sexta-feira, 28 de maio de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (36)

O programa deste sábado, 29, às 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Enjoy!


1º bloco:
THE NATIONAL – Bloodbuzz Ohio

Outra sensação da cena do Brooklyn novaiorquino, já com alguma estrada – o quinteto já tem cinco discos no currículo, o último deles recém-lançado, ‘High Violet’. Ao cantor de peculiar voz de barítono Matt Berninger somam-se duas duplas de irmãos, os Devendorf, Scott (guitarra) e Bryan (bateria), e os Dessner, Aaron (baixo) e Bryce (guitarra). O National surgiu no final da década de 1990 numa cena em as bandas de Nova Iorque – Interpol, Stokes, Yeah Yeah Yeahs, The Walkmen – vinham com grande influência do pós-punk, especialmente o britânico, mas mixando o seu chamber pop com elementos do country rock e da música de raíz americana, além do britpop.

LCD SOUND SYSTEM – Dance Yrself Clean
Um dos mais incensados grupos da segunda metade dos anos 2000, já estreou com um clássico absoluto, o single ‘Losing My Edge’, lançado em 8 de julho de 2002, com suas várias referências bacanas na letra (Can, Gil Scott-Heron, Captain Beefheart, Eric B & Rakim, Pere Ubu, The Germs, Sun Ra, Faust, The Sonics e mais umas duas dezenas) e no som (o electro, a disco, o punkfunk do PIL e da Gang Of Four). James Murphy, o dono da bola e também o cara por trás do influente selo DFA (além de remixador pra artistas como Metro Area, N.E.R.D. e Le Tigre), foi eleito o cara mais cool do planeta por várias publicações descoladas. Os dois incensados álbuns anteriores do LCD, ‘LCD Sound System’ (2005) e ‘Sound of Silver’ (2007), naturalmente criaram uma exagerada expectativa em torno do novo, ‘This Is Happening’, que acaba de sair no mercado.

SLEIGH BELLS – A/B Machines
Pra fechar o bloquinho de lançamentos, mais um do Brooklyn, este um duo formado pelo compositor e produtor Derek Miller e a vocalista Alexis Krauss que iniciou suas atividades no ano passado, apresentando-se no famoso indie CMJ Festival. Alice era cantora de uma banda chamada Rubyblue e Derek, de um grupo de hardcore, o Poison the Well. Mixam melodias pop, samples bacanas (os Kinks, por exemplo) e muito barulho, e seu disco de estreia, ‘Treats’, também saiu recentemente.


2º bloco:
MOJAVE 3 – Who Do You Love

Banda inglesa formada em 1995 dos escombros do Slowdive, pelo líder daquele grupo, Neil Halsted (vocal e guitarras), sua velha amiga Rachel Goswell e o baterista Ian McCutcheon. Tem em comum com o Slowdive o gosto pelo som atmosférico e viajandão, mas aqui o negócio tá mais pra Bob Dylan, Bob Dylan, Nick Drake – compositores com quem Halsted geralmente é comparado – e The Band do que pra Pink Floyd fase Syd Barrett. Tem cinco discos no currículo, todos lançados pelo conceituado selo britânico $AD (Cocteau Twins, Pixies), sendo o primeiro deles ‘Ask Me Tomorrow’, de 1996, e o mais recente, ‘Puzzles Like You’, de 2006. Um dos melhores é ‘Out of Tune’, de 1998.

(SMOG) – I Was a Stranger
Durante quase 20 anos alcunha do cantor, compositor e múlti-instrumentista Bill Callahan – que hoje usa seu verdadeiro nome –, o (Smog) é um daqueles famosos grupos de um homem só, com Callahan comandando as ações e eventualmente chamando músicos de apoio para as gravações e as apresentações ao vivo. Foi um dos balurates do som lo-fi dos anos 1990 – na verdade, começou suas gravações caseiras, lançadas apenas em cassete, em 1988 –, logo assinando com o influente selo Drag City, de Chicago, pelo qual lançou todos os seus discos, de ‘Forgotten Foundation’ (1992) a ‘A River Ain’t Too Much To Love’ (2005), passando por clássicos como ‘Red Apple Falls’ (1997). A melancolia folk de Callahan, com referências que vão de Nick Drake a Syd Barrett, teve seu último lançamento no ano passado com ‘I Wish I Were an Eagle’, um dos melhores discos de 2009 e o terceiro assinando com o próprio nome.

EELS – My Descent Into Madness
Também um projeto ligado basicamente a uma pessoa só – e um sujeito tão atormentado quanto Callahan: no caso o tambémamericano Mark Oliver Everett, conhecido por ‘E’ nos meios pop. E fundou o Eels em Los Angeles em 1995, mixando folk, blues, pop sessentista e até elementos eletrônicos, numa sonoridade que às vezes lembra os primeiros discos de Beck. Seu segundo disco, ‘Electro-Shock Blues’, lançado em 1996, é um dos melhores álbuns da década de 1990, uma profunda reflexão sobre a morte – comparado a clássicos como ‘Tonight’s The Night’, de Neil Young, e ‘Magic and Loss’, de Lou Reed – tendo como mote o passamento de vários familiares e amigos num curto espaçod e tempo. O novo disco do Eels, ‘Tomorrow Morning’, fecho da trilogia composta por ‘Hombre Lobo’ (2009) e ‘End Times’ (deste ano), já é o nono de carreira – fora os álbuns-solo de E e participações em trilhas sonoras.


