sexta-feira, 30 de abril de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (32)

Tá aí o há horas prometido espacialzinho do Pavement, um resumo dos cinco álbuns de carreira da banda californiana que tá voltando. Na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede) neste sábado, 1º/05, às 22h. Enjoy!

1º bloco:
Patrimônio da cena indie dos anos 1990, um dos baluartes do som lo-fi, tendo deixado 5 ótimos álbuns, 9 E.P.’s e um considerável e fiel séquito de fãs, os californianos de Stockton voltam à ativa depois 11 anos depois de encerradas as atividades, em princípio para apenas alguns shows, nos principais festivais de rock americanos e europeus. De quebra, é lançada uma coletânea bacana lá fora, ‘Quarantine The Past’, misto de ‘greatest hits’ com raridades.

O início do Pavement remonta ao ano de 1989, inicialmente apenas como um despretensioso projeto de estúdi dos guitarristas e cantores Stephen Malkmus e Scott Kanberg, que registravam o material usando as alcunhas de ‘S.M.’ e ‘Spiral Stairs’, respectivamente. Gravavam num estúdio chamado Louder Than You Think, de propriedade de um ripongão de nome Gary Young, que viria a ser o primeiro baterista do Pavement, e o cara que, após ouvir as duas primeiras canções da dupla , vaticinou: “esse idiota do Malkmus é um completo gênio como compositor”. Já no começo, apareceriam problemas nas relações pessoais do grupo, o que seria uma marca até o fim da trajetória do Pavement: Jason Fawkes, o baterista escolhido pra substituir Gary Young, que compreensivelmente se dedicava mais a seu estúdio do que à banda ainda iniciante, e o temperamental Malkmus de cara já não se bicaram muito, e então Young acabou voltando.

Só em 1992 é que o Pavement realmente foi virar uma banda de verdade, profissionalmente falando, com as entradas de Mark Ibold – aliás, um dos primeiros fãs do grupo –, e o percussionista Bob Nastanovich. ‘Slanted and Enchanted’, o álbum de estreia, foi lançado pela Matador Records, teve críticas muito positivas – hoje, é considerado um dos melhores discos de rock da década de 1990 – naquele ano – embora circulasse já em versão cassete um ano antes.

Summer Babe (Winter Version)
Trigger Cut/Wounded-Kite at :17
Here



Cut Your Hair



2º bloco:


Confirmando o problema crônico que sempre foi a total falta de tato, principalmente de Malkmus, em lidar com as questões de relacionamento, Young – ainda que dono de um comportamento frequentemente bizarro, foi dispensado pelo grupo em um famoso episódio ocorrido em um quarto de hotel em Copenhague, na Dinamarca, em 1993. Seu substituto, Steve West, era um antigo conhecido de Malkmus, e entrou quando a banda já se preparava para gravar o segundo disco, ‘Crooked Rain Crooked Rain’, lançado em 1994 e tão aclamado quanto o primeiro. Mais melodioso e menos barulhento que o antecessor, pagando tributo ao rock clássico tanto quanto às velhas influências mais experimentais, como The Fall e Sonic Youth, o álbum chamou atenção também pelo teor ferino da letra de ‘Range Life’, que dava alfinetadas em bandas como Smashing Pumpkins e Stone Temple Pilots – embora o compositor Malkmus garanta que não se tratava de seu ponto de vista, mas da personagem da canção, um hippie jurássico, mas o fato é que Billy Corgan, o líder dos Pumkins não gostou, e mais: contratado pra ser o headliner do festival Lollapalooza daquele ano, diz que se o Pavement estivesse escalado, sua banda abandonaria o festival. Muios anos depois do incidente, Malkmus e Corgan ainda seguiriam trocando farpas pela imprensa.

O disco seguinte, ‘Wowee Zowee’, sairia já no ano seguinte, 1995, e teve mais controvérsia: o mais variado disco do grupo – que inclui influências que vão do country às baladas –, definido por Malkmus como “o último disco clássico do Pavement” desgostou Kannenberg, que não aprovou principalmente a pressa nas gravações, o tempo curto entre os lançamentos de ‘Crooked Rain’. Pra completar, a banda, por essa época, passava praticamente o tempo inteiro chapada, e as apresentações eram verdadeiramente caóticas. Escalados para o Lolapalooza daquele ano, ficaram conhecidos como “a banda que arruinou o festival”.

Gold Soundz
Range Life

Rattle By The Rush
Grounded







3º bloco:

Com o prestígio devidamente consolidado – ainda que os tumultos todos se sucedendo –, o Pavement planejou, para seu quarto disco, um som mais mainstream, já que o time tava ganhando jogando desse jeito, angariando fãs entre os admiradores de um rock mais clássico. A estratégia deu certo: produzido por Mitch Easter (cantor e compositor indie dos anos 1980, líder do Let’s Active, que produziu, entre outros, o R.E.M. ), ‘Brighten the Corners’, de 1997, vendeu mais do que os anteriores, amparado principalmente pelo sucesso dos singles de ‘Stereo’ e ‘Shady Lane’ – curiosamente as duas primeiras faixas do álbum, que também foi o primeiro a incluir as letras no encarte. Mas parece que a banda sempre gostou de se auto-sabotar: mesmo com o sucesso batendo à porta, os cinco preferiam se dedicar mais a projetos paralelos.

O derradeiro álbum seria ‘Terror Twilight’, de 1999, ainda mais acessível e melódico. O título (“O Terror do Crepúsculo”) foi sugerido por Nastanovich, que explica: “é o curto lapso temporal entre o pôr-do-sol e o cair da noite; é considerado o período mais perigoso no trânsito, porque metade das pessoas está com os faróis acesos e a outra não. É quando a maioria dos acidentes acontece”. O disco era pra ser produzido pela própria banda, mas após as primeiras e frsutrantes sessões de gravação, o quinteto decidiu apelar para um profissional, e o conceituado Nigel Godrich, conhecido por seu trabalho com R.E.M., Radiohead e Beck, foi chamado. Mas até a escolha de um produtor virou motivo de problema na banda: Nastanovich diz que ficou satisfeito com o trabalho de Godrich, mas saiu reclamando que o cara deu atenção excessiva a Malkmus e praticamente ignorou o resto da banda. A dissolução já estava a caminho.

