ‘A Pair Of Brown Eyes’ tomam à frente. O disco fez sucesso dos dois lados do Atlântico, sendo adotado pelas college radios americanas. A capa também é um clássico: traz a obra ‘A Balsa da Medusa’, do francês Théodore Géricault, em que mostra alguns dos sobreviventes da fragata Medusa, que colidiu com um banco de areia navegando na costa oeste africana em 1816. Os rostos dos pobres tripulantes, que se amontoaram na referida balsa improvisada, sendo levados inexoravelmente à fome, ao canibalismo e ao desespero, foram trocados pelos integrantes dos Pogues.

Mas o grupo não soube aproveitar o momento de sucesso – se bem que também foram atrapalhados por algumas circunstâncias alheias à sua vontade: recusaram-se a gravar um novo álbum – o terceiro só sairia três anos depois –, sofreram um desfalque sério – a baixista O’Riordan casou com Elvis Costello e pulou fora –, a Stiff faliu. E os hábitos autodestrutivos de Shane começavam a atrapalhar o trabalho: se antes ele subia ao palco bêbado, agora simplesmente não aparecia mais, o que levou os caras a terem de cancelar várias datas. Mas a fama crescia: Shane e Cait atuaram em ‘Straight to Hell’, do diretor inglês Alex Cox e várias canções do grupo foram incluídas na trilha sonora do filme, em 1987. No ano seguinte, eis que surge o aguardado sucessor de ‘Rum, Sodomy and Lash’: produzido por Steve Lillywhite, ‘If I Should Fall From Grace With God’ traria a mais conhecida música dos Pogues, também considerada por alguns a melhor canção de Natal de todos os tempos, ‘Fairytale of New York’, um dueto de Shane com Kirsty MacColl, além de outros clássicos, como a faixa-título, ‘Turkish Song of The Damned’ e ‘Thousands Are Sailing’. O álbum, que diversificava as referências sonoras da banda – as influências agora vinham também da música espanhola, do jazz, e do leste europeu –, chegou ao número 3 da parada britânica e fez belíssima figura nos charts americanos, assim como o seguinte, ‘Peace and Love’, mas nada disso foi suficiente para segurar Shane, que bebia cada vez mais. Resultado: acabou sendo demitido do grupo que fundou em 1991.

Os Pogues ainda tentaram se virar sem seu marcante homem de frente por alguns álbuns – ‘Hell’s Ditch’ (1990), ‘Waiting For Herb’ (1993), ‘Pogue Mahone’ (1996) –, com Spider e Jem dividindo-se nos vocais, enquanto que nas turnês era o ex-líder do Clash, Joe Strummer, quem fazia o papel de Shane. Mas logo ficou claro que sem ele não tinha mais graça, e a banda anunciou sua dissolução em 1996. Voltariam em 2001 para uma tour pelo Reino Unido e desde então reunem-se esporadicamente, sem pretensões de gravar material inédito, segundo Spider. Pelo menos por enquanto.

If I Should Fall From Grace With God
Turkish Song of The Damned
Bottle of Smoke
Fairytale of New York
Thousands Are Sailing
Lullaby of London


PS - 'Rum, Sodomy and Lash', mais o álbum de estreia, 'Red Roses For Me', os derradeiros disco com Shane, 'Peace and Love' e 'Hell's Ditch', estão finalmente sendo lançados no mercado nacional, pela série "Best Sellers" (?) da Warner, a um precinho bem camarada, menos de 20,00 cada. Mais: além dos Pogues, a tal série traz os gloriosos discos iniciais de Tom Waits, clássicos de Joni Mitchel, o excelente 'Bummed', dos Happy Mondays (em edição especial), a antológica estreia de Crosby, Stills and Nash, o primeiro registro solo de David Crosby, além de bons álbuns de Ramones, Lou Reed, Alice Cooper, Dinosaur Jr., Aretha Franklin. Assim, a vida fica mais legal.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (47)

Tá aí o playlist do programa do último fim-de-semana. O próximo é um Especial inteirinho dedicado aos Pogues de Shane McGowan. Enjoy!


