quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O ano até aqui (II)

Entre os veteranos, dois se destacam.

Gil Scott-Heron, americano de Chicago, 61 anos completados em abril, vem cumprindo trajetória errática nos últimos tempos: entra e sai da cadeia com enorme facilidade, sempre por problemas com drogas – e violação da condicional. Não gravava um disco desde 1994, quando lançou ‘Spirits’ e o ao vivo ‘Minister of Information’. O excelente ‘I’m New Here’ tem 15 faixas, entre canções e vinhetas, sendo doze compostas pelo cantor – um dos virtuais inventores do rap lá no final dos anos 1960/início dos 1970 recitava seus versos com acompanhamento eminentemente soul-jazzístico –, e tem produção de Richard Russell, cabeça do selo britânico XL Recordings (Basement Jaxx, Devendra, M.I.A., Vampire Weekend, Dizzee Rascal). Tem batidas de hip-hop, samples e efeitos sonoros, mas também violão folk. O clima é autobiográfico (‘On Coming From a Broken Home’, ‘The Crutch’), entre o nostálgico e o reflexivo. A faixa-título é de Bill Callahan, ex-(Smog), herói de CM, e entre as recriações de obras alheias está ‘Me and the Devil’, de Robert Joehnson, e ‘I’ll Take Care Of You’, do repertório de Bobby ‘Blue’ Bland. ‘I’m New Here’ é o disco mais bonito de 2010 até aqui.

Paul Weller, inglês, nove anos menos que Heron – nasceu em Woking, Surrey, em maio de 1958 –, lançou o disco de rock dos primeiros sete meses do corrente. ‘Wake Up The Nation’ é um disco moderno porque não tenta bancar o moderno: profundamente imerso na tradição do melhor rock britânico (as referências de Weller de sempre, Who, Small Faces, os Kinks e os Beatles – tanto a fase psicodélica como o período final, de canções como ‘Don’t Let Me Down’ e discos como ‘Abbey Road’ e o álbum branco), atesta toda a maestria e a maturidade do compositor Weller, em 16 faixas, a maioria curtas, como a faixa-título, ‘Fast Car/Slow Traffic’, ‘No Tears to Cry’, a lisérgica ‘Andromeda’, ‘7 & 3 Is The Strikers Name’ e ‘Trees’ – a mais longa do álbum, com meros 4 minutos e 19 segundos. A carreira solo de Weller é das mais vivas entre seus contemporâneos: ‘Wake Up ...’ é seu décimo álbum de carreira – descontados os registros ao vivo – desde 1992, quando recuperou o a reputação perdida nos tempos de Style Council (que não era tão xarope assim, não sejamos tão cri-cri), lançando o álbum que leva apenas seu nome. A esse, seguiram-se outros grandes álbuns, como o clássico ‘Wild Wood’ (1994), ‘Stanley Road’ (seu álbum que mais vendeu, puxado pela ótima ‘The Changingman’, 1995), ‘Heliocentric’ (2000), ‘Ilumination’ (2002) e o recente ‘22 Dreams’ (2008). Weller é um dos caras que definiu o moderno som britânico, a partir da mais inglesa de todas as bandas a emergir do levante punk da segunda metade dos anos 1970, o Jam. Que o digam os irmãos Gallagher, o Ocean Colour Scene, o Blur, o Supergrass e todo o pessoal do brit-pop. Também gerou cópias desavergonhadas worlwide – conheces um tal de Ira?

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