sexta-feira, 26 de março de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (27)

Nosso programa deste sábado, 27/03, 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br). Just in time, this way. Relax and have a good time.

1º bloco:

REDD KROSS – Teen Competition


Grupo californiano de Los Angeles, formado há exatos 30 anos, fazendo um mix de powerpop, punk rock e vocais à la Beatles. Começaram muito jovens: os irmãos McDonald, Jeff, o guitarrista, e Steve, o baixista, tinham respectivamente 15 e 11 (!) anos quando começaram a tocar, usando o nome The Tourists, e foi com essa alcunha que fizeram seu primeiro show, abrindo para a lenda do hardcore angeleno Black Flag. Já se chamando Red Cross, mas com a grafia gramaticalmente correta – ainda sem os dois ‘d’ e o ‘k’ –, gravaram seu primeiro álbum, ‘Born Innocent’, em 1981, ainda guris, só que aí foram processados pela verdadeira Red Cross, a Cruz Vermelha Internacional, e então adotaram a grafia definitiva. Seus dois álbuns mais clássicos são ‘Neurotica’ (1987) e ‘Phaseshifter’ (1993) – este último com macica rotação na MTV americana. Outro disco bacana é ‘Show World(1997).

POSIES – Dream All Day

Outro grupo americano que faz o crossover entre pegada punk e melodias sessentistas, o quarteto de Bellingham, Washington, contemporâneo do grunge, também começou lançando material para um selo de Seattle, mas não o incensado Sub Pop que fez a fama de Nirvana e Mudhoney, e sim o pequeno Popllama Records, que editou seu primeiro álbum, ‘Failure’, em 1988. Coincidentemente, contudo, assim como a banda de Kurt Cobain, também os Posies foram fisgados pela Geffen Records, pela qual registraram os três álbuns seguintes, entre eles seu melhor trabalho, ‘Frosting On the Beater’, de 1993 – que os Posies vão tocar inteirinho, na ordem, em show em Seattle no mês que vem. Os guitarristas/cantores e compositores Jonathan Auer e Ken Stringfellow são os donos da bola, e participaram também da volta do Big Star, em 1994, quando Alex Chilton (infelizmente falecido semana passada) e Jody Stephens resolveram reeditar o grupo para alguns shows.

TEENAGE FANCLUB – Star Sign

Mais um que vai na onda do powerpop, e também uma das principais bandas do rock britânico dos anos 1990, os escoceses de Glasgow, na ativa desde 1989, tem um de seus principais diferenciais o fato de não ter nem um, nem dois, mas três compositores de grande talento: Norma Blake e Raymond McGinley, também guitarristas, e Gerard Love, baixista – os três cantam as canções do grupo. Antes do Teenage Fanclub, tiveram outras duas bandas: Boy Hairdressers, que deixou apenas um single, e o BMX Bandits, de fama cult na Grã-Bretanha da Segunda metade dos anos 1980. Os dois primeiros álbuns do Teenage são clássicos do rock da década de 1990: ‘A Catholic Education’, lançado pela Creation Records no Reino Unido e pela Matador na América em 1990, e ‘Bandwagonesque(1991), estreia pela Geffen. Este último, inclusive, foi eleito o disco do ano de 1991 pela revista americana Spin, à frente do estourado ‘Out of Time’, do R.E.M., dos ultra-influentes ‘Loveless’ (My Bloody Valentine), ‘Blue Lines’ (Massive Attack), ‘Screamadelica’ (Primal Scream) e do álbum que mudou o mercado fonográfico, o clássico ‘Nevermind’, do Nirvana. O Teenage Fanclub já tocou no Brasil, em 2004, abrindo para os Pixies, num festival em Curitiba.

2º bloco:

OWEN PALLETT – E is For Estranged


Michael James Owen Pallett-Plowright, canadense de Toronto, cantor, compositor, violinista, recebeu formação clássica desde a infância, passando a fazer apresentações-solo aos 15 anos de idade,. À medida que seus interesses foram se definindo pelo som indie, Pallett foi se aproximando de artistas como The Hidden Cameras e Arcade Fire, pra quem escreveu arranjos, assim como The Last Shadow Puppets e Fucked Up. Além das colaborações, tratou de fundar seu próprio projeto, o Final Fantasy, que depois de dois discos, teve seu nome engavetado, pra não confundir com o game de mesmo nome. O primeiro disco de Owen Pallett usando o próprio nome é o elogiado ‘Heartland’, e saiu em janeiro.

JOANNA NEWSOM – Easy

Esta já tocou até em Porto Alegre, no Átrio do Santander Cultural. A californiana Joanna, 27 anos, traza a formação musical de berço: a mãe era pianista clássica, o pai, guitarrista, e os irmãos, também músicos. Isso sem falar no músico de vanguarda Terry Reily, vizinho da família. Joanna teve suas primeira lições no piano quando muito pequena, e aos sete anos já trocava as teclas pelas cordas da harpa. Logo se interessaria pela música celta, pela música do oeste da África e da Venezuela, e mais adiante viriam o jazz, o folk e punk e o som indie dos 90’s. Sem jamais ter cantado antes, gravou suas primeiras canções, que chegaram aos ouvidos de gente como Cat Power e Will Oldham, que a convidaram pra abrir seus shows. Após dois E.P.’s, veio o primeiro álbum, ‘The Milk-Eyed Mender’, em 2004, seguido de ‘Ys’, dois anos depois, ambos muito elogiados. Tendo se dedicado extensamente às turnês e a outros projetos, inclusive não-musicais, voltou às lojas no mês passado, com o CD triplo Have One On Me’, pela mesma Drag City, de Chicago, que lançou todo seu material.