1º bloco:

ARIEL PINK’S HAUNTED GRAFFITI – Round And Round

Curioso grupo californiano de Los Angeles, na estrada desde 1996, obra do múlti-instrumentista, cantor e compositor Ariel Pink, um sujeito que recebe influências tanto da vanguarda do rock dos anos 1970 – Bowie, Roxy Music, Frank Zappa – quanto do pop radiofônico mais trivial, além do som da new wave dos anos 1980. Os primeiros dois discos do Haunted Graffiti, ‘Theb Doldrums’ (1999) e ‘Vital Pink’ (2000) foram gravados em esquema caseiro e não foram parar nas lojas: eram cópias caseiras, que Ariel Pink tirava do seu computador e fazia circular por aí. Só em 2004 é que o cara foi assinar um contrato com uma gravadora – no caso, a Paw Tracks, do pessoal do Animal Collective; o Haunted Graffiti, aliás, acabou sendo sendo a primeira banda fora do grupo do Animal Collective assinar com o selo. O mais recente álbum, ‘Before Today’, lançado em junho, já encontra o Ariel Pink’s Haunted Graffiti em novo lar, o lendário selo britânico 4AD, e é um dos mais elogiados discos do ano até aqui.

TAME IMPALA – Solitude Is Bliss
Grupo australiano muito bacana, formado em Perth em 1999, quando seus dois homens de frente, o vocalista e guitarrista Kevin Parker e o baixista Dominic Simper tinham apenas 13 anos. Foi só em 2007, com a entrada do baterista Jay Watson, que os caras resolveram tirar a cara pra fora da toca. O grupo é mais um que soube usar as modernas ferramentas da comunicação: chegou a ser disputado por várias gravadoras após postar músicas no seu endereço no MySpace, e quem acabou mordendo a isca foi a Modular Records, que mandou um e-mail pros caras depois de conhecer o som, e recebeu de volta uma demo com 20 canções. Em 2008, veio um E.P. homônimo e neste ano o álbum de estreia, ‘Innerspeaker’. O som dos caras busca suas principais referências na psicodelia do final dos anos 1960 – Hendrix, o Pink Floyd de Syd Barrett.

TITUS ANDRONICUS – A More Percfect Union
Grupo americano de Glen Rock, New Jersey, fundado em 2005, tirou seu nome de um lendário navio da marinha americana, e com dois álbuns no currículo: ‘The Airing of Grieviances’, de 2008, que faz referência a um episódio de Seinfeld, e ‘The Monitor’, deste ano. As influências vão de baluartes do indie rock como Pixies e Bright Eyes, a cantores e compositores clássicos do rock americano como Bruce Springteen. O novo disco tem uma penca de convidados, como o pessoal de bandas bacanas como as Vivian Girls, o Ponytail, os Felice Brothers e o Hold Steady, entre outros, e requintes como o uso de trombones, cellos, violinos e gaitas de fole, contrastando com seu som simples e enérgico, de verniz punk. ‘The Monitor’ é outro álbum entre os mais elogiados de 2010.


2º bloco:

J MASCIS + THE FOG – Where’d You Go

Mítica figura do rock americano das últimas três décadas, o hoje grisalho frontman do Dinosaur Jr., prestes a completar 45 anos de idade, natural de Amherst, Massachussets, um dos caras que revitalizou o uso da guitarra na cena indie, curiosamente começou tocando bateria, num grupo hardcore formado na adolescência com seu futuro parceiro de Dinosaur, Lou Barlow. Após desativar o grupo em 1997, formou nova banda, passando a se apresentar como J Mascis + The Fog, que deixou apenas dois álbuns, ‘More Light’ (2000) e ‘Free So Free’ (2002), antes de J fazer as pazes com Lou Barlow e reativar o Dinosaur. – antes, já havia gravado um disco solo acústico, chamado ‘Martin + Me’, em 1996. A personalidade do cara é tão marcante que qualquer um de seus projetos, além da qualidade, traz sua marca evidente, tanto nas composições, com sua dinâmica particular, equilibrando melodia e barulho, quanto nos vocais largadões e no modo de tocar guitarra, entre o groove, a melodia e o esporro. ‘More Light’, do The Fog, tem co-produção do não menos mítico Kevin Shields, do My Bloody Valentine.

BELLRAYS – That’s Not The Way It Should Be
Grande banda californiana de Riverside, na estrada há aproximadamente 20 anos, é o projeto de um casal: Bob Venuum, originalmente guitarrista, depois tornado baixista, e sua mulher, a vocalista Lisa Kekoula, dona de um vozeirão que lembra algumas das maiores divas da soul music. O som dos BellRays, profundamente enraizado no final dos anos 1960 – quando o rock ficava cada vez mais barulhento e a black music americana, mais envenenada –, geralmente é descrito como um mix do som protopunk de Detroit (Stooges, MC5) com e a voz das grandes soul ladies (tipo Aretha Franklin e Tina Turner). Dos vários álbuns lançados pelo grupo desde o ao vivo ‘Let It Blast’ (1999, o pontapé inicial, ao vivo), apenas o regular ‘Have a Little Faith’, de 2006, saiu no Brasil. O mais recente é ‘Hard, Sweet and Sticky’, de 2008, que equilibra bem a fúria dos primeiros discos, com o clima de r’n’b vintage e toques jazzísticos das gravações mais recentes.

