quarta-feira, 30 de setembro de 2009

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO - 3º Programa (03/10/2009)

Playlist do 3º programa, que vai ao ar Sábado, 03/10/2009, às 22h na FM CULTURA (107.7) – quem não puder conferir no rádio, tem a opção da internet, em http://www.fmcultura.com.br/

1º bloco:

JESSE MALIN – Queen of the Underworld
O novaiorquino Malin adquiriu alguma notoriedade nos anos 1990 como vocalista do D. Generation, que fazia um som calcado no glam rock e na cena do C.B.G.B.’s dos 70’s. Com o fim da banda, encontrou espaço pra mostrar seu lado ‘punk emotivo’ (nada a ver com emo, please) em carreira–solo, cujo debut, ‘The Fine Art of Self-Destruction’, veio sob os auspícios do ex-Whiskeytown Ryan Adams. A faixa que abre o disco é uma balada com levada folk de primeira.









(com o 'Chefão' Bruce)

ELLIOTT SMITH – Waltz #2(XO)
O torturado Elliott Smith, que suicidou-se em 2003, aos 34 anos, chegou até a concorrer ao Oscar, em 1998, com a canção ‘Miss Misery’, trilha do filme ‘Gênio Indomável’, de seu amigo e fã Gus Van Sant – quem viu, não esquece a figura com visual grunge e cabelos desgrenhados do cantor, totalmente deslocado no glamour da maior festa hollyoodiana. ‘XO’, seu penúltimo álbum, é recheado de belas melodias à la Beatles e despojamento.

MARK LANEGAN – Ugly Sunday
O ex-cantor do Screaming Trees, uma das principais bandas do grunge de Seattle, não para: desde o fim da banda – e até antes -, já registrou suas canções em seis álbuns individuais e ainda participa de projetos de amigos – o mais recente é o duo The Gutter Twins, com o ex-frontman dos Afghan Whigs, Greg Dulli, mas ainda tem os discos com o Queens of the Stone Age, e as colaborações com Isobel Campbell, celista do Belle & Sebastian, e o duo eletrônico britânico Soulsavers. ‘The Winding Sheet’, o seu primeiro disco-solo, de 1990, tinha participações de Kurt Cobain e Krist Novoselic (Nirvana) e Mike Johnson (Dinosaur Jr.), entre outras feras.

2º bloco:

THE TING TINGS – That’s Not My Name
Dupla inglesa da Manchester dos Happy Mondays, Primal Scream e New Order, Katie White (guirtarra e voz) e Jules De Martino (bateria) começaram em 2006, e logo, logo chegaram ao topo das charts britânicas, justamente com este seu primeiro single, um dos vários hits do álbum de estreia, de título auto-irônico, ‘We Started Nothing’, lançado ano passado. O TTT toca no Brasil mês que vem, no Planeta Terra Festival.

YACHT – The Afterlife
Jona Betcholt é da prolífica Portland, Oregon, e era baterista de uma banda punk – pela qual largou os estudos –, no final dos anos 90, quando decidiu brincar com música eletrônica. O YACHT é seu "projeto-solo", iniciado em 2003 – ele também faz de outro grupo, The Blow, com a artista performática Khaela Maricich e já trabalhou com o riponga Devandra Banhart e os Microphones. ‘See Mystery Lights’, que sai pelo selo DFA, já traz o YACHT como um duo, com a entrada da vocalista Claire L. Evans.


THE BUG (c/ WARRIOR QUEEN) – Poison Dart
Um dos tantos trabalhos do produtor inglês Kevin Martin, que já foi do dub ao grime, do industrial ao techno, e até ao jazzcore (o projeto God, que contava com integrantes do Godflesh e do Napalm Death, entre outros terroristas). O Bug não é novo, começou em 1996, com ‘Taping the Conversation’, inspirado em ‘A Conversação’, clássico filme de espionagem de Francis Ford Coppola, mas grava apenas esporadicamente. ‘London Zoo’ saiu pelo selo Ninja Tune, da dupla Matt Black e Jonathan Moore (Coldcut) e é do ano passado.

METRONOMY – Heartbreaker
Joseph Mount , multi-instrumentista e produtor, é o cara por trás do Metronomy, que lembra Devo, Daft Punk e um monte de coisas legais do pop eletrônico dançante. Tem apenas dois álbuns, o mais recente deles, ‘Nights Out’, do ano passado. Ao vivo, além de Mount, o Metronomy inclui ainda o baixista e tecladista Gabriel Stebbing e o tecladista e saxofonista Oscar Nash. (Nota: THE TING TINGS e METRONOMY tocam no Brasil no Terra Festival, em novembro – sábado, dia 07 –, com SONIC YOUTH, IGGY & THE STOOGES, PRIMAL SCREAM, MAXÏMO PARK, entre outros).

3º bloco:
especial THE SLITS (‘Cut’, 1979)


A exemplo da Gang of Four, na semana passada, CM esta semana faz um míni-especial com outra banda inglesa cujo álbum de estreia acaba de comemorar 30 anos em setembro: ‘Cut’, das Sits, principal banda punk feminina safra late 70’s, junto com as também londrinas Raincoats e as suíças Kleenex/Liliput – e a preferida de CM.
A fundação da banda deu-se de maneira mais ou menos mítica: Ari Up, então com 14 anos, assistia a um show de Patti Smith em Londres, quando encontrou sua amiga Palmolive, que intimou-a a formarem um grupo só de meninas. A formação básica, após algumas mudanças, estabilizou-se em Ari nos vocais, Palmolive na bateria, Viv Albertine na guitarra e Tessa Pollit no baixo. Palmolive cairia fora antes da gravação de ‘Cut’ pra formar as Raincoats, sendo substituída por aquele que é o mais original baterista do pós-punk britânico, Budgie, que em breve se juntaria a Siouxsie & The Banshees.

O primeiro álbum da banda viria com forte pegada reggae, som que a primeira geração do punk britânico curtia demais – eram famosas as festas comandadas pelo DJ Don Letts (depois manager e videomaker do Clash, músico do Big Audio Dynamite e diretor do documentário ‘Punk: Attitude’) em Brixton regadas ao melhor som jamaicano. Dennis Bovell, natural de Barbados, guitarrista da banda Matumbi e produtor, pilotou as picapes, sendo um dos principais responsáveis pela sonoridade peculiar da banda – no mesmo ano, gravou outro clássico do ano, 'Y', álbum de estreia do Pop Group (uma das próximas atrações de CM). Infelizmente, porém, as Slits gravariam só mais um disco, 'Return of the Giant Slits', em 1981, sem a mesma repercussão, encerrando as atividades naquele ano.

