quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (15)

Tá aí o playlist do primeiro programa de 2010, neste sábado às 10 da noite na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Enjoy!

1º bloco:

NEON INDIAN – 6669 (I Don’t Know If You Know)


Projeto múlti-mídia envolvendo som e imagem, formado em Austin, no Texas, estreou
com o E.P. ‘No Way Down’, no ano passado, sucesso entre o povo indie, por conta de faixas venenosas como ‘6669 (I Don’t Know If You Know)’ ‘Deadbeat Summer’. Até o verão de 2008 ninguérm sabia quem era o Neon Indian, até que as identidades foram reveladas: Alan Palomo, antes conhecido pelas bandas Ghosthustler e VEGA é o responsável pelo som, e a vídeo-artista Alicia Scardetta, pelo visual. O álbum de estreia, ‘Psychic Chasms’, veio este ano.

BEAR IN HEAVEN – Wholehearted Mess

Este é do Brooklyn, em Nova Iorque, empresa de um cidadão chamado Jon Philpot, cantor, compositor e múlti-instrumentista. Na ativa desde 2002, estreou com o E.P. ‘Tunes Nextdoor to Songs’ em 2007, e já tem dois álbuns: ‘Red Bloom of the Boom’ (2007) e ‘Beast Rest Forth Mouth’, lançado agora em outubro de 2009. Referências vão do krautrock de Can e Neu! ao pop eletrônico indie de Animal Collective e Panda Bear.

FEVER RAY – When I Grow Up

Projeto-solo de Karin Dreijer, da dupla eletrônica sueca de Estocolmo The Knife, formada com seu irmão, Orlof. Pois o Fever Ray começou a surgir depois de encerrada a promoção do álbum ‘Silent Sound’, de 2006, quano a Karin também dava à luz a seu segundo filho. Passou a trabalhar então com o produtor Christoffer Berg, já seu7 conhecido das mixagens dos álbuns do Knife e uma versão instrumental de ‘If I Had a Heart’ pintou na página do Fever Ray no MySpace no ano passado. O álbum inteiro, simplesmente denominado ‘Fever Ray’, foi disponibilizado ali também pra dowload em janeiro deste ano, e a versão física do disco alguns meses depois.


2º bloco:

CLINICThe Return of Evil Bill

Mais um talentoso quarteto musical que sai de Liverpool, o Clinic foi formado em 1997 e faz um som que mixa guitarrinha surf music com drum machines, as vanguardices do Velvet Underground ao art-punk do Wire. Já com o single de estreia, ‘I.P.C. Sub-Editors Dictate Our Youth’, entraram em nono lugar na tradicional listinha de melhores singles de 1997 do lendário DJ britânico John Peel. Em 1999, o single ‘The Second Line’ foi usado na Inglaterra como trilha de um comercial da Levi’s. O álbum de estreia, ‘Internal Wrangler’, de 2000, causou sensação nos dois lados do Atlântico, rendendo participações em festivais importantes , como o Meltdown e All Tomorrow’s Parties e uma grande turnê abrindo para o Radiohead. O Clinic já tem cinco álbuns, sendo o último do ano passado, ‘Do It!’. No Brasil, saíram o segundo, ‘Walking With Thee’ (2002), e o terceiro, ‘Winchester Cathedral’ (2004).

UNWOUND – Look a Ghost

Banda de Seattle formada no auge da era grunge – 1991, ano do estouro planetário de Nirvana e Pearl Jam –, mas com um som com intenções mais ‘artísticas’, com experimentalismos que lembram Sonic Youth, Fugazi, Gang of Four e outras guitar bands clássicas – e sem perder a capacidade de soar urgente. O trio, formado pelo guitarrista e vocalista Justin Trosper, o baixista Vern Rumsey e pelo baterista Brandt Sandeno – depois substituído por Sara Lund – deixou sete discos e acabou no auge, em 2002, um ano depois de lançar o álbum duplo ‘Leaves Turn Inside You’ pela mesma Kill Rock Stars que editou toda sua discografia.

DISMEMBERMENT PLAN – A Life of Possibilities

Outra banda americana importante dos anos 1990 que também já encerrou suas atividades, esta de Washington DC, formada em 1993 e dissolvida dez anos depois. Eram basicamente uma guitar band, mas que lançava mão de elementos sutis – batida de hip-hop (que lembra até funk carioca em algumas músicas), baixo jazzy, sintetizadores quase escondidos na mixagem, o uso da bela voz do vocalista Travis Morrison como mais um instrumento – pra fazer a diferença. Deixaram cinco discos, sendo o último ‘Terrified’ (2002). Um dos melhores é ‘Emergency & I’, lançado em 1999, que entrou em quase todas as listas de melhores daquele ano das revistas e sites especializados.


3º bloco: THE REPLACEMENTS (‘Let It Be’, 1984/‘Tim’, 1985)

Patrimônio americano, um dos expoentes da última grande geração do rock da América do Norte – aquela do final dos anos 1970/início dos 1980, que tinha Hüsker Dü, R.E.M., Sonic Youth, Meat Puppets, X, Black Flag, Dead Kennedys, Minor Threat, Bad Brains, Mission of Burma, ... enfim, a primeira geração do pós-punk americano – e também uma das que melhor fez a transição do universo indie para o das grandes gravadoras. Os ‘Mats’, como eram carinhosamente chamados pelos fãs, assim como o igualmente seminal Hüsker Dü, vieram da improvável Minneapolis, Minessotta – terra que também revelou Prince, os irmãos Cohen e as Babes in Toyland. A formação do grupo deu-se há exatos 30 anos, em 1979, e a formação inicial tinha como núcleo os irmãos Bob (guitarrista) e Tommy Stinson (baixo), mais o baterista Chris Mars, que ensaiavam na garagem seu som sujo e rápido, de inspiração punk, quando juntou-se a eles um sujeito que se tornaria não apenas a voz, a figura de frente da banda, mas também uma das figuras mais respeitadas entre os compositores surgidos nos anos 1980, Paul Westerberg.

Já no início, os caras já demonstravam uma das principais características que marcaria sua trajetória: o gosto pela confusão. Ainda sob o nome de Impediments, os quatro começaram a adquirir má-fama nos bares de Minneapolis por conta dos shows caóticos, geralmente prejudicados pela bebedeira excessiva das figuras. Tiveram então de mudar de nome, adotando a definitiva alcunha de Replacements, justamente porque ninguém queria mais dar espaço a eles. Mas mesmo com todo o receio, um selo de gravação da cidade, o Twin/Tone, interessou-se pelo quarteto, que acabou assinando contrato e lançando seu debut, o furioso ‘Sorry Ma, Forgot to Take Out the Trash’, em 1981, seguido do ‘Stink E.P.’ um ano depois. No segundo álbum, ‘Hootenanny’, de 1983, é que começa a ser gestado o mito Replacements, com a base de fãs aumentando e o grupo adicionando elementos de country, folk e o rock americano de raíz à sua fórmula anterior. Não perderam agressividade e ainda ganharam em maturidade. E preparando o caminho para seus dois discos clássicos, lançados nos dois anos psteriores.

Let It Be’, de 1984, seria o último álbum dos caras por um selo indie. É considerado um dos grandes discos do rock americano dos anos 1980 lançados por um selo independente, ao lado de ‘Zen Arcade’ (Hüsker Dü), ‘Meat Puppets II’ (Meat Puppets), ‘Double Nickles on the Dime’ (Minutemen) e ‘Sister’ (Sonic Youth), por conta do crescimento da banda como um todo, mas principalmente de Westerberg como compositor – repara nos versos de ‘Answering Machine’: ‘Tente mudar uma situação numa carta/Perdendo a esperança, nunca estaremos juntos/Minha coragem está no auge/Você sabe o que estou dizendo/Como você diz Ok pra uma secretária eletrônica?/Como você diz boa noite para uma secretária eletrônica?’. Com o sucesso do disco, naturalmente surgiu o interesse das majors, e a Sire levou o passe dos Replacements em seguida.