HELLACOPTERS – Hopeless Case of a Kid In Denial
Quinteto sueco formado em 1994 que até já se apresentou em Porto Alegre, abrindo para Sepultura e Deep Purple, uns 7 anos atrás, também retira suas referências básicas do som protopunk – não apenas a música de Detroit dos Stooges e MC5, mas também os autralianos do Radio Birdman, além do hard rock do Cheap Trick. Por sinal, antes de penetrar no mercado americano via o mítico selo de Seattle Sub Pop Records, os caras primeiro tornaram-se cult na Austrália e em certos cantos da Europa. Têm vários álbuns lançados, e um dos mais bacanas é ‘High Visibility’, de 2002, o primeiro lançado no Brasil.


3º bloco: THE LIGHTNING SEEDS – ‘Cloudcuckooland’ (1989)/‘Sense’ (1992)/ ‘Jolification’ (1994)

Esta se encaixa direitinho naquele conceito de “banda de um homem só”: por muito tempo foi apenas um projeto do múlti-instrumentista e produtor inglês Ian Broudie, que sequer tinha vida fora dos estúdios de gravação. Só foi fazer sua primeira turnê em 1994, cinco anos após a fundação do “grupo”, pra divulgar o lançamento do terceiro álbum – mas o Lightning Seeds, a essa altura, já havia se estabelecido como um dos principais grupos do então emergente britpop, com sua melodias ensolaradas e referências que vão da psicodelia ao synthpop.

Brodie nasceu em Liverpool em 4 de agosto de 1958, e sua primeira banda mais ou menos conhecida foi o Big In Japan, lendário grupo punk da cidade que surgiu no final dos anos 1970 na mesma cena da qual emergiriam também os lisérgicos Echo & The Bunnymen e The Teardrop Explodes. Após o fim desse grupo em 1979, passou por outras bandas, como The Original Mirrors e Care, enquanto fazia fama como produtor: ele pilotou as pickups nos dois primeiros álbuns do Echo & The Bunnymen, ‘Crocodiles’ (1980) e ‘Heaven Up Here’ (1981), além de discos do The Fall e do Wah!. Foi em 1989, já com o primeiro single, ‘Pure’, que Brodie estabeleceu-se com o novo grupo, batizado de Lightning Seeds, que, assim como no curto período em que teve este projeto Care, era aklgo totalmente idealizado por ele mesmo, apenas contando com músicos de apoio, contratados. Mas nem o sucesso estrondoso da canção nas paradas, nem a boa repercussão do álbum de estreia, ‘Cloudcuckooland’, também de 1989, fez com que abandonasse sua atividade de produtor: bandas como The Primitives e Sleeper, além da cantora Alison Moyet devem boa parte de seu sucesso ao trabalho competente de Brodie na mesa de som.

No álbum seguinte, ‘Sense’ (1992), Brodie já contava com o auxílio do programador Simon Rogers, ex-The Fall, mas foi só em ‘Jolification’ (1994), que o cara decidiu montar sua primeira banda de verdade, para excursionar. Datam daí seus primeiros shows em dez anos, desde a época dos Original Mirrors. Em 1996 viria ‘Dizzy Heights’, em 1999, ‘Tilt’, e só no ano passado, quebrando um hiato de dez anos sem lançar nada, portanto, viria um novo álbum, ‘Four Winds’, já com a banda totalmente reformulada por Brodie.

All I Want
Pure
Sense
The Life of Reiley
Perfect

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (46)

Só pra registro, o playlist do penúltimo programa, Especial com os MEAT PUPPETS. See Ya.


1º bloco:

Comemorando trinta anos de carreira em 2010, uma das mais míticas e longevas bandas americanas da cena indie dos anos 1980, um dos principais grupos do catálogo da não menos mítica gravadora californiana SST Records, e responsável pelo surgimento de um subgênero do pós-punk americano, o ‘cowpunk’, os Meat Puppets cumprem uma trajetória das mais peculiares e acidentadas do rock americano das últimas décadas: começaram tocando um hardcore mais ou menos corriqueiro, adicionando elementos da música de raíz americana, criaram um som único, ganharam as college radios americanas, conquistaram público fiel, esse público fiel torceu o nariz para eles quando o som passou a aproximar-se do mainstream, ganharam a sorte grande quando um certo Kurt Cobain convidou-os pra participar do Acústico MTV de sua banda, ganharam então as paradas do seu país, não seguraram a onda, um dos integrantes quase morreu por problemas com drogas, a própria banda morreu, mas ressuscitou tempos depois. Morreu de novo e viveu mais uma vez.