3º bloco:

THE FLESHTONES – ‘It’s Super Rock Time!: The I.R.S. Years (1980-1985)’ (col., 2010)


Tá aí uma banda que consegue agradar tanto aos fãs do punk rock e do som alternativo – foi da primeira geração da ‘new wave’ novaiorquina, em meados dos anos 1970 – e aos roqueiros mais tradicionais. Desde a fundação, em 1976, os Fleshtones vem construindo uma sólida carreira, com mais de 20 álbuns, e a parte mais expressiva dessa trajetória, os primeiros cinco anos de gravações, está resumida na recém lançada compilação ‘It’s Super Rock Time!: The I.R.S. Years (1980-1985)’, que o selo australiano Raven Records põe no mercado.

A origem dos Fleshtones já é por si só mítica: Keith Streng, que seria o baixista, e Jan-Marek Pakulski, que assumiria o baixo, encontraram instrtumentos perdidos no porão da casa que alugavam, e chamaram seus amigos Lenny Calderon, baterista, e Peter Zaremba, vocalista, tecladista e gaitista, pra se juntarem a eles. Estrearam no mítico C.B.G.B.’s em 19 de maio de 1976, e logo, logo, já estariam se apresentando também em outros palcos tradicionais de Nova Iorque, como o Max’s Kansas City, o Club 57 (onde viraram habitués), o Irving Plaza, a Danceteria, além de outros clubs famosos em outras paragens, como o Maxwell’s, de Hoboken (New Jersey) e o 9:30 de Washington D.C.. Por essa época, dividiam um espaço de gravações com os Cramps no Bowery, e logo depois assinariam contrato com a Red Star Records – que tinha io Suicide no seu cast.

A música dos Fleshtones fazia um mix de rhythm’n’blues e rock de garagem, com guitarras distorcidas por pedais de fuzz e um toque sessentista dado pelos teclados Farfisa, tinha o apoio ao vivo e nas gravações da metaleira do Action Combo, formado pelos irmãos Gordon (sax alto e harmônica) e Brian (sax tenor) Spaeth – o primeiro tornou-se integrante fixo do grupo em 1983. Lançaram seu primeiro single, ‘American Beat’ em 1979 – a canção seria regravada cinco anos depois para a trilha sonora de ‘Despedida de Solteiro’ –, e logo foram contratados pela I.R.S. Records (mesma gravadora do R.E.M.) em 1980. Lançaram seu primeiro E.P., ‘Up-Front’, no mesmo ano, e o álbum de estreia, ‘Roman Gods’, viria em 1982, e seguiram-se a ele ‘Blast Off!’ (com gravações não lançadas pela Red Star), também de 1982, e ‘Hexbreaker’, em 1983 – esses são considerados os melhores trabalhos do grupo.

Embora extremamente populares no circuito underground e com uma grande e fiel audiência, nos charts não jamais se repetiu o sucesso dos Fleshtones: a melhor posição nas paradas um 174º lugar com ‘Roman Gods’. Mesmo assim, os caras continuaram tendo respaldo popular e até presença na mídia: Zaremba foi o mestre de cerimônias do programa da I.R.S. na MTV, ‘I.R.S. Records Presents The Cutting Edge’, que foi ao ar entre 1984 e 1987, e o grupo também apareceu no episódio final do ‘Andy Warhol’s Fifteen Minutes’, show do artista pop na mesma MTV, em 1987. Mesmo sem gravadora, no final dos anos 1980 continuavam a tocar em algumas das casas noturnas mais quentes da América e abriam turnês para nomes históricos como James Brown e Chuck Berry. Nos últimos anos, têm lançado alguns de seus trabalhos mais aclamados, pelo antenado selo Yep Roc Records, pra quem gravam desde 2003.

I’ve Gotta Change My Life
The Girl From Baltimore
R-I-G-H-T-S
Deep in My Heart
Hope Come Back
American Beat ‘84

sexta-feira, 21 de maio de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (35)

No programa deste sábado, 22, às 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede), tem três lançamentos muito legais, o resgate de três obscuridades bacanas do final dos anos 1970/início dos 1980 e uma palhinha de uma coletânea recém-lançada que dá uma geral na carreira de uma cult band inglesa dos anos 1990. Enjoy!


1º bloco:
SURFER BLOOD - Swim

Surf music indie da melhor qualidade, um dos melhores discos a pintar no mercado este ano, o álbum de estreia da banda de West Palm Beach, Flórida, de recentíssima formação: começaram a tocar ano passado apenas. ‘Astro Coast’ tem melodias pop grudentas, peso e uma levada indie que os aproxima de clássicas guitar bands americanas, como Pavement e Built To Spill, além de esculpirem em alguns momentos um paredão sonoro que lembra as experimentações de Kevin Shields do My Bloody Valentine, além do papa do wall of sound do pop sessentista, Phil spector. São um quinteto, formado pelo cantor e guitarrista John Paul Pitts, o baterista Tyler Schwarz, o guitarrista Thomas Fekete, o baixista Brian Black e o percussionista Marcos Marchesani, são queridinhos de órgãos como o influente site Pitchfork e já excursionaram com Art Brut e Japandroids.

