sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

SONS MAGNÉTICOS DE 2009

Bom, muito bom, até maravilhoso. O ano de 2009, em termos de rock e pop, será lembrado pelos aficionados com um dos mais significativos desta primeira década do Século XXI. O pessoal que gosta de barulho, o que prefere belas melodias, o que curte um som mais calcado nas ‘raízes’, o que se empolga com coisas mais experimentais, o que se emociona com interpretações mais arrebatadas, o que quase goza com cerebralismos ... Todo mundo saiu satisfeito.

Se os 2000 foram a década do crossover por excelência – mais até do que o decênio anterior –, do caldeirão de referências inesgotáveis da música popular global saíram iguarias pra todos os gostos. A síntese, na humilde opinião de CM:

BILL CALLAHAN – I Wish I Was An Eagle

Agora assinando com o próprio nome, o ex-(Smog), um dos baluartes do som lo-fi dos anos 1990, mantém a densidade e as idiossincrasias num dos mais mais belos discos do ano. ‘Jim Cain’ e ‘Too Many Birds’ são de derramar lágrimas.

FEVER RAY – Fever Ray

Karyn Dreijer, metade do duo eletrônico sueco The Field, assombrou o mundo pop em 2009 com seu homônimo debut solo. Se ‘Keep the Streets Empty For Me’ lembra demais o Massive Attack com Sinéad O´Connor de ‘100th Window’ (não que isso seja um grande problema), sobram tiros certeiros, como ‘When I Grow Up’, ‘Seven’, ‘If I Head a Heart’ e ‘Now’s the Only Time I Know’.

PHOENIX – Wolfgang Amadeus Phoenix

O álbum pegajoso do ano – no bom sentido. Sobram faixas grudentas: ‘1901’, ‘Girlfriend’, ‘Rome’, Lizstomania’, ‘Lasso’ – essa mais rock que as outras, mas tão pop quanto. ‘Wolfgang ...’ não só faz emular a velha e boa new wave, mas mostra também uma banda madura. Uma festa. O quarteto parisiense deixou os conterrâneos do Air comendo poeira no ano que passou.

THE ANTLERS - Hospice

O novaiorquino Peter Silberman é o sujeito por trás do Antlers, que vai de folk experimental, um negócio que é ao mesmo tempo épico e minimal. Pode? Pode. Segundo consta, o cara já chegou a gravar um álbum inteirinho na banheira de casa, nos tempos em que os Antlers eram só ele, e não uma banda. ‘Hospice’ tem alguns dos mais belos sones de 2009, como ‘Shiva’ e ‘Two’.

JAPANDROIDS – Post-Nothing

O álbum cacetada do ano. Coincidência ou não, depois do sucesso dos White Stripes, começaram a aparecer um monte de grupos indie bacanas com formação de duo, com apenas um guitarrista/vocalista e um baterista (o Girls, o No Age, ...). Estes canadenses são o melhor destes Ouça ‘Rockers Easts Vancouver’, ‘Young Hearts Spark Fire’ e sobretudo ‘Heart Sweats’ e tente ficar parado.

ANTONY AND THE JOHNSONS – The Crying Light

O outro disco mais bonito do ano, junto com o de Bill Callahan. Antony Hegarty parece carregar toda a tristeza do mundo em faixas como ‘One Dove’, Another World’ e ‘Her Eyes Are Underneath the Ground’. Lou Reed e Björk, com quem já gravou, são fãs de carteirinha do cara.

BIBIO – Ambivalence Avenue

O inglês Stephen Wilkinson é responsável pela surpresa do ano: o mix de folk britânico à la Fairport Convention e electronica, que faz de ‘Ambivalence ...’ um dos álbuns mais exuberantes do ano – e o cara ainda lançou mais dois em 2009, ‘Vignetting the Compost’ e o mix-album ‘The Apple and the Tooth’. ‘Jealous of Roses’, ‘Haikuesque’, ‘Lover’s Carvings’, ... as faixas se sucedem, mantendo o alto nível da primeira à última.

GRIZZLY BEAR – Veckatimest

Este é o disco mais sofisticado da temporada passada: o GB mixa texturas delicadas do folk com experimentalismos do art rock. Mas o ecletismo aqui nãqo significa falta de personalidade ou foco, ao contrário – a unidade é uma das marcas deste terceiro disco de estúdio do quarteto do Brokklyn.

DIRTY PROJECTORS – Bitte Orca

‘Stilness is the Move’ foi eleita recentemente umas das músicas mais representativas do atual bairro mais quente de Nova Iorque, o Brooklyn. Dave Longstreth e seu combo gravaram com o ex-Talking Heads David Byrne e assim como a lendária ex-banda deste e outros grupos da linha de frente da atual safra da big apple – TV On The Radio, Vampire Weekend – bebem da fonte afro. Vicia: experimente ‘Remade Horizon’, ‘Temecula Sunrise’ ou ‘Canibal Resource’.