As origens do grupo remontam à adolescência dos irmãos Kirkwood, Curt (guitarrista) e Cris (baixista) em Phoenix, no Ariziona, onde começaram tocando em bandas de hard rock. O baterista Derrick Bostrom, que tinha uma invejável coleção de discos de punk rock no final dos anos 1970, tocava em uma banda chamada Atomic Bomb, que incluía Chris e gravou algumas demos. Os trÊs acabaram se juntando logo depois de formarem-se no high school. O primeiro nome escolhido foi The Bastians of Immaturity, logo trocado pra Meat Puppets, inspirado em um cartum. Tocavam um hardcore furioso, tocado o mais alto e sujo possível, que logo chamou a atenção de um olheiro da SST Records, gravadora de propriedade do guitarrista do Black Flag, Greg Ginn, que os contratou. Os primeiros discos, o E.P. ‘In a Car’ (1981), e o álbum de estreia, ‘Meat Puppets’ (1982), têm a marca do hardcore. A guinada viria no seguinte, ‘Meat Puppets II’ (1984), o indiscutível clássico do grupo.

In a Car (‘In a Car’ E.P., 1981)
Blue-Green God (‘The Meat Puppets’, 1982)
Split Myself In Two (‘The Meat Puppets II’, 1984)
Plateau (‘The Meat Puppets II’, 1984)
Lake Of Fire (‘The Meat Puppets II’, 1984)



2º bloco:

‘Meat Puppets II’, gravado em 1983, teve postergado seu lançamento pela SST em um ano, mas quando saiu logo causou sensação. À época, a banda já declarava estar cansada do hardcore, e tratou, então, de partir para novos rumos. Canções como as três que o Nirvana tocaria em seu Acústico da MTV com participação dos irmãos Kirkwood, dez anos depois – ‘Plateau’, ‘Lake of Fire’ e ‘Oh, Me’ –, além dos experimentos com o country & western, o folk, o blues rock e a psicodelia sessentista, garantiram a excelente repercussão do álbum, clássico absoluto da última grande geração do rock americano – aquela que se firmou no universo indie primeiro pra depois arrombar as portas do mainstream (R.E.M., Hüsker Dü, Sonic Youth, Replacements, um pouco depois o Dinosaur Jr.). No disco seguinte, a primeira controvérsia: ‘Up On The Sun’ deixava pra trás a pegada punk, aproximando-se do folk rock dos Byrds e do Buffalo Springfield, o que levou alguns fãs a acusarem os Puppets soarem perigosamente “parecidos com os hippies, traindo suas origens punk”. Mas esse terceiro disco do trio, com o passar do tempo, acabaria firmando como um dos melhores de sua carreira.

À época do E.P. ‘Out My Way’, porém, vem o primeiro percalço: em um acidente com a van da banda, Curt quebra um dedo, e o quarto disco, ‘Mirage’, de claras tinturas psicodélicas, só que mais acessível que os anteriores, é adiado pro ano seguinte. Em 1987, também sai ‘Huevos’, puxando mais pro hard rock e com influência evidente do blues rock do ZZ Top. Esse último é outro grande disco, trazendo uma banda afiada e gravado quase que de uma tacada só – a maioria das músicas foi registrada em um só take –, em poucos dias de gravação.

Enchanted Porkfist (‘Up On The Sun’, 1985)
Out My Way (‘Out My Way’ E.P., 1986)
Confusion Fog (‘Mirage’, 1987)
Get On Down (‘Mirage’, 1987)



3º bloco:

‘Monsters’, de 1989, com seus temas extendidos em jams e uma perigosa proximidade ao heavy metal, definitivamente desagradou aos fãs mais antigos, e também às normalmente militantes college radios: praticamente foi ignorado pelas emissoras universitárias americanas, basicamente o público cativo dos Meat Puppets. Seria o último álbum da banda pela SST: o trio foi contratado logo em seguida pela London Records, que lançaria os três discos do grupo nos anos 1990, ‘Forbidden Places’, de 1991, ‘Too High to Die’, de 1994, e ‘No Joke!’, de 1995. ‘Too High ...’, turbinado pela participação dos irmãos Kirkwood no Acústico do Nirvana, acabaria tornando-se o único álbum do grupo a figurar nas paradas, por conta do single ‘Backwater’, rendendo um disco de platina pelas mais de 500.000 cópias vendidas. ‘No Joke!’, talvez o disco mais fraco de todo o catálogo dos Meat Puppets, seria o último da formação original.