Nesse meio-tempo, Ari – que é enteada do Sex Pistol John lydon (casado com a mãe dela, Norma Forster), viveu na Jamaica e em Nova Iorque, colaborou com o projeto New Age Steppers, de Adrian Sherwood, e, em 2006 anunciou a volta das Slits, apenas com Tessa entre as integrantes clássicas. O E.P. 'Return of the Giant Slits' tem participações de Paul Cook, baterista dos Sex Pistols – a filha de Paul é a atual tecladista das Slits –, e Marco Pirroni (o primeiro guitarrista de Siouxsie & the Banshees, famoso por Ter deixado a banda na mão na sua primeira grande turnê). As Slits andaram abrindo pro Sonic Youth e vem tocando em alguns festivais.
‘Cut’ tá saindo agora em outubro lá fora, em edição de luxo, realmente caprichada: CD duplo, remasterizado, com 30 (!) faixas-bônus e um libreto com 28 páginas.


Instant Hit
So Tough
Typical Girls
I Heard It Through the Grapevine




A trilha do programa é o clássico álbum de estreia dos FEELIES, ‘Crazy Rhythms’, lançado em 1980, que tá sendo relançado lá fora, com faixas-bônus. Os Feelies voltaram para uma série de shows, e assim como o Yo La Tengo, que tocou na semana passada, são de Hoboken, New Jersey, terra de Frank Sinatra. Papo pra semana que vem. Enjoy!






As Slits no final dos anos 1970: principal expoente feminino da 'no future generation'

Assim foi escrito (10) - MISS LONELYHEARTS

"A Miss Lonelyhearts do jornal Post-Dispatch, de Nova Iorque (Está com problemas? – Precisa de um conselho? – Escreva para Miss Lonelyhearts e ela o ajudará), sentou-se a sua mesa e fixou os olhos num pedaço de cartolina branca. Nele, lia-se uma oração escrita por Shrike, e editor de reportagem.

Alma de Miss L, glorificai-me.
Corpo de Miss L, alimentai-me.
Sangue de Miss L, inebriai-me.
Lágrimas de Miss L, lavai-me.
Bendita Miss L, aceitai minha súplica
E acolhei-me em vosso coração,
E defendei-me de meus inimigos.
Ajudai-me, Miss L, ajudai-me, ajudai-me.
In saecula saeculorum. Amen
.’

Embora faltassem menos de quinze minutos para o prazo de entrega se esgotar, ela ainda estava no lead. Não escrevera mais do que: ‘A vida vale a pena, pois é cheia de sonhos e paz, de bondade e êxtase, e de fé que arde como luminosa e alva chama sobre um escuro e desolado altar’. Mas viu que era impossível ir em frente. As cartas já não eram engraçadas. Não podia continuar achando graça da mesma piada trinta vezes por dia, durante meses a fio. E, na maioria dos dias, ele recebia mais de trinta cartas, todas elas parecidas, seladas com a massa do sofrimento cortada em forma de coraçõezinhos.

Sobre sua mesa estavam empilhadas as que recebera naquela manhã. Voltou a examiná-las, buscando alguma pista que levasse a uma reposta sincera.

Querida Miss Lonelyhearts,
Estou sofrendo tanto que não sei mais o que fazer às vezes acho que vou me matar meus rins doem demais. Meu marido acha que nenhuma mulher pode ser uma boa católica sem ter filhos apesar da dor. Casei direitinho na igreja mas não sabia como era a vida de casada já que ninguém nunca me falou de marido e mulher. Minha vó nunca me disse e ela era a única mãe que eu tive mas foi um grande erro não me contar porque não compensa ser inocente e é só uma grande decepção. Tive 7 filhos em 12 anos e depois dos últimos dois anos eu fiquei muito doente. Me operei duas vezes e meu marido prometeu que eu não ia mais ter filhos porque o médico me disse que eu podia morrer mas quando voltei do hospital ele quebrou a promessa e agora eu vou ter um nenê e não sei se vou aguentar, meus rins doem demais. Estou tão doente e apavorada porque não posso fazer um aborto por causa que eu sou católica e meu marido muito religioso. Choro o tempo todo dói muito e não sei o que fazer.

Atenciosamente,
Cansada-desta-Vida


Miss Lonelyhearts jogou a carta dentro de uma gaveta aberta e acendeu um cigarro.

Querida Miss Lonelyhearts,
Tenho dezesseis anos e não sei o que fazer e gostaria muito que me dissesse o que fazer. Quando era pequena não era tão ruim porque me acostumei com os meninos do quarteirão gozando de mim, mas agora eu queria ter namorados como as outras meninas e sair aos sábados à noite, mas nenhum menino quer sair comigo porque nasci sem nariz – apesar de dançar bem e Ter um corpo bem feito e meu pai me comprar roupas bonitas.
Fico me olhando o dia inteiro e chorando. Tenho um grande furo no meio do rosto que dá medo nas pessoas e até em mim então não posso reclamar se os meninos não me levam para sair. Minha mãe me ama, mas ela chora sem parar quando olha pra mim.
O que fiz para merecer um destino tão horrível? Mesmo que eu fiz algumas coisas ruins não fiz antes de um ano de idade e nasci deste jeito. Perguntei para o papai e ele disse que não sabe, mas que talvez eu fiz algo no outro mundo antes de nascer ou que talvez eu estou sendo castigada pelos pecados dele. Não acredito, porque ele é um homem muito bom. Devo cometer suicídio?

Cordialmente,
Desesperada
.’

O cigarro estava com defeito, e Miss Lonelyhearts não conseguiu tragar. Tirou-o da boca e o olhou com fúria. Lutando para se acalmar, acendeu outro."