ANIMAL COLLECTIVE – Merriweather Post Pavillion

Ganhou disco do ano do influente site americano Pitchfork e da revista inglesa Uncut, uma das lehores da atualidade. Leva o prêmio de CM também: melodias à la Beatles, harmonias vocais que lembram os Beach Boys, levada eletrônica que remete aos anos 1980 (de Thomas Dolby a Laurie Anderson), aos 90 (Massive Attack, Björk, Matmos). É tão bom que fica difícil destacar alguma faixa – ‘My Girls’, ‘Lion in a Coma’, ‘Taste’, ‘Summertime Clothes’, ‘Daily Routine’ ... Uma melhor que a outra.

Menções honrosas (e têm!):

GOSSIP – Music For Men
Não entendi bem por que o Gosspi, até pouco tempo atrás o maior candidato a hype entre as bandas alternativas teve recepção tão morna neste novo disco. Quem sabe a superexposição de Beth Ditto, o fato de o disco ser o primeiro lançado por uma grande gravadora, mas nada disso justifica. ‘Music ...’ é cheio de faixas estimulantes, daquelas de levantar até morto: ‘Heavy Cross’, ‘Love Long Distance’, ‘Pop Goes the World’, ‘Four Letter Word’ ... O Gossip toca em março no Brasil – só no Rio e em São Paulo, é claro.

KURT VILE – Childish Prodigy
O cantor e compositor da Filadélfia, ripongão cabeludo de voz largadona, faz um folk estranhão, muito bacana que remete não só aos 60’s mas também a coisas lo-fi dos anos 1990.

THE xx – XX
O grupo inglês, de claríssima influência dos primeiros discos do Cure (‘Three Imaginary Boys’, ‘Seventeen Seconds’), acerta a mão em faixas como ‘Crystalised’ (uma das melhores canções de 2009) e ‘VCR’, mas de tanto exalar tédio ... acaba entendiando o ouvinte lá pela sétima, oitava faixa. Mas os caras são bons, em especial o contraste dos vocais masculinos e femininos e a extrema concisão do som de levada ultra-minimal. Esperamos com ansiedade pelo próximo.

WILD BEASTS - Two Dancers
A provável nova grande banda do pop inglês, pra ocupar o lugar que um dia foi dos Smiths, dos Stone Roses, do Verve e hoje é do Coldplay. Romantismo na medida, refrões ganchudos, performance arrebatada, boas melodias, músicos certeiros. Só o recurso às vezes abusivo dos vocais em falseto do cantor Hayden Thorpe é que às vezes enche o saco.

SUPER FURRY ANIMALS – Dark Days/Light Years
Os galeses passaram incólumes pela ‘síndrome do terceiro disco’ – e do quarto, do quinto, sétimo. Nada da banda do maluco beleza Gruff Rhys dar sinais de acomodação.

PJ HARVEY & JOHN PARISH - A Woman A Man Walked By
Polly Jean novamente lança um álbum co-creditado a seu guitarrista, 13 anos depois de ‘Dance House at Louse Point’, seu disco mais fraquinho, e desta vez a dupla acerta. Não é uma obra-prima, mas PJ jamais decepciona.

NEON INDIAN – Psychic Chasms
O duo texano Alan Palomo e Alicia Scardetta faz pop psicodélico eletrônico intoxicante com alto potencial radiofônico em faixas como ‘6669 (I Don’t Know If You Know)’ e a sugestiva ‘Should’ve Taken Acid With You’.


BEAR IN HEAVEN – Beast Rest Forht Mouth

Estes novaiorquinos do Brooklyn que retiram suas referências do krautrock, da electronica dos anos 1990 e até do prog rock são uma das apostas de CM para o futuro. ‘Beast Rest ...’ é capaz de satisfazer tanto os fãs da música eletrônica quanto roqueiros sem preconceitos. ‘Wholehearted Mess’ é outro dos momentos pra se guardar de 2009.

YACHT – See Mystery Lights
Projeto eletrônico bacana de Jona Bechtolt, natural de Portland, no Oregon – lar de Gus Van Sant e principal polo de uma das mais prolíficas cenas do rock americano das duas últimas décadas, o noroeste do país. ‘The Afterlife’, ‘I’m in Love with a Ripper’ e ‘Psychic City’ são perfeitas pra tocar em festa de maluco. Gravam pelo selo DFA, de James Murphy (LCD Sound System).

TWILIGHT SAD – Forget the Night Ahead
Esse escoceses, que remetem à melancolia dos Smiths, Echo and The Bunnymen e Jesus and The Mary Chain logo, logo farão parte do primeiro time do rock britânico.

MEMORY TAPES – Seek Magic
O luxuoso pop eletrônico de Davye Hawk ainda vai dar muito o que falar.

ATLAS SOUND – Logos
Brad Cox, o vocalista figuraça do Deerhunter, manda muito bem em seu projeto-solo, mais pop, mas ainda assim experimental, e que conta ainda com o auxílio de Noah lennox (Panda Bear, Animal Collective) em ‘Walkabout’, um dos sons mais legais de 2009.

