sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (23)

Chegamos então à quarta e última parte da série 'Melhores do Ano de 2009', tema dos nossos programas deste mês de fevereiro. E os melhores mesmo ficaram pro final - na humilde opinião de CM, os 10 melhores discos de 2009 (entre os 'alternativos') são os representados pelas músicas abaixo. Não perde - neste sábado, às 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br)! Enjoy!

1º bloco:
BIBIO – Haiqueske (When She Laughs)
FEVER RAY – Now’s The Only Time I Know
PHOENIX – Rome
JAPANDROIDS – Heart Sweats

2º bloco:
THE ANTLERS – Two
BILL CALLAHAN – Jim Cain
ANTONY AND THE JOHNSONS – Another World

3º bloco:

GRIZZLY BEAR – Two Weeks
DIRTY PROJECTORS – Stillness is the Move
ANIMAL COLLECTIVE – My Girls

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (22)

Vacilão, vacilão! Esqueci de postar o playlist do programa da semana passada, a terceira parte dos melhores do ano que passou. Pra quem ouviu e não pegou os nomes das músicas, ou pra quem não ouviu e quer procurar por aí, lá vai, então:

1º bloco:

ATLAS SOUND (c/ NOAH LENNOX) – Walkabout
BEAR IN HEAVEN – Wholehearted Mess
ST. VINCENT – Actor Out of Work
NEON INDIAN – 6669 (I Don’t Know If You Know)


2º bloco:

BAT FOR LASHES – Daniel
MEMORY TAPES – Bicycle
VOLCANO CHOIR – Islands, Is
WILD BEASTS – All the King’s Men

3º bloco:

THE xx – Crystalised
GIRLS – God Damned
WAVVES – So Bored
WHITE DENIM – Say What You Want

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (21)

Seguindo com nossa retrospectiva de 2009, neste sábado, 13/02 (sim, de Carnaval!), às 10 da noite na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede), tem a segunda parte, com as revelações de anos recentes que confirmaram as expectativas no ano que passou. Enjoy!

FALHA NOSSA: no programa da semana passada, no último bloco, anunciamos quatro músicas e rodamos apenas três ... Imperdoável! Faltou o GRAHAM COXON. Então, neste sábado, abrimos com ele.

‘MELHORES DO ANO DE 2009 – PARTE II: Confirmações’

1º bloco:

GRAHAM COXON – Brave the Storm
CASS McCOMBS – Harmonia
BON IVER – Blood Bank

2º bloco:

GOSSIP – Heavy Cross
YEAH YEAH YEAHS – Zero
YACHT – The Afterlife

3º bloco:

EELS – Prizefighter
TWILIGHT SAD – Made to Disappear
SUNSET RUBDOWN – Idiot Heart
TIMES NEW VIKING – Move to California

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (20) - Melhores do Ano, pt.1

Conforme o prometido, COMPANHIA MAGNÉTICA (sábado, 22h na FM CULTURA - 107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede) faz sua retrospectiva de 2009 durante todo este mês de fevereiro.

No primeiro programa, os veteranos que se derm bem no ano que passou (nos próximos, as confirmações, as revelações e os dez mais de 2009, um dos melhores anos, musicalmente falando - pelo menos na seara 'alternativa' - dos anos 2000). Enjoy!

1º bloco:

DINOSAUR JR. – Over It
SONIC YOUTH – Antenna
YO LA TENGO – Avalon or Something Very Similar
BUILT TO SPILL – Hindsight

2º bloco:

FLAMING LIPS – Silver Trembling Hands
JOHN FRUSCIANTE – Enough of Me
DANIEL JOHNSTON – Mind Movies


3º bloco:

PJ HARVEY & JOHN PARISH – Black-Hearted Love
SUPER FURRY ANIMALS – The Very Best of Neil Diamond
GRAHAM COXON – Brave the Storm
MODEST MOUSE – Autumn Beds

SONS MAGNÉTICOS DE 2009

Bom, muito bom, até maravilhoso. O ano de 2009, em termos de rock e pop, será lembrado pelos aficionados com um dos mais significativos desta primeira década do Século XXI. O pessoal que gosta de barulho, o que prefere belas melodias, o que curte um som mais calcado nas ‘raízes’, o que se empolga com coisas mais experimentais, o que se emociona com interpretações mais arrebatadas, o que quase goza com cerebralismos ... Todo mundo saiu satisfeito.

Se os 2000 foram a década do crossover por excelência – mais até do que o decênio anterior –, do caldeirão de referências inesgotáveis da música popular global saíram iguarias pra todos os gostos. A síntese, na humilde opinião de CM:

BILL CALLAHAN – I Wish I Was An Eagle

Agora assinando com o próprio nome, o ex-(Smog), um dos baluartes do som lo-fi dos anos 1990, mantém a densidade e as idiossincrasias num dos mais mais belos discos do ano. ‘Jim Cain’ e ‘Too Many Birds’ são de derramar lágrimas.

FEVER RAY – Fever Ray

Karyn Dreijer, metade do duo eletrônico sueco The Field, assombrou o mundo pop em 2009 com seu homônimo debut solo. Se ‘Keep the Streets Empty For Me’ lembra demais o Massive Attack com Sinéad O´Connor de ‘100th Window’ (não que isso seja um grande problema), sobram tiros certeiros, como ‘When I Grow Up’, ‘Seven’, ‘If I Head a Heart’ e ‘Now’s the Only Time I Know’.

PHOENIX – Wolfgang Amadeus Phoenix

O álbum pegajoso do ano – no bom sentido. Sobram faixas grudentas: ‘1901’, ‘Girlfriend’, ‘Rome’, Lizstomania’, ‘Lasso’ – essa mais rock que as outras, mas tão pop quanto. ‘Wolfgang ...’ não só faz emular a velha e boa new wave, mas mostra também uma banda madura. Uma festa. O quarteto parisiense deixou os conterrâneos do Air comendo poeira no ano que passou.

THE ANTLERS - Hospice

O novaiorquino Peter Silberman é o sujeito por trás do Antlers, que vai de folk experimental, um negócio que é ao mesmo tempo épico e minimal. Pode? Pode. Segundo consta, o cara já chegou a gravar um álbum inteirinho na banheira de casa, nos tempos em que os Antlers eram só ele, e não uma banda. ‘Hospice’ tem alguns dos mais belos sones de 2009, como ‘Shiva’ e ‘Two’.