MARY TIMONY – Aging Astronauts II

Cantora, compositora e múlti-instrumentista americana de Washington DC, já tinha pintado aqui no CM com seu extinto grupo, o Helium. Antes desse, havia sido cantora do grupo punk feminino Autoclave, que deixou apenas dois E.P.’s. Mary, que estudou viola na Duke Ellington School of the Arts de Washington e formou-se em literatura inglesa pela Boston University, entrou no Helium em 1992, em substituição a Mary Lou Lord, e já foi de cara dando as cartas, adonando-se do controle criativo do grupo. A partir do álbum ‘Magic City’ (1997), passou a incorporar elementos da psicodelia sessentista e do art rock dos 70’s, influência que apareceria também em seus álbuns-solo, que são quatro até agora. ‘Aging Astronauts II’ tá na coletânea triplaEverything is Nice’, lançada em 1999 , reunindo vários artistas pra comemorar os dez anos da gravadora novaiorquina Matador Records, ex-selo de Timony, hoje na igualmente influente Kill Rock Stars. Trata-se de uma regravação de uma faixa que já havia sido registrada em ‘Magic City’, que seria o último disco do Helium.

3º bloco:

‘THE CRAMPS – Songs The Lord Taught Us (1980)’


O tipo de grupo de quem se pode dizer: este ajudou a salvar o rock. Formados em abril de 1976 na capital da Califórnia, Sacramento, e depois relocados pra Nova Iorque, os Cramps são fruto das mentes de um casal apaixonado por filmes B (em especial de ficção científica e horror), rockabilly, as bandas de garagem sessentistas e um visual espalhafatoso que incluía saltos plataforma, couro, vinil e referências à indumentária sado-masô. Erick Lee Purshiker e Kristy Marlana Wallace conheceram-se em 1972, quando ele deu carona pra ela. No caminho foram conversando e não precisaram mais do que alguns minutos pra se entender, já que ficaram latentes as afinidades artísticas. Trocaram os telefones, mas não chegaram a marcar encontro, mas algumas semanas depois se cruzaram num curso de ‘Arte e Xamanismo’ no Sacramento City College. Decidiram então formar uma banda, e Erick passou a chamar-se de Lux Interior, nome tirado de um anúncio de carro que havia visto, enquanto Kristy transformou-se em Poison Ivy Rorschach. Ele ficou com os vocais, ela com a guitarra – embora jamais houvesse encostado num instrumento até então.

Já vivendo juntos, os pombinhos mudaram-se pra Akron, Ohio, e de lá pra Nova Iorque, onde a cena pré-punk da cidade já bombava, em shows no Max’s Kansas City e no CBGB’s. Completava a formação original do grupo um sujeito sinistro chamado Greg Beckerleg, colega de Lux numa loja de discos onde ambos eram atendentes. Greg assumiria o nome artístico de Bryan Gregory e a segunda guitarra – os Cramps não tinham baixista. O posto de baterista foi ocupado provisoriamente por duas meninas (uma delas, a irmã de Gregory) até que se estabilizou com Nick Stephanoff, o Nick Knox, já conhecido por sua passagem pelos terroristas sonoros Electric Eels.

As primeiras gravações dos Cramps foram feitas na mítica Memphis com o não menos mítico Alex Chilton (o frontman do seminal Big Star) como produtor. Em 1979, empresariados por Miles Copeland, descolaram um contrato com o recém-fundado selo indie I.R.S. (que em breve teria o R.E.M. em seu cast), e o primeiro E.P., reunindo material lançado antes pelo próprio selo da banda, chamaria-se ‘Gravest Hits’. Na sequência, embarcaram para uma bem-sucedida tour europeia, abrindo para a banda do irmão de Miles, Stewart – o Police –, em que acabaram roubando vários shows da banda de Sting. De volta à América, mais uma vez pousaram em Memphis, e mais uma vez com produção de Chilton, dessa vez pra registrar seu álbum de estreia, singelamente intitulado ‘As Canções que o Senhor nos Ensinou’, que continha tanto composições próprias que se tornariam clássicos dos Cramps quanto regravações, como ‘Strychnine’ (Sonics), ‘Tear It Up’ (Billy Burnette) e a famosa ‘Fever’ (gravada por gente que vai de Madonna a Judas Priest, de Tom Jones a Little Milton, Jimmy Smith ...).