THE BLACK KEYS – Tighten Up
O duo americano de Akron, Ohio – Dan Auerbach, guitarra e voz, e Patrick Carney, bateria –, na estrada desde 2001, está de volta comBrothers’, álbum com uma levada soul sessentista, som de órgãozinho análogo e efeitos de phasing e fuzz nas guitarras e até uma versão do clássico ‘Never Gonna Give You Up’, da dupla de compositores Gamble & Huff, já gravado por “n” artistas. ‘Brothers’ sucede o aclamado ‘Attack & Release’ (2008), que teve produção de Danger Mouse, e ‘Blacrock’, Álbum em colaboração com vários artistas de hip-hop, como Mos Def, RZA e Ludacris, entre outros. O BK também tem se apresentado por aí com gente como Public Enemy, The Roots e TV On The Radio.

THE TALLEST MAN ON EARTH – King of Spain
“O Homem Mais Alto do Mundo” é a alcunha do sueco Kristian Matsson, um trovador folk de timbre de voz peculiar, também cantor de uma banda chamada Montezumas. Tem dois álbuns, o aclamadíssimo ‘Shallow Grave’, lançado há dois anos, e ‘The Wild Hunt’, que saiu no mês passado, além de um EP de estreia, homônimo. O curioso é que o cara, mesmo sendo nórdico, utiliza não só elementos da música de raíz dos Estados Unidos – fazendo um som bem cru, aliás, que remete a Dylan e Woody Guthrie –, mas mesmo termos e expressões antigas do inglês falado na América do Norte. The Tallest Man On Earth grava para o selo americano Dead Oceans.


2º bloco:

THE UNITS – High Pressure Days

Sensacional banda californiana de San Francisco, uma das pioneiras do “synthpunk” (ou seja, o punk rock que utilizava sintetizadores em vez de guitarras), que teve vida curta – de 1978 a 1984 –, e teve lançada lá fora a coletânea ‘History of The Units: The Early Years: 1977-1983’, no final do ano passado. Misto de grupo de rock e artistas performáticos, seus shows eram espetáculos múlti-mídia com projeções de filmes satíricos e anti-conformistas com fortes críticas ao consumismo – uma compilação destes filmes, ‘Unit Training Film #1’, chegou a passar em algumas salas de cinema alternativas da bay area de San Francisco, na época. A coletânea que está no mercado gringo é basicamente uma reunião do primeiro álbum, ‘Digital Stimulation’ (1980), e vários singles. Mesmo obscuros, desconhecidos do grande público, os Units tocaram com Iggy Pop, Orchestral Manouvres In The Dark, Soft Cell, Police, XTC, Gary Numan, Psychedelic Furs e os conterrâneos Dead Kennedys.

THE PLIMSOULS – Everyday Things
Outra banda californiana – mas de Los Angeles –, fundada no final dos anos 1970 – também em 1978 –, igualmente de curta duração – encerrou as atividades em 1983 –, e com pegada punk – mas fundindo o rock garageiro ao soul dos 60’s, os Plimsouls tinham no vocalista e compositor Peter Case, autor de ‘Hangin’ On the Telephone’, depois gravada pelo Blondie, a principal figura. Jamais deixaram de ser uma banda cult e sequer conseguiram que sua fama local atravessasse o Atlântico, mas foram um dos mais quentes grupos a fazerem o circuito de clubs da Sunset Strip, em L.A. em sua época. Saiu há pouco lá fora um disco ao vivo dos caras, gravado justamente numa dessas apresentações, em uma noite de Halloween, ‘Live! Beg, Borrow & Steal: October 31, 1981 Whisky a Go Go’, mas a faixa que a gente ouve é do segundo e último álbum de estúdio dos caras, ‘Everywhere at Once’, de 1983. Os caras têm outro disco ao vivo, lançado em 1988, lançado com a banda já inativa. Os Plimsouls voltaram em 1995, com Clem Burke, ex-Blondie, na bateria, e ainda registraram o álbum ‘Kool Trash’, em 1998, e penduraram as chuteiras definitivamente. Peter Case tem uma respeitada carreira-solo, em discos que mixam o rock ao blues e ao folk.

LET’S ACTIVE – Every Word Means No
Banda oitentista de Chapel Hill, da Carolina do Norte, liderada por um dos caras mais influentes mais do rock americano dos anos 1980, o prolífico Micth Easter, produtor dos clássicos primeiros discos do R.E.M., um álbum do Pavement, outro do Helium, dono dos famosos Drive-In Studios, e ex-integrante de uma banda chamada The Sneakers. O Let’s Active durou de 1981 a 1988, deixou três álbuns e alguns E.P.s – sendo o primeiro, ‘Afoot’, de 1983, um clássico –, e um som grudento (no bom sentido), com melodias que lembram os 60’s, de acento sulista, que exerceu grande influência em várias college bands americanas. Mitch, que tá com 55 anos de idade, lançou seu primeiro álbum-solo, ‘Dynamico’, só em 2007.


3º bloco:

SLOWDIVE – ‘The Shining Breeze: The Slowdive Anthology’ (col., 2010)


Caso típico daquelas bandas muito mais faladas do que ouvidas, o Slowdive geralmente é um dos citados quando se ouve o termo “shoegazer’ – algo como o cara que fita os sapatos, numa referência à postura tímida e distante e o som etéreo e viajandão dos caras –, embora as outras bandas citadas do gênero, como My Bloody Valentine, Ride e Jesus & Mary Chain sejam bastante populares entre os curtidores do som alternativo. O Slowdive surgiu em 1989 em Reading, terra de um dos mais populares festivais de rock na Inglaterra, encerrou as atividades seis anos depois, deixou apenas três álbuns, gravados quando os integrantes do grupo mal haviam saído da adolescência que teimam em soar de uma rara beleza quase vinte anos após lançados. A recém-lançada coletânea dupla ‘The Shining Breeze: The Slowdive Anthology’ cobre do primeiro E.P., ‘Slowdive’, lançado em 1990, até o terceiro e derradeiro álbum ‘Pygmalion’, de 1995.