Na turnê de seis meses que se seguiu ao lançamento do álbum, Malkmus já praticamente não falava com mais nenhum de seus companheiros de banda. E ainda fazia piada a respeito, chamando a si mesmo de ‘’The Little Bich’. O repertório das apresentações ao vivo incluía muito mais canções antigas do que novas, o que alguns críticos interpretaram como um sinal de que a banda parecia um bando de veteranos tocando seus sucessos em uma turnê de despedida. Em um show na Brixton Academy de Londres – que acabaria sendo o último do Pavement –, Malkmus colocou um par de algemas junto à haste de seu microfone e disse à platéia que aquilo simbolizava “o que era estar em uma banda por todos esses anos”. Era o fim. E pra honrar a tradição, até a separação foi a mais desagradável possível: Malkmus chamou Kannberg e disse que este precisava informar no site do grupo que els não eram mais uma banda; Kannberg disse que precisava reunir os demais integrantes pra informá-los, então, que a banda estava se dissolvendo; mas Malkmus pulou fora e deixou a tarefa ingrata inteiramente para Kannberg, e assim foi feito – embora West sustente até hoje que jamais recebeu o comunicao pessoalmente de alguns dos companheiros, tendo ficado sabendo via internet.

Stereo
Shady Lane

Spit On a Stranger
The Hexx



O Pavement, com Malkmus à frente: o cara pode ser um total 'asshole', mas a música é do cacete

quinta-feira, 29 de abril de 2010

We love You, Tim & Johhny, but ...

Difícil achar alguém, entre aqueles que percebem o cinema como o território do sonho, do imaginário, que não seja fã de Tim Burton. O realizador americano de shape freaky, ao longo das últimas duas décadas, tem brindado os fãs com seus contos de fadas góticos e pesadelos cartunescos, porém cheios de ternura, em que não falta um olhar poético voltado aos deslocados, figuras órfãs (literal ou metaforicamente) que parecem sobrar no mundo. Quando anunciado, uns dois anos atrás, que seu próximo projeto seria uma nova versão para ‘Alice no País das Maravilhas’, seus admiradores babaram: tá aí o filme certo pro cara certo. A surreal estória infanto-juvenil de Lewis Carroll encontrara o realizador ideal, que prometia uma visão sombria – mais aproximada do livro do que as costumeiras adaptações infantis – da garotinha que cai na toca de um coelho e mergulha num universo estranho, onde vai-se deparar com figuras como a Rainha Vermelha, que manda decapitar quem a contraria, o Gato Risonho e o Chapeleiro Louco, o tipo sui generis que, entre outras coisas, é acusado pela Rainha de matar o Tempo ... Prato cheio pro cara que mostrou o herói Batman e seus arqui-inimigos Mulher Gato e Pinguim como vítimas dos mesmos fantasmas, que retratou o modo de vida americano tão bizarro quanto a peculiar figura de um garoto com tesouras no lugar das mãos e eternizou a figura do pior cineasta de todos os tempos como um vencedor – segundo seus próprios termos, é claro. Só que, infelizmente, desta vez a promessa não se cumpriu.

Tim Burton, em ‘Alice’, toma certas liberdades em relação à história, o que foi usado como argumento para algumas críticas negativas recebidas pelo filme quando de sua estreia nos EUA, mas o problema não reside aí. Ao juntar elementos de ‘No País das Maravilhas’ e sua sequência, ‘Alice no País do Espelho’, além de alterar dados – a protagonista agora não é mais a menininha do primeiro livro, nem a adolescente do segundo, mas uma garota de 19 anos prestes a ser entregue em casamento ao paspalho herdeiro de uma fortuna –, Burton ressalta o caráter pessoal da empreitada procurando manter sua essência. Alice, perplexa com o casamento que arrumaram para ela após a morte de seu pai, e sem saber o que fazer, foge no meio da festa na aristocrática Oxford programada para ser a do acerto de seu futuro em uma daquelas típicas mansões inglesas, quando vê um irriquieto coelho correndo de um lado a outro pelos jardins. Ele parece estar ali justamente para chamar sua atenção, e ela, cansada daquela gente com quem não possui qualquer afinidade, segue o coelho até sua toca. Lá, vai se deparar com um mundo que conheceu quando pequena mas do qual já não se lembra. Um mundo agora dominado pela malvada Rainha Vermelha, com o auxílio do assustador Jabberwocky. É contra o monstrengo da soberana que Alice terá de lutar, ao lado do Chapeleiro Louco e do Gato Risonho, para que a coroa seja devolvida à Rainha Branca – a do bem.

‘Alice’ traz o costumeiro apuro visual dos filmes de Burton, como era de se esperar: o desenho de produção leva a assinatura de Robert Stromberg, que levou o Oscar deste ano por seu trabalho em ‘Avatar’, e é realçado pelo 3D. O problema é que aquilo que virou quase um clichê se dizer a respeito de vários filmes de Burton – de que valem o ingresso só pelo visual, pela atmosfera criada, não precisavam nem ter história –, ironicamente acaba definindo à pefeição este seu 14º longa: ‘Alice’ quase que só vale, praticamente, pelas imagens. Os cenários e figurinos, mais uma vez, são deslumbrantes, mas incrivelmente ... falta clima. E o cineasta, o que é mais gritante, não soube manejar o desenrolar da história. O desenvolvimento dos personagens é unidimensional: todos, ainda que bem interpretados, são sem sal e sem carisma, meros coadjuvantes do requinte visual que inunda a tela – a tal ponto de fazer quase desaparecer os atores. A australiana Mia Wasikowska até que defende bem sua Alice, Helena Bonham Carter mais uma vez mostra seus dotes como a temperamental Rainha Vermelha – sem dúvida, a caracterização mais marcante do filme –, e Johnny Depp, como o Chapeleiro ... bem, Johnny Depp adiciona mais um tipo excêntrico à sua galeria, que por vezes lembra até o Willy Wonka com trejeitos de Michael Jackson de ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’. Johnny é um baita ator, não há dúvida, mas esses tipos, digamos, sui generis, já estão meio que cansando, e em ‘Alice’ sua performance é burocrática, sem carisma ou alguma boa sacada, nada que memorável. Já o sumido Crispin Glover – famoso por George McFly, o pai de Michael J. Fox em ‘De Volta para o Futuro’, e pelo Andy Warhol de ‘The Doors’ –, como o Valete de Copas, esse, sim, é digno de lembrança. E a boa atriz Anne Hathaway, que fez da atormentada Kym de ‘O Casamento de Rachel’ um dos papéis femininos mais marcantes dos últimos tempos, está francamente enjoada de tão insossa como a Rainha Branca. As vozes, sim, compõem um capítulo à parte: o veterano Christpoher Lee, herói de Burton (como Jabberwocky), o cult Stephen Fry (o Gato Risonho), o sempre seguro Alan Rickman (que faz a Lagarta). Este último dá vida a um personagem animado digitalmente de uma maneira que seus colegas que interpretam os personagens ‘de-carne-e-osso’ não alcançam.