O envolvimento de Cris com vários tipos de drogas pesadas levaria o grupo a se separar em 1996, só voltando à ativa em 2002, e mesmo assim, à meia-boca: o baixista foi preso pelo entrevero com um segurança, que atirou em seu estômago, foi condenado e cumpriu pena, sendo solto em julho de 2005, mesma época em que o grupo resolveria pendurar as chuteiras mais uma vez. Mas seu calvário tava só começando: Cris ainda teria de encarar as mortes por overdose de sua mulher e outros amigos junkies, sumiu de vista, peramblulou como um zumbi por aí. Finalmente recuperado, voltou a seu antigo posto na nova volta dos Puppets, já sem Derrick, um ano depois, e desde então o reativado grupo lançou os álbuns ‘Rise to Your Knees’ em 2007 e ‘Sewn Together’ no ano passado. Em 2008, tocou inteirinho o repertório do clássico segundo álbum em um festival em Nova Iorque, repetindo a dose depois em Londres.

Look at The Rain (‘Huevos’, 1987)
Automatic Mojo (‘Huevos’, 1987)
Attacked By the Monsters (‘Monsters’, 1989)
Strings On Tour Heart (‘Monsters’, 1989)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

My Life in Lists – discos (2000’s)

RADIOHEAD – In Rainbows (2007)‘Ok Computer’ pode ser o álbum de ruptura, o que entrou pra história – em minha canção favorita deles, ‘Subterranean Homesick Alien’ –, mas o que mais me pegou foi este aqui, em que as vanguardices, o desamparo, o estranhamento, as referências ao krautrock, ao pós-rock e até ao progressivo encaixam-se perfeição, em uma sonoridade enxuta e moderna. É isso: o Radiohead soa contemporâneo/conectado/original sem fazer força. Grandes músicas a escolher: ‘Body Snatchers’, ‘All I Need’ (linda), ‘House Of Cards’, ‘Jigsaw Falling Into Place’. Grande cara esse Thom Yorke, rumando firme para o Olimpo do rock de todos os tempos.

BJÖRK – Vespertine (2001)
Confesso que entre os álbuns de Björk, tenho uma leve predileção por ‘Homogenic’ em relação a este aqui – acontece que aquele não entra na minha lista dos 90 (por pouquinho, é verdade), e este passa por cima da concorrência. Mas ‘Hidden Place’, ‘Coccon’ e ‘Pagan Poetry’ são tão emocionantes quanto ‘Jóga’, e ainda tem ‘An Echo, A Stain’, ‘Aurora’ ... O disco tem a colaboração do duo californiano Matmos, que faz electronica experimental – gravaram um disco recheado de sons colhidos em cirurgias, o curioso ‘A Chance to Cut Is a Chance to Cure’. Mas o que se sobressai é a interpretação da islandesa, plácida como nunca. Mais um discão da ex-cantora dos Sugarcubes (alguém ainda se lembra deles?).

OUTKAST – Stankonia (2000)

Pra mim, o melhor disco de hip-hop dos anos 2000, melhor até do que o excelente disco duplo dos caras que veio na sequência, ‘Spearboxx/The Love Below’ (2003), em que resolveram trabalhar separados. Aqui, o clima é de entrosamento total entre Andre 3000 e Big Boi, e faixas entorpecidas como ‘Gasoline Dreams’, ‘B.O.B.’, ‘So Fresh, So Clean’ são irresistíveis. E tem ainda uma das grandes canções desta década, ‘Ms. Jackson’. Pensei que já não se fizessem discos de rap como este – na verdade, não fizeram mais depois. Nem eles mesmos.

QUEENS OF THE STONE AGE – Rated ‘R’ (2000)
Sério candidato a melhor disco de rock da década. Só ‘Elephant’, dos White Stripes, é capaz de rivalizar com esta paulada classuda. Josh Homme é mestre da guitarra rítmica, desfilando riffs cortantes em canções com refrões marcantes num som potente que desce redondinho como o melhor whisky – ou cerveja, segundo a propagarnda aquela. É aqui que está a canção mais conhecida da banda, o hino hedonista/inconsequente/pé na jaca ‘Feel Good Hit of The Summer’ (‘Nicotine, Valium, Vicodin, Marijuana, Ecstasy and Alcohol’). Recém-relançado numa edição dupla de luxo, que deixou a capa mais bonita (era azul, agora é vermelha), e traz um show inteirinho da época, a apresentação dos caras em Reading, em que não faltam a citada ‘Feel Good ...’, ‘Better Living Through Chemistry’, ‘Monsters in The Parasol’, ‘The Lost Art of Keeping a Secret’. Um discão de rock em que nada falta.