(Lançada em abril de 1933, seis meses antes de seu autor, Nathanael West, completar 30 anos, a novela curta ‘Miss Lonelyhearts’ é daqueles livros cujo humor, negro – nigérrimo – é logo substituído por uma angústia que toma conta do leitor. Conforme o trecho acima bem explicita, trata do sempre atual tema da exploração da miséria humana: Miss Lonehearts é o codinome de um jornalista novaiorquino que responde cartas de leitores desesperados. O que no início o sujeito leva cinicamente na diversão, aos poucos torna-se uma tormenta, e o sujeito vai aos poucos caindo em depressão. Visto como uma piada pelo jornal, o hábito de dar conselhos espirituais a gente à beira de um colapso vai consumindo o já atormentado escriba, que tenta de tudo pra escapar do bad mood: religião, retiro no campo, sexo desenfreado, álcool. Num determinado momento, a consciência culpada do jornalista o levará inclusive ao extremo de ter um caso com uma de suas leitoras, o que, previsivelmente, acabará mal – a moça é casada, inclusive. ‘Miss Lonehearts’ é o segundo dos quatro romances de West, nascido em 17 de outubro de 1903, filho de judeus lituanos e bem criado no Upper West Side nova-iorquino – até eclodir o crack da bolsa e com ele a Depressão, em fins da década de 1920. Desde muito jovem acalentou o sonho de ser escritor, lia ostensivamente e demonstrava pouco ou nenhum interesse na escola – chegou a forjar seu currículo escolar, copiando-o de um colega que tinha seu mesmo nome de batismo, Nathan Weinstein. Preferia os surrealistas franceses e a poesia irlandesa dos anos 1890 – em especial, Oscar Wilde – a seus contemporâneos realistas americanos, e chegou a trabalhar em Hollywood nos anos 1930, o que forneceu material para sua demolidora sátira da fábrica dos sonhos, ‘O Dia do Gafanhoto’, último de seus quatro romances, publicado em 1939. Infelizmente, morreu cedo, com apenas 37 anos, em 22 de dezembro de 1940, quando voltava do enterrod e seu amigo F.Scott Fitzgerald, em um acidente automobilístico que matou também sua mulher Eileen McKenney. ‘Miss Lonelyhearts’ tem três versões cinematográficas, uma de 1933 (‘Advice to the Lovehorn’), outra de 1958 (‘Lonelyhearts’) e outra de 1983 – esta a única que leva o nome do livro. Nenhuma delas é considerada minimamente digna em relação ao texto que lhes deu origem.)






West, o demolidor: contemporâneo e amigo de Fitzgerald, também morreu cedo mas deixou obra marcante

terça-feira, 29 de setembro de 2009

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (2º programa)

Sorry, rapazeada. Por problemas 'técnicos' (sim, eles existem, não é só migué das emissoras) não consegui postar o 'playlist' do programa do sábado, 26, no blog ANTES, como deve ser. De qualquer maneira, vai aqui, pra registro, o que rodou no último programa, pra quem quiser conferir. O próximo, do dia 03 de outubro, vai com antecedência, de qualquer jeito. Abraços, JF.

1º bloco:

DINOSAUR JR. - Pieces
Faixa que abre o álbum ‘Farm’, recém-lançado, o 2º desde que a banda voltou, em 2007. Patrimônio do guitar rock americano das décadas de 1980 e 90, o Dinosaur havia parado após ‘Hand It Over’, de 1997, quando o genioso J Mascis (guitarra, voz, composições) decidiu dar um ponto final na empresa e partir em carreira solo. Pouco menos de dez anos antes, havia quebrado os pratos com a outra força criativa do grupo, o baixista, cantor e compositor Lou Barlow – segundo a lenda, a briga final teve até guitarrada de Mascis na cabeça de Barlow (que saiu para dedicar-se ao ótimo Sebadoh e ao bom Folk Implosion). Em ‘Farm’, o Dinosaur volta à velha forma com seu "country de estourar os tímpanos" (na definição de Mascis).

YO LA TENGO - Here I Fall
Outra banda com história pra contar, o Yo La Tengo já participou de filmes independentes bacanas – fazendo a Banda do Juízo Final em 'O Livro da Vida', de Hal Hartley, e imitando o Velvet Underground em ‘I Shot Andy Warhol’, de Mary Harron –, tem dois ex-críticos em sua formação, e uma porrada de álbuns antológicos no currículo, alguns dos quais lançados no Brasil (‘Painful’, de 1992, ‘I Can Hear the Hearts Beating As One’, de 1997, ‘An Then Nothing Turned Itself Inside-Out’, de 2000). ‘Popular Songs’ é um disco maduro, equilibrando bem as influências básicas do trio: o citado Velvet, Love, Byrds, Neil Young & Crazy Horse e Soft Boys.

DEERHUNTER – Never Stops
Uma das bandas do momento, teve seu terceiro álbum, ‘Microcastle’, muito elogiado ano passado. São sulistas americanos, de Atlanta, Georgia, e como curiosidade, o vocalista Bradford Cox é portador da síndrome de Marfan, doença genética rara, associada a deficiências do tecido conjuntivo, o que ocasiona anomalias diversas, tais como alterações cardíacas e membros do corpo anormalmente longos. Can, Sonic Youth, The Fall, .... as referências são as melhores possíveis.

GRIZZLY BEAR - Foreground
Novaiorquinos do Brooklyn, gravam pra Warp, o selo londrino homenageado no programa da semana passada, por seus 20 anos de grandes serviços prestados à electronica. Mas o GB não é um grupo de música eletrônica: no caldeirão dos caras, entra folk, referências jazzísticas, orgãozinhos sessentistas, referências ao pós-rock ... e até electronica. ‘Veckatimest’, lançado no final de maio, já é o quinto disco do quarteto, aclamado como os anteriores, e ‘Foreground’, a arrepiante balada que fecha o álbum. Rock de vanguarda da melhor estirpe.

2º bloco:

NINE INCH NAILS – Discipline
Justo no ano em que se completam 20 anos do lançamento de seu debut, ‘Pretty Hate Machine’, o dono da bola, Trent Reznor, anuncia que o NIN vai dar um tempo. O grupo tinha show marcado pra Porto Alegre ano passado, mas, por conta da baixa procura, foi cancelado – o mesmo aconteceu com o outrora popular Duran Duran. O álbum mais recente de Reznor e seus comandados é ‘The Slip’, colocado no site da banda ano passado, pra download gratuito.

FRONT 242 – Animal Gate
Belgas terroristas, na ativa desde 1981, são os virtuais criadores da Electronic Body Music (EBM), mix de som industrial e aquele synth pop mais dançante. Tiveram seu grande momento na virada dos anos 1980 para os 1990 – tocaram no Lollapallooza de 1993, mesmo ano do lançamento do álbum ‘05:22:09:12 Off’,de onde tiramos a hipnótica faixa em questão. Após algumas mudanças na formação nos anos 1990, seguem na ativa.