Quanto à trama, a primeira metade do filme é verdaddeiramente enfadonha. Na segunda, que é quando se dá o esperado enfrentamente de Alice & Amigos x Jabberwocky, a coisa melhora um pouco, mas não o suficiente pra afastar aquele sentimento de que a coisa, por algum motivo, não funcionou. A roteirista tem história significativa na Disney: é Linda Woolverton, a mesma de ‘A Bela e a Fera’, o filme que recuperou a companhia no começo dos anos 1990, e ‘O Rei Leão’. Burton, que iniciou sua carreira na Disney mas logo foi dispensado, voltou a trabalhar para a companhia inúmeras vezes, e admite ter uma relação de amor e ódio com a empresa. Paradoxalmente, seus filmes mais recentes cada vez mais parecem ter um quê de ‘filme-família’, já há muito distantes da melancolia que caractarizava seus antigos trabalhos. Pode ser que a felicidade recém conquistada – seu casamento com Helena Bonham-Carter em 2001 e a paternidade – tenha retraído a poesia triste que brotava naturalmente. E é provável que Burton hoje seja também um nome de tal maneira consolidado no universo pop – vide o sucesso estrondoso do filme e da mostra recém-finda de seus desenhos, fotos, storyboards, maquetes e brinquedinhos no MoMa (terceira maior afluência de público na história do museu, só perdendo para Picasso e Matisse) – que também já não tenha aquela inquietação de outrora, ainda que tenha realizado recentemente belíssimos trabalhos que enfatizam esse novo momento pessoal: ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’ já era uma clara fábula moral sobre a importância da família na versão de versão dos anos 1970 com Gene Wilder, e o tema ganhou ênfase ainda maior no filme de Burton, com o acréscimo do história pessoal de Willy Wonka e seu desentendimento com o pai; o tema de reconciliação paterna também marca o subestimado ‘Peixe Grande’.

Tudo isso são conjecturas – até banais, admito. Psicologia de almanaque. Também não é o caso de entrar no mérito se a famigerada teoria do autor dos ‘jovens turcos’ da Cahiers Du Cinéma nos anos 1950 (Truffaut, Godard, Rohmer) ainda tá valendo, naqueles seus preceitos mais caros, tipo dividir o universo dos realizadores entre os meros artesãos e os verdadeiros autores, cuja obra possui uma linha mestra que a perpassa, revelando aspectos da biografia do diretor. Discussão longa e infrutífera, dado o espaço. Mas se a tomarmos como válida ainda nos dias de hoje, há que se considerar que ‘Alice No País das Maravilhas’ tem todas as características mais flagrantes do cinema de Tim Burton. Só não tem, parece, a velha paixão, e aquela ternura latente pelos esquisitos/deslocados – ainda que Burton tenha declarado que sinta uma certa tristeza em Alice, o que faz identificar-se com a personagem. Mas ‘Alice’ não emociona, esse é o fato. Quem sabe no próximo trabalho, uma nova versão de ‘Frankenweenie’, seu primeiro curta, de 1984. Vamos esperar.

PS I – dica: uma bela pedida nas locadoras é a versão (com animação em stop-motion mais a garota Krystina Kohoutová no papel principal) de ‘Alice No País das Maravilhas’ dirigida pelo tcheco Jan Svankmajer em 1988, simplesmente chamada ‘Alice’. Também é uma adaptação e não uma transposição quase literal do livro de Lewis Carroll, mas esta, sim, acerta em cheio. E perturba.

PS II – Falando em versões para clássicos do cine fantástico, vem aí um remake do perturbador ‘O Bebê de Rosemary’, do estuprador de criancinhas Roman Polansky, desta vez capitaneada por Michael Bay, de ‘Os Transformers’. Oremos.


A dupla dinâmica: vários bons serviços prestados, mas esse não colou

sexta-feira, 23 de abril de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (31)

Pela primeira vez, teremos dois bloquinhos 'retrô' no programa, com duas bandas clássicas que já vínhamos prometendo. As mulheres têm destaque especial, estão à frente de todas as atrações. O programa vai ao ar neste sábado, dia 24, às 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Enjoy!

1º bloco:

DUM DUM GIRLS – I Will Be


Quarteto californiano formado só por garotas, com apenas um álbum lançado – por sinal, este ano –, ‘I Will Be’, pelo selo Sub Pop. Fazem um pop de inspiração sessentista, tanto pelas melodias ensolaradas à la Beach Boys quanto pela insolência e malícia das Shangri-Las e pelo espírito punk dos Stooges. O nome do grupo, aliás, foi tirado de uma canção do primeiro álbum-solo de Iggy Pop (‘The Idiot’, de 1977), ‘Dum Dum Boys’, que justamente evocava seus tempos de Stooges, e também de um disco dos escoceses The Vaselines, ‘Dum Dum’ (1990). O fetichismo roqueiro do grupo vai além: a vocalista atende pelo menso nome do baixista original dos Ramones, Dee Dee, e tanto o single de estreia, ‘Jail La La’, quanto o álbum foram produzidos pelo veterano Richard Gottehrer, famoso pelo seu trabalho com o Blondie.

LONELADY – Early The Haste Comes

Alcunha de Julie Campbell, inglesa de Manchester, que faz um som inspirado pela new wave, em especial a primeira geração do pós-punk que fez a fama de sua cidade, lá pelos idos de 1977-78-79 (Fall, Joy Division, Magazine, Buzzcocks). Começou fazendo gravações caseiras em um gravador de quatro canais em 2004, usando basicamente guitarra e drum machine. Alguns singels e um E.P. se seguiram, até que finalmente LoneLady foi entrar em um estúdio profissional pela primeira vez em 2001, quando foi lançada uma edição limitada de 500 cópias do single com ‘Early the Haste Comes’ e ‘Joy’. O álbum de estreia, ‘Nerve Up’, só saiu este ano, pela prestigiada gravadora Warp Records.