Tudo corria bem, com os Cramps se preparando para um consagradora tour pelos estados unidos, até que Gregory surpreende ao deixar o grupo: o mais sombrio dos Cramps saiu pra tratar seu vício em heroína, embora boatos na época tenham circulado dando conta de que o rapaz ia mesmo era dedicar-se ao ocultismo, o que foi negado por Lux e Poison. O fato é que o trio restante resolveu mudar-se pra Los Angeles, e lá recrutaram pro lugar de Gregory o guitarrista do Gun Club, Kid Congo Powers. Desde então, os Cramps tiveram uma penca de formações diferentes, gravaram mais uma dezena de álbuns e divertiram plateias mundo afora por quase 30 anos, até o falecimento de lux, de ataque cardíaco, em 4 de fevereiro do ano passado. Ele tinha 62 anos.

TV Set
Garbagemen
I Was a Teenage Werewolf
I’m Cramped
Fever



A formação clássica, com Gregory e Knox: sinistros e divertidos


O casal Lux Interior (1946-2009) e Poison Ivy: o tipo de gente que nasceu pro rock (que por sua vez nasceu pra gente como eles)

sexta-feira, 19 de março de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA (26)

O playlist do programa deste sábado, 20, às 22h na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede) é este:

1º bloco:

BLACK REBEL MOTORCYCLE CLUB – Beat the Devil’s Tattoo


Pintando mais uma vez no programa, agora de disco novo (lançado semana passada lá fora), o 6º de estúdio e 7º de carreira, ‘Beat The Devil’s Tattoo’, o trio californiano de San Francisco que busca sua inspiração no som britânico da virada dos anos 1980 para os 90 (Jesus & Mary Chain, My Bloody Valentine, Stones Roses), vem de um álbum ao vivo e outro de experimentos eletrônicos (só lançado no site do próprio grupo). ‘Beat ...’ é justamente uma volta so mix de noise, melodia e um certo clima bluesy que fez a fama da banda do baixista Robert Levon Been e do guitarrista Peter Hayes, agora acompanhados do baterista Leah Shapiro, ex- Raveonettes e Dead Combo.

THE MORNING BENDERS – Excuses

Também californiano, não de San Francisco, mas ali do ladinho: são da universitária Berkley, palco da rebelião dos ‘sit-ins’, no primeiro verão do amor, em 1967. Mas os Morning Benders são um projeto, iniciado em 2005, do cantor e compositor Chris Chu, que, num primeiro momento, se virava sozinho no seu laptop – foi assim que registrou o primeiro E.P., ‘The Loose Change’, de 2006 –, até que entraram o baterista Julian Harmon, o baixista Tim Or e o tecladista Joe Ferrell. Após o disco de estreia, ‘Talking Through Tin Cans’ (2008), mudaram-se pro Brooklyn, lar das mais quentes bandas da América hoje – TV On The Radio, Grizzly Bear, Animal Collective, The Antlers, Dirty Projectors –, e o pop ensolarado inspirado nas melodias sessentistas dos caras ficou mais experimental. ‘Big Echo’, o segundo disco, também saiu semana passada lá fora.


SPIRITUALIZED – Death to Your Fiddle


Outro que pinta de novo por aqui, o combo psicodélico/sorumbático/esquisito com um pé no gospel e na soul music liderado pelo cantor/compositor/guitarrista/doidão de carteirinha Jason pierce, ex-Spacemen 3, teve relançado recentemente lá fora seu clássico 4º disco, ‘Ladies and Gentlemen We Are Floating In Space’ (justamente álbum/faixa que CM tocou uns programas atrás), de 1997, em edição dupla, de luxo, que chegou a merecer uma raríssima nota 10 do influente site americano pitchfork.com. O trabalho mais recente da banda inglesa, que em 2009 completou 20 anos de carreira, é ‘Songs A & E’, de 2008, gravado pouco tempo depois do malucaço Pierce quase morrer em funçãod e uma pneumonia.

2º bloco:

DANGERMOUSE & SPARKLEHORSE c/ JULIAN CASABLANCAS – Little Girl











O grande mistério de 2009: o disco reunindo os talentos de Brian Burton (conhecido no mundo pop pela alcunha de Danger Mouse, metade do Gnarls Barkley e produtor respeitado) e Mark Linkous, falecido há duas semanas e homenageado no programa passado, e seu Sparklehorse, além de uma penca de convidados bacanas (Flaming Lips, Iggy Pop, Suzanne Vega, o ex-Pixies Frank Black e até o cineasta esquisitão David Lynch). ‘Dark Night of the Soul’, que viria em uma embalagem de luxo, ornamentada inclusive por fotografias de autoria de Lynch, foi proibido de sair pela EMI por conta de supostas pendências contratuais de Danger Mouse com o selo. O curioso é que, em protesto, os caras resolveram vender pela internet a capa do disco e o livrinho de fotos acompanhado de um CD virgem com os dizeres “use-o como quiser”. Mas informações recentes dão conta de que parece que o lançamento oficial vai sair, no próximo verão americano.