MEAT BEAT MANIFESTO – What’s Your Name?
O Meat Beat ("MBM", para os íntimos) é uma dupla, formada em Londres na segunda metade dos anos 1980 – e naturalmente influenciada pela explosão da cena rave e o respectivo caldeirão de inesgotáveis referências da música eletrônica então. Jack Dangers e Jonny Stephens são os caras, que começaram mixando os ritmos eletrônicos emergentes – techno, trip-hop, jungle – ao som industrial e ao dub. Dangers é um reconhecido produtor, já colaborou com o pessoal do Consolidated, com o Disposable Heroes of Hipophrisy e os selos Wax Trax (de Chicago) e Nothing Records (de propriedade de Trent Reznor). A sinistra ‘What’s Your Name?’ é do álbum duplo ‘Subliminal Sandwich’, de 1996, e entrou na trilha de ‘A Bruxa de Blair’.

3º bloco:
Especial com a GANG OF FOUR

Não faço ideia se o termo "art punk" foi cunhado por causa da Gang of Four, mas faz todo o sentido: o quarteto de Leeds, sem deixar a visceralidade de lado, fazia um som cerebral cerebral, baseado na levada sincopada da cozinha formada pelo baixista Dave Allen (depois, produtor dos álbuns que fizeram a fama do Cure) e do baterista Hugo Burnham, no feedback do guitarrista (ou "não-guitarrista") Andy Gill e nos versos politizados cantados por Jon King. A politização, aliás, além de traço característico, diferia do resto do pessoal do punk de então por conta da formação acadêmica: se os Pistols tinham a vivência das ruas, o pessoal da GO4 tinha formação marxista.

O álbum de estreia da Gang, ‘Entertainment!’, lançado há exatos 30 anossetembro de 1979 –, reverbera até hoje: Michael Stipe, do R.E.M., admite que tirou muita coisa dali, Flea, dos Red Hot Chili Peppers, mostrava a música dos caras sempre que queria explicar pra alguém como o rock pode ser barulhento e suingado ao mesmo tempo. Isso sem falar na influência gritante nos sons de U2, Franz Ferdinand, Rage Against the Machine, Plebe Rude, Legião Urbana, Bloc Party, e até o Gossip, que a gente mostrou na semana passada.

A Go4 completa esse fim-de-semana uma série de 4 shows em comemorações às três décadas de vida de seu álbum de estreia, um divisor de águas incontestável. COMPANHIA MAGNÉTICA roda suas cinco faixas preferidas:



Not Great Men
Damaged Goods
I Found That Essence Rare
At Home He’s a Tourist
Anthrax



Pra finalizar, a trilha do programa é outro clássico do punk britânico que completa 30 anos em setembro de 2009: o debut das SLITS, ‘Cut’, a melhor banda feminina de todos os tempos na modesta opinião de CM, e que compunha com as também inglesas Raincoats e as suíças Kleenex/Liliput a "santíssima trindade" do female punk da época. Mas isso é papo pra semana que vem. Enjoy!








A Gang há três décadas, à época de 'Entertainment!', ...







... e em 2009: lições de história

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Paradão da Semana (14-18/09/2009)

White Winter Hymnal (Fleet Foxes)
Autumn Beds (Modest Mouse)
Antenna (Sonic Youth)
Mansard Roof (Vampire Weekend)
Yellow Submarine (Beatles)
Thousands are Sailing (Pogues)
Jealous Girls (Gossip)

Quando eles eram jovens - II

ROLLING STONES
O verdadeiro filé da discografia dos Glimmer Twins já havia sido relançado em 2002, quando do aniversário de 40 anos da mais longeva de todas as bandas de rock: os discos dos gloriosos primeiros dez anos de carreira. Quem tinha as edições antigas em CD de álbuns como ‘Aftermath’, ‘Out of Our Heads’, ‘Beggars’ Banquet’, ‘Their Satanic Majesties Request’ e ‘Let It Bleed’ e depois ouviu a remasterização lançada em Super Audio CD, sabe o quanto um nobre produto lançado com desleixo pode ganhar vida nova – ou recuperar as peculiaridades que lhe deram a justa fama: o som musculoso, a sujeira e a malícia dos timbres originais. A nova leva traz discos, em sua maioria, daquela fase em que o grupo havia muito já se consolidara, carregando o manjado título de "maior banda de rock do mundo": álbuns entre medianos e bons, alguns ótimos, mas longe das obras-primas dos 60’s e início dos 70’s. Mas tem pelo menos um clássico no pacotão da gravadora Universal: ‘Sticky Fingers’ (1971), soberana obra-prima da famosa capa do zíper desenhada por Andy Warhol e clássicos do porte de ‘Brown Sugar’, ‘Wild Horses’, ‘Sister Morphine’, ‘Dead Flowers’, ‘You Gotta Move’, ‘Can’t You Hear Me Knockin?’, ... uma melhor que a outra. ‘Black and Blue’ (1976) e ‘Some Girls’ (1978) são os melhores entre os demais: o primeiro tem a levada black de ‘Hey Negrita’ e ‘Hot Stuff’, além de uma das tradicionais baladas cafajestes do grupo - uma das melhores de todo o catálogo - , ‘Fool to Cry’; no segundo, que traz a famosa foto do quinteto travestido, os caras espertamente "modernizam" seu rhythm’n’blues, sugando a seiva das duas principais ondas daquele momento: ‘Miss You’ tem levada disco (à la ‘Good Times’, do Chic, que também serviu de fonte de inspiração - pra dizer o mínimo - de ' Another One Bites the Dust', do Queen, e 'Another Brick in the Wall', do Pink Floyd), enquanto que a faixa-título tem uma distorçãozinha a mais nas guitarras que claramente emula o punk que os defenestrou. ‘Tattoo You’ (1981) também é um baita disco, com as famigeradas ‘Star Me Up’ e ‘Waiting On a Friend’, mais as energéticas ‘Hang Fire’ e ‘Little T & A’ (esta, cantada por Keith), a levada afro de ‘Slave’ e a climática ‘Heaven’. Merecem atenção também ‘Goats Head Soup’ (1973), com a sacana ‘Angie’, e ‘It’s Only Rock’n’Roll’ (1974), mas esses são discos que já mostram uma banda auto-indulgente, acomodada em seu trono. ‘Emotional Rescue’ (1980), apesar de boas músicas como a faixa-título e ‘She’s So Cold’, e ‘Undercover’ (1983) são álbuns meia-boca, se tanto. E também estão no pacote álbuns da empresa que mantém a lucratividade dos respeitáveis senhores se multiplicando ainda nos dias de hoje, como ‘Dirty Work’ (1986), ‘Steel Wheels’ (1989), ‘Voodoo Lounge’ (1994), ‘Bridges to Babylon’ (1997) e ‘A Bigger Bang’ (2005), registros burocráticos, só pra cumprir tabela – a pedra continua rolando, mas hoje cria limo. A maioria desses últimos vale apenas pros fanáticos, doentes, completistas. O fã mais criterioso vai preferir os álbuns até ‘Exile On Main Street’ (1972), que é quando a carreira dos Stones realmente tem relevância. (Toque adicional de CM: sobre as gravações de 'Exile ...', álbum originalmente duplo em vinil – , saiu este ano o livro ‘Uma Temporada no Inferno com os Rolling Stones’, em que o jornalista Robert Greenfield reconstitui a epopéia orgiástica de Keith Richards – especialmente este, que isolou-se em um castelo suíço pra desintoxicar-se – e colegas, na gravação daquele que é de fato o último álbum de exceção. O álbum, inclusive, deve ser o próximo a sair remasterizado, em edição no capricho, dupla, até o final do ano).