E no universo das grandes gravadora, não apenas a banda não se acomodou como lançou mais um clássico, ‘Tim’, em 1985. O disco, que era pra ser produzido pelo ídolo de Westerberg, o ex-líder do Big Star Alex Chilton, acabou tendo o ex-Ramone Tommy nas picapes, e rendeu mais uma enxurrada de críticas super positivas, mas os caras pareciam se sentir pouco à vontade no mainstream: Westerberg e colegas apareciam bêbados nos shows e na TV (o vocalista produziu um pequeno escândalo ao pronunciar palavrão durante uma apresentação no ‘Saturday Night Live’), recusaram-se a fazer vídeo-clipes acessíveis – curiosamente, o de ‘Bastards of Young’, em que aparece praticamente apenas uma caixa de som cuspindo a música, acabou virando um clássico –, ... tudo isso impediu que os Replacements alçassem voos mais altos. Ainda vieram mais três álbuns respeitáveis até o penduramento das chuteiras em 1991. Desde então, Westerberg desenvolve admirável carreira-solo, que já conta com oito discos (dos quais só saiu aqui ‘Stereo’, de 2002), Tommy Stinson tocou em várias bandas (até no Guns N’ Roses), e seu irmão Bob, que havia sido expulso do grupo após a tour de ‘Tim’ por estar sempre bêbado e/ou chapado demais pra tocar, morreu de uma previsível overdose em 1995. Curiosidade: Westerberg completou 50 anos na última quinta-feira, último dia de 2009.

I Will Dare
Androginous
Answering Machine


Bastards of Young
Left of the Dial
Here Comes a Regular



Os 'Mats' em ação: beberagem, barulho, malícia e um dos melhores compositores do rock das últimas três décadas


Paul Westerberg, um sobrevivente: cabeça, alma e coração dos Replacements

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (14)

Well, dear friends, chegamos então ao último programa do ano neste sábado, 10 da noite na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). O playlist tá aí abaixo. A todos um feliz Natal, em especial aos colegas da TVE e da FM Cultura, com a esperança de que sigamos firmes e fortes pras batalhas que certamente virão em 2010. A luta continua. E a partir da semana que vem tem os álbuns, músicas e filmes do ano, na modesta opinião de CM. Enjoy!

1º bloco:
SUPER FURRY ANIMALS – White Socks/Flip Flops


Mais uma vez a banda galesa pintando por aqui, desta vez em uma faixa do álbum mais recente, ‘Dark Days/Light Years’, o nono de carreira, lançado no primeiro semestre de 2009. A velha irreverência, a salada de influências as mais diversas possíveis e o clima psicodélico, ... tá tudo lá. E o disco ainda retoma o peso dos primeiros trabalhos, em meados da década passada, além do aparente contraste de beats eletrônicos com teclados vintage e o fuzztone das guitarras.

YEAH YEAH YEAHS – Zero

Respeitado trio formado em 2000 e que apareceu na esteira do sucesso dos Strokes e da quentíssima cena novaiorquina desta década, onde despontaram também TV On The Radio e The Walkmen, entre outros. Além de alguns E.P.’s, os YYYs têm três álbuns, o mais recente, ‘It’s Blitz!’, deste ano, onde flertam mais pesado com a eletrônica. A vocalista Karen O este ano também participou do novo álbum dos Flaming Lips e compôs a trilha sonora para o novo filme de Spike Jonze, ‘Onde Vivem os Monstros’, que estreia em breve no Brasil.

MEMORY TAPES – Bycicle

É um projeto do americano de New Jersey Davye Hawk, que antes havia sido vocalista de uma bana chamada Hail Social. No MT, Davye – que já lançou material também sob as alcunhas de Memory Cassette e Weird Tapes – exercita seu amor ao pop eletrônico, juntando referências que vão dos experimentalismos de Aphex Twin ao New Order, passando pelo funk eletrônico dos anos 80 e o pop luxuoso do Saint Etienne. O curioso é que o Memory Tapes jamais se apresentou ao vivo: seus primeiros shows estão marcados para o começo do ano que vem, na Inglaterra. ‘Seek Memory’ é o elogiado álbum de estreia, deste ano.

2º bloco:
DEATH BY CHOCOLATE – The Salvador Dali Murder Mystery


Trata-se de um grupo fabricado, pelo produtor Mike Always, que foi executivo do selo inglês Cherry Red Records e dono das gravadoras Blanco Y Negro e El Records. Ele montou o DBC em 2000, quando apresentou os múlti-instrumentistas e produtores Jeremy Butler e John Austin ao guitarrista Matty Green e à cantora Angela Faye Tillett, de apenas 19 anos. O negócio dos caras é pop sessentista, que lembra Serge Gainsbourg, Burt Bacharah, Beatles, Beach Boys e no primeiro disco, homônimo, de 2000, gravaram, entre outras versões, uma de ‘If You Wan sing Out Sing Out’, de Cat Stevens, presente na trilha de ‘Ensina-me a Viver’.

APPLES IN STEREO – Strawberry Fire

Uma das mais conhecidas – e certamente a mais bem-sucedida de todas – as bandas do selo/comunidade Elephant 6, que nos anos 90 dedicou-se a reciclar a psicodelia sessentista em formato lo-fi, através de bandas como Elf Power, Olivia Tremor Control e Neutral Milk Hotel. O líder do Apples é Robert Schneider, cantor, compositor e guitarrista, um apaixonado pelo pop perfeito dos Beach Boys fase ‘Pet Sounds’. Depois de várias mudanças na formação, os Apples, fundados em 1992, ainda continuam na ativa: seu trabalho mais recente é ‘New Magnetic Wonder’, de 2007. Esta ano, saiu uma coletânea que dá uma boa geral na carreira do grupo, ‘# 1 Hits Explosion’, e dos discos de carreira um dos mais bacanas é o terceiro, ‘Her Wallpaper Reverie’, de 1999 – e o mais lisérgico de todos.

HELIUM – Super Ball

Banda americana de Boston, formada em 1992 e que já encerrou suas atividades. Fundia noise e psicodelia, melodias assobiáveis e pegada punk. Gravaram apenas três álbuns – ‘Pirate Prude’ (1994), ‘The Dirt of Luck’ (1995) e ‘The Magic City’ (1997), todos pela Matador Records – até a líder Mary Timony decidir assumir a carreira –solo (desde lá, já gravou quatro discos). Um dos momentos mais bacanas do Helium é o E.P. Super Ball’, de 1995.

3º bloco: Especial THE UNDERTONES
(‘The Undertones’, 1979/‘Hypnotised’, 1980/’Positive Touch’, 1981)

A banda que – depois de Van Morrison e o Them e antes de U2 e Sinnèad O’Connor – recolocou a Irlanda no mapa. Os Undertones, formados em Derby, na Irlanda do Norte, em 1976, tiveram vida curta – encerraram as atividades em 1983 –, mas tiveram tempo de deixar três discos que fizeram a cabeça não só dos punks, mas também os curtidores de música pop verdadeira, influenciam até hoje centenas de bandas que fundem a levada rápida e suja do punk às boas melodias e ainda cativaram gente importante como o lendário DJ John Peel, que sempre disse que sua música favorita era ‘Teenage Kicks’, um dos grandes singles do grupo.

Aliás, ‘Teenage Kicks’ era o nome do E.P. lançado pelos caras em 1978, por um pequeno selo chamado Good Vibrations, cujo dono, Terry Hooley, era também proprietário de uma famosa loja de discos em Belfast. Um exemplar foi parar nas mãos de John Peel, que se apaixonou pela canção, e a partir daí, os despretensiosos proletários norte-irlandeses, quando menos esperavam, já estavam dando autógrafos na rua. Logo se seguiriam um contrato com o selo americano Sire Records e o lançamento do homônimo álbum de estreia, em abril de 1979, e uma turnê americana abrindo para o Clash. No ano seguinte, vem o segundo disco, ‘Hypnotised’, elogiado como o primeiro, e hits como ‘My Perfect Cousin’ e ‘Wednesday Week’ e as inevitáveis comparações com os Ramones.

Os Undertones só começaram a morrer quando migraram para a gigante EMI, onde lançariam seu terceiro disco, ‘Positive Touch’, em 1981, um trabalho mais uma vez aclamado, mas que causosu estranheza nos fãs mais radicais, que não gostaram dos arranjos elaborados (pra não dizer pretensiosos), que incluíam instrumentos como pianos, violões de cordas de aço, metais e até xilofone. Dois anos depois, penduravam as chuteiras. De seus ex-integrantes, os que se deram melhor foram os irmãos guitarristas John e Damian O’Neill, que fundaram o ruidoso e politizado That Petrol Emotion.