MASSIVE ATTACK (vocal de HORACE ANDY) – Girl I Love You


Desde o final dos 1990’s devendo um disco que junte à tradicional densidade a criatividade transbordante dos três primeiros discos, os clássicos ‘Blue Lines’ (1991), ‘Protection’ (1994) e ‘Mezzannine’ (1998), o grupo eletrônico de Bristol, virtual fundador do trip-hop, retorna com um disco também cheio de participações especiais (Damon Albarn, Hoope Sandoval, Guy Garvey, do Elbow, Tunde Adebimpe, do TV On The Radio). ‘Heligoland’ (2010) recupera, em parte, o prestígio da dupla Robert ‘3D’ Del Naja e Grant ‘Daddy G’ Marshall, diminuído com o razoável ‘100th Window’ (2003) e a fraca trilha sonora de ‘Danny the Dog’ (2004).

U.N.K.L.E. c/ RICHARD ASHCROFT – Lonely Soul

Projeto do londrino James Lavelle, qus, inspirado tanto pelo som novaiorquino dos anos 1980 (electro, hip-hop) quanto pelo acid jazz, a house e o techno britânicos da virada dos 80’s para os 90’s, fundou um dos selos mais bacanas das últimas duas décadas (o Mo’ Wax) e também seu grupo, o UNKLE, que inicialmente tinha ainda os também DJ’s e produtores Tim Goldsworthy e Kudo – que seriam substituídos pelo “Jimi Hendrix dos toca-discos”, o californiano Josh Davies, conhecido internacionalmente pelo nome de DJ Shadow, antes da gravação do primeiro álbum, ‘Psyence Fiction’ (1998), que também conta com um monte de convidados escolhidos a dedo: Thom Yorke, Jason Newsted (então ainda no Metallica), Mike D, Badly Drawn Boy. DJ Shadow pulou fora logo depois do lançamento do disco, e o UNKLE teve várias formações depois, sempre, lógico, com Lavelle no comando. O novo disco, ‘Where Did the Night Fall’, sai em maio.


3º bloco:

‘KILLING JOKE – Killing Joke (1980)’

Patrimônio do pós-punk britânico, referência para os góticos, pro pessoal que faz som industrial, pro mix de barulheira e eletrônica do Ministry e do Nine Inch Nails, pro grunge (é conhecida a história de que Kurt Cobain roubou a introdução de ‘Eighties’ pra fazer ‘Come As You Are’) e até pra moçada do metal, a ‘Piada Mortal’ surgiu em outubro de 1978 no famoso bairro boêmio londrino, Notting Hill, e 32 anos e 13 álbuns depois, continua firme e forte (literalmente) assombrando as plateias mundo afora com seu peculiar som que mistura bateria tribal, baixo funkeado, riffs de guitarra quase heavy metal, versos pessimistas e vocais agônicos.

A formação inicial do KJ tinha o arauto do apocalipse Jaz Coleman nos vocais e teclados, o guitarrista Geordie, o baixista Youth (que mais tarde ficaria famoso como produtor e artista de música eletrônica) e um dos melhores e mais ruidosos bateristas do pós-punk inglês, Paul Ferguson. O primeiro E.P., ‘Almost Red’, foi gravado com grana emprestada pela namorada de Coleman de então, e caius nas graças do lendário DJ John Peel, da Radio One da BBC, que ofereceu uma de suas famosas ‘seções’ ao grupo. No final de 1979, assinavam com a Island Records, embora mantivessem seu próprio selo, Malicious Records. O primeiro single, ‘Wardance’, chegou às lojas em fevereiro de 1980, mas por aí já haviam se desentendido com a Island. O álbum de estreia, simplesmente intitulado ‘Killing Joke’, já saiu pela EG, e o KJ, que tocava regularmente por toda a Inglaterra, já começava a ficar famoso pelos seus shows, não apenas pela energia demonstrada, mas também pelo gosto pela provocação: chegaram, a ser proibidos de tocar em Glasgow, na Escócia, porque o banner que usavam no palco mostrava o Papa sendo saudado por nazistas. O segundo disco, ‘What’s THIS For ...!’ (1981) só aumentou o culto ao Joke. ‘Revelations’ (1982) é o último com a formação original: Youth saiu pra formar Brilliant, grupo de funk futurista, sendo substituído por Paul Raven. ‘Fire Dances’ (1983) e ‘Night Time’ (1985, lançado à época no Brasil) ainda seguram a onda, mas os dois discos seguintes já mostram uma banda cansada.

É nos 90’s que o Killing Joke vai ressurgir, primeiro com a barulheira de ‘Extremities, Dirt & Various Repressed Emotions’ (1990) e a parafernália eletrônica de ‘Pandemonium’ (1994) – este último com Youth de volta, mas sem Ferguson. Em 2003, lançaram um outro álbum homônimo, excelente, com o fã Dave Grohl nas baquetas, e pro mês que vem tás prometida a volta da formação original, no novo álbum, ‘Feast of Fools’.

Requiem
War Dance
The Wait
Complications



A Piada Mortal nos primórdios: a dança do apocalipse nuclear







Não, não é o Coringa: mr. Jaz Coleman, o mestre de cerimônias do fim do mundo

COMPANHIA MAGNÉTICA (24 e 25)

Retomando as atividades, então, após breve interrupção, no ritmo lento do verão inacreditavelmente escaldante, onde o ócio se manifesta em toda a sua plenitude, vão aí, a essas alturas só pra constar, os playlists dos últimos dois programas. o deste sábado, vem em instantes.