JAPANDROIDS – Post-Nothing

O álbum cacetada do ano. Coincidência ou não, depois do sucesso dos White Stripes, começaram a aparecer um monte de grupos indie bacanas com formação de duo, com apenas um guitarrista/vocalista e um baterista (o Girls, o No Age, ...). Estes canadenses são o melhor destes Ouça ‘Rockers Easts Vancouver’, ‘Young Hearts Spark Fire’ e sobretudo ‘Heart Sweats’ e tente ficar parado.

ANTONY AND THE JOHNSONS – The Crying Light

O outro disco mais bonito do ano, junto com o de Bill Callahan. Antony Hegarty parece carregar toda a tristeza do mundo em faixas como ‘One Dove’, Another World’ e ‘Her Eyes Are Underneath the Ground’. Lou Reed e Björk, com quem já gravou, são fãs de carteirinha do cara.

BIBIO – Ambivalence Avenue

O inglês Stephen Wilkinson é responsável pela surpresa do ano: o mix de folk britânico à la Fairport Convention e electronica, que faz de ‘Ambivalence ...’ um dos álbuns mais exuberantes do ano – e o cara ainda lançou mais dois em 2009, ‘Vignetting the Compost’ e o mix-album ‘The Apple and the Tooth’. ‘Jealous of Roses’, ‘Haikuesque’, ‘Lover’s Carvings’, ... as faixas se sucedem, mantendo o alto nível da primeira à última.

GRIZZLY BEAR – Veckatimest

Este é o disco mais sofisticado da temporada passada: o GB mixa texturas delicadas do folk com experimentalismos do art rock. Mas o ecletismo aqui nãqo significa falta de personalidade ou foco, ao contrário – a unidade é uma das marcas deste terceiro disco de estúdio do quarteto do Brokklyn.

DIRTY PROJECTORS – Bitte Orca

‘Stilness is the Move’ foi eleita recentemente umas das músicas mais representativas do atual bairro mais quente de Nova Iorque, o Brooklyn. Dave Longstreth e seu combo gravaram com o ex-Talking Heads David Byrne e assim como a lendária ex-banda deste e outros grupos da linha de frente da atual safra da big apple – TV On The Radio, Vampire Weekend – bebem da fonte afro. Vicia: experimente ‘Remade Horizon’, ‘Temecula Sunrise’ ou ‘Canibal Resource’.

ANIMAL COLLECTIVE – Merriweather Post Pavillion

Ganhou disco do ano do influente site americano Pitchfork e da revista inglesa Uncut, uma das lehores da atualidade. Leva o prêmio de CM também: melodias à la Beatles, harmonias vocais que lembram os Beach Boys, levada eletrônica que remete aos anos 1980 (de Thomas Dolby a Laurie Anderson), aos 90 (Massive Attack, Björk, Matmos). É tão bom que fica difícil destacar alguma faixa – ‘My Girls’, ‘Lion in a Coma’, ‘Taste’, ‘Summertime Clothes’, ‘Daily Routine’ ... Uma melhor que a outra.

Menções honrosas (e têm!):

GOSSIP – Music For Men
Não entendi bem por que o Gosspi, até pouco tempo atrás o maior candidato a hype entre as bandas alternativas teve recepção tão morna neste novo disco. Quem sabe a superexposição de Beth Ditto, o fato de o disco ser o primeiro lançado por uma grande gravadora, mas nada disso justifica. ‘Music ...’ é cheio de faixas estimulantes, daquelas de levantar até morto: ‘Heavy Cross’, ‘Love Long Distance’, ‘Pop Goes the World’, ‘Four Letter Word’ ... O Gossip toca em março no Brasil – só no Rio e em São Paulo, é claro.

KURT VILE – Childish Prodigy
O cantor e compositor da Filadélfia, ripongão cabeludo de voz largadona, faz um folk estranhão, muito bacana que remete não só aos 60’s mas também a coisas lo-fi dos anos 1990.

THE xx – XX
O grupo inglês, de claríssima influência dos primeiros discos do Cure (‘Three Imaginary Boys’, ‘Seventeen Seconds’), acerta a mão em faixas como ‘Crystalised’ (uma das melhores canções de 2009) e ‘VCR’, mas de tanto exalar tédio ... acaba entendiando o ouvinte lá pela sétima, oitava faixa. Mas os caras são bons, em especial o contraste dos vocais masculinos e femininos e a extrema concisão do som de levada ultra-minimal. Esperamos com ansiedade pelo próximo.

WILD BEASTS - Two Dancers
A provável nova grande banda do pop inglês, pra ocupar o lugar que um dia foi dos Smiths, dos Stone Roses, do Verve e hoje é do Coldplay. Romantismo na medida, refrões ganchudos, performance arrebatada, boas melodias, músicos certeiros. Só o recurso às vezes abusivo dos vocais em falseto do cantor Hayden Thorpe é que às vezes enche o saco.

SUPER FURRY ANIMALS – Dark Days/Light Years
Os galeses passaram incólumes pela ‘síndrome do terceiro disco’ – e do quarto, do quinto, sétimo. Nada da banda do maluco beleza Gruff Rhys dar sinais de acomodação.

PJ HARVEY & JOHN PARISH - A Woman A Man Walked By
Polly Jean novamente lança um álbum co-creditado a seu guitarrista, 13 anos depois de ‘Dance House at Louse Point’, seu disco mais fraquinho, e desta vez a dupla acerta. Não é uma obra-prima, mas PJ jamais decepciona.

NEON INDIAN – Psychic Chasms
O duo texano Alan Palomo e Alicia Scardetta faz pop psicodélico eletrônico intoxicante com alto potencial radiofônico em faixas como ‘6669 (I Don’t Know If You Know)’ e a sugestiva ‘Should’ve Taken Acid With You’.


BEAR IN HEAVEN – Beast Rest Forht Mouth

Estes novaiorquinos do Brooklyn que retiram suas referências do krautrock, da electronica dos anos 1990 e até do prog rock são uma das apostas de CM para o futuro. ‘Beast Rest ...’ é capaz de satisfazer tanto os fãs da música eletrônica quanto roqueiros sem preconceitos. ‘Wholehearted Mess’ é outro dos momentos pra se guardar de 2009.