Com o passar dos anos, vira e mexe se falava na possibilidade de reunião dos Undertones, até que com a onda de revivals desta década e o sucesso do documentário ‘Teenage Kicks’, de 2001, os caras sentiram-se confiantes em voltar a tocar. Em 2003, exatamente 20 anos após anunciar o encerramento das atividades, os Undertones voltaram com ‘Get What You Need’, seguido de ‘Dig Yourself Deep’ em 2007.

Here Comes the Summer
Jimmy Jimmy
True Confessions
My Perfect Cousin
Wednesday Week
It’s Going to Happen
Julie Ocean
Teenage Kicks


A coletânea dupla acima, 'True Confessions (Singles = A's + B's)', lançada em 1999, resolve o problema, mas pra quem quiser ir atrás dos álbuns, são esses aqui:








Os Undertones nos gloriosos tempos de juventude: os Ramones britânicos recolocaram a Irlanda no mapa antes do U2

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

COMPANHIA MAGNÉTICA NO AR (13º Programa)

Completando exatos três meses no ar (estreamos no dia 19 de setembro), o programa deste sábado, 19, às 22h na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede) é o seguinte:


1º bloco:

SPOON – Written in Reverse


Grupo texano, uma das sensações do som indie desta década, formado em 1994 pela dupla Britt Daniel (vocalista e guitarrista) e Jim Eno (baterista), tiveram várias formações flutuantes no início, e com o álbum de estreia, ‘Telephono’, de 1996, foram muito comparados com guitar bands clássicas do cenário alternativo americano, como Pixies e Sonic Youth, além de turnês abrindo pra Pavement, Guided By Voices e Archers of Loaf. Começaram gravando pro lendário selo novaiorquino Matador, foram contratados em seguida pela Elektra e dispensados logo depois, e desde o começo da década estão na Merge, do pessoal do Superchunk. O Spoon tem seis álbuns de estúdio, entre eles os aclamados ‘Girls Can Tell’ (2001) e ‘Ga Ga Ga Ga Ga’ (o mais recente, de 2007),mais um registro ao vivo. O novo, ‘Transference’, sai no começo de 2010, mas o primeiro single já tá rodando por aí.

TWILIGHT SAD – Made to Disappear

Banda escocesa, formada em Glasgow em 2003, fazem aquele típico som britânico indie, equilibrando melodia e ruído, com um romantismo pessimista e referências musicais que vão dos conterrâneos do Jesus & Mary Chain, além Echo & The Bunnymen, Wedding Present e Smiths e Joy Division Dessas duas últimas, gravaram covers em seu segundo disco, ‘Killed My Parents and Hit the Road’, do ano passado. O primeiro foi ‘Fourteen Autumns & Fifteen Winters’, de 2007, e o mais recente é ‘Forget the Night Ahead’, deste ano. Na formação dos caras, que já incluiu diversos intrumentos pouco usuais, há a curiosidade de constar um acordeom, o que dá um caráter de banda de bar ao som do grupo e realça a sua melancolia.

BILL CALLAHAN – Too Many Birds

Americano, 43 anos, um dos preferidos de CM (Lou Reed é também seu grande fã), que entre 1992 e 2005 gravava sob a alcunha de (Smog), um dos caras mais sensacionais e peculiares da cena indie americana das últimas décadas: baluarte do som lo-fi, em suas gravações caseiras praticamente fazia tudo sozinho, segundo ele porque não confiava ninguém. Callahan colecionou internações psiquiátricas, mas hoje parece mais estabilizado. Seu terceiro disco atendendo pelo próprio nome é o belíssimo ‘Sometimes I Wish We Were an Eagle’, de 2009, lançado pela mesma Drag City que lançou toda a sua obra.

2º bloco:

DJ SPOOKY – Galactic Funk


O americano Paul D. Miller, natural de Washington D.C., pra definir o seu som cunhou o termo ‘Illbient’ – ill (doente) + ambient (o som atmosférico criado por Brian Eno nos anos 1970 e retomado por vários grupos eletrônicos dos anos 1990, sacou?). Já esteve se apresentando em Porto Alegre, lá pelos idos de 1998, num evento chamado ‘Heineken Concerts’ no Salão de Atos da UFGRS, como um dos convidados do yankee/brasuca Arto Lindsay, anfitrião do encontro. Spooky é múlti-mídia ao extremo: é graduado em filosofia e literatura francesa, escreveu ficção científica e tem tranbalçhos com artista visual também. Herdou a vasta e variada discoteca do pai e nela mergulhou vorazmente, interessando-se por todo tipo de música. Já colaborou com músicos que vão de Thuston Moore (Sonic Youth) a Dave Lombardo (Slayer), além do rapper Kool Keith, Metallica e Nick Cave. Seu disco mais recente é o recém lançado ‘The Secret Song’. Um de seus maiores hits, ‘Galactic Funk’, é do álbum de estreia, ‘Songs of a Dead Dreamer’, de 1996.

DJ SHADOW – In/Flux

Conhecido como ‘o Jimi Hendrix (ou Miles Davis) dos toca-discos’, o californiano Josh Davis, é um dos raros branquelos a se destacarem como um dos maiores DJs com inspiração no hip-hop (em especial da chamada ‘old school’) no mundo. As faixas de seu disco de estreia, o super-clássico ‘Endtroducing’, de 1996 (um dos melhores álbuns do que quer que seja da década passada) soam perfeitamente orgânicas, a ponto de um ouvinte desavisado imaginar que trata-se de uma superbanda funk tocando instrumentos de verdade – diz a lenda que o cara tinha então já uma coleção de discos de vinil com mais de 60 mil volumes. Shadow registrou o álbum com apenas 23 anos, e antes já tinha assombrado críticos e ouvintes com singles como ‘In/Flux’ (incluída depois na coletânea ‘Preemptive Strike’, de 1998) e ‘Lost and Found (L.S.F.)’. Participou do projeto U.N.K.L.E. e do grupo de hip-hop Quanum, e seu último disco é ‘The Outsider’ (2006), lançado no Brasil assim como o anterior, ‘The Private Presse’ (2002).

MIX MASTER MIKE – Billie Klub

Michael Schwartz, californiano de San Francisco, chamou a atenção dos Beastie Boys primeiro como integrante do coletivo Invisibl Skratch Piklz, ganhador por três vezes de uma competição mundial de scratching. Estreou em disco solo em 1996, com ‘Michristmasterpiece’, e o seguinte, ‘Anti-Theft Device(1998), considerado seu melhor álbum, foi lançado com ele como já integrante dos Beastie Boys (uma das vinhetas do CD inclusive reproduz as tratativas, via secretária eletrônica, pra fazer parte do grupo de Mike D, Ad Rock e MCA, em substituição ao DJ Hurricane. Sua estreia foi em ‘Hello Nasty’, de 1998, e tica com os caras até hoje, além de tocar seu trabalho-solo.


3º bloco: THE GERMS (‘GI’, 1979/‘(MIA): The Complete Anthology’, 1993)

Banda de curtíssima duração – apenas três anos, de 1977 a 1980 –, mas que marcou época na importantíssima cena punk original de Los Angeles, que tinha ainda o X, o Social Distortion, Circle Jerks e o Black Flag. As figuras de frente eram o alucinado vocalista Darby Crash e seu melhor amigo, o guitarrista Pat Smear, dois ousiders irrecuperáveis que se conheceram porque eram fregueses do mesmo traficante, além de compartilharem o gosto pela confusão e o desprezo pelas autoridades. Completavam a formação a baixista Lorna Doom e o baterista Don Bolles. Consta que as apresentações ao vivo dos Germs estão entre as mais incendiárias de toda a ruidosa história do punk rock americano, muito por conta de Crash: influenciado por seu ídolo Iggy Pop, o cara mergulhava na plateia, espalhava a comida que a audiência lhe atirava pelo corpo, a certa altura com pouca roupa.