24º Programa (06/03/2010)

1º bloco:
FOLK IMPLOSION – Hard to Find Out



Uma das várias bandas de Lou Barlow (ex-Sebadoh e hoje de volta ao Dinosaur Jr., reconciliado a J Mascis), o FK foi formado em 1993 em Boston por Lou e seu amigo Josh Davis, e foi um dos baluartes do som lo-fi da primeira metade da década de 1990, a exemplo do Sebadoh. O curioso é que jamais foi a nbanda principal de Barlow, mas a que mais sucesso fez, ainda que por um breve (brevíssimo) momento, com o hit ‘Natural One’, da trilha do polêmico filme ‘Kids’, de Larry Clark. Deixou quatro álbuns, sendo que o primeiro, ‘Take a Look Inside’ (1994), tem 14 faixas e pouco mais de 20 minutos.

SPOON – I Saw the Light

Grupo texano, uma das sensações do som indie desta década, formado em 1994 pela dupla Britt Daniel (vocalista e guitarrista) e Jim Eno (baterista), tiveram várias formações flutuantes no início, e com o álbum de estreia, ‘Telephono’, de 1996, foram muito comparados com guitar bands clássicas do cenário alternativo americano, como Pixies e Sonic Youth, além de turnês abrindo pra Pavement, Guided By Voices e Archers of Loaf. Começaram gravando pro lendário selo novaiorquino Matador, foram contratados em seguida pela Elektra e dispensados logo depois, e desde o começo da década estão na Merge, do pessoal do Superchunk. O Spoon tem seis álbuns de estúdio, entre eles os aclamados ‘Girls Can Tell’ (2001) e ‘Ga Ga Ga Ga Ga’ (o mais recente, de 2007), mais um registro ao vivo. O novo, ‘Transference’, acaba de sair lá fora.

LIARS – The Overachievers

Uma das principais bandas da atualidade, os caras são ex-estudantes de artes californianos, que mudaram-se pra Nova Iorque – onde surgiram, no começo desta década, junto com Yeah Yeah Yeahs, Strokes e TV On The Radio – e de lá pra Berlim, onde residem atualmente. As principais influências do grupo são basicamente daqueles grupos pós-punk britânicos que fundiam ruído, experimentalismos e uma levada funk – tipo o P.I.L., a Gang of Four, A Certain Ratio e o Pop Group. Têm cinco álbuns, todos elogiados, sendo que o novo, ‘Sisterhood’, acaba de sair - também só lá fora.

... AND YOU’LL KNOW US BY THE TRAIL OF DEAD – Mistakes & Regrets

Baseado em Austin, no Texas, na ativa desde 1994, já tocaram no Brasil (num festival em São Paulo), e é obra dos guitarristas, cantores, compositores e bateristas Jason Reece e Konrad Keely, amigos de longa data. O nome – ... ‘e vocês nos conhecerão pela trilha de mortos’ – faz referência a serial killers, e com a entrada de mais um guitarrista, Kevin Allen, e o baixista e responsável pelos samplers Neil Busch, tornaram-se um quarteto, que exploram sonoridades similares às do Sonic Youth (guitarras barulhentas, referências ao Velvet Underground, ao pós-punk e ao krautrock) e têm sete discos no currículo, o último deles ‘The Century of Self’, lançado a um ano. O segundo, ‘Madonna’ (1999), e o terceiro, ‘Source Tags & Codes’ (2002, este geralmente considerado o melhor do grupo), saíram no Brasil.

2º bloco:
IRON & WINE – Cinder and Smoke


É o projeto de Sam Beam, americano de Columbia, South Carolina, e um dos principais compositores do folk indie americano da última década. É mestre em artes pela Florida State University Film School, e curiosamente foi enquanto trabalhava em um filme que cunhou o nome de sua, digamos, ‘banda’: passava em frente a uma casa de comida natureba e lá dizia um cartaz: ‘Beef Iron & Wine’. Paralelamente ao trabalho no cinema, registrava suas canções num aparelho caseiro, e, certa vez, algumas dessas canções foram parar nas mãos de Jonathan Poneman, um dos donos do selo Sub Pop, de Seattle, que se encantou. Beam então lhe mandou dois CD’s pelo correio, que, compilados, redundaram no álbum de estreia, ‘The Creek Drank the Cradle’ (2002). O mais recente disco do I&W é uma coletânea de material disperso, ‘Around the Well’, lançada no ano passado, e seu melhor disco de carreira continua sendo o segundo, ‘Our Endless Numbered Days’, de 2004.

LOW – Immune

Originário de Duluth, Minessota, na ativa desde 1993 e um dos principais grupos que fazem o chamado ‘slowcore’ – aquele som melancólico e lentão, inspirado no falecido baladeiro folk Nick Drake, que faz a alegria (ou alívio, melhor dizendo) dos deprimidos. Alan Sparhawk, o guitarrista e vocalista, Mimi Parker, a baterista e vocalista, e John Nichols, o baixista (depois substituído por Zak Sally), surgiram como uma espécie de reação ao som agressivo e rápido do grunge. O trio tem 11 discos em 15 anos de careira, sendo o mais recente de 2009, ‘Drums and Guns’, também pela Sub Pop. Um dos melhores lançamentos da banda é ‘Secret Name’, de 1999.