O nome da banda veio de um sonho do baixista Nick Chaplin, um dos integrantes originais, junto com a vocalista e guitarrista Rachel Goswell – fã de carteirinha dos Smiths –, o também vocalista e guitarrista Neil Halstead (amigo de infância de Rachel), o guitarrista Christian Savill e Adrian Sell, o primeiro de vários bateristas. Não demorou muito para que assinassem com o selo Creation – não por acaso, o mesmo de Jesus & Mary Chain e My Bloody Valentine –, e os primeiro single chamaram logo a atenção da crítica especializada e do povo indie, tendo excelente repercussão. Pela altura do terceiro, ‘Holding Our Breath’, lançado em junho de 1991, já eram uma das sensações do que a imprensa britânica apelidou de “a cena que celebra a si mesma” – que incluía ainda o Curve, o Lush, o Swervedriver e até o recém surgido Blur, o que no caso não tinha nada a ver com narcisismo, mas referia-se basicamente a uma turma que saía junto pra fazer festa, em que os caras iam uns nos shows dos outros e de quem se esperava fosse fazer algo de relevante.

O disco de estreia do Slowdive, ‘Just For a Day’, saiu na Inglaterra em setembro de 1991, justamente no momento em que a América era sacudida pelo bombástico ‘Nevermind’, do Nirvana, e apesar de o disco frquentar o Top 10 indie britânico, a cena shoegaze já andava saindo de moda, e a imprensa musical da ilha, que tradicionalmente abandona rapidinho as bandas que pouco antes incensou – o famoso esquema do “a melhor banda do mundo esta semana” –, já não dava mais muita bola pros caras. Ao debut, seguiu-se a coletânea de singles ‘Blue Day’ – que continha uma versão de ‘Golden Hair’, canção de Syd Barrett a partir de poema de James Joyce, e mais um disco de carreira, ‘Souvlaki’ (1993), que teve até o luxuoso auxílio de Brian Eno em algumas faixas, mas teve problemas na divulgação no mercado americano, uma vez que a turnê agendada não contou com o principal: por conta de uma inacreditável trapalhada da gravadora SBK, o disco só foi sair nos EUA muito tempo depois.

Antes de retirar-se de cena, o Slowdive ainda gravaria o controverso ‘Pygmalion’, álbum de atmosfera ambient que desgostou Chaplin e Savill, que resolveram pular fora em meio às gravações, vindo a ser praticamente um trabalho-solo de Halstead. Halstead, porém, reuniu o que sobrou do grupo – sua velha amiga Rachel e o baterista Ian McCutcheon, e fundou o Mojave 3, que faz um som eminentemente acústico – e etéreo – e já tem cinco discos no currículo.

Alison
Catch The Breeze
Dagger
Machine Gun
Souvlaki Spacestation

sexta-feira, 14 de maio de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (34)

Este é o COMPANHIA MAGNÉTICA deste sábado, dia 15, às 22h na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Tem três lançamentos de 2010 (um deles desta semana), mais clássicos de quatro bandas dos anos 1980 e 90 que fazem aniversário e/ou resolveram retomar as atividades. Enjoy!


1º bloco:

THE DEAD WEATHER – Die by the Drop


Um dos dois projetos paralelos do cabeça dos White Stripes, o cantor/guitarrista/compositor Jack White – o outro são os Raconteurs –, o Dead Weather surgiu no verão de 2008, quando os Raconteurs excursionavam com o duo The Kills, e de maneira inusitada: como White estava impedido de cantar por conta de uma bronquite, a vocalista dos Kills, Alison Mosshart, foi chamada a subir no palco e substituí-lo em algumas canções. Deu tão certo que Jack e Alison resolveram juntar esforços em um outro grupo, e chamaram pra se juntar a eles o baixista ‘Little Jack’ Lawrence e o guitarrista Dean Fertita, que toca no Queens of The Stone Age. Detalhe: no TDW, Jack White é baterista. O som dos caras é um blues-rock sombrio, e a primeira gravação do quarteto foi um cover de Gary Numan, ‘Are Friends Electric?’. A primeira apresentação do Dead Weather deu-se em março do ano passado, e o disco de estreia, ‘Horehound’, veio no verão americano. O segundo álbum, ‘Sea of Cowards’, saiu na terça-feira desta semana, dia 11, lá fora.

HERE WE GO MAGIC – Collector

Mais uma banda bacana a sair do Broklyn novaiorquino, o HWGM é obra de um sujeito chamado Luke Temple, cantor e compositor, que, antes de se aventurar pela música, era artista visual – o cara é muralista, e vagava por vários cantos da América até se fixar em Nova Iorque . O som do grupo é um mix de folk, country, pop indie, com referências aos anos 1980 e 1990, e os caras já têm dois discos: o debut, homônimo, lançado ano passado, e ‘Pidgeons’, colocado no mercado americano este ano, pelo selo Secretly Canadian.

