sexta-feira, 26 de março de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (27)

Nosso programa deste sábado, 27/03, 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br). Just in time, this way. Relax and have a good time.

1º bloco:

REDD KROSS – Teen Competition


Grupo californiano de Los Angeles, formado há exatos 30 anos, fazendo um mix de powerpop, punk rock e vocais à la Beatles. Começaram muito jovens: os irmãos McDonald, Jeff, o guitarrista, e Steve, o baixista, tinham respectivamente 15 e 11 (!) anos quando começaram a tocar, usando o nome The Tourists, e foi com essa alcunha que fizeram seu primeiro show, abrindo para a lenda do hardcore angeleno Black Flag. Já se chamando Red Cross, mas com a grafia gramaticalmente correta – ainda sem os dois ‘d’ e o ‘k’ –, gravaram seu primeiro álbum, ‘Born Innocent’, em 1981, ainda guris, só que aí foram processados pela verdadeira Red Cross, a Cruz Vermelha Internacional, e então adotaram a grafia definitiva. Seus dois álbuns mais clássicos são ‘Neurotica’ (1987) e ‘Phaseshifter’ (1993) – este último com macica rotação na MTV americana. Outro disco bacana é ‘Show World(1997).

POSIES – Dream All Day

Outro grupo americano que faz o crossover entre pegada punk e melodias sessentistas, o quarteto de Bellingham, Washington, contemporâneo do grunge, também começou lançando material para um selo de Seattle, mas não o incensado Sub Pop que fez a fama de Nirvana e Mudhoney, e sim o pequeno Popllama Records, que editou seu primeiro álbum, ‘Failure’, em 1988. Coincidentemente, contudo, assim como a banda de Kurt Cobain, também os Posies foram fisgados pela Geffen Records, pela qual registraram os três álbuns seguintes, entre eles seu melhor trabalho, ‘Frosting On the Beater’, de 1993 – que os Posies vão tocar inteirinho, na ordem, em show em Seattle no mês que vem. Os guitarristas/cantores e compositores Jonathan Auer e Ken Stringfellow são os donos da bola, e participaram também da volta do Big Star, em 1994, quando Alex Chilton (infelizmente falecido semana passada) e Jody Stephens resolveram reeditar o grupo para alguns shows.

TEENAGE FANCLUB – Star Sign

Mais um que vai na onda do powerpop, e também uma das principais bandas do rock britânico dos anos 1990, os escoceses de Glasgow, na ativa desde 1989, tem um de seus principais diferenciais o fato de não ter nem um, nem dois, mas três compositores de grande talento: Norma Blake e Raymond McGinley, também guitarristas, e Gerard Love, baixista – os três cantam as canções do grupo. Antes do Teenage Fanclub, tiveram outras duas bandas: Boy Hairdressers, que deixou apenas um single, e o BMX Bandits, de fama cult na Grã-Bretanha da Segunda metade dos anos 1980. Os dois primeiros álbuns do Teenage são clássicos do rock da década de 1990: ‘A Catholic Education’, lançado pela Creation Records no Reino Unido e pela Matador na América em 1990, e ‘Bandwagonesque(1991), estreia pela Geffen. Este último, inclusive, foi eleito o disco do ano de 1991 pela revista americana Spin, à frente do estourado ‘Out of Time’, do R.E.M., dos ultra-influentes ‘Loveless’ (My Bloody Valentine), ‘Blue Lines’ (Massive Attack), ‘Screamadelica’ (Primal Scream) e do álbum que mudou o mercado fonográfico, o clássico ‘Nevermind’, do Nirvana. O Teenage Fanclub já tocou no Brasil, em 2004, abrindo para os Pixies, num festival em Curitiba.

2º bloco:

OWEN PALLETT – E is For Estranged


Michael James Owen Pallett-Plowright, canadense de Toronto, cantor, compositor, violinista, recebeu formação clássica desde a infância, passando a fazer apresentações-solo aos 15 anos de idade,. À medida que seus interesses foram se definindo pelo som indie, Pallett foi se aproximando de artistas como The Hidden Cameras e Arcade Fire, pra quem escreveu arranjos, assim como The Last Shadow Puppets e Fucked Up. Além das colaborações, tratou de fundar seu próprio projeto, o Final Fantasy, que depois de dois discos, teve seu nome engavetado, pra não confundir com o game de mesmo nome. O primeiro disco de Owen Pallett usando o próprio nome é o elogiado ‘Heartland’, e saiu em janeiro.

JOANNA NEWSOM – Easy

Esta já tocou até em Porto Alegre, no Átrio do Santander Cultural. A californiana Joanna, 27 anos, traza a formação musical de berço: a mãe era pianista clássica, o pai, guitarrista, e os irmãos, também músicos. Isso sem falar no músico de vanguarda Terry Reily, vizinho da família. Joanna teve suas primeira lições no piano quando muito pequena, e aos sete anos já trocava as teclas pelas cordas da harpa. Logo se interessaria pela música celta, pela música do oeste da África e da Venezuela, e mais adiante viriam o jazz, o folk e punk e o som indie dos 90’s. Sem jamais ter cantado antes, gravou suas primeiras canções, que chegaram aos ouvidos de gente como Cat Power e Will Oldham, que a convidaram pra abrir seus shows. Após dois E.P.’s, veio o primeiro álbum, ‘The Milk-Eyed Mender’, em 2004, seguido de ‘Ys’, dois anos depois, ambos muito elogiados. Tendo se dedicado extensamente às turnês e a outros projetos, inclusive não-musicais, voltou às lojas no mês passado, com o CD triplo Have One On Me’, pela mesma Drag City, de Chicago, que lançou todo seu material.