VIC CHESNUTT – Coward


Descoberto por Michael Stipe no final dos anos 1980, James Victor Chesnutt só foi atrair a atenção de um público maior quando saiu, em 1996, o álbum beneficente ‘Sweet Relief Two’, em tributo a ele, e gravado por artistas que iam de Madonna a Hootie & The Blowfish, de Smashing Pumpkins ao R.E.M. Chesnutt, talentoso cantor e compositor folk criado na mesma Athens (Georgia) do R.E.M., era paraplégico desde os 18 anos de idade, quando sofreu um acidente de carro. Em um show em Athens, no final dos anos 1980, chamou a atenção de Michael Stipe, que produziu seus dois primeiros discos, ‘Little’ (1990) e ‘West of Rome’ (1991). A estes álbuns, seguiu-se um documentário, ‘Speed Racer’, também no ano de 1991, que ajudou a firmar sua aura cult. Seu último álbum, ‘At the Cut’, saiu ano passado, pouco depois do disco ao vivo ‘Skitter On Take-Off’. O atormentado Chesnutt morreu no último Natal, aos 45 anos de idade, depois de tomar uma overdose de relaxantes musculares que o colocaram em coma. Já havia admitido que tentara o suicídio “três ou quatro vezes’’.

3º bloco:
Especial THE RAINCOATS – ‘The Raincoats’ (1980)


Junto às conterrâneas Slits e às suíças Kleenex/Liliput, formava a santíssima trindade do punk feminino. Formadas no mítico ano de 1977 pela vocalista e guitarrista Ana da Silva e a baixista e também vocalista Gina Birch, quando colegas em um curso de arte em Londres, as Raincoats tiveram alguns rapazes nas primeiras formações até estabelecerem-se como um grupo só de garotas no final de 1978, com a entrada da ex-baterista das Slits, Palmolive, e da violinista Vicky Aspinall. E a primeira turnê turnê pela Grã-Bretanha foi justamente em conjunto com as suíças Kleenex (que depois trocariam o nome para Liliput). O primeiro single das meninas tinha ‘Fairytale in the Supermarket’ no lado A e ‘In Love’ e ‘Adventures Close to Home’ no B, todas faixas que entrariam no disco de estreia, ‘The Raincoats’, lançado no início de 1980. Pouco depois do lançamento do álbum, Palmolive deixava a banda, dando lugar a Ingrid Weiss. ‘Oddyshape’, o segundo disco, começaria a ser gravado em seguida, com participação de Robert Wyatt. O terceiro, o ao vivo ‘The Kitchen Tapes’, foi gravado em dezembro de 1982 em Nova Iorque, em um espaço dedicado às artes chamado The Kitchen (daí o nome), e lançado pela a indi ROIR no ano seguinte. ‘Moving’, que saiu em 1984, já foi lançado em um momento em que as meninas estavam mais interessadas em projetos-solo do que no grupo. Pausa para 1992.

Em turnê pela Inglaterra com o Nirvana, Kurt Cobain, em um tempinho livre entre os shows, foi até a loja do selo Rough Trade na Talbot Road em Londres, pra comprar uma cópia do primeiro disco das Raincoats, quando alguém teve a ideia de levá-lo até um antiquário nas proximidades, cujo proprietário era o primo de Ana da Silva, que estava lá a esperá-lo. Kurt fez referência apaixonada ao encontro no texto do encarte da coletânea ‘Incesticide’, do Nirvana, que saiu logo depois, o que fez a Rough Trade se animar a relançar os três discos de estúdio das Raincoats em 1993, com textos de Kurt e Kim Gordon, do Sonic Youth. Daí para a volta, foi um pulinho: convencidas a se reunirem novamente, Ana e Gina toparam tocar no Garage, em Londres, com Steve Shelley (Sonic Youth) na bateria e Anne Wood no violino. O que a princípio seria apenas um show para celebrar os relançamentos, acabou virando um retorno real à carreira: ‘Looking in the Shadows’, o quinto álbum de carreira das Raincoats, saiu em 1996, e incluía, além de Ana e Gina, a violinista Anne Wood e a baterista Heather Dunn. Pete Shelley (Buzzcocks) participou do disco.

Desde então, as Raincoats fazem participações esporádicas em eventos (como o Festival Meltdown, de 2001, organizado por Robert Wyatt, e um álbum em tributo aos alemães dos Monks) e tocam ocasionalmente. Estão escaladas para tocar no festival inglês All Tomorrow’s Parties – que este ano tem curadoria do criador dos Simpsons, Matt Groening – em maio.