QUADRON – Slippin’


É uma dupla dinamarquesa, formada pela vocalista Coco O e pelo múlti-instrumentista e produtor Robin Braun – também conhecido no universo indie como Robin Hannibal em outro projeto, o duo Owusu & Hannibal. O som do Quadron mixa soul music, r&b e várias vertentes do pop eletrônicos doas anos 1980, 1990 e 2000 e caiu nas graças do DJ londrino Gilles Peterson, da BBC, no ano passado. Em 2010, a boa fama do grupo chegou à América: o selo Plug Research soltou o homônimo álbum do Quadron em março.

2º bloco:

KLEENEX/LILIPUT – ‘Kleenex/Liliput’ (col., 1993)


Grupo suíço formado em 1978, ao lado das britânicas Slits e Raincoats uma das três principais bandas femininas do punk/pós-punk europeu. Duraram apenas cinco anos – e nesse meio-tempo, ainda tiveram que mudar o nome –, tiveram ‘n’ formações, mas deixaram sua marca: letras malucas, surreais e bem-humoradas (fugindo até do tradicional pessimismo punk), cantadas tanto em alemão quanto em inglês, cheias de gemidos, grunhidos e outras onomatopeias, levada funky, guitarras utilizadas às vezes quase como intrumento percussivo, além do uso de violino (até mais distorcido que as guitarras), flauta e sax.

O primeiro nome da banda era Kleenex, mas depois de uma ação na justiça do grupo Kimberly-Clarke (detentor da tradicional marca de lencinhos de papel), tiveram de mudar pra LiLiPUT, com apenas um ano de carreira. O line-up original do Kleenex tinha a baixista e vocalista Klaudia Schiff, única integrante a participar de todas as formações, a baterista Lislot Ha, a vocalista Regula Sing e mais dois integrantes que não chegaram a participar de alguma gravação. Mas já no primeiro single, com ‘Hedi’s Head’ e ‘Ain’t You’, a guitarrista Marlene Marder, que acompanharia Klaudi até o encerramento das atividades do grupo, em 1983, dava as caras. Marlene havia pouco antes sido demitida de uma banda em que ela era a única mulher, porque os rapazes acharam que uma verdadeira banda punk não poderia contar com uma saxofonista. Então, ela foi se juntar a outras meninas que, como ela, havia assistido a um show dos Sex Pistols em Zurique e deicidiu ser punk na vida. Agora como guitarrista, compôs com Klaudia, Regula e Lislot a primeira formação mais ou menos estável do grupo. Mas logo Regula também sairia, entrando Chrigle Freund (vocais) e Augie Barrack (sax e vocais). O ano também já havia mudado pra LiLiPUT, inspirado na terra dos homens em miniatura do clássico ‘As Viagens de Gulliver’.

Se como Kleenex registraram apenas singles e E.P.’s, é como LiLiPUT que virão os únicos dois álbuns: ‘LiLiPUT’, de 1982, e ‘Some Songs’, de 1983. Este último saiu pouco antes das meninas decidirem pendurar as chuteiras: mesmo contratadas por um importante selo britânico (Rough Trade, em breve a gravadora dos Smiths), elas jamais cogitaram sair da Suíça, nunca tiveram preocupação maior em investir verdadeiramente na carreira, e ainda por cima, paralelamente à música, desenvolviam uma série de outras atividades (pintura, escrita), às quais dedicavam a mesma atenção que dispensavam à banda. Mesmo após o fim do grupo, no final de 1983, o interesse pela música das garotas não parou de crescer: eentre o final dos anos 1980 e início dos 1990, era comum os dois LP’s do LiLiPUT, fora de catálogo, custarem mais de 100 dólares em sebos americanos e ingleses. Foi só em 1993 que o selo suíço Off Course resolveu editar o CD duplo ‘Kleenex/LiLiPUT’, reunindo todas as 46 faixas registradas pelo(s) grupo(s). A americana Kill Rock Stars editou a coletânea na América em 2001, e acaba de lançar lá fora uma caixa chamada ‘Live Recordings, TV-Clips and Roadmovie’, com CD e DVD.

Beri-Beri
Eisiger Wid
In a Mess
Ring-A-Ding-Dong
A Silver Key Can Open an Iron Lock Somewhere



Klaudia Schiff e Marlene Marder, o núcleo do Kleenex/LiLiPUT: referência para as riot grrrrls, elas só queriam se divertir


3º bloco:

THE ADVERTS – ‘Crossing the Red Sea with The Adverts’ (1978)


Outra glória do punk europeu, banda formada em Londres no auge da explosão da ‘no future generation’, os Adverts estrearam no lendário Roxy Club em 1976, ano em que os Sex Pistols davam as caras. De saída, chamaram a atenção do guitarrista do Damned, Brian James, que os convidou para abrir os shows de sua banda. Daí para um contrato com o selo Stiff Records – que en trou para a história por lançar o primeiro single (‘New Rose’) e o primeiro álbum ‘(Damned Damned Damned’) do punk britânico, ambos do Damned – foi só um pulinho. Mas apesar do começo meteórico, o single de estreia dos Adverts só sairia no ano seguinte, 1977, mas trata-se de um capítulo à parte.

Os caras, mesmo considerando-se, digamos, a “economia de recursos” característica do punk rock, mal sabiam tocar o mínimo indispensável, e a letra de ‘One Chord Wonders’ brincava justamente com isso, usando um humor auto-depreciativo que era a cara do punk inglês: “Fico pensando o que vamos tocar pra você esta noite/Algo pesado ou algo mais leve/Algo pra iluminar sua alma/Fico pensando como vamos responder quando você disser/‘Nós não gostamos de vocês – vão embora/Voltem quando tiverem aprendido a tocar’”. Mas mesmo tendo consciência da própria precariedade, os caras tinham moral: as revistas Sound e Melody Maker recomendaram entusiasticamente a bolacha, os Adverts a essa altura já haviam tocado no programa do respeitado DJ John Peel da BBC e aberto shows de Generation X, Slaughter and The Dogs e The Jam.