O filé do novo pacotão stoneano remasterizado: nesses aqui, vale a pena investir

LOU REED
Acaba de ser relançado um dos discos mais peculiares do cronista do submundo novaiorquino: ‘The Blue Mask’ (1982). Lou recém saía de um período de lama absoluta, atolado no álccol e nas drogas (várias, em especial as então inseparáveis anfetamina e heroína), e as canções, naturalmente, são influenciadas por esse clima. Além disso, o álbum (o nono de estúdio em dez anos de carreira solo, iniciada em 1972, dois anos após a saída do Velvet Underground) traz, talvez, as interpretações mais tocantes de sua carreira, e uma das melhores formações com quem gravou, no esquema duas guitarras (aqui, ele volta ao instrumento, que abandonara nos álbuns anteriores)/baixo/bateria: o virtuoso Fernando Saunders (baixo), o firme Doane Perry (bateria) e um dos melhores guitarristas a surgirem da quentíssima cena do C.B.G.B., o ex-Voidoids de Richard Hell, Robert Quine – com quem o genioso Reed se desentenderia depois, chutando-o da banda. O clima, em termos de som, lembra muito a fase ‘Rock’n’Roll Animal’ (o ruidoso disco ao vivo de 1974), mas sem aquele clima decadente todo – como dissemos antes, ‘The Blue Mask’ é o statement de um homem renascido (ou querendo renascer). Destaques: a singela ‘My House’, a furiosa ‘The Gun’, o clima de auto-análise da faixa-título e a paranóia de ‘Waves of Fear’. Reed gravou ótimos álbuns na sequência – ‘Legendary Hearts’ (1983), o bem-sucedido ‘New Sensations’ (1984) – e atravessaria a virada da década em alta, com os excelentes ‘New York’ (1989) e ‘Magic and Loss’ (1992, disco conceitual, uma reflexão sobre a morte, influenciado pelo passamento de amigos como o compositor Doc Pomus), além da histórica volta da parceria com o desafeto John Cale, na homenagem ao falecido Andy Warhol, ‘Songs For Drella’ (1990).








O Lou Reed do começo dos anos 1980: adeus, vida bandida

DAVID BOWIE
Tá saindo remasterizado seu ‘Space Oddity’, de 1972. Este disco, puxado pela indefectível faixa-título ("Grounds Control to Major Tom/Taken Your Protein Pills ans Put Your Helmet On"), que serviu de trilha sonora para a transmissão da chegada do homem à Lua em 1969 pela BBC, era já, portanto, uma reedição: o álbum original, ‘Man of Words/Man of Music’ é de 1969. Embora não possa nem de longe ser comparado à gloriosa década de 1970, em que lançava um clássico atrás do outro (‘Hunky Dory’, ‘Ziggy Stardust’, ‘Station to Station’, o tríptico berlinense ‘Low’/‘Heroes’/’Lodger’), já marca a primeira das inúmeras transformações do camaleão, que então deixava pra trás a insossa herança dylaneana e embarcava numa trip folky psicodélica, que rendeu momentos como a referida faixa-título e outros clássicos como ‘Memory of a Free Festival’ (primeira colaboração com o guitarrista dos Spiders From Mars da fase Ziggy Stardust, o ótimo Mick Ronson), ‘The Wildboy Eyed Boy from Free Cloud’, ‘God Knows I’m Good’, ‘Cygnet Committee’ ... Curiosidade: esta última, uma longa e amarga canção de 9 minutos, não apenas prenuncia o punk, ao constatar o esfacelamento do sonho hippie, como um de seus versos ("the guns of love") serve pra batizar duas das principais bandas londrinas que rachariam o rock ao meio em meados dos 70’s, os Sex Pistols e o Damned. Bowie, que reinaria absoluto entre 1970 e 1980, influenciando literalmente todo mundo interessante que veio depois, no final dos 60’s produzia sua primeira proeza.








O Bowie do final dos 60's/início dos 70's: Deus sabe como sou bom
(e em breve vou virar o cara mais cool do planeta!)

Assim Foi Escrito (9) - Short Cuts (RAYMOND CARVER)