Crash, cujo nome de batismo era Jan Paul Breahm, nasceu em 26 de setembro de 1959, e é mais um daqueles casos de rock star que cresceu com o peso de uma infância e uma adolescência problemáticas nas costas: seu irmão mais velho morreu de overdose de heroína, seu pai, a quem nunca conheceu, também já estava morto quando Crash tomou a iniciativa de procurá-lo. Foi quando conheceu na escola Pat Smear, cujo nome verdadeiro, é Georg Albert Ruthenberg, nascido a 5 de agosto de 1959, que a vida de Crash passou a ganhar foco: tava ali seu parceiro de crime, o cara com quem montaria uma banda onde pudesse exercitar sua veia provocativa. O único problema é que os dois jamais haviam chegado perto de algum instrumento musical. Mas aprendidos alguns acordes básicos por Smear e desenvolvido o estilo gritão de cantar de Crash, foi logo resolvido o impasse, e o som dos Germs juntava as principais influências de ambos: o rockabilly dos 50’s que Crash aprendeu a curtir por conta da influência da irmã, o glam rock de Bowie, Alice Cooper e Queen e o protopunk de Stooges e New York Dolls que faziam a cabeça de Smear. Com Lorna Doom e Don Bolles, a formação do grupo se estabilizou, e daí pra gravação do álbum de estreia, ‘GI’, com produção de Joan Jett, fã do grupo e ex-líder das Runaways, uma das principais influências dos Germs, o caminho natural. O disco saiu em 1979.

Quem não se estabilizou, entretanto, foi Crash, e após um breve período de afastamento da banda pra viver em Londres, onde fez apresentações-solo, juntou-se a seus parceiros para um show no Starwood, em Los Angeles, realizado no dia 3 de dezembro de 1980, que entrou pra história por dois motivos: por ser considerado uma das melhores performances da breve trajetória dos Germs e também por ter sido a última, pois Crash cruzou a fronteira fatal apenas quatro dias depois, por conta de uma previsível overdose de heroína, que, segundo se diz, teria sido proposital, pois o cara teria feito pacto de suicídio com uma amiga, que sobreviveu. Tinha apenas 21 anos. Curiosidade: John Lennon foi assassinado um dia depois.

Desde então, o mito da banda só cresceu, com direito a relançamento de toda sua obra – o único disco, mais faixas dispersas, na coletânea ‘(MIA): The Complete Anthology’, de 1993, mais gravações ao vivo, um filme sobre Crash – ‘What We Do is Secret’ (2005) –, e até uma reunião dos integrantes sobreviventes com o ator do filme, Shane West, substituindo Crash, o que incomodou velhos fãs dos Germs, como Jello Biafra. Smear, que foi ator em ‘Blade Runner’ e aparecia nos clipes de ‘Raspberry Beret’ (Prince) e ‘Don’t Speak’ (No Doubt), recusou convite pra entrar pros Red Hot Chili Peppers em 1992, em substituição a John Frusciante, mas acabou entrando pro Nirvana logo depois. Também tocou com Dave Grohl no Foo Fighters em 1997.

Forming
What We Do is Secret
Communist Eyes
Lexicon Devil
Manimal
Our Way



A coleânea 'MIA', cuja capa é prtaticamente idêntica à do álbum, reúne todo o material gravado em estúdio pela banda e é a melhor pedida


Os 'Germes' em ação, com o kamikaze Crash à frente e seu fiel escudeiro Pat Smear: uma das mais intensas experiências do punk rock americano


Pat (abaixo, à esquerda) nos últimos dias do Nirvana: lenda viva

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (12º Programa)

Buenas, gurizada, como devem ter notado, semana passada não teve programa, por conta da transmissão de um evento no interior do Estado. E agora, com o fim do programa da Bienal, voltamos ao horário normal, das 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). O playlist é esse aí abaixo. Enjoy!


1º bloco:

EELS
Prizefighter

Grupo americano formado em 1995, basicamente um veículo do vocalista, compositor e guitarrista Mark Oliver Everett, conhecido no meio musical pela alcunha de ‘E’. Uma trajetória pessoal das mais atribuladas, repleta de episódios trágicos, foi exorcizada principalmente no segundo disco, ‘Electro-Shock Blues’, de 1996: E achou o corpo do pai ainda na adolescência, a irmã esquizofrênica suicidou-se, a mãe morreu de câncer no pulmão, amigos próximos também se foram. Mas mesmo com toda essa carga de desastres, o cara continuou, com seu bem-sucedido mix de melodias assobiáveis, levada country, batida de hip-hop e espírito indie. O Eels já tem sete discos de estúdio, um ao vivo, e E tem vários discos-solo. O mais recente, deste ano, é ‘Hombre Lombro: 12 Songs of Desire’.

PHOENIX – Lizstomania

Banda francesa, formada há quase 15 anos, com fortíssima influência da new wave oitentista. O curioso é que começaram tocando em bares parienses tocando covers de Prince e Hank Williams, e começaram a ganhar fama quando bancaram a banda de apoio da dupla Air em aparições de Nicolas Godin e Jan-Benoît Dunckel em programas da TV inglesa. O single de estreia, ‘Heatwave’, com clima disco, fez a fama do grupo, preparando a expectativa para o disco de estreia, ‘United’, de 2000. Curiosidade: o vocalista Thomas Mars é casado com Sofia Copolla, com quem tem um filho. O disco mais recente do Phoenix é ‘Wolfgang Amadeus Phoenix’, deste ano.

THE ATLAS SOUND c/ NOAH LENNOX (PANDA BEAR) – Walkabout

Projeto paralelo de Brad Cox, aquela figura magérrima e longilínea que sofre de síindrome de Marfan e é o vocalista de uma das principais bandas americanas da atualidade, o Deerhunter. Sendo nativo de Athens, na Georgia, criou-se ouvindo um dos orgulhos da cidade, o B-52’s, que tem até hoje como uma de suas maiores referências. O som do Atlas Sound tem apelo pop, mas também um experimentalismo sutil herdado do Deerhunter – que depois de dois álbuns deu um tempo justamente pra que seus integrantes se dedicassem a seus projetos particulares. Assim, Cox aproveitou pra gravar, em sequência, os dois discos do Atlas Sound, ‘Let the Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel’, do ano passado, e ‘Logos’, deste ano.


2º bloco:

SPACEMEN 3 – Revolution

Um dos mais radicais experimentos psicodélicos dos anos 1980 e 90, explorando principalmente o ruído das guitarras, e adicionando a isso a sonoridade de órgãos e teclados hiperamplificados, construindo paredes de microfonia e ambiências hipnóticas. O S3 foi fundado em Derby, na Inglaterra, pela dupla Sonic Boom e Jason Pierce, e durou até 1991, quando as diferenças pessoais e o abuso de drogas da dupla tornou-se insustentável. Pierce formou, então, o Spiritualized, enquanto que Boom lançou gravações-solo e projetos como Spectrum e Experimental Audio Research. O Spacemen 3 lançou alguns clássicos do som viajandão e demencial, como seu quarto álbum, ‘Playing With Fire’, de 1991.


SPIRITUALIZED – Ladies and Gentlemen, We Are Floating in Space


Já o grupo de Pierce é menos ruidoso que o Spacemen 3, adicionando um toque sinfônico e outro de soul music na jogada, embora a referência aos drones de guitarra e ao minimalismo, influências de compositores contemporâneos como La Monte Young e Steve Reich, ainda esteja presente. Na verdade, o Spiritualized já estava sendo gestado durante as gravações de ‘Recurring’, o último disco do S3, quando a dupla Pierce e Boom já tava praticamente apartada: cada um gravou sozinho metade do álbum, sendo que na parte de Pierce já figuravam os futuros músicos do Spiritualized, Mark Refoy (guitarra), Willie B. Carruthers (baixo) e Jon Mattock (bateria). O disco mais recente do grupo é ‘Sons in A & E’, do ano passado, e um de seus trabalhos mais aclamados – tá sendo relançado lá fora em edição de luxo – é ‘Ladies and Gentlemen, We Are Floating in Space’, de 1997, que saiu no Brasil e traz a famosa capinha que imita a embalagem de um medicamento (e o encarte, uma bula).