YACHT – See Mystery Lights
Projeto eletrônico bacana de Jona Bechtolt, natural de Portland, no Oregon – lar de Gus Van Sant e principal polo de uma das mais prolíficas cenas do rock americano das duas últimas décadas, o noroeste do país. ‘The Afterlife’, ‘I’m in Love with a Ripper’ e ‘Psychic City’ são perfeitas pra tocar em festa de maluco. Gravam pelo selo DFA, de James Murphy (LCD Sound System).

TWILIGHT SAD – Forget the Night Ahead
Esse escoceses, que remetem à melancolia dos Smiths, Echo and The Bunnymen e Jesus and The Mary Chain logo, logo farão parte do primeiro time do rock britânico.

MEMORY TAPES – Seek Magic
O luxuoso pop eletrônico de Davye Hawk ainda vai dar muito o que falar.

ATLAS SOUND – Logos
Brad Cox, o vocalista figuraça do Deerhunter, manda muito bem em seu projeto-solo, mais pop, mas ainda assim experimental, e que conta ainda com o auxílio de Noah lennox (Panda Bear, Animal Collective) em ‘Walkabout’, um dos sons mais legais de 2009.

GHAHAM COXON
Faz tempo que os discos do guitarrista do Blur são melhores que os de sua banda. Se parar pra pensar, vai acabar tomando o mesmo rumo que John Frusciante (desde dezembro, ex-Red Hot Chili Peppers).

Pra conferir com atenção:

REIGNING SOUND
Rock’n’roll garageiro da melhor estirpe, com referências a MC5, Stooges, Stones pré-1972, Faces ... Cool, really cool.

WAVVES – Wavvves
Nathan Williams divide o seu tempo entre suas três paixões: o skate, a maconha e a música, não necessariamente nessa ordem. ‘I’m So Bored’ é som de garagem com alto teor pop, barulhenta (tão saturada que o sujeito ouve e acha que a faixa tá com problema), trilha sonora da juventude entediada de 2009.

TIMES NEW VIKING – Born Again Revisited
Punk pop de Columbus, Ohio, já no quarto disco, o segundo pela prestigiada Matador Records. Promete e cumpre.

SUNSET RUBDOWN - DragonslayerÉ um projeto do vocalista e tecladista Spencer Krug (ex-Wolf Parade), lembra muito o T-Rex, Mott the Hoople e o Bowie dos 70’s. Ouça ‘Idiot Heart’.

Veteranos que ainda dão no couro (e bem!):

FLAMING LIPS – Embryonic
A doideira sem limites de Wayne Coyne e cia. ataca agora de Suicide (‘Silver Trembling Heands’), krautrock (‘See The Leaves’) e ainda conta com as participações de gente legal como Karen O e o MGMT. Não chega a ser uma obra-prima, mas o resultado é superlativo, bom pra c*.

SONIC YOUTH – The Eternal
Ó melhor disco do grupo desde ‘Murray Street’ (2002). ‘Antenna’, Leaky Lifeboat’, ‘Anti-Orgasm’ são esporros cool como há tempos a banda não soltava.

DINOSAUR JR. – Farm
J Mascis e Lou Barlow fizeram as pazes – o primeiro havia expulsado o segundo da banda uns vinte anos atrás,e o pobre Lou ainda levou uma guitarrada na cabeça – e nem parece que um dia quebraram os pratos. Impressionante a química do trio, em canções como ‘Pieces’, ‘Over It’, ‘Imagination Blind’ (cantada por Barlow, que aposentou o ótimo Sebadoh e o bom Folk Implosion) e ‘Friends’, que não ficam nada a dever aos grandes momentos do Dino, como os clássicos ‘You’re Living All Over Me’ (1987), ‘Bug’ (88) e ‘Where You Been’ (93). No duro.

YO LA TENGO – Popular Songs
Dos veteranos, quem mais mostrou gás em 2009 foi o trio de Hoboken, terra natal também de Frank Sinatra. ‘Popular ...’ é o melhor Yo La Tengo da década: tem mais sabor de novidade que ‘And Then Nothing Turned Itself Inside-Out’ (2000), renovando o som do grupo com farto uso de teclados e referências à Motown. ‘Avalon or Something Very Similar’, ‘By Two’s’, ‘Nothing to Hide’, ‘If It’s True’ e a rascante ‘Here to Fall’ são canções pra não esquecer.

BUILT TO SPILL – There is No Enemy
Doug Martsch e seus comandados ainda são uma das grandes guitar bands da América, uma espécie de Crazy Horse dos anos 1990 e 2000. Assim como os Flaming Lips, estão há mais de dez anos em uma major (a mesma Warner) mas ainda mantêm o espírito indie.

Vovô do ano:

LEONARD COHEN
É claro. Além de um belíssimo registro ao vivo de dois shows de 2008 (‘Love in London’, CD duplo já disponível no Brasil), teve lançada também finalmente a apresentação no Festival da Ilha de Wight de 1970 (também já saiu no mercado nacional). O resultado de ‘Live in London’ é tão entusiasmante que os planos de parar foram pro saco: já compõe material pra um disco novo. Do poeta, que estreou em disco apenas aos 34 anos (tem 75 hoje), sim, dá pra dizer que envelhece como vinho.


Cohen, 75: ele merece



Mas o agora sessentão BRUCE SPRINGSTEEN merece menção mais que honrosa.


The Boss, aos 60: a mesma garra dos tempos de guri



Merece todo o nosso respeito:

JOHN FRUSCIANTE

Alguém com ambição.

Menos, menos:

FUCK BUTTONS, FLORENCE AND THE MACHINE e GIRLS

Sem querer bancar o chato, mas confesso que não entendi o hype. O terceiro aí é o mais bacaninha.

Troféu ‘Não foi desta Vez’:

MODEST MOUSE

O E.P. ‘No One’s First and You’re Next’ até é bacana, mas de uma das melhores e mais peculiares bandas americanas dos íltimos 15 anos, que conta com o super talentoso compositor Isaac Brock e o ex-guitar hero dos Smiths, Johnny Marr, é de se esperar mais brilho – que aqui aparece em conta-gotas, como em ‘Autumn Beds’.

AIR
Caso típico de ‘tente de novo’.