Todo dia de manhã ele a acompanhava até o banheiro e esperava que ela subisse na balança. Earl ficava de joelhos, com um papel e um lápis na mão. O papel estava cheio de datas, dias da semana, números. Ele lia o número da balança, consultava o papel e então balançava a cabeça satisfeito ou contraía os lábios.
Doreen agora passava mais tempo na cama. Voltava para a cama depois de as crianças terem saído para a escola, e cochilava de tarde antes de ir para o trabalho. Earl ajudava com os serviços de casa, via televisão e a deixava dormir. Ele fazia todas as compras, e devez em quando saía para uma entrevista de emprego.
Certa noite ele pôs as crianças na cama, desligou a televisão e resolveu sair para beber um pouco. Quando o bar fechou, foi até a lanchonete onde a esposa trabalhava.
Sentou junto ao balcão e esperou. Quando ela o viu, disse:
- As crianças estão bem?
Earl fez que sim com a cabeça.
Levou certo tempo para fazer seu pedido. Ficou olhando para a esposa enquanto ela se movimentava para um lado e outro do balcão. Por fim pediu um cheeseburger. Ela passou o pedido ao cozinheiro e foi atender outra pessoa.
Outra garçonete se aproximou com a cafeteira e encheu a xícara de Earl.
- Quem é a sua colega? – ele perguntou, indicando sua esposa.
- O nome dela é Doreen – respondeu a garçonete.
- Ela está bem diferente do que era na última vez que vim – disse ele.
- Não reparei – comentou a garçonete.
Earl comeu o cheeseburger e tomou o café. As pessoas continuavam entrando para se sentar nas mesas ou no balcão. Doreen atendia a maioria das pessoas no balcão, mas de vez em quando a outra garçonete também vinha pegar um pedido. Earl observava sua esposa e ouvia com atenção. Por duas vezes teve de sair do lugar para ir ao banheiro. Das duas vezes ficou imaginando se tinha perdido algum comentário. Quando voltou da segunda vez, viu que tinham retirado sua xícara e uma pessoa estava sentada no seu lugar. Tomou um assento no fim do balcão, perto de um homem mais velho, com uma camisa listrada.
- O que você quer? – perguntou Doreen quando viu o marido ali outra vez. – Não devia estar em casa?
- Me dá um café – ele disse.
O homem ao lado de Earl lia um jornal. Levantou os olhos para ver Doreen servir uma xícara de café para Earl. Observou Doreen enquanto ela se afastava. Depois voltou ao seu jornal.
Earl tomou um golinho do café e esperou que o homem comentasse alguma coisa. Ficou espiando o homem com o canto dos olhos. O homem havia terminado de comer e sua bandeja tinha sido empurrada para o lado. O homem acendeu um cigarro, dobrou o jornal à sua frente e continuou a ler.
Doreen se aproximou, retirou a bandeja suja e serviu mais café para o homem.
- O que acha dela? – Earl perguntou ao homem, apontando para Doreen, que se afastava do balcão. – Não acha que é uma mulher especial?
O homem levantou os olhos. Olhou para Doreen, depois para depois para Earl, e depois voltou ao seu jornal.
- E então, o que é que você acha? – insistiu Earl. – Estou perguntando. Parece bom ou não parece? Me diga.
O homem dobrou o jornal com ruído.
Quando Doreen voltou para aquele lado do balcão, Earl cutucou o ombro do homem e disse:- - Estou falando com você. Escute aqui. Olha só que rabo. Agora preste bem atenção. Ei, podia me servir um sundae de chocolate? – Earl pediu para Doreen. ...


(‘Eles não são o seu marido’)

...

Meu marido come com bastante apetite mas parece cansado, impaciente. Mastiga devagar, braços sobre a mesa, e fica com os olhos fixos em alguma coisa do outro lado do quarto. Olha para mim e desvia os olhos de novo. Esfrega a boca com o guardanapo. Encolhe os ombros e continua a comer. Alguma coisa aconteceu entre nós, se bem que ele gostaria que eu não acreditasse nisso.
- Por que está olhando para mim? – pergunta. – O que é? – ele exclama e põe o garfo sobre a mesa.
- Eu estava olhando? – digo, balançando a cabeça com ar estúpido.
O telefone toca.
- Não atenda – ele pede.
- Pode ser sua mãe – respondo. – Dean ... pode ser alguma coisa com Dean.
- Vai, atende – ele diz.
Apanho o fone e escuto um instante. Ele pára de comer. Mordo o lábio e desligo o telefone.
- Não falei? – ele diz. Recomeça a comer, depois atira o guardanapo sobre o prato. – Inferno, por que essa gente não pode ficar cuidando da sua própria vida? Me diz o que foi que fiz de errado e vou aceitar muito bem ouvir! Não é direito. Ela estava morta, não estava? Havia outros homens lá além de mim. Nós conversamos sobre o caso e todos chegamos à mesma conclusão. Tínhamos acabado de chegar. Tínhamos caminhado durante várias horas. Não podíamos voltar atrás, estávamos a oito quilômetros do carro. Era dia de estreia. Que diabo, não vejo nada de errado nisso. Não vejo mesmo. E não fique olhando pra mim desse jeito, está ouvindo? Não vem você também me criticar não. Você não.
- Você é que sabe – falei, e balancei a cabeça.
- O que eu sei, Claire? Me diga. Me diga o que eu sei. Não sei de nada, só uma coisa: era melhor que você não ficasse tendo ideias sobre o assunto. – ele me dirige o que julga ser um olhar
significativo. – Ela estava morta, morta, morta, está ouvindo? – diz ele depois de um minuto. – é uma coisa triste, eu concordo. Era uma moça muito nova e é uma pena, e eu lamento, lamento tanto quanto qualquer um, mas ela estava morta, Claire, morta. Agora vamos deixar o assunto de lado. Por favor, Cliare. Vamos deixar isso de lado agora.
- Essa é que é a questão – eu disse. – Ela estava morta. Mas você não percebe? Ela precisava de ajuda.
- Desisto – ele diz e levanta as mãos. Afasta a cadeira da mesa, pega seus cigarros e vai para o pátio com uma lata de cerveja. Fica andando para um lado e outro durante um minuto e depois se senta numa espriguiçadeira e pega o jornal outra vez. Seu nome está ali na primeira página, junto com os nomes de seus amigos, os outros homens que fizeram a ‘horrível descoberta’.
Fecho meus olhos por um instante e me apoio na bancada da pia. Não é bom ficar com isso muito tempo na cabeça. Preciso passar uma borracha nessa história, pôr o assunto longe do meu pensamento, tirar isso da cabeça etc. e ‘ir em frente’. Abro os olhos. Apesar de tudo, mesmo sabendo de tudo que pode me acontecer, passo meu braço estendido por sobre a pia, empurrando e espatifando os pratos e os copos pelo chão.
Ele não se mexe. Sei que escutou, levanta a cabeça como se estivesse ouvindo, mas não faz nenhum outro movimento, não se vira para olhar. Tenho ódio dele por isso, por não se mexer. ...