VERVE – Slide Away

Do bloquinho aqui, sem dúvida o mais conhecido, a tal ponto de ter virado sucesso de massa, o que já fugiria do propósito do programa, mas pouca gente conhece sues dois primeiros discos, anteriores ao ultra-estourado ‘Urban Hymns’ (1997), puxado pelos hits planetários ‘Bitter Sweet Symphony’, ‘Sonnet’, ‘The Drugs Don’t Work’ e ‘Lucky Man’. Principalmente o primeiro, ‘A Storm in Heaven’, de 1993, repleto de atmosferas etéreas e clima lisérgico, com a guitarra de Nick McCabe e os versos de Richard Ashcroft conduzindo o ouvinte a outras galáxias, pagando tributo não só à psicodelia sesentista mas também ao som shoegaze então em voga na Inglaterra. Após o terceiro álbum, o Verve se separou, voltando só no ano passado, com ‘Forth’, só que mais uma vez o relacionamento conturbado entre Ashcroft e os demais integrantes – em especial McCabe e o baixista Simon Jones – impediu a continuidade do grupo. O difícil Ashcroft não deve ter um relacionamento lá muito bom com Jason Pierce também: roubou dele a mulher, que tocava no Spiritualized justamente até 1997, ano de ‘Ladies and Gentlemen ...’ (Spiritualized) e ‘Urban Hymns’ (Verve).

3º bloco: GARY NUMAN (‘The Pleasure Principle’, 1979)

O londrino Gary Anthony James Webb, 51 anos, geralmente conhecido pelo hit ‘Cars’, sucesso massivo nas rádios quando lançado, há 30 anos, e das pistas até hoje, já teria sua trajetória justificada por ser um dos precursores do synth pop, gênero que foi um dos principais sucessos comerciais da new wave e ainda dá crias, mas na verdade sua importância vai além: seu tipo andrógino (inspirado em Bowie e no Roxy Music) e robótico (Kraftwerk), além da pose gelada, distante e do clima de paranoia e solidão das canções, ofereceram manancial para um sem-número de estilos e tendências, especialmente entre os músicos alternativos dos anos 1980, 1990 e 2000: dos góticos ao pessoal do electro, das bandas indie ao rock industrial e incontáveis subgêneros da música eletrônica.

Da juventude acanhada – era um garoto tímido, atrapalhado pela síndrome de Asperger, uma espécie de desordem psíquica que causa transtornos de comportamento e compromete a sociabilidade, considerada quase que uma espécie de autismo em nível mais leve –, veio o interesse pela música: aos 15 anos, comprou a primeira guitarra e passou a compor, e participou de várias bandas, a mais conhecida delas o Tubeway Army, onde usava o pseudônimo Valerian, tirado do herói de uma série de ficção científica da TV francesa. Logo depois, passou a usar o ‘Numan’. Aos 21 anos, lançava-se em carreira-solo, já de cara soltando seu clássico, ‘The Pleasure Principle’, em setembro de 1979. Apesar do sucesso, ainda seguiu morando com os pais por um bom tempo.

Outros álbuns seguiram-se nos anos 80 e 90, e Numan ainda teve alguns hits, embora nada comparado ao álbum de estreia e seu carro-chefe, ‘Cars’. Aos poucos, foi tornando-se carta fora do baralho, até ser resgatado nos 90’s por vários artistas independentes, que passaram a tocar ao vivo e gravar suas velhas canções, além de fazer referência à influência do inglês sobre seus trabalhos. Em julho deste ano, o Nine Inch Nails, que por ora dá um tempo, teve como convidado principal de sua ‘Wave Goodbye Tour’ justamente Gary Numan, e Trent Reznor e cia. e seu ilustre convidado apresentaram ao vivo números de Numan e do NIN. Numan inclusive diz que ele e Trent pretendem gravar juntos em breve, em um novo projeto. O álbum mais recente do inglês é ‘Jagged’, de 2006.

Metal
Films
M.E.
Cars



Numan nos seus vinte e poucos anos: inspiração para Radiohead, Grandaddy, Nine Inch Nails, Magnetic Fields, Add N to (X), Crystal Castles, Neon Indian ...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Paradão Magnético do Mês (Novembro de 2009)

Mais difícil que o do mês passado. Dói passar a tesoura, mas ... Aí vai:

PJ HARVEY & JOHN PARISH - Black Hearted Love
THE RAPTURE - Sister Saviour
CUT/COPY - Unforgettable Season
MISSION OF BURMA - Academy Fight Song
DEERHOOF - Fresh Born
CRYSTAL CASTLES - Crimewave
NEUTRAL MILK HOTEL - In an Aeroplane Over the Sea
MERCURY REV - Holes
P.I.L. - Memories
BLACK REBEL MOTORCYCLE CLUB - Spread Your Love
PANDA BEAR - Comfy in Nautica
BIBIO - Lover's Carvings
JOHN CALE (c/ KEVIN AYERS, NICO & BRIAN ENO) - Heartbreak Hotel
JAPANDROIDS - Heart Sweats
GIRLS - God Damned
NO AGE - Ripped Knees
SUPER FURRY ANIMALS - Smokin'
BETA BAND - Dry the Rain
CORNELIUS - Star Fruits Surf Rider
MAGNETIC FIELDS - I Don't Believe in the Sun

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (11)

Aí vai o playlist do programa deste sábado, 28/11, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede), às 9 da noite. Enjoy!

1º bloco:
JAPANDROIDS – Heart Sweats


Canadenses de Vancouver, Brian King (guitarra) e David Prowse (bateria) tornaram-se os Japandroids em 2006, lançando dois E.P.’s nos dois anos seguintes. O álbum de estreia, ‘Post-Nothing’, só veio em agosto deste ano, mas antes, a faixa ‘Young Hearts Spark Fire’ já havia feito barulho na internet, além de a dupla ter sido adotada pelo influente site Pitchfork. O som barulhento, minimal e lo-fi dos Japandroids tem rendido muitas comparações com bandas como No Age e Times New Viking.

GIRLS – God Damned

Também um duo, este americano, de San Francisco, cujos membros – que não são meninas, apesar do nome da banda – têm histórias pessoais as mais sui generis, em especial o guitarista Christopher Owens: filho de religiosos da seita ‘Children of God’, começou cantando em coros da igreja e viveu em diversas partes do mundo até tomar contato com a música pop na adolescência e se cansar da vida de crentes que sua família levava. Passou então a tocar na rua, e após juntar uma grana razoável, acabou parando em San Francisco, onde passou a trabalhar como pintor. Por intermédio de amigos músicos é que foi conhecer seu futuro parceiro de banda, JR White, filho de pais liberais e que levava a vida na gandaia à noite enquanto garantia uns trocados de cozinheiro à tarde. ‘Album’ é o disco de estreia do Girls, deste ano.

NO AGE – Ripped Knees

Também californiano, este de Los Angeles, também um duo, de guitarra (a cargo de Randy Randall) e bateria (Dean Spunt, que também é o vocalista), ex-integrantes de uma banda hardcore chamada Wives. Têm dois discos: o primeiro, ‘Weirdo Rippers’, de 2007, é uma coleção dos E.P.’s lançados em vinil pelo grupo, e ‘Nouns’, do ano passado, é de fato álbum de estreia, considerado um dos melhores do ano por diversas publicações. Além da música, a dupla também é famoso no terreno das artes visuais.

2º bloco:
SUPER FURRY ANIMALS – Smokin’


Uma das principais bandas da quentíssima cena do País de Gales dos anos 90 (de onde saíram também Gorky’s Zygotic Mynci, Manic Street Preachers, Catatonia e Stereophonics, entre outros), a banda formada em Cardiff em 1993 já esteve no Brasil em 2003, se apresentando no Tim Festival. Liderados pelo maluco beleza Gruff Rhys, mixam o britpop dos 90 (o primeiro disco lembra a sonoridade do Blur) com a psicodelia dos Beatles e Beach Boys, o art rock dos anos 1970, a energia do punk rock e até influências tropicalistas. Têm 9 discos de carreira – sendo um deles cantado todo em galês –, mas apenas dois saíram no Brasil, além da coletânea ‘21 Singles’. O mais recente é ‘Dark Days/Light Years’, deste ano, e um dos mais interessantes é a coletânea ‘Outspaced’, de 1998, só com material inédito – tão bom como qualquer dos discos de carreira do quinteto.