MAXÏMO PARK
Parecido com Interpol um pouco além da conta.

Reedições (as que CM lembra de cabeça):
PATTI SMITH, NEIL YOUNG, LOU REED, DAVID BOWIE, BEASTIE BOYS, THE SLITS,
THE FEELIES, CAPTAIN BEEFHEART & HIS MAGIC BAND, ROLLING STONES, BEATLES
. Desnecessário comentar que os ‘remasters’ do quarteto são o evento do década.

Datas a serem lembradas (Woodstock já rendeu demais, por favor):

Os trinta anos de lançamento de ‘Entertainment!’, a gloriosa estreia da seminal GANG OF FOUR.
Idem em relação a ‘Cut’, debut das sensacionais SLITS.
Os 50 anos de vida e 30 de carreira do venerável JÚLIO RENY.
Quinze anos sem KURT COBAIN, o último cara com colhões no rock.
Vinte e cino sem MARVIN GAYE, o soulman cuja alma não cabia no corpo.
Os 60 anos do ‘chefão’ BRUCE SPRINGSTEEN.
O ano em que finalmente resolveram fazer um documentário sobre o cara mais louco e genial do rock brasileiro de todos os tempos – ARNALDO BATISTA, é claro.
O ano em que finalmente resolveram encarar a questão SIMONAL – mas cá pra nós, X-9 ou não, o negão era um nojo de tão marrento. Máscara total. Mas era o único capaz de reger sozinho o Maracanazinho entupido de gente como se fosse sua obediente orquestra e encarar Sarah Vaugh sem olhar de baixo pra cima.

Shut Up!:
BONO. Esse realmente abusou, ganhou o troféu ‘por que no te callas?’ de 2009, contrariando aquela velha máxima de que 'em boca fechada não entra mosca'. Aliás, não seria também o caso de ‘quem te viu, quem te vê’?

Pergunta que não quer calar:
As gravadoras e rádios (salvo as exceções de sempre, é claro) jogaram a toalha definitivamente?

FILMES MAGNÉTICOS DE 2009

Ao contrário de temporadas recentes, o ano de 2009 nas telas portoalegrenses foi generoso – pra quem soube procurar. Se a safra de filmes concorrentes ao Oscar foi francamente decepcionante – a começar pelo vencedor –, nas salas alternativas e até mesmo no circuitão não faltaram boas opções. É verdade que algumas elogiadas produções foram lançadas diret em DVD ou tiveram pouquíssimas exibições na P.F. Gastal, no Santander Cultural ou até nas grandes salas, mas cinéfilo que é cinéfilo sempre se vira. Os highlights do ano, segunto a modesta oipnião de CM – são 12, um a mais que um time de futebol:

O SILÊNCIO DE LORNA

Sabe-se lá por que este filme mais recente dos irmãos Dardenne não passou pelos cinemas, sendo lançado diretamente em DVD – teriam as distribuidoras desistido da obra autoral dos caras? Se for, uma pena – os belgas entregam em ‘O Silêncio ...’ mais um grande filme e talvez o mais acessível também, por conta da narrativa envolvente: a Lorna do título é uma albanesa residente na Bélgica que, pra ganhar a cidadania belga e não ter de voltar pra sua vida sem perspectivas na terra natal, paga um picareta pra que este lhe arranje um casamento falso, com um junkie. Mas o vigário lhe exige que depois de alcançado o intento a garota se divorcie e case com um russo, que também almeja a cidadania. Mas o problema maior não está aí na dupla trampa arrumada pelo mafioso, e sim na ideia do sujeito em se livrara logo do viciado, froçando-lhe a uma overdose, pois se o russo for esperar pelo divórcio, pode acabar desistindo do ‘negócio’. O dilema moral que toma conta da desesperada Lorna é o tema central de todos os filmes dos Dardenne, herdeiro legítimo de Bresson também por conta dos closes e da câmera que perscruta a alma de seus perdidos personagens.

TONY MANERO

Dessa vez, a sensação do cinema latino não veio nem do Brasil em da Argentina: esse inventivo filme chileno é um presentão para os cinéfilos, tanto pela original trama – um atormentado homem de meia-idade que não vive pra mais nada além de imitar seu ídolo John Travolta em ‘Os Embalos de Sábado À Noite’, e à medida que a frustração e o sentimento de vazio aumentam, mais se entrega à violência. ‘Tony Manero’ têm um quê de ‘Taxi Driver’, de ‘O Assassino da Furadeira’, mas para além das influências que se possa evocar, tem o mérito de revelar ao mundo o trabalho do talentoso realizador Pablo Larrain e do brilhante ator Alfredo Castro, que faz de sua personagem um clássico instantâneo. De quebra, o pano de fundo político: a atmosfera asfixiante do Chile de Pinochet em 1978. (Curiosidade: tem até uma cena de sexo explícito – que, bem ao contrário de excitar alguém, só faz aumentar o clima opressivo da película.)

OS 3 MACACOS

Este foi exibido no cinema (P. F. Gastal?), mas teve pouquíssimas exibições (fazia parte de um ciclo). De qualquer maneira já pode ser conferido nas locadoras. Trata-se de um filme turco Nuri Bylge Ceylan com um enredo no mínimo curioso: um poderoso político que tenta a reeleição envolve-se em acidente de trânsito do qual resulta uma vítima fatal e foge sem prestar socorro. Pra escapar da execração pública e arruinar sua carreira, faz a proposta indecorosa a seu motorista, do tipo ‘assume pra mim, te dou uma bela grana, sustento tua família nesse período e quando saíres, assumes de volta teu posto como meu empregado’. Incrivelmente o sujeito aceita. Ocorre que neste meio tempo o ilustre empregador resolve cuidar com esmero excessivo da infeliz mulher do motorista, e o filho do casal logo percebe, dando início a um acerto de contas geral entre os três membros distantes da fraturada família. Assim como o filme dos Dardenne, tem um quê de Bresson, também. Ceylan levou o prêmio de direção em Cannes, em 2008.