Em agosto de 1977, saía o segundo single, ‘Gary Gilmore’s Eyes’, e desta vez haveria controvérsia de verdade: agora, a letra falava de um serial killer que desejava os olhos aos cientistas após sua execução. A revista Sounds o classificou “o mais inteligente e doentio single a sair da new wave”, e mais tarde a Mojo o elegeria um dos melhores singles punk de todos os tempos. Foi o primeiro do grupo a figurar no Top 40 britânico, o que os levou a se apresentar no popular programa de TV ‘Top of the Pops’ da BBC. O jogo já estava mais do que ganho quando enfim saiu o disco de estreia dos Adverts, ‘Crossing The Red Sea with The Adverts’, em fevereiro de 1978. Há quem o considere não só um dos melhores discos de punk rock, mas mesmo do rock dos anos 1970. Infelizmente, ‘Cast of Thousands’, lançado no ano posterior, não segurou a onda, e a banda encerrou as atividades, não sem antes passar por dois episódios desagradáveis: a morte por eletrocutamento de seu empresário, Michael Dempsey, e um processo movido por dois ex-integrantes, tentando impedir que o casal que fundou e sempre liderou os Adverts, T.V. Smith, o principal compositor do grupo, e Gaye Advert, a primeira verdadeira estrela feminina do punk britânico, a usarem o nome The Adverts sem eles.

One Chord Wonders
Bored Teenagers
New Church
Newsboys
Gary Gilmore’s Eyes



Os Adverts: músicos sofríveis fizeram um dos grandes discos de rock dos anos 1970

sexta-feira, 16 de abril de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (30)

No nosso trigésimo programa, tem anarquia, groove e pegada punk, sons hipnóticos, anos 1970, 1980 (no espírito), 1990 e 2000. Te liga na FM CULTURA (107.7 ou www.fmcultura.com.br) neste sábado, dia 17, às 22h e enjoy! Here's the playlist:

1º bloco:

WOLF PARADE – Call It a Ritual


Banda canadense formada em Montreal em 2003, de cara já deu pé quente, ao estrear nos palcos abrindo para o Arcade Fire e caindo também nas graças de Isaack Brock, o líder do Modest Mouse, que também faz as vezes de caça-talentos da gravadora Sub Pop. Quando contratados pelo lendário selo de Seattle, já tinham dois EP’s, lançaram mais um em 2005, e no mesmo ano veio o disco de estreia, ‘Apologies to the Queen Mary’, que transformou os caras e seu o som abrasivo e ao mesmo tempo elaborado um dos musts da cena indie daquele ano, com o WP já sendo geralmente citado pela a imprensa ao lado de outras conceituadas bandas canadenses, como o Broken Social Scene. Em 2008, veio o segundo álbum, o ainda mais aclamado ‘At Mount Zoomer’.

BROKEN SOCIAL SCENE – World Sick

Um combo de músicos canadenses vindos de outras bandas – Stars, Metric (que tocamos no programa da semana passada, Do Make Say Think, entre outras –, começou em 1999 em Ontario pelas mãos dos amigos de longa data Kevin Drew, ex-K.C. Accidental, e Brendan Canning, ex-By Divine Right. O conceito é justamente este: um monte de amigos se divertindo – os caras chegaram a ter 11 integrantes à época do segundo disco, o premiado ‘You Forget It in People’, de 2002. Além desse, são mais dois álbuns de carreira e uma coletânea de raridades, e o novo álbum, ‘Forgiveness Rock Record’, sai mês que vem lá fora.

HEALTH – Die Slow

Grupo californiano de Los Angeles, na ativa desde 2005, começaram fazendo uma penca de shows gratuitos e gravaram seu primeiro disco, homônimo, em um espaço chamado The Smell, exercitando à vontade a anarquia sonora e a estética ‘do it yourself’, fazendo uso de batidas tribais, noise, e um instrumento chamado Zoothorn, que vem a ser um misto de microfone e pedal para guitarras. Ano passado, saiu o segundo disco dos caras, ‘Get Color’.


2º bloco:

REDD SNAPPER – Image of You


Uma das melhores bandas a fundir funk, hip-hop e texturas jazzísticas, utilizando instrumentos elétricos, samplers e parafernália eletrônica, o Red Snapper foi fundado em Londres em 1993 e não chegou a durar dez anos em sua “primeira existência” – enceraram as atividades em 2002 pra retornar cinco anos depois. Deixaram grandes discos – em especial os aclamados ‘Making Bones’ (o segundo, de 1998) e ‘Our Aim is to Satisfy’ (o terceiro, de 2000). Basicamente um trio, formado pelo guitarrista David Ayers, o baixista Ali Friend e o baterista Richard Thair, reforçados por vocalistas e rappers convidados. O último disco, o da volta, é ‘Pale Blue Dot’, é de 2008.

HERBALISER – Shattered Soul

Também londrinos, também originários da cena britânica do início dos anos 1990 e seu caldeirão de referências, tem diferenças significativas em relação ao Red Snapper no que se refere à formação e aos elementos que marcam presença mais forte em sua música: o Herbaliser é um projeto do baixista baixista Jake Wherry e do DJ Ollie Teeba, e os grooves venenosos dos caras têm como principais inpirações o hip-hop da old school (Sugar Hill Gang, Jungle Brothers), trilhas de filmes blaxploitation e o funk jazzificado de artistas como Roy Ayers e Ramsey Lewis. Têm oito álbuns, a maior parte deles lançada pelo selo Ninja Tune (de propriedade de Jonathan More e Matt Black, do Coldcut), e um dos mai legais é ‘Very Mercenary’ (1999).

NIGHTMARES ON WAX – Ethnic Majority

Outro inglês – este de Yorkshire –, e também um pouco mais antigo – é de 1988 –, e totalmente eletrônico. É obra dos DJ’s George Evelyn e Robin Taylor-Firth, e cria da efervescente cena pós-rave britânica, que absorvia influências de todos os lados: a house e o electro novaiorquinos, o techno de Detroit, a acid britânica, ofunk, o soul e o hip-hop. Os dois primeiros singles do NOW, ‘Dextrous’ e ‘Aftermath’, são clássicos da electronica dos anos 1990, assim como os discos ‘Smokers Delight’ (1995) e ‘Carboot Soul’ (1999). A dupla tem ainda várias colaborações – como com o De La Soul – e remixes –, e segue na ativa: os dois álbuns mais recentes foram lançados em 2008 e 2009.