(‘Tanta água tão perto de casa’)


(Talentoso cronista da vida pequena norte-americana, Raymond Carver, nascido em 25 de maio de 1938, é considerado um dos renovadores da narrativa curta da segunda metade do século XX. Natural da minúscula Clatskanie, no estado de Oregon, filho de uma garçonete e de um trabalhador de fábrica, passou a juventude pescando, caçando e divertindo-se com as aventuras policiais do tira durão Mike Hammer, personagem de Mickey Spillane. Herdou do pai a profissão e o alcolismo, e casou-se casou-se pela primeira vez aos 19 anos, um ano após gradur-se no high school com Maryann, uma garota de apenas 16 anos. Com 20 anos, já era pai de dois filhos. Após um curso de escrita criativa, já vivendo na Califórnia – para onde mudara-se logo após o término do colégio –, ministrado pelo romancista John Gardner, que tornaria-se seu mentor, resolve tentar a ficção. Estudou e lecionou literatura, mas o alcolismo pegou firme, e Carver teve de ser internado várias vezes. Só no final dos anos 1970 é que sua vida retomaria o prumo: ele para de beber em 1977, e, no ano seguinte, conheceria a mulher de sua vida, a poetisa Tess Gardner, com quem passaria a viver e trabalhar – mas só se divorciaria de Maryann em 1982. Infelizmente, veio a falecer precocemente em 1988, aos 50 anos de idade, mas já há´muito um contista respeitado: ‘Will Be Please Be Quiet, Please?’, sua primeira coletânea, publicada em 1976, foi indicado ao National Book Award, o mesmo acontecendo com a terceira, ‘Cathedral’, em 1984 – esta teve os contos ‘A Small Good Thing’ e ‘Where I’m Calling From’ premiados. Notáveis das letras americanas, como John Updike – que incluiu ‘Where I’m ...’ em sua seleção de ‘As Melhores Histórias Curtas Americanas do Século’ – e Phillip Roth são seus admiradores, assim como o cineasta Robert Altman, que, inspirado em nove contos e um poema de Carver, rodou seu excelente ‘Short Cuts’ em 1993. A compilação destes contos, com introdução do próprio Altman, saiu no Brasil pela Ed. Rocco em 1994, mas encontra-se esgotada há tempos. O filme está sendo lançado pela primeira vez em DVD no Brasil pela Lume Filmes. E um novo volume de Carver, ‘Iniciantes’, ganha as prateleiras das livrarias brasileiras pela Cia. Das Letras.)

Carver: mestre da narrativa curta, minimal, radiografou a alma dos ‘little men and women’ de seu país em contos quase cinematográficos

‘Short Cuts’, o filme: mais uma obra-prima de Altman

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

COMPANHIA MAGNÉTICA NAS ONDAS DO RÁDIO!

Então tá, moçada, conforme já adiantado na última "newsletter" enviada aos amigos, COMPANHIA MAGNÉTICA ganhou um irmãozinho radiofônico! Na verdade, com algumas diferenças em relação ao espaço virtual aqui: enquanto na rede tratamos de música – rock, especialmente, mas não só – de diferentes estilos, conceitos, ..., no rádio, o programa será bem mais específico (mas nem tanto): a parada lá vai ser parecida com o ‘Freak Show’, programa que criei e apresentei com meu amigo Porsche na Rádio da Unisinos entre 1996 e 2003 – o programa segue até hoje sob o comando talentoso da figura.

Bom, mas o COMPANHIA MAGNÉTICA vai ao ar a partir deste Sábado, na FM Cultura (107.7), às 22h, logo após o ‘Contra-Cultura’, do Dill e do Luíz Henrique. A diferença básica em relação ao FS é que não vou me prender só às novidades do underground e às bandas mais quentes do momento ou mesmo ao som das décadas de 1990 e 2000, mas também aos clássicos obscuros, daqueles artistas e grupos que marcaram época, provocaram rupturas, influenciaram e influenciam o rock e a música pop até hoje – tipo aquelas bandas sobre as quais ouvíamos falar e líamos a respeito, mas nunca conseguíamos ouvir no dial.

Contamos com a audiência qualificada de todos, e abaixo vai um breve resumo e o "playlist" do primeiro programa. Valeu e nos falamos sábado à noite (quem tá fora do pampa, pode acessar o site, http://www.fmcultura.com.br/ e conferir)!

1º bloco

FLEET FOXES White Winter Hymnal
Grupo americano de Seattle (Washington), toca folk psicodélico com flagrantes influências sessentistas (Dylan, Buffalo Springfield, Byrds, Zombies e até Crosby, Stills, Nash & Young). O elogiado álbum de estreia, homônimo, foi considerado um dos melhores de 2008. Antes, haviam lançado um E.P. que também deu o que falar, ‘Sun Giant’, também de 2008.


MODEST MOUSE – Autumn Beds
Novo E.P., mais uma vez de nome irônico (‘No One’s First and You’re Next’), de um dos preferidos da "firma", o hoje sexteto – também de Washington, só que da desconhecida Isacquah – liderado pelo esquisitão Isaac Brock, e que tem nas suas fileiras o lendário Johnny Marr (a lírica e inesquecível guitarra dos Smiths). São regravações de (oito) faixas da mesma época de ‘Good News for People Who Love Bad News’, de 2004, enquanto não vem o novo álbum.

SONIC YOUTH – Antenna
A instituição novaiorquina volta às suas origens: ‘The Eternal’ é o primeiro lançamento por uma gravadora indie em 20 anos de Thurston Moore, Kim Gordon, Lee Ranaldo e Steve Shelley (agora com a companhia de Mark Ikabold, ex-baixista do Pavement). Lá fora, sai pela Matador – aqui, ainda não tem previsão.

VAMPIRE WEEKEND – Mansard Roof
Outro grupo americano (de Nova Iorque) que chamou atenção ano passado, pra muitas publicações responsável pelo melhor disco de 2008, por conta de seu homônimo debut. O VM tem uma peculiaridade: a referência principal dos caras é o pop africano. Por isso, foram apelidados de "Upper West Side Soweto", e sempre que se fala neles alguém lembra do Paul Simon de ‘Graceland’ e os Talking Heads. Começaram em 2006 e vêm do circuito universitário (outro motivo pra lembrar os Heads): eram colegas na Columbia University e estrearam tocando em eventos literários. Antes do álbum, lançaram um E.P., ‘Mansard Roof’, igualmente super elogiado.