A BELA JUNIE

O filme mais bonito do ano, protagonizado pelo rosto do ano (Léa Seydoux) e com a trilha mais absurdamente bela do ano (as canções de Nick Drake ...). O filme é sobre as aflições do amor (a inadequação, a paixão idealizada que não encontra ressonância na realidade, o amor profundo não correspondido), a partir do clássico fulano ama fulana, que namora beltrano, mas ama secretamente sicrana, que está envolvida com outro fulano, mas deseja mesmo ... O diretor Christophe Honoré conduz um drama denso com muita leveza, que tem cara de nouvelle vague (Truffaut, especialmente) e de quebra ainda revela possivelmente o novo rosto do cinema francês: Seydoux tem um quê de Jane Birkin, outro de Anna Karina, é fisicamente parecida com Nico quando jovem e tem olhos profundos que lembram a Gene Tierney de ‘Amar Foi Minha Ruína’.

PARIS

No ano da França do Brasil e dos 50 anos da nouvelle vague, não faltaram representantes significativos da pátria-mãe do cinema e da cinefilia nas telas. Este painel das atrapalhadas relações humanas de Cédric Klapisch é mais um, centrado principalmente na figura do dançarino Pierre (Romain Duris), que descobre que sofre câncer, vai ter passar pelos inevitáveis movimentos internos de quem se sabe no limite (aceitação-balanço-adaptação) e acabará por influenciar a rotina sem brilho de quem o circunda, a começar por sua irmã, Élise (Juliete Binoche). A alma, que se inquieta ao longo da projeção, sai leve, leve.


SE NADA MAIS DER CERTO


O filme brasileiro do ano, e a prova definitiva, para os que ainda nutrem preconceito contra a cinematografia nacional, de que, procurando, se acham bons filmes (‘Estômago’, ‘Cidade Baixa’, O Baixio das Bestas’ ...). Neste desolador drama passado na capital paulista, a desesperança gerada pela falta de perspectivas dá o tom: o jornalista Leo (um surpreendente Cauã Reymond), a figura andrógina da traficante Marcin (performance antológica de Caroline Abras) e o taxista Wilson (o sempre ótimo João Miguel) vivem situação semelhante: o primeiro faz ‘freelas’, raros, que são pagos com enorme atraso, ocasionando cortes de luz e telefone; a segunda, tirada das ruas pela travesti Sybelle (mais um tipo marcante de Milhem Cortaz), tem de se afastar de seu ponto, pois em ano eleitoral a vigilância vai estar em cima; e o terceiro, atormentado pela lembrança e sonhos frustrados do pai, que suicidou-se, acha que precisa de um psiquiatra. Do encontro dos três, nasce uma forte identificação, pois todos querem dar um golpe no sistema. E aparece a oportunidade, justo em tempos de campanha política, quando o trio é convidado por um vigarista a roubar a grana que um determinado candidato vai levar (sem nota, é claro) para o QG de campanha, que rende um dos melhores momentos do cinema nacional em muito tempo: enquanto Leo se faz passar por um pastor evangélico que bate à porta da casa pra tapear a vigilância, os três encarregados do assalto surgem com máscaras de ... Sarney, Collor e FHC. José Eduardo Belmonte, o diretor, é nome a ser observado com carinho.

O GRUPO BAADER-MEINHOF

Mais um representante digno do atual filão de revisão histórica do moderno cinema alemão (‘Adeus, Lênin!’, ‘Edukaters’, ‘O Que Fazer em Caso de Incêndio?’, ‘A Onda’, ‘A Queda’, ‘A Vida dos Outros’), realizado por um veterano (Uli Edel, de ‘Christiane F’ e ‘Última Saída para o Brooklyn’) que havia muito sobrara na curva (é dele o lamentável ‘Corpo Em Evidência’, com Madonna e Willem Defoe) e não dava sinais de recuperação. Neste docudrama de narrativa ágil (o ritmo é quase americano, como quase todas essas atuais películas germânicas de cunho político), tem-se um panorama honesto e imparcial do grupo extremista criado por Andreas Baader e Ulrike Meinhof, seu êxito inicial e sua derrocada, quando a influência sobre as novas gerações degringolou de vez, descambando para a violência excessiva. Um belo filme político de alguém de qum já não se esperava.

FROST/NIXON

Se de Edel já não se esperava muita coisa, o que dizer do pau-pra-toda-obra da indústria hollywwodiana Ron Howard (que vai de ‘Apollo 9’ a ‘Mente Brilhante’, passando pelas adaptações dos bestsellers de supermercado de Dan Brown, ‘Código Da Vinci’ e ‘Anjos e Demônios’)? Fez o filme político americano do ano, extraindo material de uma peça de sucesso nos palcos londrinos (e utilizando os mesmos atores, Michael Sheen e Frank Langelle), que reconstitui a histórica rodada de entrevistas que o jornalista inglês David Frost, homem de pouco cacife fora do universo das celebridades, fez com o já afastado presidente americano Richard Nixon para a televisão australiana três anos após seu impeachment. ‘Tricky Dick’, que desde o dia em que levara o cartão vermelho jamais se pronunciara, vislumbrou ali a chance de se redimir em parte com a opinião pública de seu país, e ganhava a queda-de-braço de Frost até os 45 minutos do segundo tempo da prorrogação, até que ... Obra madura de um cineasta cuja ambição até há pouco se resumia a entregar um produto viável à indústria para a qual trabalha.

DEIXA ELA ENTRAR

Uma pena que os fãs da franquia ‘Crepúsculo’ passem ao largo do melhor e mais inventivo filme de vampiros dos últimos tempos. Esta modesta produção sueca tem tudo o que, imagino, ‘Crepúsculo’ não deve ter: trama original, personagens marcantes, ... substância, enfim. A história é contada em tom de conto de fadas gótico: um garoto solitário conhece uma menina misteriosa e tristonha, que só aparece à noite, nascendo daí uma relação de grande afinidade e cumplicidade. Uma ode à amizade e às diferenças, um inusitado exercício de gênero. O terceiro melhor filme do ano.