3º bloco:

RADIO BIRDMAN – ‘The Essential (1974-1978)’ (col., 2001)


Juntamente com The Saints, um dos pilares do punk rock australiano, esta banda de Sydney paga forte tributo à cena de Detroit: na canção ‘Do The Pop’, o vocalista Rob Younger canta ter visto os Stooges e o MC5, e o próprio nome do grupo foi tirado de um dos versos iniciais da canção ‘1970’, da banda de Iggy Pop – na verdade, a canção jamais cunhou essa expressão, trata-se de uma adaptação que eles fizeram (‘Out of my mind on saturday night/ 1970 rollin’ in sight/ Radio burnin’ up above/ Beautiful baby, feed my love’). O Radio Birdman teve curta existência, apenas quatro anos, e o melhor de sua produção está nesta coletânea, que dá uma geral nos álbuns ‘Radios Appear’ e ‘Living Eyes’ e os E.P.’s ‘Burn My Eye’ e ‘More Fun’. ‘The Essential’ preencheu uma importante lacuna, já que as clássicas gravações do sexteto havia muito tempo estavam disponíveis apenas no mercado australiano, quando lançada nos Estados Unidos, em 2001, com texto do expert David Fricke, da Rolling Stone, pelo selo Sub Pop. Curiosamente, ‘Sub-Pop’ era como a banda definia sua música.

O cantor Rob Younger e o guitarrista Deniz Tek, este americano de nascimento, fundaram o grupo em 1974, logo após deixarem suas bandas – The Rats e TV Jones, respectivamente. Em seguida, entrariam o tecladista Philip ‘Pip’ Hoyle, de formação clássica, o baterista Ron Keely e o baixista Carl Roke – que logo seria substituído por Warwick Gilbert, que tocara com Rob nos Rats. O guitarrista Hoyle deixaria também a banda por um curto período, sendo substituído por Chris Masuack. Hoyle voltaria depois como tecladista. Num primeiro momento, nenhuma gravadora interessou-se pelo grupo, que abriu um pub em Sydney chamado ‘The Oxford Funhouse’ (pegando emprestado o nome do segundo álbum dos Stooges, do qual também gravaram ‘TV Eye’), onde se apresentavam não apenas o RB, mas uma infinidade de grupos do underground roqueiro australiano da época. O lugar começou a bombar e a primeira cena do punk de Sydney estava surgindo, assim como o culto ao Birdman, cujo famoso logotipo, criado por Gilbert (também artista gráfico), já era usado pela pequena multidão de fãs que ia se formando.

O E.P. de estreia, ‘Burn My Eye’ e o primeiro álbum, ‘Radios Appear’ vieram respectivamente em 1976 e 1977, e confirmaram todas as expectativas: o LP chegou inclusive a receber cinco estrelas da edição australiana da revista Rolling Stone. O problema é que os caras não tinham uma gravadora forte por trás – o selo Trafalgar era de propriedade deles mesmos, e mesmo que tenham descolado um acordo com a Warner para distribuição, não houve verba para divulgação, e as vendas foram francamente decepcionantes. O RB a essa altura excursionava por toda a Austrália, e um desses shows foi assistido por Seymour Stein, o então influente e antenado presidente da Sire Records – o cara que contratou os Ramones e os Talking Heads –, que estava na ilha na verdade para contratar os Saints, mas acabou decidindo oferecer um contrato ao Birdman. Pela Sire, o que saiu foi na verdade uma nova versão de ‘Radio Appear’, que consistia em algumas faixas remixadas, outra regravadas, além de novas gravações. As inevitáveis comparações entre as duas versões vieram acaloradas – mas a verdade é que a maioria dos fãs de carteirinha adquiriram as duas versões e chegam a considerá-las mesmo discos diferentes.

Mas o que era pra ser o momento de escalada para o sucesso do grupo foi, na verdade, o início de uma sucessão de problemas. As vendas mais uma vez não foram as esperadas – tanto que o segundo álbum, ‘Living Eyes’, gravado em 1978, só viria a ser lançado em 1981, quando a banda já não existia mais – e os shows do grupo passaram a ser frequentado por gente do mal, como os tristemente célebres Hell’s Angels californianos. Acabariam encerrando as atividades em 1978, mas nos últimos 15 anos de vez em quando a banda dá as caras: ensaiaram um comeback em 1996, quando tocaram no Big Day Out Festival, e dez anos depois voltaram a gravar em 2006: o terceiro álbum de carreira, o elogiado ‘Zeno Beach’, saiu em 24 de junho daquele ano pelo próprio selo do grupo, Crying Sun Records.

Aloha Steve and Danno
Murder City Nights
New Race
Burn My Eye ’78
Hanging On



O Radio Birdman em seus gloriosos tempos de juventude (1974-1978): isso sim é que é rock australiano de verdade


O famoso logo do grupo, criado pelo baixista Warwick Gilbert

sexta-feira, 9 de abril de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (29)

Pára tudo! Pára tudo! O tradicional bloquinho retrô do programa deste sábado, dia 10, às 22h na FM CULTURA (107.7 ou www.fmcultura.com.br) seria com os australianos do Radio Birdman, conforme prometido já há duas semanas, mas surpreendido com a notícia - divulgada mais nos cartazes colados nos muros da cidade do que nos jornais (nada!) e rádios (não ouvi) - da primeira vinda à América latina de uma das mais longevas (está na estrada desde 1978) e brilhantes carreiras do punk californiano da virada dos anos 1970 para os 80, o Social Distortion de Mike Ness, CM mudou a configuração do seu último bloco. O SD toca na próxima quinta-feira em POA e em agosto será um dos headliners do Lollapaloza deste ano. Então, abre-se o espaço pra Ness e cia. - e também pra outras seis atrações da edição deste ano de um dos mais importantes festivais alternativos do planeta. Enjoy!

1º bloco:

THE BLACK KEYS – I Got Mine


Banda americana de Akron, Ohio, muito comparada aos White Stripes por conta de algumas similaridades: também são um duo de guitarra e bateria, também têm o blues e o rock de raíz como suas principais referências, e ainda há a referência às cores nos nomes. Dan Auerbach, guitarra e voz, e Patrick Carney, bateria, fundaram a firma em 2001 e no ano seguinte já saía o álbum de estreia, o aclamado ‘The Big Come Up’. O disco seguinte, ‘Thickfreakness’, já lançado pela Fat Possum, conhecida gravadora independente, foi gravado em uma única sessaão de gravações de 14 horas. ‘Rubber Factory’ (2004) e ‘Magic Potion’ (2006) mantiveram o prestígio do BK em alta, e ‘Attack & Release’ (2008), por enquanto o último álbum do grupo, teve produção do mago Danger Mouse. Este ano deve sair um disco do duo em parceria com o produtor Damon Dash, um mix de rock e rap chamado ‘Blackroc’.