Fairytale in the Supermarket
No Side to Fall In
Adventures Close to Home
Lola
(The Kinks)
In Love



As Raincoats em ação: a santíssima trindade do punk feminino, junto com as Slits e o Kleenex/Liliput


25º Programa (13/03/2010)

1º bloco:


LOCAL NATIVES – Sun Hand

Banda californiana estreante, uma das sensações deste início de 2010 – junto com os novos do Vampire Weekend, dos Liars, do Beach house e do Spoon. ‘Gorilla Manor’, o debut dos caras, na verdade saiu no finalzinho do ano passado pelo selo Frenchkiss e no mês passado pela Infectious Records no resto do planeta (o que inicialmente ainda não inclui o Brasil). São um quinteto, que faz um som melódico, com referências que vão às guitar bandas clássicas americanas tipo Pavement e Built to Spill e à fase afro dos Talking Heads, de quem, aliás, gravaram ‘Warning Sign’. Toque: no site da banda (www.thelocalnatives.com), dá pra baixar o disco inteirinho, mais a demo de ‘Warning Sign’, uma versão ao vivo de ‘Airplanes’ e dois vídeos ao vivo)

LOS CAMPESINOS! – Romance is Boring

Septeto de Cardiff, País de Gales, pintando mais uma vez no programa, desta vez através de seu terceiro álbum, o recém-lançado ‘Romance is Boring, que vem dividindo opiniões. Os cabeças do grupo são Tom, o guitarrista, e Garreth, responsável pelo glockenspiel, que compõem a maioria das canções, defendidas por todos os integrantes, que também usam o mesmo, digamos, “sobrenome”, à moda dos Ramones: são todos “Campesinos”. A banda, que existe há aproximadamente quatro anos – o primeiro show foi em maio de 2006 –, teve ascenção meteórica: três meses depois da estreia, já abriam para os americanos do Broken Social Scene e no começo de 2007 era lançado o primeiro single. Los Campesinos! Já tocaram até na América do Sul.

SPARKLEHORSE c/ PJ HARVEY – Piano Fire

Uma das melhores bandas americanas dos últimos 15 anos, que lamentavelmente encerrou suas atividades no sábado, 6, da pior maneira possível, com o suicídio de seu cantor, compositor e guitarrista Mark Linkous, que tinha 47 anos. O melancólico Mark já havia vivido um episódio dramático, nos anos 1990, que quase encerrou ainda mais precocemente sua atormentada existência: em 1996, passou 14 horas inconsciente no banheiro de um quarto de hotel por conta de uma overdose de antidepressivos prescritos por seu médico, misturados com Valium. Em função disso, ficou com as pernas de tal maneira enrijecidas que comprometeram a circulação, e, por muito pouco, não ficou paralítico. Só alguns meses e várias cirurgias depois é que foi se recuperar – com sequelas –, experiência que serviu de inspiração para o segundo álbum da banda, ‘Good Morning Spider’. O Sparklehorse, que gravou com Thom Yorke uma versão bacana de ‘Wish You Were Here’, do Pink Floyd, deixou cinco álbuns, o último deles em parceria com Danger Mouse, intitulado ‘Dark Night of the Soul’, atração do próximo programa. Mas um dos melhores discos do grupo de Linkous é ‘It’s a Wonderful Life’, de 2001.


2º bloco:

MGMT – Flash Delirium


Novo single do festejado duo novaiorquino, Ben Goldwasser e Andrew Van Wyngarden, sensação há dois anos com o álbum de estreia, ‘Oracular Spectacular’, e os hits ‘Time to Pretend’ e ‘Electric Feel’. O novo disco da dupla, sem dúvida um dos lançamentos mais aguardados do ano, tem o título de ‘Congratulations’ e sai dia 13 do mês que vem. O electro-pop psicodélico do MGMT começou lá em 2002, quando Goldwasser e Wyngarden eram estudantes de arte, seu som tinha uma pegada mais punk e a empresa chamava-se Manegement. Aos poucos, foram adicionando outras referências, como os Flaming Lips, com quem costumam ser comparados (até participaram do último disco dos Lips, ‘Embryonic’), o Bowie dos anos 1970, o pop californiano ensolarados doas 60’s, o electro-rock do LCD Sound System. O MGMT já tocou no Brasil, em outubro de 2008, fechando o Tim Festival.

THE KNIFE – Silent Shout

Outro duo eletrônico também festejado, este sueco, formado pelos irmãos Olof e Karin Dreijer – esta última lançou um dos melhores discos de 2009, sob a alcunha de ‘Fever Ray’, uma das atrações da série ‘Melhores de 2009’ de CM. The Knife foi formado em 1999 em Estocolmo, com fartíssimas referências ao synthpop dos anos 1980 e até a coisas ainda mais “vintage”. O primeiro single dos irmãos, ‘Afraid of You’, gravado no estúdio caseiro da dupla, saiu em 2000, e o álbum de estreia, homônimo, veio no ano seguinte, lançado pelo próprio selo da banda, Rabid Records. Em 2003, um evento curioso: indicados a dois Grammies – melhor grupo pop e melhor álbum pop, pelo seu segundo disco, ‘Deep Cuts’ – a dupla boicotou a cerimônia e ainda mandou duas pessoas fantasiadas de gorilas pra protestar contra “o domínio de artistas masculinos na indústria musical”. O terceiro e até agora último disco do Knife é ‘Silent Shout’, de 2006, o mais sombrio – e também considerado melhor’ – trabalho dos caras até aqui.