2º bloco

Em comemoração aos seus 20 anos de existência, o selo britânico Warp – um dos mais importantes da música eletrônica das mais variadas vertentes dos anos 1990 e 2000 –, acaba de lançar uma caixa com 2 CD’s duplos e 3 míni-CD’s ('Warp 20') contendo clássicos, pérolas obscuras, remixes ... Alguns artistas do selo (as faixas não necessariamente estão na caixa):

BOARDS OF CANADA – Roygbiv
Duo escocês formado pelos irmãos Sandison (Marcus e Michael), seu primeiro disco, ‘Music Has the Right to Children’, de 1998, além do título bacana, é também um clássico absoluto da electronica. Os Sandinson manipulam tapes e mexem com samplers desde os 10 anos de idade, e formaram o BoC em 1986, quando um tinha 14 e outro 15 anos. O som, de difícil classificação, vai da ambient ao trip-hop.

PLAID – Headspin
Cerebral duo londrino, Ed Hanley e Andy Turner fizeram remixes pra uma penca de artistas, primeiro como integrantes do trio Black Dog. A música dos caras, em seu primeiro álbum, ‘Up For Trees’, tem uma queda pra chamada IDM ("Inteligent Dance Music").



APHEX TWIN – 4
O malucão por excelência da música eletrônica dos anos 90, o irlandês Richard D. James também começou pirralho: suas primeiras gravações são de 1985, quando contava com 15 anos. Seu ‘Selected Ambient Works 1985-1992’ é outro álbum básico dos 90’s. O termo "Inteligent Dance Music" foi cunhado justamente por causa dele, que prefere "brain dance" (o que, convenhamos, dá na mesma). Rodamos aqui uma faixa de seu trabalho mais acessível, o autobiográfico ‘Richard D. James Album’, de 1996, onde é possível se ouvir a sua voz (embora não seja composto exatamente de "canções").

3º bloco

Um míni-especial com THE GOSSIP, finalmente lançado no Brasil. Não é difícil entender todo o hype em cima da banda: a vocalista Beth Ditto (tema de perfil aqui do blog, uns meses atrás), além de pesar mais de 100 quilos (ela jura que são "apenas" 97), é militante: homossexual assumida, fez uma das canções de protesto mais ferozes desta década: ‘Standing in the Way of Control’, faixa-título de seu álbum de 2005, uma irada resposta à não aprovação de lei que permitiria o casamento entre iguais pelo governo Bush. O som do grupo, grosso modo, é uma espécis de White Stripes mais funky: assim com a banda dos "irmãos" White, possuem apenas dois instrumentistas, baixista e baterista – além da poderosa voz de Beth. O álbum que sai no Brasil é o ao vivo ‘Live in Liverpool’, de 2007.

And You Know ... (do álbum ‘That’s Not What I Heard’, de 2000)
Hott Date (idem)
Yr. Mangled Heart (do álbum ‘Standing in the Way of Control’, de 2005)
Jealous Girls (ao vivo)
Standing in the Way of Control (ao vivo)


PS I - a trilha do programa é composta por faixas de ‘Entertainment!’, disco de estreia da Gang of Four, lançado há exatos 30 anos – setembro de 1979 (não me pergunta o dia). Por conta do aniversário, a Go4 tá fazendo shows no Reino Unido neste e no próximo fins-de-semana. Não vai poder ir? Sintoniza na 107.7 no sábado da semana que vem, 26, pra entender por que Flea (Red Hot Chili Peppers), Michael Stipe (R.E.M.), o pessoal do U2, do Franz Ferdinand, do Bloc Party e o próprio Gossip (sem falar naquele pessoal de Brasília dos anos 80, em especial Plebe Rude e Legião) devem até as calças aos ingleses marxistas de Leeds. Não deixa de ouvir!

PS II - No 'Contra' deste sábado, o Luíz e o Dill vão rodar as versões remasterizadas de 'Help!', 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band' e 'A Hard Day's Night' do quarteto de Liverpool aquele. A série 'Beatles Remaster' já havia sido assunto aqui do CM quando do anúncio de seu lançamento futuro, uns meses atrás, e agora tem os 13 álbuns originais e o duplo com os dois volumes dos 'Past Masters' disponíveis nas lojas. Não é cascata da indústria: o negócio é poderoso mesmo, até quem tem implicância com a banda vai perceber que a coisa é séria, o som tá mais denso, os timbres desta vez foram valorizados como têm de ser, as colagens e efeitos dos discos psicodélicos agem diretamente no cérebro do ouvinte (quem ouvir de fones vais tomar um susto!) e a pegada tá mais rock do que nunca. Assim como o trabalho de remasterização feito nos álbuns dos Stones e de Dylan, só cabe dizer o seguinte: são outros discos agora (ou eram outros discos antes e agora, sim, é que se trata da "the real thing").

Então, neste sábado à noite, na FM Cultura (107.7), das 8 às 10, Beatles remasterizados, e das 10 às 11, Fleet Foxes, Vampire Weekend, Modest Mouse, Sonic Youth, Boards of Canada, Plaid, Aphex Twin e Gossip. Quem gosta de rock não vai poder reclamar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Paradão da Semana (08-11de setembro de 2009)

Blown a Wish (My Bloody Valentine)
Excited (Die Haut c/Anita Lane & Kid Congo Powers)
Lorna Doom (Rocket from the Crypt)
Carbona Not Glue (Ramones)
Kiss Off (Violent Femmes)
Just One Fix (Ministry)
Teenage Lust (Jesus and Mary Chain)
Neighbourhood of Infinity (The Fall)
You Dress Up for Armageddon (Hives)
Real World (Buzzcocks)
Confusion Fog (Meat Puppets)
Fragile (Nine Inch Nails)
Dime Store Mystery (Lou Reed)
Let It Ride (Dinosaur Jr.)
Melody Lee (Damned)
The Book I Read (Talking Heads)
Sister Midnight (Iggy Pop)
Neurotica /Frosted Flake (Redd Kross)
Suspect Device (Stiff Little Fingers)
Why Be Blue (Suicide)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Paradão da Semana (31/08 a 04/09/2009)

Out of the Blue (ao vivo, ‘Viva!’) (Roxy Music)
Break On Through (to the Other Side) (Doors)
Somebody Got Murdered (Clash)
When Problems Arise (Fishbone)
High Plains Drifter (Beastie Boys)
True Confessions (Undertones)
New Dawn Fades (Joy Division)
Sunday Morning (Velvet Underground)
The Real Me (The Who)
Behind the Sun (Red Hot Chilli Peppers)
Ghetto Musick (Outkast)
Scared to Dance (UK Subs)