THE CRIBS – Ignore the Ignorants

Grupo inglês de Yorkshire na ativa desde 2003 que tem a particuliaridade de ser formado por três irmãos, Ryan (vocal, guitarra), Gary (baixo, voz) e Ross Jarman (bateria). O curioso é que o trio fez sua “estreia” numa festinha familiar nos anos 1980 quando os gêmeos Gary e Ryan tinham 9 anos de idade e o caçula Ross, apenas cinco. Mas hoje o principal chamariz da banda é seu quarto integrante: ninguém menos que o lendário guitarrista dos Smiths, Johnny Marr, que conheceu Gary em 2007, fã confesso do grupo. Um ano depois, Johnny oficialmente se juntaria ao grupo, que tem quatro discos lançados, sendo que o segundo, ‘The New Fellas’ (2005), teve produção de Edwyn Collins, e o seguinte, ‘Men’s Needs, Womens Needs, Whatever’ (2007), de Alex Kapranos (Franz Ferdinand). O mais recente é ‘Ignore the Ignorants’, lançado no final do ano passado.

THE DODOS – Fables

Grupo americano, este californiano de San Francisco, é um projeto do múlti-instrumentista Meric Long, um cara vivamente interessado em música africana, country e blues, que no começo, em 2006, chamava-se Dodobird. Com a chegada de Logan Kroeber e seu gosto por sons experimentais e metal progressivo (!), o que era peculiar ficou mais ainda. Os caras têm três álbuns, sendo que no mais recente – e também mais acessível –, ‘Time to Die’, do ano passado, já viraram um trio, com a entrada do vibrafonista Keaton Snyder.

2º bloco:

METRIC – Sick Muse


Banda formada em 1998 em Toronto, no Canadá, mas que já andou fixando-se em Los Angeles, no Brooklyn (Nova Iorque), em Londres e Montreal, e que trafega por várias vertentes do pop e da música eletrônica. Surgiu a partir do encontro da vocalista e tecladista Emily Haines e o guitarristas James Shaw, em Toronto: ela, nascida em Nova Délhi, na Índia, filha do poeta Paul Haines, era estudante de artes, e ele, inglês de nascimento mas criado no Canadá, ex-aluno da novaiorquina Juliard School of Music, rapidamente descobriram afinidades musicais, e já lançaram o primeiro E.P. em 1998 mesmo. Emily, cuja carreira musical foi incentivada pelo pai poeta (o cara compunha fitas de música eletrônica pra que a garota ouvisse), além do Metric, tem um disco–solo, além de participações no Broken Social Scene. O Metric, além dela e Shaw, tem ainda Josh Winstead no baixo e Joules Scott-Key na bateria. O álbum mais recente, o quarto na carreira do grupo é ‘Fantasies’, do ano passado.

MATT & KIM – Daylight

Mais um duo, mais um grupo novaiorquino do Brooklyn, cujos integrantes são ex-alunos de arte. O tecladista Matt Johnson e a baterista Kim Schiffino mantém a parceria musical desde 2004, quando ainda eram colegas do Pratt Institute. O primeiro disco, que leva apenas o nome da dupla, saiu dois anos depois, e rendeu participações em festivais (como o Lollapalooza e o Siren Music Festival), transformando-se em uma das sensações do universo indie americano dos últimos anos. O duo, que divide os vocais em todas as canções, lançou seu segundo álbum, ‘Grand’, no começo do ano passado, chegando até a figurar no Top 200 da revista Billboard, com suas canções pop esquisitas.

YEASAYER – Madder Red

Outro grupo novaiorquino (adivinha!) do Brooklyn, de onde tem saído as bandas mais quentes dos últimos anos (TV On The Radio, Yeah Yeah Yeahs, The Walkmen, The Antlers, Grizzly Bear, Dirty Projectors, MGMT ...). Os cabeças da empresa são Chris Keating (vocalista e tecladista) e Anand Wilder (vocalista e guitarrista), que cresceram juntos em Baltimore, onde já haviam tocado juntos em uma banda de colégio. O disco de estreia da banda, que inclui ainda o irmão de Wilder, Ira, no baixo, e o baterista Luke Fasano, ‘All Hour Cymbals’, causou sensação quando lançado, há três anos, e o mais recente, ‘Odd Blood’, lançado há dois meses, mostra uma mudança significativa no som do grupo, mais orientado para as pistas de dança. Ao vivo, o Yeasayer mixa instrumentação, digamos “orgânica”, e bases pré-gravadas.

3º bloco:

SOCIAL DISTORTION – ‘Greatest Hits (*)’ (2007)


Patrimônio do rock americano, na ativa há 32 anos, um dos últimos remanescentes da sensacional cena punk original de Los Angeles – que incluía os Germs, o X, o Black Flag, Circle Jerks, The Adolescents, The Dickies e Minutemen –, e que estará entre nós na próxima quinta-feira, dentro da primeira turnê sul-americana de sua longa existência: o Social Distortion do figuraça Mike Ness, a banda que deu fama ao termo “cowpunk” – a mistura de punk rock e country music (e outros ritmos americanos de raíz, como o blues e o folk).

O Social Distortion (ou ‘Social D’, para os íntimos) é a obra da vida de Michael James Ness, americano de Stoneham, Massachusetts, nascido em 3 de abril de 1962 logo depois de ter sido expulso de casa pelos pais com apenas 15 anos de idade – o SD foi formado em 1978. A partir daí, daria início a uma errática trajetória pessoal que incluiria incontáveis internações em clínicas de desintoxicação pra tratar do vício em heroína e também algumas prisões, o que acabou resultando em alguns hiatos na carreira do grupo e também no fato de a banda ter lançado apenas sete discos (seis de estúdio e um ao vivo) nestas mais de três décadas de significativa existência – Ness tem ainda dois álbus-solo, o que é quase uma extravagância, se considerarmos que o SD é, basicamente, ele, pois das inúmeras formações que o grupo já teve, o único membro contante é ele mesmo.