THE RADIO DEPT. – Heaven’s On Fire

Esta banda é sueca, muito influenciada pelo som shoegazer britânico da virada dos anos 1980 para os 90 (Slowdive, My Bloody Valentine, Jesus & Mary Chain), e já tem uma certa estrada: o álbum de estreia, ‘Lesser Matters’, é de 2003. Na verdade, a primeira encarnação do grupo data de 1995, fundada por Elin Almered e Johan Duncanson, mas não durou muito. Três anos depois, já com Martin Larsson no lugar de Almered, voltaram decididos, gravando uma demo que logo enviaram para uma popular revista sueca chamada Sonic, que gostou e inclui uma das canções em um CD-sample encartado em uma de suas edições. O influente selo indie Labrador gostou e contratou os caras, e em 2005 veio a consagração a nível internacional, quando os caras tiveram três música incluídas na trilha do filme ‘Maria Antonieta’, de Sofia Coppola. O quinto álbum, ‘Clinging to a Scheme’, saiu há menos de um mês.


2º bloco:

SUNNY DAY REAL ESTATE – In Circles

Influente grupo americano de Seattle, surgido em 1992, logo após o advento do grunge, registrou seus álbuns pela mesma gravadora Sub Pop que fez a fama do gênero, mas diferentemente de seus conterrâneos Nirvana, Tad e Mudhoney, sempre fizeram um som mais elaborado e melódico, que serviu de inspiração inclusive para o povo emo. A curta história do Sunny Day é das mais curiosas, recheada de mistério: originalmente um trio – Dan Hoerner (guitarra e vocais), Nate Mendel (baixo) e William Goldsmith (bateria) –, com a entrada do vocalista Jeremy Enigk o grupo parece que passou a assumir uma postura enigmática: só liberaram uma foto para divulgação na imprensa, concederam apenas uma entrevista, e por alguma razão que se desconhece, jamais tocaram na Califórnia com o quarteto completo. O primeiro disco, ‘Diary’, saiu em 1994, mesma época em que Enigk se convertia ao Cristianismo, e no ano seguinte, logo após o lançamento de ‘LP2’ resolveram parar. Voltariam dois anos depois, já sem Mendel, que se juntou ao Foo Fighters, e gravaram mais três álbuns – um deles ao vivo –, até decidirem parar de vez, em 2001. Ano passado, retomaram as atividades e estão nas escalações dos festivais de rock mais importantes do hemisfério norte deste ano.

THE HOUSE OF LOVE – Christine

Banda muito popular no Reino Unido no final dos anos 1980/início dos 90, uma guitar band que mixava melodias à la Smiths, psicodelia e ruído, muito comparada também ao Jesus & Mary Chain, até por ser da mesma gravadora – a mítica Creation Records, do visionário Alan McGhee. Guy Chadwick, vocalista e guitarrista, era o compositor e principal figura do grupo, que deixou quatro álbuns até 1994, quando resolveram encerrar as atividades. O primeiro, sim plesmente intitulado ‘The House of Love’, saiu em 1988, teve grande impacto na Inglaterra e foi relançado ano passado lá fora. O segundo, também homônimo, é conhecido como “o álbum da borboleta”, em função da capa, e compõe junto com o antecessor, a nata de sua discografia. Após 10 anos de hiato, Chadwick e o guitarrista Terry Bickers resolveram reativar o HOL, com o mesmo baterista Pete Evans, mas Matt Jury no lugar do baixista original, Chris Groothuizen, e o resultado foi o disco ‘Days Run Away’, lançado em 2005. Consta que ainda estão na ativa. Ano passado, saiu um disco ao vivo gravado na BBC.

THE WEDDING PRESENT – Brassneck

Outra sensação do rock inglês surgida na metade dos anos 1980 – e também comparada aos Smiths –, surgiu em Leeds em 1985, anunciou seu fim em 1997 mas também resolveu retornar à atividade em meados dos anos 2000. David Gedge, cantor e compositor, e único remanescente da formação original, é, basicamente, o dono da bola, mexendo constantemente no line-up do grupo. Ele era líder de uma banda chamada The Lost Pandas, que acabou, basicamente, quando sua namorada, a baterista do grupo, o deixou pra ficar com o guitarrista. Gedge e o baixista, então, renomearam o grupo como “O Presente de Casamento”, uma referência a um de seus grupos favoritos, o australiano The Birthday Party (“O Presente de Aniversário”), de Nick Cave. Mais uma banda bacana a cair nas graças do lendário DJ da BBC John Peel, o TWP fez sua primeira aparição no rádio. O primeiro álbum do grupo, que o tornou uma sensação nos meios universitários britânicos, faz outra homenagem, esta ao craque irlandês do Manchester United dos anos 1970 George Best, mas é o seguinte, ‘Bizarro’ (1989), produzido por Steve Albini, o preferido pela maioria dos fãs do grupo. Acaba de sair uma edição especial comemorativa aos 21 anos de lançamento do disco no hemisfério norte.


3º bloco:

THE SOFT BOYS – ‘Underwater Moonlight’ (1980)


Um dos grupos mais influentes do pós-punk britânico, influência confessa do R.E.M., do Yo La Tengo, dos Replacements, do Dream Syndicate e uma infinidade de guitar bands psicodélicas americanas, o quarteto liderado pelo cantor, compositor e guitarrista Robyn Hithcock durou apenas cinco anos, o suficiente pra imprimir sua marca e deixar pelo menos dois discos clássicos, o primeiro, ‘A Can of Bees’ (1979), e o segundo, ‘Underwater Moonlight’ (1980), um poderoso mix de Beatles, Byrds, Buffalo Springfield, Syd Barrett, Television e Big Star. De quebra, as letras originais de Robyn Hitchcock, um dos compositores mais respeitados do rock dos anos 1980, 90 e 2000.