MARY TIMONY – Aging Astronauts II

Cantora, compositora e múlti-instrumentista americana de Washington DC, já tinha pintado aqui no CM com seu extinto grupo, o Helium. Antes desse, havia sido cantora do grupo punk feminino Autoclave, que deixou apenas dois E.P.’s. Mary, que estudou viola na Duke Ellington School of the Arts de Washington e formou-se em literatura inglesa pela Boston University, entrou no Helium em 1992, em substituição a Mary Lou Lord, e já foi de cara dando as cartas, adonando-se do controle criativo do grupo. A partir do álbum ‘Magic City’ (1997), passou a incorporar elementos da psicodelia sessentista e do art rock dos 70’s, influência que apareceria também em seus álbuns-solo, que são quatro até agora. ‘Aging Astronauts II’ tá na coletânea triplaEverything is Nice’, lançada em 1999 , reunindo vários artistas pra comemorar os dez anos da gravadora novaiorquina Matador Records, ex-selo de Timony, hoje na igualmente influente Kill Rock Stars. Trata-se de uma regravação de uma faixa que já havia sido registrada em ‘Magic City’, que seria o último disco do Helium.

3º bloco:

‘THE CRAMPS – Songs The Lord Taught Us (1980)’


O tipo de grupo de quem se pode dizer: este ajudou a salvar o rock. Formados em abril de 1976 na capital da Califórnia, Sacramento, e depois relocados pra Nova Iorque, os Cramps são fruto das mentes de um casal apaixonado por filmes B (em especial de ficção científica e horror), rockabilly, as bandas de garagem sessentistas e um visual espalhafatoso que incluía saltos plataforma, couro, vinil e referências à indumentária sado-masô. Erick Lee Purshiker e Kristy Marlana Wallace conheceram-se em 1972, quando ele deu carona pra ela. No caminho foram conversando e não precisaram mais do que alguns minutos pra se entender, já que ficaram latentes as afinidades artísticas. Trocaram os telefones, mas não chegaram a marcar encontro, mas algumas semanas depois se cruzaram num curso de ‘Arte e Xamanismo’ no Sacramento City College. Decidiram então formar uma banda, e Erick passou a chamar-se de Lux Interior, nome tirado de um anúncio de carro que havia visto, enquanto Kristy transformou-se em Poison Ivy Rorschach. Ele ficou com os vocais, ela com a guitarra – embora jamais houvesse encostado num instrumento até então.

Já vivendo juntos, os pombinhos mudaram-se pra Akron, Ohio, e de lá pra Nova Iorque, onde a cena pré-punk da cidade já bombava, em shows no Max’s Kansas City e no CBGB’s. Completava a formação original do grupo um sujeito sinistro chamado Greg Beckerleg, colega de Lux numa loja de discos onde ambos eram atendentes. Greg assumiria o nome artístico de Bryan Gregory e a segunda guitarra – os Cramps não tinham baixista. O posto de baterista foi ocupado provisoriamente por duas meninas (uma delas, a irmã de Gregory) até que se estabilizou com Nick Stephanoff, o Nick Knox, já conhecido por sua passagem pelos terroristas sonoros Electric Eels.

As primeiras gravações dos Cramps foram feitas na mítica Memphis com o não menos mítico Alex Chilton (o frontman do seminal Big Star) como produtor. Em 1979, empresariados por Miles Copeland, descolaram um contrato com o recém-fundado selo indie I.R.S. (que em breve teria o R.E.M. em seu cast), e o primeiro E.P., reunindo material lançado antes pelo próprio selo da banda, chamaria-se ‘Gravest Hits’. Na sequência, embarcaram para uma bem-sucedida tour europeia, abrindo para a banda do irmão de Miles, Stewart – o Police –, em que acabaram roubando vários shows da banda de Sting. De volta à América, mais uma vez pousaram em Memphis, e mais uma vez com produção de Chilton, dessa vez pra registrar seu álbum de estreia, singelamente intitulado ‘As Canções que o Senhor nos Ensinou’, que continha tanto composições próprias que se tornariam clássicos dos Cramps quanto regravações, como ‘Strychnine’ (Sonics), ‘Tear It Up’ (Billy Burnette) e a famosa ‘Fever’ (gravada por gente que vai de Madonna a Judas Priest, de Tom Jones a Little Milton, Jimmy Smith ...).

Tudo corria bem, com os Cramps se preparando para um consagradora tour pelos estados unidos, até que Gregory surpreende ao deixar o grupo: o mais sombrio dos Cramps saiu pra tratar seu vício em heroína, embora boatos na época tenham circulado dando conta de que o rapaz ia mesmo era dedicar-se ao ocultismo, o que foi negado por Lux e Poison. O fato é que o trio restante resolveu mudar-se pra Los Angeles, e lá recrutaram pro lugar de Gregory o guitarrista do Gun Club, Kid Congo Powers. Desde então, os Cramps tiveram uma penca de formações diferentes, gravaram mais uma dezena de álbuns e divertiram plateias mundo afora por quase 30 anos, até o falecimento de lux, de ataque cardíaco, em 4 de fevereiro do ano passado. Ele tinha 62 anos.

TV Set
Garbagemen
I Was a Teenage Werewolf
I’m Cramped
Fever



A formação clássica, com Gregory e Knox: sinistros e divertidos


O casal Lux Interior (1946-2009) e Poison Ivy: o tipo de gente que nasceu pro rock (que por sua vez nasceu pra gente como eles)

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