Outros integrantes, contudo, fizeram história no grupo, como o guitarrista e baixista (ele e Ness trocavam constantemente de instrumentos) Dennis Danell, integrante original junto com Ness, seu colega de high school a quem o cantor convenceu a se juntar ao SD mesmo sem jamais Ter encostado eum instrumento na vida. Um ano mais velho que Ness, Danell morreu há dez anos, vítima de um aneurisma cerebral. Já Charlie ‘Chalo’ Quintana saiu ano passado, após dez anos sentando na bateria, saiu há exatamente um ano, pra dedicar-se a projetos pessoais, deixando uma mensagem emocionada no site do grupo. A atual formação do Social Distortion tem, além de Mike Ness (vocais e guitarra), o também guitarrista Jonny Wickersham, o baixista Brent Harding e o baterista Scott Reeder. O último disco da banda é ‘Sex, Love and Rock’n’Roll’, de 2004, mas um novo álbum deve sair ainda este ano, produzido pelos próprios caras e, segundo Ness, vai ter aquele som bem típico dos caras: aquela combinação de punk, rockabilly e country com elementos da cena punk novaiorquina dos anos 1970 – “um pouco mais Johnny Thunders”, nas palavras do vocalista.

O Social Distortion toca na próxima quinta-feira, dia 15, com início previsto para as 9 da noite, lá na Casa do Gaúcho – ali dentro do Parque Harmonia –, e os ingressos estão sendo vendidos nas lojas Trópico (Iguatemi, Shopping Total, Barra Shopping, Bourbon Ipiranga, Praia de Belas e Moinhos de Vento), com preços promocionais no primeiro lote. É a primeira turnê sul-americana da história do grupo, que, além de Porto Alegre, toca ainda em São Paulo, Curitiba e Buenos Aires – na capital dos hermanos, inclusive, os caras fazem uma série de três shows em dias consecutivos, neste fim-de-semana (sexta, sábado e domingo), enquanto que no Brasil o SD toca apenas uma vez em cada cidade. Ness diz que a quantidade absurda e comovente de e-mails que a banda recebe de fãs sul-americanos é a principal responsável pela vinda do grupo.

Mommy’s Little Monster

Prison Bound

Story of My Life

Bad Luck


(*) com faixas dos quatro primeiros álbuns, ‘Mommy’s Little Monster’ (1983), 'Prison Bound’ (1988), ‘Social Distortion’ (1990) e ‘Somewhere Between Heaven and Hell’ (1992). Mike Ness refere-se ironicamente a esta coletânea como “o que tecnicamente significa ‘bom para o rádio’. A gente na verdade deveria lançar outra com as favoritas da banda”.


A formação atual do Social D, que toca quinta em Porto Alegre ...


... Mike Ness, o eterno outlaw ...


... e o famoso logo da caveirinha

quinta-feira, 1 de abril de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (28)

Olha só: o primeiro programa de abril, neste sábado, dia 03, às 22h, na FM CULTURA (107.7 ou www.fmcultura.com.br) é um especial. Vou tocar só covers, de ícones do rock e do pop, por artistas alternativos - alguns clássicos, outros, atuais, um até programado apenas para a ocasião. São todas bacanas, mas nenhuma suplanta a versão original, é claro - as do Sonic Youth, de Antony e do DJ David Holmes chegam perto, e as dos Mondays e do Treponem Pal são especialmente empolgantes -, então recomenda-se conhecer as gravações que deram fama às canções. Mas sempre é legal ouvir artistas brincando de outros artistas, cantores e bandas de nossa preferência revisitando músicas que amamos. O playlist tá aí embaixo. Enjoy!

1º bloco:

VAMPIRE WEEKEND – Exit Music (Radiohead)

Tá no disco ‘Stereogum Presents... OKX: A Tribute to OK Computer’, lançado em 2007 pra comemorar os 10 anos de lançamento do clássico ‘Ok Computer’ da banda de Thom Yorke

TV ON THE RADIO – Heroes (David Bowie) – ao vivo
Tá na coletânea ‘War Child presents Heroes: An Album to Benefit Children Affected By War’ (2009), que tem ainda Beck, Scissor Sisters, Duffy, Hot Chip, Yeah Yeah Yeahs ... todos tocando covers

LOCAL NATIVES – Warning Sign (Talking Heads)
Tá no álbum de estreia da banda americana, ‘Gorilla Manor(2010)

BAT FOR LASHES – A Forest (The Cure)
Tá num tributo ao Cure chamado ‘Perfect As Cats: A Tribute to The Cure’, lançado em 2008. Também entrou como bônus em algumas edições do segundo disco da banda de Natasha Khan, ‘Two Suns’, do ano passado


2º bloco:

PIXIES – Wild Honey Pie (Beatles) – ao vivo na BBC

Tá no disco ‘Pixies at the BBC’, lançado em 1998. Mas a sessão foi gravada em 3 de maio de 1998

DRAG CITY SUPER SESSION – N.I.B. (Black Sabbath)
O “supergrupo” indie, que reúne Bill Callahan, Edith Frost, Jim O’Rourke e Neil Michael Hagerty (ex-Royal Trux) registrou essa no disco ‘Tramps, Traitors and Little Devils’ (2001) com algumas das principais estrelas do selo Drag City, de Chicago

HAPPY MONDAYS – Stayin’ Alive (Bee Gees)
Saiu na coletânea ‘Greatest Hits’, dos Mondays, lançada em 1999. Antes, havia saído apenas no lado B de um single

DAVID HOLMES c/ CARL HANCOCK-RUX – Compared to What (Eddie Harris & Les McCann – na verdade, a canção é de autoria de Gene McDaniels)
Tá no disco ‘Bow Down to the Exit Sign’ (2000), do DJ irlandês, que além do cantor Carl Hancock-Rux, conta com as participações de Bobby Gillespie, Martina Topley-Bir e Jon Spencer, entre outros


3º bloco:

ANTONY AND THE JOHNSONS – The Guests (Leonard Cohen) – ao vivo
É uma música que Antony inclui seguidamente em seus shows: na internet, é possível encontrar fácil um vídeo na BBC em 2006, e outro num festival em Sevilha, na Espanha, em 2005

SONIC YOUTH – Superstar (Carpenters – na verdade, a canção foi composta por Bonnie Bramlett e Leon Russel, em 1969, gravada originalmente pela dupla Delaney and Bonnie naquele ano, e regravada pelos Carpenters dois anos depois, quando estourou)
Tá no disco em tributo aos Carpenters, ‘If I Were a Carpenter’, lançado em 1994, que tinha ainda Matthew Sweet, Grant Lee Buffalo, Shonen Knife e até Sheryl Crow

TREPONEM PAL – Radioactivity (Kraftwerk)
Tá no segundo disco da banda francesa, ‘Agravattion’ (1991)