THE WALKMEN – Everyone Whe Pretended to Like Me is Gone (2002)
Vou confessar que a última vez que ouvi este disco já faz alguns anos, mas não é migué: o mix Tom Waits/U2/Nick Cave, além de classudo, é arrebatador. Estes novaiorquinos já haviam formado uma banda bacana antes, o Jonathan Fire-Eater, de curta duração, mas o Walkmen é melhor que o JF-E. Têm disco novo prometido pro mês que vem, ‘Lisbon’ – o mais recente, ‘You & Me’, é de 2007. Curiosidade: construíram o próprio e caprichado estúdio de gravação, no qual até a Nação Zumbi já gravou.

TV ON THE RADIO – Desperate Youth, Blood Thursty Babies (2003)
A banda mais cool da década, em seu registro de estreia – excluindo-se, claro, o E.P. de estreia, ‘Young Liars’ –, ainda soando mais como The Fall e P.I.L. do que Prince, P-Funk e Tälking Heads. Ainda assim, o apelo afropop surge firme aqui e ali, assim como as referências gospel. Tunde Adebimpe é um dos grandes revelações de cantores dos 2000, David Sitek é um mago da produção e ‘Staring at The Sun’ e ‘Dreams’ estão entre as melhores canções da década. Mas ainda tem ‘The Wromg Way’, ‘Ambulance’ ...

LCD SOUND SYSTEM – LCD Sound System (2005)
Rock moderno é isso aqui: electro, house, krautrock, disco, todas as referências certas para quem realmente compreende o que acontece na seara pop/rock. James Murphy é o cara, que ainda por cima, tem um selo quer lança pencas de coisas bacanas, da atualidade e do passado, principalmente daquele fundamental período entre o final dos anos 1970 e o começo dos 1980 – justamente o que mais influenciou seu grupo. Após um terceiro disco já demonstrando sinais de cansaço, diz que vai aposentar o grupo. Sujeito sábio, como se vê.

ANIMAL COLLECTIVE – Meriweather Post Pavillion (2009)
O melhor disco do ano passado, e um dos melhores da década, síntese do caldeirão múlti-referencial que caracteriza a primeira década do século XXI, em especial a música eletrônica: soa um pouco como electropop dos anos 1980, lembra certas vanguardices de Laurie Anderson, não soa deslocado ao lado dos baluartes da electronica dos 90’. Noah Lennox, um dos cabeças, é responsável por um outro projeto extra bacana, o Panda Bear. ‘My Girls’, ‘Lion in the Coma’, ‘Taste’, a maioria das faixas de ‘Merriweather ...’ vicia de cara. Deixou a (forte) concorrência comendo poeira no ano passado.

WHITE STRIPES – Elephant (2003)
De tanto ouvir até encheu, razão pela qual sua inclusão na lista chegou a estar ameaçada, mas pelo simples fato de que viciou direto quando chegou até minhas mãos e a obsessão permaneceu por muito tempo, que não tem como evitá-lo. O segredo de Jack White é ser tão fiel às raízes da música americana, notadamente o blues, quanto fazer seu grupo soar como uma banda indie. ‘Seven Nation Army’ não é menos que clássica, ‘The Hardest Button to Button’, também, ‘In the Cold, Cold Night’ revela a ótima intérprete que Meg pode ser (impossível não lembrar de Moe Tucker), a sensacional cover de ‘I Just Don’t Know What To Do With Myself’ (aula de como se faz versões pra canções alheias), ‘Ball and Biscuit’, ‘Black Math’, ‘Girl, You Have No Faith In Medicine’ ... Um disco de rock como há muito não se fazia – e Jack ainda legaria aos fãs o brilhante álbum de estreia dos Raconteurs e o bacana The Dead Weather.

VAMPIRE WEEKEND – Vampire Weekend (2008)
Se o novo, ‘Contra’, é um tanto polido – ainda que traga grandes canções, como o single ‘Horchata’ –, este é totalmente ‘raw’, roots mesmo. Os auto-apelidados West Side Soweto vieram pra ficar – ‘Mansard Roof’, ‘A-Punk’, ‘Oxford Comma’, ‘I Stand Corrected’ e ‘The Kids Don’t Stand a Chance’ estão aí pra comprovar. Esqueça as origens, digamos, burguesas do grupo. Fazem lembrar os melhores momentos dos Talking Heads – mas sem as vanguardices de David Byrne.

Suplente: 'The Moon & Antactica' (2000), do Modest Mouse, relacionado num post recente, entre os relançamentos mais bacanas de 200.