BETA BAND – Dry the Rain

Se o Super Furry é um dos baluartes da badalada cena de Gales, a Beta Band foi um dos mais significativos nomes da igualmente bacana cena escocesa da década passada – que tinha Arab Strap, Belle & Sebastian, The Delgados, Mogwai e o Travis. O quarteto de Edimburgo teve seu grande ano em 2001, quando abriu a turnê do Radiohead – antes, teve incluída sua ‘Dry the Rain’ na trilha de ‘Alta Fidelidade’ (o ator e produtor John Cusack é grande fã do grupo e seu mix de referências a várias vertentes da música eletrônica e ... britpop). Encerrou as atividades em 2004 após lançar três discos muito elogiados – isso sem contar a reunião de seus três primeiros E.P.’s, lançada em 1998 justamente com o nome de ‘The Three E.P.’s'.

CORNELIUS – Star Fruits Surf Rider

Outra cena importante dos anos 90 é a famosa ‘shibuya kei’ – o pop alternativo japonês, que ajudou a quebrar de vez o ranço no mercado norte-americano contra a música popular feita em outras paragens que não o eixo América-Inglaterra. Além do estourado Pizzicato Five, do bacana Buffalo Daughter e do divertido Fantastic Plastic Machine, um dos caras mais legais da cena é um cidadão chamado Keigo Oyamada, conhecido no universo pop pela alcunha de Cornelius. Seu clássico saiu no Brasil: ‘Fantasma’, de 1997. A edição da Trama, que lançou dele também dois discos de remixes, chegou ao luxo de trazer a tradução das letras para o português. Cornelius é uma espécie de Beck nipônico: o folk se mistura ao hip-hop, a psicodelia à bossa-nova, a batida drum’n’bass ao noise.

3º bloco: MAGNETIC FIELDS (’69 Love Songs’, 1999)
Completando 10 anos de lançamento, um dos projetos mais ambiciosos da década de 90: um disco triplo contendo 69 canções. O autor da proeza é Stephen Merritt, cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista americano de Boston, líder do Magnetic Fields. O cara registra todo o material em casa, em um gravador de quatro canais, e faz isso desde a adolescência, embora o primeiro disco do MF só foi sair em 1990.

Inicialmente inspirado no pop eletrônico de Gary Numan, Eno, Roxy Music e Kraftwerk, aos poucos, Merritt foi adicionando instrumentos elétricos e acústicos, aparecendo aí suas outras influências básicas, como Beach Boys e Phil Spector. Nos dois primeiros álbuns, contava com o auxílio da cantora Susan Anway; com a saída dela, Merritt aacabou ssumindo os vocais principais. Os integrantes mais frequentes do Magnetic Fields são o cellista e flautista Sam Davol e a percussionista Claudia Gonson – que é também cantora e se vira em outros instrumentos. Não por acaso, cada um dos três volumes das ‘69 Love Songs’ exibe o rosto de um deles. (Quando saiu, em setembro de 1999, a obra poderia ser adquirida de duas formas: ou o sujeito comprava em separado cada um dos discos, com exatamente 23 canções cada, ou um box com todo o material.)

A temática das canções de Merritt gira em torno de relacionamentos amorosos, entre pessoas do mesmo sexo, geralmente com uma ponta de ironia e melancolia. Merritt, além dos MF, possui outros projetos, tais como Future Bible Heroes (a gente mostra em um dos próximos programas), Gothic Archies e The 6ths – este último gravou um disco com uma série de vocalistas convidados, como Georgia Hubley (Yo La Tengo) e Dean Wareham (Luna), entre outros. Já os Magnetic Fields têm outros sete discos além das ’69 Songs Love’ – o mais recente é ‘Distortion’, do ano passado.

I Don’t Believe in the Sun
I Don’t Wanna Get Over You



Asleep and Dreaming
No One Will Get Over You





Busby Berkley Dreams
Accoustic Guitar




Merrit e seus asseclas: o novo 'the hardest workingman in show business'

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

My Life in Lists – discos (70’s)

Nos anos 1970 em que cresci fora da província, bem perto dos tubarões da ditadura que não sabia existir, bem longe do maior time do futebol brasileiro de então, na seara pop, o início foi o fim do sonho, e o final, recomeço a partir do caos. O período que Tom Wolfe, que essa semana passou por aqui, chamou de ‘a década do eu’, num certo sentido também o foi no rock, até, pelo menos, sofrer o golpe de John Lydon, Sid Vicious e cia.: concertos de ingressos caríssimos, superproduções em arenas lotadas, popstars milionários, músicas longuíssimas que enfatizavam o narcisismo de instrumentistas megalômanos ... tudo contribuiu para afastar a garota angustiada que buscava no rock um conforto mínimo, um escape para seus problemas. O rock perdera a urgência, a conexão com a rua, e o terrorismo se fazia necessário. Os Pistols, então, detonaram a nova ‘nova onda’, que já havia sido delineada em Nova Iorque pelos Ramones, Patti Smith, Blondie, Richard Hell, New York Dolls, Suicide, Television e os Talking Heads, e antes pelo Velvet Underground.

Mas como o pop se recicla e se reinvernta com uma velocidade absurda, e as referências que hoje não servem amanhã darão o tom, a década de 1970, no que tinha de mais ‘descartável’, acabou sendo revitalizada: a disco – que, a bem da verdade, jamais morreu – viraria referência não apenas para a dance music, na virada dos anos 80 para os 90, como para um sem-número de outros estilos ligados ao universo indie, e até grupos então menosprezados pela crítica, como o Black Sabbath, seriam redescobertos por conta da influência em um sem-número de grupos pesados cult – do Nirvana ao Faith No More, do Ministry ao Jane’s Addiction.

Vendo a coisa em retrospecto, pra finalizar, os 70’s não são tão horrorosos assim, mesmo antes da explosão punk: Bowie, Roxy Music, T-Rex, o krautrock e a música black americana – e não só a americana, não esqueçamos que foi nos 70 o estouro mundial do reggae – garantiram contribuições importantes ao rock e ao pop. A comparação com os inacreditáveis 60’s fazem o quadro parecer muito pior do que de fato realmente é. Vejamos:


T-REX –Electric Warrior (1971)


Um disco de rock como devem ser todos os discos de rock: riffs intoxicantes, refrões ganchudos, groove na medida certa, rocks potentes, baladas emocionantes e um ar spacey que o torna ainda mais viciante. Críticos e fãs dividem-se em apontar qual o melhor disco da banda de Marc Bolan – igualmente um rock star como este deve ser, carismático, marrento (mas simpático), misterioso, do tipo que passa toda a segurança de quem sabe o que está fazendo porque é apaixonado pelo que faz: ‘Electric Warrior’ ou o subsequente, ‘The Silder’? Os dois são indispensáveis, assim como ‘Tanx’. ‘Electric’ leva vantagem por incluir o hino da banda, ‘Get It On (Bang a Gong)’, a tocante ‘Cosmic Dancer’ (ambas usadas em cenas-chave do belo filme inglês ‘Billy Elliott’), o boogie ‘Jeepster’, a venenosa ‘Mambo Sun’, além da bacana ‘Life’s a Gas’ e da paulada final ‘Rip Off’. Discaço. Não perdeu a força nestes quase 40 anos. Uma pena que Bolan tenha morrido cedo, em 1977, no auge do barulho punk, duas semanas antes de completar 30 anos. A moçada invocada pegou leve com ele, e tinha razão.

ROXY MUSIC – For Your Pleasure (1972)

A ala mais vanguardista do glam rock de Bowie e T-Rex no último disco do revolucionário ‘não-músico’ Brian Eno com a banda – chutado da banda por Bryan Ferry, confirmando aquela velha escrita de que em uma mesma banda de rock geralmente não cabem dois gênios. Mas o choque entre os experimentalismos desconstrutivistas de Eno e o gosto pelas melodias e o groove do r&b americano do crooner Ferry tem aqui seu momento máximo: o disco abre com a incisiva ‘Do the Strand’, um dos singles de sucesso do grupo e hit obrigatório dos shows da banda, segue com a balada ‘Beauty Queen’, passa por ‘Strickly Confidential’ e ‘Editions of You’ (outro hit-single, um rockão já regravado pelo Mudhoney), pra desembocar em seguida nos dois momentos mais sinistros do disco. ‘In Every Dream Home a Heartache’ é a típica balada desencantada do romântico Ferry, e seu clima de fatalidade é realçado pelos venenosos synths de Eno; já ‘The Bogus Man’ – uma das preferidas de CM de todos os tempos – é uma das mais esquisitas gravações de toda a carreira do grupo, e parece a sentença definitiva das tensões vividas pela dupla Brian/Bryan: uma batida repetiviva vai marcando os mais de 9 minutos da canção, e os versos assustadores (‘The bogus man is on his way/As fast as He can run/He’s tired but He’ll get to You/And Shoot You with his gun’) são sussurrados por Ferry, e o groove da música, vai numa levada constante, com pequenas alterações (o oboé e o sax de Andy McKay), detalhes que surgem e desaparecem subitamente – uma das marcas, aliás, da Música Roxy. ‘Grey Lagoons’ e a faixa-título (mais uma valorizada pelas estranhas ambiências criadas por Eno) encerram mais esta obra-prima do Roxy, que ainda gravaria grandes discos depois, até que Ferry resolvesse partir para uma bem-sucedida carreira-solo nos anos 80.