VALSA COM BASHIR

O segundo melhor filme do ano suscitou uma das mais interessantes polêmica entre os cinéfilos: a recriação dos horrores da guerra feita pelo diretor Ari Folman pode ser considerada um documentário – uma vez que entrevistas foram feitas com personagens reais, as memórias do realizador Ari Folman, tanto quanto possível, compõem exatamente o que se vê na tela? Acontece que em vez de um cenário real e rostos de verdade, o que vemos na tela é animação (muitas vezes feita sobre os rostos reais, nos moldes dos filmes de Richard Linklater, tipo ‘A Scanner Darkly’ e ‘Waking Life’). Um novo gênero de documentário, a realidade retrabalhada com técnicas de ficção de um jeito novo, a definição pouco importa: ‘Valsa ...’ é um baita filme, que mesmo utilizando-se da animação não perde em contundência para refazer as experiências traumáticas do diretor da trágica noite em setembro de 1982 em que membros de uma milícia cristã massacraram mais de 3000 refugiados palestinos em Beirute.

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

A obra-prima do ano. Um filme contundente, filmado de maneira original, repleto de atuações convincentes de atores não-profissionais (mesmo considerando-se que alunos e professores, que colaboraram com o roteiro, interpretem, digamos, seus próprios papéis, deve-se lembrar que ninguém tinha experiência em atuação ali, tornando o realismo do filme – quase um ‘cinema-verdade’ – ainda mais impressionante). O diretor Laurent Cantet, com a ajuda de seu protagonista, o professor François (François Bégaudeau, mestre na vida real, e que escreveu o livro, best-seller na França, em que se baseia o filme) traça um painel desolador da educação numa escola de periferia, lotada de imigrantes. Se o suíço Michael Haeneke vem se especializando em revelar a violência que se esconde por debaixo do tecido social francês (tema caro também a Claude Chabrol), tendo muitas vezes a questão da imigração desenfreada com um dos fortes elementos constituintes dessa realidade, Cantet deixa as sutilezas de lado e já mostra a triste realidade como fato consumado, para o qual as causas são várias e complexas e não há respostas fáceis – como constata o mestre ao final, na esclarecedora conversa com uma aluna, que depois de todas os eventos que movimentam a trama e fazem com que o professor recupere um pouco o otimismo, confessa-lhe que, mesma aprovada, não aprendeu nada. Incontestável Palma de Ouro em Cannes, candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro, junto a ‘Valsa com Bashir’, inacreditavelmente derrotado pelo japonês ‘A Partida’, produção rotineira.

Aprovado com ressalvas:
BASTARDOS INGLÓRIOS


Sim, claro, ninguém é idiota de não reconhecer que Tarantino é um baita cineasta, e ‘Bastards ...’ talvez seja sua obra-prima, até, um monumental tributo ao cinema de um reconhecido ‘animal do cinema’, que é o cineasta americano. ‘Bastardos ...’ é a síntese de sua obra até aqui, de um irrealismo tão desenfreado que talvez agora convença finalmente os mau-humorados que tanto reclamam da violência excessiva de seus filmes de que o que se vê na tela é só um filme, uma fantasia, sem qualquer pretensão mínima de ser um retrato da realidade – que, aqui, como se sabe, passa ainda mais ao longe por tratar-se de um drible espetacular na história. Mas a ressalva do pentelho aqui deve-se exclusivamente por conta de um certo fórmulismo do qual o cineasta já começa a ser vítima, por conta das piadas tipicamente ‘tarantinescas’. Mas vá lá: Hitchcock também tinha suas ‘fórmulas’ e mesmo clichês e é um dos nomes fundamentais do cinema de todos os tempos. Então e esquece a ‘letrinha’ e passa numa locadora pra conferir mais uma aula sobre o que é cinema que é o longa mais recente de Quentin Tarantino de um cara que ama o cinema acima de todas as coisas. E o cara é melhor cineasta do que qualquer um, o que faz toda a diferença.

Menções honrosas:

DESEJO E PAIXÃO
Ang Lee sabe filmar paixões proibidas. Esta é ainda mais explosiva que ‘Brokeback Moutain’: amor e morte, literalmente. O conflito entre o apelo da carne e a consciência eleva a tensão (e o tesão) a níveis estratosféricos. A tela pega fogo como há muito não se via.

INIMIGOS PÚBLICOS
O classudo filme de gângster politicamente correto do sempre competente Michael Mann até romantiza um pouco a figura do bandido John Dillinger, mas ao subverter as noções de bandido e mocinho faz um pertinente comentário político digno do final da era Bush. Outra: a estatística realista – câmera na mão, filmagem em digital, montagem frenética – mais o tom escuro da fotografia, o tom de fábula moral e a presença de Christian Bale na pele de um paladino da lei não te lembram nada? Sim, ‘O Cavaleiro das Trevas’, que, coincidência ou não, foi inspirado em um filme dos mais conhecidos de Mann, ‘Fogo Contra Fogo’. O quarteto Johnny Depp/Christian Bale/Billy Crudup/Marion Cotillard garante o charme extra – e ainda tem Diana Krall cantando em um nightclub. Seria pedir demais além disso.

OS FALSÁRIOS
Oscar de filme estrangeiro de 2008, estreou com atraso no Brasil. Esta produção traz como protagonista, curisamente, um sujeito que chegou a viver em Porto Alegre: o golpista Salomon Sorowitsch, alemão de ascendência judia, vive de jogo, boemia e trapaças até que capturado pelos nazis, recebe a incumbência de falsificar dinheiro, contribuindo para a expansão do Reich. É aí que vem a questão crucial do filme: ao mesmo tempo em que ‘compram’ sua sobrevivência, Sorowitsch e seus companheiros ajudam a massacrar seu próprio povo.

UP
Tá pra nascer o dia em que da chocadeira da Pixar vai sair coisa ruim. Personagens marcantes – a ave, o cachorro, o escoteiro atrapalhado, o velhinho ranzinza – e a costumeira maestria na condução da trama são marcas registradas do estúdio, que não perdeu nada ao ser anexado pela Disney. ‘Up’ ainda tem um quê de nostalgia que lembra os clássicos da velha Hollywood – aliás, repara nas feições do vovô e do velho desbravador: não lembram demais Spencer Tracy e Kirk Douglas, respectivamente?

O LUTADOR
Já valeria só pela ressurreição de Mickey Rourke, mas o longa de Darren Aronofsky (‘Pi’, ‘Réquiem Para um Sonho’) tem mais atrativos, arranjando um lugarzinho na galeria de bons filmes a tratarem do lado decadente do esporte – não chega a ser um clássico como ‘Touro Indomável’, ‘Punho de Campeão’ ou Cidade das Ilusões’, mas é bonito, uma balada triste sobre a glória fugaz de um lutador de sucesso que hoje sobrevive de espetáculos arranjados, enquanto trabalha em um supermercado e tenta se reaproximar de sua filha. Tem ainda Marisa Tomei e Evan Rachel Wood em papéis de destaque e belíssima canção de Bruce Springsteen.