My Life in Lists – discos (90’s)

BEASTIE BOYS – Check Your Head (1992)
Um dos dois discos fundamentais do trio Ad Roc/Mike D/MCA – o outro é ‘Paul’s Boutique’ (1989) – ‘Check Your Head’ não é um disco apenas de hip-hop: aqui os caras se armam de guitarra, baixo e bateria, e, com o auxílio do percussionista Eric Bobo e do tecladista Mark Ramos Nishita (AKA Money Mark), samples de Jimi Hendrix e referências que vão de Sly Stone ao soul jazz e as trilhas blaxpoitation setentistas, compõem um álbum excitante (originalmente duplo em vinil), inspiradíssimo. Clássicos às pencas: ‘Jimmy James’, ‘So Watcha Want’, ‘Gratittude’, ‘Funky Boss’, ‘Pass The Mic’, ‘Someting’s Gotta Give’ ... O álbum de hip-hop da era grunge.

NIRVANA – Nevermind (1991)
Falar da importância do segundo álbum do Nirvana para a indústria é chover no molhado, típico caso de “antes e depois de”. Não que ‘Nevermind’ tenha causado uma ruptura estética significativa – tudo que está aqui já havia sido trabalhado por ‘n’ bandas antes –, mas ao escancarar as portas das majors e das paradas para o som alternativo, acabou por tornar o negóciod e música pop um pouco mais decente. Sem falar no fato inescapável de ter servido perfeitamente de trilha sonora para a juventude angustiada de seu tempo – outro clichê. Podem ficar brabos, ms é verdade: o Nirvana foi o que ficou do grunge. Os outros são todos secundários. A famigerada ‘Smells Like Spirit’, ‘Breed’, ‘Drain You’, ‘Polly’, ‘Something In The Way’, ‘Come As You Are’, ‘In Bloom’ ... Nada se perdeu. O posterior ‘In Utero’ é tão bom quanto este – mas mais contido, travado, bem no clima junky em que Kurt se meteu e infelizmente não saiu.

CHEMICAL BROTHERS – Dig You Own Hole (1997)
Poucos discos de rock soam tão rock como este segundo álbum dos irmãos químicos, Ed Simmons e Tom Rowland. Uma colagem sensacional de sons lisérgicos, que chega ao absurdo de juntar mais de 300 samples em uma só música (convenientemente batizada ‘Databank’), tem a manha de chamar o pessoal do Mercury Rev (em 'The Private Psychedelic Reel’, veradeira sinfonia psicodélica) e revisitar a beatle ‘Tomorrow Never Knows’ (‘Setting Sun’, cantada por Noel, do Oasis). E ainda tem o baticum viciante de ‘Block Rockin’ Beats’, a bela ‘Where Do I Begin’ (com a voz de Beth Orton), o transe de ‘It Doesn’t Matter’, a paulada funky da faixa-título. Diversão non stop para as massas.

PRODIGY – The Fat of the Land (1997)
Ao lado de ‘Nevermind’ (Nirvana), o álbum punk noventista. Tem muito de Sex Pistols aqui, não só no visual do doidão Keith Flint, mas na levada agressiva de uma pá de faixas: ‘Serial Thrilla’, a cover de ‘Fuel My Fire’ (L7), especialmente ‘Firestarter’ (um hino roqueiro dos 90’s), mesmo ‘Smack My Bitch Up’ e ‘Breathe’. ‘Narayan’ leva o ouvinte às nuvens, ‘Mindfields’ faz pensar que uma bad trip pode não ser tão ruim assim, ‘Diesel Power’ é hip-hop esquizo/chapadão (com rap de um dos heróis de Liam Howlett, Kool Keith) ... Quem não ouviu o disco três, quatro vezes, em mais de uma ocasião, e a excitação só aumentava após cada uma delas? Nunca mais o Prodigy voltou à velha forma, uma pena.

DEPECHE MODE – Violator (1990)
O disco definitivo do Depeche, que serviu para que os antigos detratores, preconceituosos, firmasse novo conceito sobre o grupo. Denso, dark, retrato perfeito das incertezas da virada dos anos 1980 para os 1990, um ‘Achtung Baby’ (ou ‘Zooropa’) mais sofrido. David Gahan prova pela enésima vez que é um baita intérprete – e repetiria o feito várias vezes depois. Ao hit ‘Enjoy the Silence’ (‘Words like violence/Break my silence/Come Crashing In/Into My Little World’) somam-se composições inspiradas como ‘The World in My Eyes’, ‘Halo’ (minha preferida), ‘Personal Jesus’ (gravada depois por ninguém menos que o men in black em pessoa, Johnny Cash), ‘Policy of Truth’, ‘Clean’. O Depeche é um caso sério, não dá pra querer negar.