DAVID BOWIE – Low (1977)

O mais denso de todos os discos de Bowie, dá pra dizer que, na verdade, é uma parceria: mais da metade do álbum deve-se a seu produtor, Brian Eno – que então já lançara clássicos do art rock dos 70’s, como ‘Here Come the Warm Jets’, ‘Taking Tiger Mountain By Strategy’, ‘Before and After Science’ e ‘Another Green World’. Aqui, inicia-se a chamada ‘cold wave’, o som depressivo e gelado que faria a fama de Joy Division, Cure e Echo & The Bunnymen na década seguinte. Sintetizadores dissonantes, clima de desolação, decadência, levada de guitarra nervosa e um certo groove robótico, influência clara do krautrock – não por acaso, ‘Low’ abre a famosa trilogia berlinense de Bowie, que à época vivia na capital da então Alemanha Ocidental com seu protegido Iggy Pop. As canções são poderosas – ‘Be My Wife’ e ‘Sound And Vision’ (essa quase pop, apesar da levada estranha), a resignada ‘Always Crashing in the Same Car’ – e os temas instrumentais, estranhos e desoladores, ocupam praticamente todo o ‘lado B’ do disco – só ‘A New Career in a New Town’ promete alguma eesperança, embora ‘Warszawa’ (que deu origem ao primeiro nome do Joy Division, Warsaw) não deixe dúvidas quanto ao clima ‘no future’. Bowie, o homem que educou a juventude britânica dos anos 70, que antecipou tendências e foi a principal referência do rock moderno das décadas de 80, 90 e 2000, mas cuja própria carreira desde os anos 80 se caracteriza pela irregularidade, ainda lançaria três obras-primas na sequência de ‘Low’ – ‘Heroes’, ‘Lodger’ e ‘Scary Monsters’, discos que não perderam nada em inventividade nos últimos 20 anos.

TALKING HEADS – Fear of Music (1979)

Entre o segundo, o terceiro (este) e o quarto discos dos Heads, todos produzidos por Brian Eno (olha o cara aí de novo), já tive preferência por cada um deles em momentos diferentes. Mas o mais constante é este terceiro: não é tão minimal como o segundo, ‘More Songs About Buildings and Food’, lançado no ano anterior (basicamente os rocks econômicos e enxutos da estreia, ‘’77’, com o tratamento aquele do Eno), nem tão elaborado como ‘Remain in Light’, lançado em 80, com uma enxurrada de efeitos e a super banda funk que faria a cama pros temas esquisitos de David Byrne na década seguinte. ‘Fear’ é na medida: começa com o sacolejo afro de ‘I Zimbra’, pontuado pela guitarra de Robert Fripp, segue pela paranóia (uma expressão tacanha pra definir o álbum, mas vá lá) de ‘Mind’, vêm ‘Paper’ e ‘Cities’, e encontra sua candidato a hit em ‘Life During Wartime’,um dos tantos comentários ácidos de Byrne sobre o modo de vida de seu país. Na pesada ‘Memories Can’t Wait’, o negócio é ainda mais obsessivo/opressivo, ‘Air’ segue no clima de estranhamento do disco, e a bela ‘Heaven’, já tema de um ‘Versinhos Bacanas’ aqui no CM, confirma o grande compositor que Byrne é. ‘Animals’, ‘Electric Guitar’ e ‘Drugs (Electricity)’ completam o serviço. Após a audição de ‘Fear of Music’, não fica difícil entender por que os Talking Heads são até hoje uma das bandas preferidas de Thom Yorke e seus parceiros de Radiohead.

THE STOOGES – Fun House (1970)

O Jack White (White Stripes) chama-o de o disco definitivo do rock de Detroit ou coisa parecida. Sem dúvida, os Stooges, em disco, foram bem mais felizes do que o MC5 e têm importância maior que Alice Cooper, só pra ficar entre os representantes da ‘motor city’ mais famosos. Mas o importante é que ‘Fun House’ é o disco definitivo dos Stooges: mais coeso – e caótico, por paradoxal que possa parecer – que o primeiro álbum de 1969 e o estoura tímpanos ‘Raw Power’. O segundo disco de Iggy Pop e sua banda tem provavelmente a mais matadora sequência de petardos da história: ‘Down on the Street’, ‘Loose’ (minha preferida para todo o sempre) e ‘TV Eye’. Não tem como não deixar de usar o clichê: não fica pedra sobrte pedra. Depois, vem a aparentemente mais calma ‘Dirt’ – em função do ritmo, consideravelmente mais lento e do arranjo, menos estridente e caótico –, mas os versos ‘I’ve been dirt and I don’t care’ não deixam dúvidas quanto ao inferno pessoal da personagem. Com ‘1970’, volta o barulho, e ‘Fun House’, com levada funk (!) e o sax de Steve Mckay instaura o clima de festa de maluco (aliás, sempre tive o sonho de abrir uma casa noturna com o nome de ‘Fun House’, mas o pessoal da Cachorro Grande executou a ideia primeiro. Paciência.). E tudo culmina com a catarse de ‘L.A. Blues’, a quebradeira final. Tá aí um disco que promete e cumpre, não deixa nada a desejar.


MAGAZINE – Real Life (1978)


Admito que esse é uma descoberta recente. Tinha (tenho) os dois posteriores da banda de Howard Devoto, Jonh Mcgeoch e Barry Adamson, ‘Secondhand Daylight’ (1979) e ‘The Correct Use of Soap’ (1980), dos quais gosto, mas num nível muito distante de provocar qualquer onda de fanatismo como os Comsat Angles e Joy Division, só pra ficar em bandas com um mais ou menos semelhante. Também conhecia algumas músicas, tipo ‘The Light Pours Out of Me’, mas em função do programa baixei as canções e resolvi ouvir então na sequência o disco de estreia desta banda de Manchester famosa pelo seu vocalista – Devoto – e suas saborosas histórias (foi arrastado pro banheiro pela primeira mulher do Tony Wilson, que acabara de flagrar o marido na fubangagem e resolveu se vingar, foi promoter do famoso show dos Sex Pistols no Lesser Trade Hall, compositor/cantor/mentor da primeira formação dos Buzzcocks junto com Pete Shelley). Trata-se de um dos mais empolgantes discos de toda a era pós punk. Singles matadores – ‘Shot by Both Sides’ e a citada ‘The Light Pours Out Me’, mais as matadoras e sinistras ‘Motorcade’ e ‘Definitive Gaze’. Já que a comparação tacanha com o Joy e o Comsat Angels, arrisco uma tese final: a diferença positiva em relação às outras duas bandas (que o Legião Urbana copiou desavergonhadamente e à exaustão) é que o melhor do Magazine basicamente está concentrado em um álbum só – ainda que ‘Feed the Enemy’, ‘Permafrost’, ‘Because You’re Frightened’, ‘Permafrost’ e a versão de ‘Thank You Falletin Me Be Mice Elf Agin’ de Sly Stone sejam grandes momentos –, o que faz de ‘Real Life’, talvez, um álbum superior a ‘Closer’ ou ‘Waiting for a Miracle’; a negativa, claro, é que os outros dois tiveram uma regularidade maior, mesmo considerando-se a curtíssima trajetória do Joy Division. Mas o fato é que ‘Real life’ é um discaço que não perdeu com o tempo, a gravações recentes de Maxïmo Park, The Rapture e Interpol, entre outros, só confirmam isso.