Os Soft Boys – que inicialmente chamavam-se Dennis and the Experts – iniciaram em 1976 em Cambridge, na Inglaterra, bem no olho do furacão, quando o punk explodia na ilha. Além de Hitchcock, a formação inicial tinha Morris Windsor na bateria, Andy Metcalfe no baixo, e Rob Lamb, que foi logo substituído po Alan Davies, na outra guitarra, e a primeira gravação foi um E.P. chamado ‘Give It to The Soft Boys’, registrado na sala da casa de Hitchcock em 1976. Logo, a formação mudaria, com a saída Davies, entrando Kimberley Rew em seu lugar. O álbum de estreia, ‘A Can of Bees’, foi gravado já com essa formação, mas logo Metcalfe também sairia, para a entrada de Matthew Seligman e saiu em 1979. A obra-prima da banda viria no ano seguinte.

‘Underwater Moonlight’ juntava à perfeição o senso melódico com a energia punk em canções como ‘I Wanna Destroy You’, canções pop ganchudas como a faixa-título com as udanças de ritmo como a nervosa ‘Insanely Jealous’. Uma pena que um disco dessa envergadura e com tamanho apelo pop não tenha servido para manter a banda na ativa: os caras resolveram se separar logo depois, deixando ainda dois discos póstumos, o E.P ‘2 Halfs For the Price of One’ (1981), e uma compilação de gravações feitas mais ou menos na mesma época de ‘Underwater ...’, ‘Invisible Hits’ (1983). Robyn Hitchcock partiria em respeitada carreira solo logo a seguir, lançando material sob o nome de Robyn Hitchcock & The Egyptians, tendo Morris Windsor e Andy Metcalfe como músicos de apoio, enquanto que Seligman tornou-se um requisitado músico de estúdio e Kimberley Rew juntou-se à banda Katrina & The Waves. Os Soft Boysa ainda se reuniriam duas outras vezes, em 1994, para uma breve tour pelo Reino Unido, e em 2001, por conta dos 20 anos (21, na verdade) do lançamento de ‘Underwater Moonlight’, que recebeu uma edição dupla, caprichada, da americana Matador Records. Ainda registraram mais um disco, ‘Nextdoorland’, em 2002, mas fecharam o boteco definitivamente no ano seguinte. Hitchcock, que acaba de lançar mais um disco-solo – o bastante elogiado ‘Propellor Time’ –, pode ser visto em pontas dos filmes mais recentes do diretor Jonathan Demme – ‘Sob o Domínio do Mal’, ‘O Casamento de Rachel’ –, seu velho fã e amigo.

I Wanna Destroy You
Kingdom of Love
Insanely Jealous
Underwater Moonlight



Os Soft Boys: melhor banda a unir a urgência punk às melodias folk psicodélicas sessentistas


O incansável Robyn Hitchcock, em seu 'cameo' em 'O Casamento de Rachel': novo disco, pra variar, foi bastante elogiado

sexta-feira, 7 de maio de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (33)

De novo, dois bloquinhos retrô - um com um ícone do rock, outro com uma das bandas mais queridas da seara alternativa das duas últimas décadas -, além de três lançamentos recentes. É neste sábado, 08, às 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Enjoy!

1º bloco:

CRYSTAL CASTLES – Celestica


Projeto de um cidadão chamado Ethan Kath, que tirou o nome dos desenhos da She-Rah e He-Man, e da cantora Alice Glass. Fazem pop eletrônico experimental, barulhento com referências ao Suicide e ao pop eletrônico oitentista. Uma das curiosidades é que os caras usam um teclado com seu som modificado por chip de computador da famosa (pra quem era adolescente nos anos 1980, é claro) marca de jogos eletrônicos Atari – que teve um game lançado em 1983 que também serviu de inpiração pro nome usado pelo duo. O ‘modus operandi’ dos caras também é sui generis: a canção ‘Alice Practicing’ era pra ser o que o título sugere, uma demo gravada despretensiosamente em um ensaio, sem pretensão maior de virar canção, só que foi parar no My Space e rendeu um convite de várias gravadoras, acabando por ser lançada em single em 2006. O disco de estreia, homônimo, é de 2008. O novo, recém-lançado lá fora, também chama-se simplesmente ‘Crystal Castles. Entre um e outro, fizeram vários remixes, pra bandas como Liars, Klaxons, Bloc Party e Health. Como o novo disco vazou todinho na internet no mês passado, a banda acabou liberando-o pra download logo depois. O lançamento físico saiu agora, neste mês.

CARIBOU – Odessa

Projeto de um cidadão chamado Dan Snaith, canadense de Ontario, ex-acadêmico de matemática (é de uma família de matemáticos) e que ganhou fama na cena eletrônica do início dos anos 2000 gravando sob a alcunha de Manitoba, e cujos primeiros E.P.’s e álbum encantaram a imprensa especializada. Forçado a deixar pra lá a alcunha de Manitoba após o líder da lendária banda punk Dictators, Handsome Dick Manitoba o processou pelo uso indevido de seu nome (ou sobrenome) de guerra, rebatizou-se como Caribou, e já tem três álbuns sob a nova identidade, o mais recente deles lançado no finzinho do mês passado, ‘Swim’. Ao vivo, Snaith (ou Caribou) apresenta-se com uma banda de apoio, fazendo as vezes de percussionista.