A ONDA
Mais um bom representante da atual onda – sem trocadilho – do cinema político alemão. Um professor universitário de tendências anarquistas é escalado a dar um curso sobre autocracia. Já na primeira aula, pergunta aos alunos qual a possibilidade, hoje, de a Alemanha vir a parir um regime totalitário nos moldes do nazismo. ‘Nenhum’, responde a maioria. O mestre, então, resolve inovar, não apenas conceituando a corrente política a ser estudada, mas organizando a classe de tal forma a se comportar como se fosse um partido político adepto da ideologia autocrática, com regras rígidas e sufocamento absoluto das individualidades. O que era pra ser de mentirinha acaba fugindo ao controle, por conta do entusiasmo com que alguns se entregam à brincadeira, e é claro que o desfecho só poderá ser o pior possível. Baseado em uma história real, ocorrida na Califórnia nos intensos anos 1960.

MILK
Embora não tenha a mesma inventividade – e aquela cara de cine indie – dos já clássicos ‘Elefante’ (um dos filmes da década) e ‘Paranoid Park’, ‘Milk’, de Gus Van Sant, além de traçar um belo panorama de época – a San Francisco dos anos 1960 e 70 e a luta dos ativistas gays de então – e trazer a atuação de gala de Sean Penn (secundado pelos ótimos James Franco, Emile Hirsch, Josh Brolin e Diego Luna). Mesmo quando faz filmes mais ‘acadêmicos’ – as aspas aqui são obrigatórias –, e, digamos, militantes, Van Sant acerta.

BRÜNO
A provocação do ano. Claro que vai chegar uma hora que o inglês Sacha Baron Cohen vai cair na fórmula, perder a graça e ninguém mais vai se chocar com as gags virulentas que nos fazem rir às ganhas por conta do constrangimento que fazem passar as vítimas do politicamente incorreto comediante, mas por enquanto ... Cohen é o heroi de quem sentia falta de alguém que chutasse a bunda dos cretinos, seguindo uma linhagem (bom, linhagem talvez não seja o termo) de humor ferino que já teve ilustres representantes em figuras como os Irmãos Marx, Buñuel e o Monty Python. Melhores momentos: Paula Abdul convidada a sentar nas ‘cadeiras’ improvisadas da mansão alugada por Brüno, as entrevistas com os pais dos candidatos mirins a participar de seu talk-show, a participação da ‘estrela’ austríaca num programa de TV. Cohen é um cara legal, não há dúvida e o diretor Larry Charles faz o que tem de fazer: deixa seu astro comandar o espetáculo, como os diretores dos filmes dos Irmãos Marx.

‘Filmetos’ que adoramos:

ABRAÇOS PARTIDOS

Almodóvar atingiu tamanha maturidade e está tão à vontade na condução de ‘Abraços ...’, que, embora este não possa a ser comparado com clássicos como ‘Tudo Sobre Minha Mãe’ e ‘Fale Com Ela’, fica difícil até falar em ‘filme menor’. Os clássicos desencontros amorosos que compõem o universo almodovariano, na trama que mostra a obsessão de um cineasta que, após inúmeros percalços, tenta salvar seu filme – “o que interessa é terminar o filme”, resume Mateo (Luís Omar), o realizador –, servem para uma apaixonada declaração de amor ao cinema, tão potente quanto a que faz Tarantino em ‘Bastardos Inglórios’. E tem Penélope de novo, o que deve ser sempre considerado.

Á PROCURA DE ERIC
Outro que não chega a ser um filmão, mas cumpre o que promete: este belo conto moral do herói da classe operária inglesa, Ken Loach (‘My Name is Joe’, ‘Pão e Rosas’, ‘Ventos de Liberdade’, ‘Kes’) mostra um carteiro em Manchaster, que pensa na vida que não anda ao mesmo tempo em que curte as memórias vitoriosas de seu Manchester United nos tempos de seu ídolo, o temperamental atacante francês Eric Cantona, que em breve passará a fazer aparições a seu fã, também chamado Eric (sentiu o duplo sentido do título?), aconselhando-o nas decisões que precisa tomar pra retomar o rumo. Bela homenagem ao esporte mais popular do planeta como não se faz no país do futebol, um filme terno e simpático, com a habitual competência e carinho do huamnista Loach. Curiosidade: o ator que faz Eric Bishop, o carteiro, é Setev Evets, ex-baixista do The Fall.

Ator:


O chileno ALFREDO CASTRO, em um tour de force espetacular, deixa pra trás até grandes performances como a do oscarizado Sean Penn e a ressurreição do ano, de MICKEY ROURKE.

Atriz:


KRISTIN SCOTT-THOMAS, é claro. Não bastasse ter barbarizado em ‘Há Tanto Tempo que Te Amo’, ainda está em ‘Partir’ e ‘ Ninguém chegou sequer perto, nem a oscarizada Kate Winslet (‘O Leitor’ e ‘Foi Apenas um Sonho’, nem a versátil (e virtuosa) Meryl Streep (‘Dúvida’), nem a surpreendente Anne Hathaway (que, na opinião de CM, era quem deveria Ter levado o prêmio da Academia por ‘O Casamento de Rachel’). Mas o rosto do ano, repetimos, é o da garota de ‘A Bela Junie’, Léa Seydoux.


Léa Sydoux, 'A Bela Junie': imagem que cola na mente

Diretor:

Dois: o de ‘Valsa com Bashir’, ARI FOLMAN, por embaralhar gêneros de uma maneira totalmente inusitada; e o de ‘Entre os Muros da Escola’, LAURENT CANTET – apesar de não ser exatamente uma novidade na história do cinema, não é fácil sustentar um filme de pouco mais de 2 horas em praticamente um só ambiente.


O Folman da vida real e o do filme


Cantet (à esquerda) e seu protagonista

Confirmação:

OS IRMÃO DARDENNE são mesmo um caso sério.

Quem te viu, quem te vê:

RON HOWARD. Nunca imaginei – mas o cara já voltou pra franquia de filmes inspirados em berst-sellers de supermercado de Dan Brown.