CAN – Future Days (1973)

O mundo ainda vai reconhecer o Can como uma das grandes bandas da história do rock, passando a ser citado ao lado de Beatles, Stones, Who e Velvet Underground como um dos cânones do gênero. Com o Velvet, aliás, é que geralmente é feita a associação mais frequente, uma vez que a música de vanguarda do grupo de Düsseldorf presta tributo a compositores contemporâneos e carrega uma inequívoca intenção provocativa – em visita ao Brasil em meados dos anos 80, Holger Czukay disse que músicos que têm interesse em fazer música realmente honesta deveriam se espelhar na ex-banda de Lou Reed (e casar com uma mulher rica para sobreviver sem ter de se vender). Well, o negócio é que bem em uma época que o rock passou a ser contaminado com pretensões ‘artísticas’ de músicos megalômanos e sem talento de conservatório, o quinteto formado pelo Czukay, pelo baterista Jaki Leibezeit (ídolo do ex-Pistol John Lydon, gravou uma participação em um disco do P.I.L.), pelo guitarrista Michael Karoli, pelo tecladista Irmin Schmidt e pelo carismático cantor japonês Damo Suzuki definiu melhor do que qualquer outro a expressão ‘art rock’: improviso, experimentalismos, maluquices, ambiências estranhas, elementos jazzísticos – sem comprometer o minimalismo intrínseco ao projeto – ... o Can (e seus conterrâneos/contemporâneos Neu!, Faust, Kraftwerk e Cluster) influenciou onze a cada dez artistas que fizeram/fazem a diferença nas últimas três décadas do pop: do Primal Scream ao Air (repara se ‘La Femme D’Argent’ não foi inteiramente chupada da faixa-título de ‘Future Days’), do Suicide ao pessoal do pós-rock, do Add N to (X), dos Liars ao Joy Division. “Future Days’ é o o mais bonito dos discos do Can e o último com Suzuki. Aqui é o ouvinte que viaja e não os músicos.

NEIL YOUNG – On the Beach (1974)

O disco mais denso e dilacerado do ‘godfather of grunge’ – e justamente o preferido de Kurt Cobain, que tinha-o, segundo se diz, como um de seus álbuns de cabeceira. Ficou exatas três décadas fora de catálogo, só vindo a ser relançado, já em CD em 2004, justamente por conta do aniversário de 30 anos de seu lançamento, e acabou adquirindo, claro, a fama de álbum maldito. A explicação é a seguinte: Young registrou este seu sexto disco-solo na época mais triste de sua vida, quando acabara de perder dois amigos por overdose (o roadie Bruce Berry e o guitarrista do Crazy Horse, Danny Whitten) e sua mulher Peggy havia dado à luz a duas crianças deficientes. A letra da faixa-título já dá uma ideia do desespero do cara àquela altura do campeonato: em um trecho, ele se imagina em uma emissora de rádio dando uma entrevista onde termina sozinho ao microfone; em outro, diz que precisa de uma multidão, mas sente que não conseguirá encará-la; e abre e encerra com os famosos versos ‘The World is turnin’/I hope it don’t turn away’. Apesar de 30 anos de ausência das prateleiras, duas faixas de ‘On The Beach’ tiveram livre trânsito: ‘Rock On’ e ‘For the Turnstilles’ foram incluídas na coletânea ‘Decade’, sua mais conhecida – e melhor – antologia. Mas durante esse longo período, quem não teve a sorte de topar com o raríssimo vinil original ou teve a chance de descolar uma boa cópia pirata esteve privado de ouvir a belíssima ‘See the Sky About to Rain’, a confessional ‘Vampire Blues’, a intensa ‘Ambulance Blues’ e a controversa ‘Revolution Blues’. Neil brilhou nos anos 1970, lançando várias obras-primas, mas ‘On the Beach’ é seu disco mais bonito. E dolorido.

STEVIE WONDER – Innervisions (1973)

Difícil escolher qual o melhor disco de Little Stevie entre seus clássicos dos anos 1970: na era de ouro da música black americana, em que rivalizava com Marvin Gaye e Al Green ao poste de soulmen mais prolífico e brilhante, Wonder lançou várias obras-primas em sequência. ‘Music of My Mind’ (1970), com ‘Love Having You Around’ e ‘Happier Than the Morning Sun’, é um baita disco; ‘Talking Book’ (1972), dos mega-hits ‘Superstitious’ e ‘You Are the Sunshine of My Life’, geralmente é tido como seu melhor trabalho, com seu uso inovador de synths que influenciou especialmente David Bowie e seu ‘plastic soul’ em ‘Young Americans’; tem ainda o bacana ‘Fullfillingness’ First Finale’ (1974), onde a coisa vai desde música de protesto (‘You Have Done Nothing’, endereçada a Nixon) a um reggaezinho maneiro, ‘Boogie On Reggae Woman’, além de faixas subestimadas, como ‘Heaven is 10 Zillion Light Years Away’; e o ambicioso álbum duplo ‘Songs in the Key of Life’ (1976), que só confirma a maturidade de um artista completo. Mas ‘Innervisions’ (1973) é foda. Funkzinho eletrônico com toques jazzísticos (‘Too High’, sobre abuso de drogas), balada cortante (‘Visions’), um épico sobre a dura vida nas cidades (‘living in the City’), a manha de misturar funk e reggae na levada (o hit ‘Higher Ground’, um crossover que não soa como crossover), a confortante ‘Don’t You Worry About a Thing’, sucesso nos charts em 74, e uma das canções mais emocionantes de todo o seu repertório (e outra pedrada em Nixon), ‘He’s Misstra Know-It-All’. ‘Innervisions’ é o ouro, da primeira à última faixa.

MARVIN GAYE – Let’s Get It On (1973)

Claro que não tem a magnitude de ‘Lets Get It On’ e suas questões sociais relevantes – isso sem falar no grito de independência que representou para Marvin o álbum de 1971 –, mas é aqui que o cantor explora com mais profundidade o conflito espiritualidade/sexualidade que marcou sua vida e carreira, o que faz de ‘Lets Get It On’, talvez, seu álbum mais pessoal. E o mais bem-sucedido comercialmente, também. Puxado pela faixa-título – e o nome da canção não pode ser mais explícito –, o disco é uma coleção de canções excitantes (com ou sem segundas intenções): ‘Please Stay (Once You Go Away)’ arrepia, ‘If I Shoul Die Tonight’ emociona, ‘Keep On Gettin’ It On’ mantém a temperatura subindo, ‘Come Get to This’ levanta até morto, ‘Distant Lover’ afaga, ‘You Sure Love to Ball’ é aquele sussurro caprichoso no ouvido, e ‘Just to Keep You Satisfied’ existe pra lembrar que se o objetivo é o sexo, o sentimento também está presente. Um tesão de disco, e três anos depois, Marvin faria outro de conteúdo ainda mais explícito, menos luxuoso, nem tão brilhante, mas igualmente indispensável: ‘I Want You’.

Nota final: para os que me conhecem e já ouviram n vezes a velha cantilena sobre como os Sex Pistols, via 'Never Mind the Bollocks' (na verdade, via uma gravação em cassete feita por um colega de aula com faixas de outros discos de Johnny, Sid e cia.), salvaram minha vida do tédio quase terminal que sem encontrava lá pelos idos de 1985, a explicação, embora óbvia, parece necessária: o único álbum de carreira dos Pistols é hour concours, não pode ser colocado no mesmo patamar de qualquer outro na minha galeria afetiva. Já nem o ouço mais tanto, mas marcou uma fase importante, e é isso que interessa. Representou também um dos únicos dois choques musicais de toda a minha vida - se é que se pode chamar de música, concedo: o outro foi 'Psychocandy', estreia do Jesus, no mesmo ano de 85, mas esse é assunto pro próximo post.

Necessário esclarecer também que bandas do coração para toda a eternidade, como The Who, os Banshees e o Joy Division não entram por que não tenho destas um disco em especial como preferido, mas canções, várias canções, das quais teria que incluir em uma coletânea - o que já fiz, em um CDR.

E pra finalizar: 'Maggot Brain' (1971), do Funkadelic, não entrou por muito pouco.