sexta-feira, 23 de abril de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (31)

Pela primeira vez, teremos dois bloquinhos 'retrô' no programa, com duas bandas clássicas que já vínhamos prometendo. As mulheres têm destaque especial, estão à frente de todas as atrações. O programa vai ao ar neste sábado, dia 24, às 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Enjoy!

1º bloco:

DUM DUM GIRLS – I Will Be


Quarteto californiano formado só por garotas, com apenas um álbum lançado – por sinal, este ano –, ‘I Will Be’, pelo selo Sub Pop. Fazem um pop de inspiração sessentista, tanto pelas melodias ensolaradas à la Beach Boys quanto pela insolência e malícia das Shangri-Las e pelo espírito punk dos Stooges. O nome do grupo, aliás, foi tirado de uma canção do primeiro álbum-solo de Iggy Pop (‘The Idiot’, de 1977), ‘Dum Dum Boys’, que justamente evocava seus tempos de Stooges, e também de um disco dos escoceses The Vaselines, ‘Dum Dum’ (1990). O fetichismo roqueiro do grupo vai além: a vocalista atende pelo menso nome do baixista original dos Ramones, Dee Dee, e tanto o single de estreia, ‘Jail La La’, quanto o álbum foram produzidos pelo veterano Richard Gottehrer, famoso pelo seu trabalho com o Blondie.

LONELADY – Early The Haste Comes

Alcunha de Julie Campbell, inglesa de Manchester, que faz um som inspirado pela new wave, em especial a primeira geração do pós-punk que fez a fama de sua cidade, lá pelos idos de 1977-78-79 (Fall, Joy Division, Magazine, Buzzcocks). Começou fazendo gravações caseiras em um gravador de quatro canais em 2004, usando basicamente guitarra e drum machine. Alguns singels e um E.P. se seguiram, até que finalmente LoneLady foi entrar em um estúdio profissional pela primeira vez em 2001, quando foi lançada uma edição limitada de 500 cópias do single com ‘Early the Haste Comes’ e ‘Joy’. O álbum de estreia, ‘Nerve Up’, só saiu este ano, pela prestigiada gravadora Warp Records.


QUADRON – Slippin’


É uma dupla dinamarquesa, formada pela vocalista Coco O e pelo múlti-instrumentista e produtor Robin Braun – também conhecido no universo indie como Robin Hannibal em outro projeto, o duo Owusu & Hannibal. O som do Quadron mixa soul music, r&b e várias vertentes do pop eletrônicos doas anos 1980, 1990 e 2000 e caiu nas graças do DJ londrino Gilles Peterson, da BBC, no ano passado. Em 2010, a boa fama do grupo chegou à América: o selo Plug Research soltou o homônimo álbum do Quadron em março.

2º bloco:

KLEENEX/LILIPUT – ‘Kleenex/Liliput’ (col., 1993)


Grupo suíço formado em 1978, ao lado das britânicas Slits e Raincoats uma das três principais bandas femininas do punk/pós-punk europeu. Duraram apenas cinco anos – e nesse meio-tempo, ainda tiveram que mudar o nome –, tiveram ‘n’ formações, mas deixaram sua marca: letras malucas, surreais e bem-humoradas (fugindo até do tradicional pessimismo punk), cantadas tanto em alemão quanto em inglês, cheias de gemidos, grunhidos e outras onomatopeias, levada funky, guitarras utilizadas às vezes quase como intrumento percussivo, além do uso de violino (até mais distorcido que as guitarras), flauta e sax.

O primeiro nome da banda era Kleenex, mas depois de uma ação na justiça do grupo Kimberly-Clarke (detentor da tradicional marca de lencinhos de papel), tiveram de mudar pra LiLiPUT, com apenas um ano de carreira. O line-up original do Kleenex tinha a baixista e vocalista Klaudia Schiff, única integrante a participar de todas as formações, a baterista Lislot Ha, a vocalista Regula Sing e mais dois integrantes que não chegaram a participar de alguma gravação. Mas já no primeiro single, com ‘Hedi’s Head’ e ‘Ain’t You’, a guitarrista Marlene Marder, que acompanharia Klaudi até o encerramento das atividades do grupo, em 1983, dava as caras. Marlene havia pouco antes sido demitida de uma banda em que ela era a única mulher, porque os rapazes acharam que uma verdadeira banda punk não poderia contar com uma saxofonista. Então, ela foi se juntar a outras meninas que, como ela, havia assistido a um show dos Sex Pistols em Zurique e deicidiu ser punk na vida. Agora como guitarrista, compôs com Klaudia, Regula e Lislot a primeira formação mais ou menos estável do grupo. Mas logo Regula também sairia, entrando Chrigle Freund (vocais) e Augie Barrack (sax e vocais). O ano também já havia mudado pra LiLiPUT, inspirado na terra dos homens em miniatura do clássico ‘As Viagens de Gulliver’.