PANTHA DU PRINCE – Stick to My Side (c/ Noah Lennox)

Obra do produtor alemão Hendrik Weber, que também já gravou usando nomes como Glühen 4 e Panthel, embora seu trabalho mais conhecido seja mesmo sob a alcunha Panthe Du Prince. Inicialmente ligado ao selo alemão Dial, de Hamburgo, especializado em techno experimental, gravou seu álbum mais recente, ‘Black Noise’ (o terceiro, deste ano) pela gravadora britânica Rough Trade. O disco tem participações de Noah Lennox (Animal Collective e Panda Bear) e Tyler Pope (guitarrista do !!!) e a música do Pantha Du Prince, com referências tanto ao techno (especialmente o de Detroit) quanto a cena shoegazer do rock britânico do final dos anos 1980/início dos anos 1990 (My Bloody Valentine, Slowdive, Ride), é densa e sombria.


2º bloco:

TEENAGE FANCLUB – ‘Catholic Education’ (1990)


Há 21 anos na ativa, uma das bandas mais importantes do rock alternativo dos anos 1990 e 2000, prestes a lançar mais um álbum, pinta por aqui com seu clássico disco de estreia, lançado há 20 anos e que não só serviu, de certa maneira, de inspiração para o grunge, como virou também uma das referências do brit pop. O Teenage Fanclub, formado em 1989 em Glasgow, na Escócia, pelos guitarristas Norman Blake e Raymond McGinley e pelo baixista Gerard Love – todos cantores e compositores, uma das marcas do grupo – e tinha como baterista Francis McDonald, o primeiro de vários na função. De cara, chamavam a atenção nos shows o mix de pegada punk com harmonias vocais à Beach Boys e referências a outras clássicas bandas sessentistas californianas, como os Byrds – embora a grande inspiração do grupo sempre tenha sido o powerpop do Big Star de Alex Chilton – e o revezamento dos vocais principais entre os três homens de frente.

Blake, McGinley e Love já haviam tocado juntos em uma banda chamada Boy Hairdressers, que saiu da famosa cena C86 – “class of 86”, uma leva de bandas que surgiram naquele ano fazendo um som que remetia ao pop ensolarado dos anos 1960 –, que gravou apenas um single e encerrou as atividades, dando origem ao BMX Bandits, que também teve curta duração. Já como Teenage Fanclub, assinaram contrato na Inglaterra com a lendária Creation Records (Jesus & Mary Chain, Oasis) e nos Estados Unidos com a Matador Records (Yo La Tengo, Pavement), e durante as gravações do seu primeiro disco, ‘A Catholic Education’, já havia trocado de baterista, com Brendan O’Hare substituindo Francis McDonald. Entre os 9 álbuns do Teenage – ou ‘The Fannies’, como são chamados carinhosamente pelos fãs –, é o que tem o som mais sujo, agressivo, urgente, e seu lançamento no mercado americano certamente teve grande impacto sobre o pessoal do grunge, cujo som também sempre teve o mesmo conceito e as mesmas referências (Kurt Cobain era grande fã dos caras). É também o álbum de discurso mais forte e direto, deixando de lado a sutileza características das composições posteriores do grupo: canções amargas e desiludidas como ‘Everybody’s Fool’ somam-se a ataques à igreja, como a faixa-título e à apatia da molecada, como as duas duas ‘Heavy Metal’.

Na sequência de ‘A Catholic Education’, o Teenage lançaria, em 1991, o desleixado ‘The King’ só pra cumprir o contrato com a Matador Records, gravadora que estavam deixando, e o incensado ‘Bandwagonesque’, então eleito melhor disco do ano pela revista Spin (à frente até de ‘Nevermind’, do Nirvana, ‘Out of Time’, do R.E.M. e ‘Loveless’, do My Bloody Valentine) e que levou a Rolling Stone a elegê-los, na sua edição de fim de ano, como a banda mais quente para 1992. O quarto álbum, ‘Thirteen’ (1993), gravado já com novo baterista – Paul Quinn, ex-Soup Dragons –, não teria essa receptividade toda, e a própria banda, exercitando uma sinceridade pouco comum no show businness, se disse decepcionada com o resultado. O quinto, ‘Grand Prix’ (1995), os colocou de volta ao noticiário – e agora, eram também referência pro britpop (o folclórico líder do Oasis dizia então que o Teenage era a “segunda melhor banda do mundo”). ‘Songs from Northern Britain’ (1997) e ‘Howdy!’ (2000) tem sonoridade mais folky, acústica, ‘Words of Wisdom and Hope’ (2002) foi gravado em parceria com Jad Fair, e ‘Man-Made’ (2005), o primeiro lançado pelo selo do próprio Teenage, PeMa, foi inteiramente gravado pelo cabeça do Tortoise, John McEntire, em seu estúdio em Chicago. Em breve, deve sair ‘Shadows’, que teve suas primeiras gravações feitas em agosto de 2008.