FOUR TET – Love Cry

Projeto do londrino Keiran Hebden, também conhecido no meio alternativo por sua participação no grupo de pós-rock Fridge. Foi justamente quando esse grupo ficou de lado, pra que os outros integrantes tocassem sua vida acadêmica, que Kieran aproveitou pra ativar de vez o Four Tet, que não utiliza apenas parafernália eletrônica, mas também a velha e boa instrumentação “orgânica”. O Four Tet tem seis álbuns, sendo que apenas o terceiro, o ótimo ‘Rounds’, de 2003, foi lançado no Brasil. O novo, ‘There Is Love In You’, saiu lá fora em janeiro.

3º bloco:

DEVO – 'Q: Are We Men? A: We Are Devo!


Referência da ‘new wave’ e talvez por isso uma das bandas mais subestimadas de todos os tempos, pelo menos por aqui, onde o termo adquiriu um tom pejorativo, entre os ‘roqueiros’ que nutriam um infundado preconceito contra o então ‘novo rock’ surgido no final dos anos 1970/início dos 80, o grupo americano Devo, formado em Akron, Ohio em 1972 pelos colegas estudantes de arte Jerry Casale e Mark Mothersbaugh foi um dos mais divertidos grupos da história do rock. Pegando carona na estética ‘homem-máquina’ explorada pelo Kraftwerk, inventaram o conceito ‘de-evolution’, segundo o qual, em vez de evoluir, o ser humano, na verdade regride, como nota quem observar com mais cuidado a mentalidade-padrão da sociedade norte-americana. O som minimalista e o uso de sintetizadores (instrumento até ali geralmente associado ao rock progressivo) renderam também são marcas que distinguem a banda.

A primeira formação do Devo, além de Casale e Motherbaugh, tinha o amigo Bob Lewis, que ajudou a formatar o conceito ‘de-evolution’, e logo deixaria a atividade de músico pra tornar-se o manager da banda. Mas a primeira formação estável do grupo, mesmo, tinha Casale no baixo, Motherbaugh nos vocais e os irmãos deste, Bob, na guitarra, e Jim, na bateria (eletrônica). Outro Bob, este o irmão de Jerry, assumiu como guitarrista adicional, e Alan Mayers logo substituiria Jim na bateria. O nascente grupo burilaria seu som por alguns anos, e à música se somariam ideias visuais que radicalizariam ainda mais o conceito do grupo, como Mothersbaugh usando uma máscara de bebê e assumindo o personagem Booji Boy (mesmo nome do selo de gravação do grupo), pra simbolizar a regressão infantil, imagens de uma batata, reforçando a ideia de um ser sem individualidade, os músicos todos com corte de cabelo igual, forjando uma estética geek que caius nas graças dos nerds. Nas gravações, experimentavam usando, além de sintetizadores, aquecedores, torradeiras e outros improváveis ‘instrumentos’. Mas foi com a trilha do curta-metragem ‘The Truth About De-Evolution’, filme premiado no Festival do Filme de Ann Arbor de 1976, que chamaram a atenção de gente como Iggy Pop e David Bowie, que recomendaram sua contratação pela Warner.

O disco de estreia, ‘Q: Are We Men? A: We Are Devo!’, sairia em 1978 com a produção de Brian Eno, e logo se tornaria uma sensação no underground americano, mas teve gente que não entendeu a piada: a Rolling Stone, por exemplo, usou a expressão fascista pra designar o grupo, que claramente criticava a apatia e a desumanização do americano médio de então, e não a exaltava. Nos dois anos subsequentes, sairiam outros ótimos discos, ‘Duty Now For The Future’ em 1979, e ‘Freedom of Choice’ (dos clássicos hits ‘Whip It’ e ‘Girl U Want’) de 1980. Já ‘New Traditionalists’, de 1981, trazia uma banda mais séria, e o público cativo do grupo estranhou. Começava então para o Devo a fase de problemas – inclusive legais, com o ex-parceiro Bob Lewis processando o grupo por co-autoria do conceito ‘de-evolution’ – e os discos foram perdendo em qualidade e vendas. Lá pelo final dos anos 1980, Mothersbaugh já trabalhava mais em trilhas sonoras de filmes, programas de TV e comerciais do que compondo músicas para o grupo, e em 1991 ficou decidido o encerramento das atividades do Devo. Mothersbaugh, então fundou a Mutato Muzika, empresa que desenvolve trilhas e games, onde empregou seus ex-parceiros de banda.

Mas com a explosão do som indie nos anos 1990, vários músicos manifestaram-se fãs do grupo, como Kurt Cobain, Dave Grohl, o pessoal do Soundgarden e do Superchunk, e o grupo voltou então pra participar do Festival Lollapalooza de 1996. Mas o retorno não siginificou uma volta à carreira regular de lançamentos de discos e constantes turnês: logo os caras retomaram suas atividades normais com seus empregos na Mutato Muzik.

Uncontrollable Urge
(I Can’t Get No) Satisfaction (Rolling Stones)
Mongoloid
Jocko Homo



Mothersbaugh, Casale e troupe: cínicos, divertidos e muito mal compreendidos