Se como Kleenex registraram apenas singles e E.P.’s, é como LiLiPUT que virão os únicos dois álbuns: ‘LiLiPUT’, de 1982, e ‘Some Songs’, de 1983. Este último saiu pouco antes das meninas decidirem pendurar as chuteiras: mesmo contratadas por um importante selo britânico (Rough Trade, em breve a gravadora dos Smiths), elas jamais cogitaram sair da Suíça, nunca tiveram preocupação maior em investir verdadeiramente na carreira, e ainda por cima, paralelamente à música, desenvolviam uma série de outras atividades (pintura, escrita), às quais dedicavam a mesma atenção que dispensavam à banda. Mesmo após o fim do grupo, no final de 1983, o interesse pela música das garotas não parou de crescer: eentre o final dos anos 1980 e início dos 1990, era comum os dois LP’s do LiLiPUT, fora de catálogo, custarem mais de 100 dólares em sebos americanos e ingleses. Foi só em 1993 que o selo suíço Off Course resolveu editar o CD duplo ‘Kleenex/LiLiPUT’, reunindo todas as 46 faixas registradas pelo(s) grupo(s). A americana Kill Rock Stars editou a coletânea na América em 2001, e acaba de lançar lá fora uma caixa chamada ‘Live Recordings, TV-Clips and Roadmovie’, com CD e DVD.

Beri-Beri
Eisiger Wid
In a Mess
Ring-A-Ding-Dong
A Silver Key Can Open an Iron Lock Somewhere



Klaudia Schiff e Marlene Marder, o núcleo do Kleenex/LiLiPUT: referência para as riot grrrrls, elas só queriam se divertir


3º bloco:

THE ADVERTS – ‘Crossing the Red Sea with The Adverts’ (1978)


Outra glória do punk europeu, banda formada em Londres no auge da explosão da ‘no future generation’, os Adverts estrearam no lendário Roxy Club em 1976, ano em que os Sex Pistols davam as caras. De saída, chamaram a atenção do guitarrista do Damned, Brian James, que os convidou para abrir os shows de sua banda. Daí para um contrato com o selo Stiff Records – que en trou para a história por lançar o primeiro single (‘New Rose’) e o primeiro álbum ‘(Damned Damned Damned’) do punk britânico, ambos do Damned – foi só um pulinho. Mas apesar do começo meteórico, o single de estreia dos Adverts só sairia no ano seguinte, 1977, mas trata-se de um capítulo à parte.

Os caras, mesmo considerando-se, digamos, a “economia de recursos” característica do punk rock, mal sabiam tocar o mínimo indispensável, e a letra de ‘One Chord Wonders’ brincava justamente com isso, usando um humor auto-depreciativo que era a cara do punk inglês: “Fico pensando o que vamos tocar pra você esta noite/Algo pesado ou algo mais leve/Algo pra iluminar sua alma/Fico pensando como vamos responder quando você disser/‘Nós não gostamos de vocês – vão embora/Voltem quando tiverem aprendido a tocar’”. Mas mesmo tendo consciência da própria precariedade, os caras tinham moral: as revistas Sound e Melody Maker recomendaram entusiasticamente a bolacha, os Adverts a essa altura já haviam tocado no programa do respeitado DJ John Peel da BBC e aberto shows de Generation X, Slaughter and The Dogs e The Jam.

Em agosto de 1977, saía o segundo single, ‘Gary Gilmore’s Eyes’, e desta vez haveria controvérsia de verdade: agora, a letra falava de um serial killer que desejava os olhos aos cientistas após sua execução. A revista Sounds o classificou “o mais inteligente e doentio single a sair da new wave”, e mais tarde a Mojo o elegeria um dos melhores singles punk de todos os tempos. Foi o primeiro do grupo a figurar no Top 40 britânico, o que os levou a se apresentar no popular programa de TV ‘Top of the Pops’ da BBC. O jogo já estava mais do que ganho quando enfim saiu o disco de estreia dos Adverts, ‘Crossing The Red Sea with The Adverts’, em fevereiro de 1978. Há quem o considere não só um dos melhores discos de punk rock, mas mesmo do rock dos anos 1970. Infelizmente, ‘Cast of Thousands’, lançado no ano posterior, não segurou a onda, e a banda encerrou as atividades, não sem antes passar por dois episódios desagradáveis: a morte por eletrocutamento de seu empresário, Michael Dempsey, e um processo movido por dois ex-integrantes, tentando impedir que o casal que fundou e sempre liderou os Adverts, T.V. Smith, o principal compositor do grupo, e Gaye Advert, a primeira verdadeira estrela feminina do punk britânico, a usarem o nome The Adverts sem eles.

One Chord Wonders
Bored Teenagers
New Church
Newsboys
Gary Gilmore’s Eyes



Os Adverts: músicos sofríveis fizeram um dos grandes discos de rock dos anos 1970

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