MASSIVE ATTACK – Mezzannine (1998)
O álbum mais sombrio do então trio de Bristol, e que trouxe os caras ao Brasil: a turnê de divulgação de ‘Mezzaninne’ inclui datas no falecido Free Jazz Festival, e Porto Alegre viu o show, excelente, no Teatro do Sesi. Se o primeiro disco é um clássico absoluto dos anos 1990 – ‘Blue Lines’ lançou as bases do triphop –, e o segundo, e o luxuoso ‘Protection’ segurou a onda, este é o disco mais roqueiro do grupo – a ponto de causar discordâncias internas sérias. A matadora sequência de abertura – a pesadona ‘Angel’ (regravada pelo Sepultura), a sinistra ‘Risingson’, o hit ‘Teardrop’ (com a brilhante participação da fada dos cocteau Twins, Liz Fraser), a orientalizada ‘Inertia Creeps’ – é inigualável, mas ‘Man Next Door’, com Horace Andy mais uma vez arrasador e sample muito bem sacado de ‘10:15 Saturday Night’, do Cure, ‘Dissolved Girl’ e a faixa-título não ficam muito atrás. Só este ano é que o Massive Attack foi entregar aos fãs um álbum digno de sua gloriosa trinca inicial – mas ainda assim ‘Heligoland’ não resiste à comparação com ‘Mezzaninne’.

PJ HARVEY – Dry (1993)
O feroz álbum de estreia de Polly Jean tornou-se um dos preferidos de Kurt Cobain, logo que lançado. Não é difícil entender por que: boas melodias, influência sutil porém marcante do blues, letras iradas. ‘Sheila NA Gig’ e ‘Dress’ são os hits, mas tem ainda o lamento de ‘Oh My Lover’, ‘Happy and Bleeding’ (sobre mesntruação!), a acachapante ‘Water’ (minha preferida) ... O início de uma trajetória brilhante.

MERCURY REV – Desserter’s Songs (1998)
Este disco marca uma guinada significativa do grupo americano: um álbum pastoral, de tinturas folk, depois dos ultra-barulhentos trabalhos iniciais – chegaram a ser expulsos do palco de um show no Festival Lollapalooza, em meados dos anos 1990, porque as autoridades de uma localidade do interior dos Estados Unidos, atendendo reclamações da vizinhança, constataram que o MR tocava em um nível de decibéis muito acima do permitido. ‘Desserter’s ...’ abre com a floydiana ‘Holes’, tem ainda a linda ‘Tonite It Shows’, a arrepiante ‘Endlessly’ (e seu som de serrote), a bacana ‘Goddess On a Hiway’, as sinfônicas ‘Opus 40’ e ‘Hudson Line’. A participação dos The Band Garth Hudson e Levon Helm é um achado. O disco psicodélico/onírico da década.

SONIC YOUTH – Goo (1990)
Certo que não é o melhor disco de Thurton, Kim, Lee e Steve, mas aqui o caráter sentimental fala (muito) mais alto: foi o álbum que mais ouvi em uma época muito especial, meu exílio norte-americano (e só fui ver os caras ao vivo 5 anos depois, em San Francisco, e depois de novo em São Paulo, em 2000). O primeiro álbum do SY por uma major traz canções com claro teor pop mas a velha pegada punk/experimental que fez a fama do grupo na trinca clássica que o antecede (‘EVOL’/‘Sister’/‘Daydream Nation’). Os petardos vão se sucedendo: ‘Dirty Boots’, ‘Tunic (Song For Karen)’ (sobre Karen Carpenter, uma das obsessões do quarteto), a feminista ‘Kool Thing’ (com participação engraçada de de Chuck D), ‘Mote’ (cantada por Lee), ‘My Friend Goo’, ‘Disappearer’, a instrumental ‘Mildred Pierce’, ‘Cinderella’s Big Score’. Quem falou que este álbum não está altura dos clássicos do grupo?

PAVEMENT – Crooked Rain, Crooked Rain (1995)

A última bolachinha a ser incluída na lista, ganhando no tapa de ‘Angel Dust’ (Faith No More, 1992) e ‘Chocolate and Cheese’ (1994, Ween). A melhor guitar band dos anos 1990 (quen me perdoem os fãs dos Pixies), e o álbum mais equilibrado, tão espontâneo quando o debut, ‘Slanted and Enchanted’, mas sem a tosqueira, e já incluindo as referências ao rock e ao pop clássicos que dominariam sua produção nos discos finais. Um disco que tem composições como ‘Range Life’, ‘Gold Soundz’, ‘Cut Your Hair’, ‘Elevate Me Later’ e ‘Stop Breathin’ não tem nada faltando.