Everything Flows
Everybody’s Fool
Catholic Education
Critical Mass





O núcleo dos 'Fannies', seu trio de compositores/cantores/instrumentistas: vinte anos de carreira sem deixar a peteca cair não é coisa comum no meio alternativo


3º bloco:

JOHNNY THUNDERS & THE HEARTBREAKERS – ‘Live at Max’s Kansas City’ (1979)


Uma das figuras mais mitológicas da história do rock, um dos caras que melhor encarnou o trinômio básico aquele – “sex, drugs and rock’n’roll” –, e provavelmente o sujeito cuja morte por overdose foi a mais previsível de todas no meio, John Anthony Genzale, Jr., nascido no Queens, em Nova Iorque, em 15 de julho de 1952, e precocemente falecido em 23 de abril de 1991 em New Orleans, iniciou cedo sua trajetória. Fã incondicional de Keith Richards – sua principal inspiração tanto no som, quanto no estilo de vida e até no visual –, depois de se recusar a cortar o cabelo e por isso perder a vaga no time de basquete no colégio, formou sua primeira banda, Johnny and The Jaywalkers, onde atendia por Johnny Volume. Passou a frequentar os endereços quentes do rock na big apple aos 16 anos: primeiro, indo ao shows no Fillmore East, depois curtindo a balada em bares como o Nobody’s, na famosa Bleecker Street, futuro endereço do C.B.G.B.’s, no no Village. Na mesma rua, como atendente em uma loja especializada em artigos de couro, conheceu Arthur Kane e Billy Murcia, que tocavam, respectivamente, baixo e bateria em uma banda chamada ‘The Actress’, que passaria a se chamar New York Dolls com as entradas do vocalista David Johansen e do guitarrista Sylvain Sylvain. A essas alturas, o guitarrista John Genzale já se chamava Johnny Thunders – nome tirado de uma HQ da DC com o mesmo nome –, e os Dolls eram uma das sensações do underground novaiorquino com seu rhythm ‘n’ blues sujo e visual andrógino/debochado (pareciam uma versão drag dos Stones), inspiração para a cena punk que logo viria. Os Dolls duraram quatro anos e lançaram apenas dois discos, ambos clássicos, mas até hoje são referenciais.

Thunders não perdeu tempo: após sua saída das “bonecas de Nova Iorque” – que ainda se apresentaram durante um tempo, com Sylvain e Johansen à frente –, formou logo os Heartbreakers no auge da explosão punk, com o baterista Jerry Nolan, que substituíra o falecido Billy Murcia nos Dolls, e o ex-baixista do Television, o também figuraça Richard Hell. O guitarrista Walter Lure completou logo depois a formação inicial, que não durou muito: como Hell percebeu que a bola nos Heartbreakers pertencia a Thunders e que portanto dificilmente teria espaço para suas composições, pulou fora para formar seu próprio grupo, Richard Hell & The Voidoids, sendo substituído por Billy Rath. Com esta formação, Johnny Thunders e os Heartbreakers registraram em 1977 seu único álbum de carreira (de estúdio) do grupo, ‘L.A.M.F.’ (abreviatura de ‘Like a Mother Fucker’), e mudaram-se para Londres, onde Thunders era extremamente popular junto à galera punk – tanto que, ao lançar seu primeiro disco solo, ‘So Alone’, com participações de Steve Jones, Paul Cook, Phil Lynott, Chrissie Hynde e outros, um ano depois, excursionou junto com os Sex Pistols, o Clah e o Damned na histórica “Anarchy Tour”. Suas performances de palco à epoca – muitas vezes bêbado e/ou chapado, não dizendo coisa com coisa – tornaram-se lendárias.

Encerradas as atividades dos Heartbreakers, e iniciada a carreira-solo, ainda encontraria tempo para parcerias tanto com antigos fãs como com velhos ídolos: tocou em um grupo chamado Gang War, que formou com o ex-guitarrista do MC5, Wayne Kramer, e também fez parte do The Living Dead, com Sid Vicious. Os Hartbreakers ainda se reuniriam esporadicamente até a morte de Thunders, em 1991, e uma dessas, em 1979, no mesmo Max’s Kansas City que fez a fama dos Dolls, do Suicide e do Velvet underground, entre tantos grupos seminais do barulhento rock novaiorquino foi gravada, dando origem ao clássico álbum ao vivo lançado no mesmo ano. A performance do grupo foi tão elogiada que rendeu o convite para mais uma apresentação no Max’s, só que o quarteto era de tal forma devotado ao uso de drogas pesadas – em especial, a heroína –, que o novo show (ou tentativa de show) resumiu-se a apenas cinco canções, que entrariam numa segunda edição do disco, lançada apenas em 1996 pelo combativo selo americano ROIR.

Thunders, que nos últimos três anos de vida teve como acompanhante uma banda chamada The Oddballs, foi achado morto em um quarto de hotel em New Orleans, em 23 de abril de 1991, aos 38 anos de idade. Embora estivesse chapado, como de costume, sua biógrafa Nina Antonia garante que o nível de drogas achado no organismo não dava pra ser considerado fatal. A famosa ex-groupie Pamela Des Barres, em um livro chamado ‘Dark Moments in Music Babylon’, publicou uma entrevista com a irmã de Thunders em que ela diz que a autópsia confirmou evidências de leucemia em estado avançado, o que ninguém ligado ao músico sabia, e a família do guitarrista, não conformada com as poucas informações sobre o caso, pediu mais de uma vez que o mesmo fosse reabaerto, o que não aconteceu. O certo é que o velho junkie Thunders sempre foi um ávido consumidor de substâncias ilícitas e nos últimos tempos andava tomando metadona, para ver se ao menos minimizava seu vício em heroína.

Milk Me
Chinese Rocks
London Boys
One Track Mind
Too Much Junkie Business





Johnny (1952-1991) nos tempos de New York Dolls: a dúvida nunca foi 'se' nem 'como', mas 'quando' os excessos iam cobrar a conta definitiva