Pra prestar atenção com muito carinho:

O diretor de ‘Tony Manero’, PABLO LARRAIN.
O diretor de ‘Os 3 Macacos’, NURI BYLGE CEYLAN.
O diretor de ‘A Bela Junie’, CHRISTOPHE HONORÉ – que estreia hoje, em POA, ‘Não, Minha Filha, VOC~E Não Irá Dançar’.
O diretor de ‘Se Nada Mais Der Certo’, JOSÉ EDUARDO BELMONTE.

Tá, e aí?

O LEITOR
Stephen Daldry já fez filmes mais legais – e com menos cara de ‘tô louco pra ganhar um Oscar’ –, como ‘Billy Elliot’ e ‘As Horas’.

FOI APENAS UM SONHO
Sigo dando chances a Sam Mendes ... e sigo firme na minha convicção de que trata-se de um impostor.

Menos, bem menos:

A PARTIDA
O drama japonês até que é bonitinho, aquele tipo de historinha simples e edificante ... mas não ndá nem pra saída com pelo menos dois dos candidatos ao Oscar de filme estrangeiro que derrotou – simplesmente os melhores e mais originais filmes do ano (na modesta opinião de CM), ‘Valsa com Bashir’ e ‘Entre os Muros da Escola’.

Decepção:

GRAN TORINO
Também sou fã de carteirinha de vovô Clint, e reconheço que este seu derradeiro filme como ator encaixa-se perfeitamente dentro de sua obra – autor é isso, e lá estão os temas de culpa e redenção, do escroto-turrão-solitário-conservador-intratável-fascista que à medida que envelhece passa a se humanizar, o sujeito que na velhice adquiriu a mínima sabedoria de, pelo menos, rir de si mesmo ... Mas ‘Gran Torino’ não me desceu. Vai ver sou eu o problema. Demagógico, populista, e impregnado daquele patriotismo ianque, que, depois de muito tripudiar em cima dos orientais a suposta supremacia de sua ‘raça’, resolve dau uma de bonzinho, chegando ao cúmulo de sacrificar-se por conta desta súbita ‘transformação’. Eu passo.

Bomba do Ano:

QUEM QUER SER MILIONÁRIO?

Por favor ...

Nas locadoras, pra lavar a alma cinéfila:

GODARD (os da fase boa, ‘O Demônio das Onze Horas’, ‘Weekend’, ‘Band A Part’), TRUFFAUT (todos estão disponíveis atualmente), FASSBINDER (finalmente, ‘Berlin Alexanderplatz’, mas faltam ainda ‘O Medo Devora a Alma’, ‘Effie Briest’, ‘As Lágrimas Amargas de Petra VonKant’), RENOIR (‘A Cadela’, ‘A Besta Humana’, ‘Um Dia No Campo’), BERGMAN (dezenas de títulos, entre eles ‘O Ovo da Serpente’, ‘A Hora do Lobo’, ‘A Paixão de Ana’ ... mas por que não ainda ‘Fanny & Alexander’?), BUÑUEL (‘O Discreto Charme da Burguesia’, ‘A Via Láctea’, ‘Simão do Deserto’), ALTMAN (‘Short Cuts’, até que enfim – mas e ‘O Jogador’, ‘Três Mulheres’, ‘The Long Goodbye’ e principalmente ‘Nashville’, jamais lançado sequer em VHS?), SATYAJIT RAY (a famosa ‘Trilogia de Apu’ e ‘A Sala de Música’), CASSAVETES (exatamente os cinco títulos reclamados aqui no começo do ano, ‘Sombras’, ‘Faces’, ‘O Assassinato do Bokkmaker chinês’, ‘Uma Mulher Sob Influência’ e ‘Noite de Estreia’; quem sabe, ‘Amantes’, ‘Gloria’, ‘Maridos’ e ‘Minnie and Moskowitz’), MELVILLE (‘Exército das Sombras’ e ‘O Círculo Vermelho’), MELIÈS (quinze curtas, entre eles o obrigatório ‘Viagem à Lua’), VISCONTI (‘As Vagas Estrelas da Ursa’ – mas ainda falta ‘Deuses Vencidos’), BABENCO (inacreditavelmente, não havia nem ‘Pixote’, nem ‘Lúcio Flávio’, nem ‘O Beijo da Mulher Aranha até a pouco’), ‘São Bernardo’, ‘A Classe Operária Vai ao Paraíso’, KIESLOWSKY (‘O Decálogo’ preenche uma lacuna de mais de vinte anos), CARNÉ (‘Trágico Amanhecer’), OZU (‘Pai e Filha’, ‘Irmãos da Família’, ‘Contos de Tóquio’, ‘A Rotina tem Seu Encanto’, ‘Ervas Flutuiantes’, ‘Dia de Outono’), MIZOGUCHI (‘Mulheres da Noite’, ‘Utamaro e Suas Cinco Mulheres’ e, claro, ‘Contos da Lua Vaga’; tá saindo ainda o excepcional ‘O Intendente Sansho’, mas poderiam vir também ‘Oharu, a Vida de Uma Gueixa’ e ‘Os Amantes Crucificados’), BRESSON (‘A Grande Testemunha’ e ‘Mouchette, a Virgem Possuída’, dois dos filmes mais tristes de todos os tempos, ‘Lancelot Du Lac’, ‘O Dinheiro’, quem sabe ainda vem em breve ‘Um Condenado À Morte Escapou’?), LUMET (‘O Veredito’ e ‘Rede de Intrigas’, as distribuidoras ainda devem ‘Serpico’ e ‘O Homem do Prego’), ‘If....’, ‘A Pele’, ‘Quinteto de Morte’, ... Ufa! Realmente, não deu pra reclamar! Uma festa.

Welcome back:

MICKEY ROURKE
(Sua surreição é mais assombrosa do que a de John Travolta em ‘Pulp Fiction’, 15 anos atrás)

JONATHAN DEMME
(Se bem que antes de ‘O Casamento de Rachel’ já houvera a versão de ‘Sob o Domínio do Mal’, que não faz feio)

Pergunta que não quer calar (I):
Por que o novo Woody Allen ainda não chegou?

Pergunta que não quer calar (II):
Até quando a Família Barreto?