GHAHAM COXON
Faz tempo que os discos do guitarrista do Blur são melhores que os de sua banda. Se parar pra pensar, vai acabar tomando o mesmo rumo que John Frusciante (desde dezembro, ex-Red Hot Chili Peppers).

Pra conferir com atenção:

REIGNING SOUND
Rock’n’roll garageiro da melhor estirpe, com referências a MC5, Stooges, Stones pré-1972, Faces ... Cool, really cool.

WAVVES – Wavvves
Nathan Williams divide o seu tempo entre suas três paixões: o skate, a maconha e a música, não necessariamente nessa ordem. ‘I’m So Bored’ é som de garagem com alto teor pop, barulhenta (tão saturada que o sujeito ouve e acha que a faixa tá com problema), trilha sonora da juventude entediada de 2009.

TIMES NEW VIKING – Born Again Revisited
Punk pop de Columbus, Ohio, já no quarto disco, o segundo pela prestigiada Matador Records. Promete e cumpre.

SUNSET RUBDOWN - DragonslayerÉ um projeto do vocalista e tecladista Spencer Krug (ex-Wolf Parade), lembra muito o T-Rex, Mott the Hoople e o Bowie dos 70’s. Ouça ‘Idiot Heart’.

Veteranos que ainda dão no couro (e bem!):

FLAMING LIPS – Embryonic
A doideira sem limites de Wayne Coyne e cia. ataca agora de Suicide (‘Silver Trembling Heands’), krautrock (‘See The Leaves’) e ainda conta com as participações de gente legal como Karen O e o MGMT. Não chega a ser uma obra-prima, mas o resultado é superlativo, bom pra c*.

SONIC YOUTH – The Eternal
Ó melhor disco do grupo desde ‘Murray Street’ (2002). ‘Antenna’, Leaky Lifeboat’, ‘Anti-Orgasm’ são esporros cool como há tempos a banda não soltava.

DINOSAUR JR. – Farm
J Mascis e Lou Barlow fizeram as pazes – o primeiro havia expulsado o segundo da banda uns vinte anos atrás,e o pobre Lou ainda levou uma guitarrada na cabeça – e nem parece que um dia quebraram os pratos. Impressionante a química do trio, em canções como ‘Pieces’, ‘Over It’, ‘Imagination Blind’ (cantada por Barlow, que aposentou o ótimo Sebadoh e o bom Folk Implosion) e ‘Friends’, que não ficam nada a dever aos grandes momentos do Dino, como os clássicos ‘You’re Living All Over Me’ (1987), ‘Bug’ (88) e ‘Where You Been’ (93). No duro.

YO LA TENGO – Popular Songs
Dos veteranos, quem mais mostrou gás em 2009 foi o trio de Hoboken, terra natal também de Frank Sinatra. ‘Popular ...’ é o melhor Yo La Tengo da década: tem mais sabor de novidade que ‘And Then Nothing Turned Itself Inside-Out’ (2000), renovando o som do grupo com farto uso de teclados e referências à Motown. ‘Avalon or Something Very Similar’, ‘By Two’s’, ‘Nothing to Hide’, ‘If It’s True’ e a rascante ‘Here to Fall’ são canções pra não esquecer.

BUILT TO SPILL – There is No Enemy
Doug Martsch e seus comandados ainda são uma das grandes guitar bands da América, uma espécie de Crazy Horse dos anos 1990 e 2000. Assim como os Flaming Lips, estão há mais de dez anos em uma major (a mesma Warner) mas ainda mantêm o espírito indie.

Vovô do ano:

LEONARD COHEN
É claro. Além de um belíssimo registro ao vivo de dois shows de 2008 (‘Love in London’, CD duplo já disponível no Brasil), teve lançada também finalmente a apresentação no Festival da Ilha de Wight de 1970 (também já saiu no mercado nacional). O resultado de ‘Live in London’ é tão entusiasmante que os planos de parar foram pro saco: já compõe material pra um disco novo. Do poeta, que estreou em disco apenas aos 34 anos (tem 75 hoje), sim, dá pra dizer que envelhece como vinho.


Cohen, 75: ele merece



Mas o agora sessentão BRUCE SPRINGSTEEN merece menção mais que honrosa.


The Boss, aos 60: a mesma garra dos tempos de guri



Merece todo o nosso respeito:

JOHN FRUSCIANTE

Alguém com ambição.

Menos, menos:

FUCK BUTTONS, FLORENCE AND THE MACHINE e GIRLS

Sem querer bancar o chato, mas confesso que não entendi o hype. O terceiro aí é o mais bacaninha.

Troféu ‘Não foi desta Vez’:

MODEST MOUSE

O E.P. ‘No One’s First and You’re Next’ até é bacana, mas de uma das melhores e mais peculiares bandas americanas dos íltimos 15 anos, que conta com o super talentoso compositor Isaac Brock e o ex-guitar hero dos Smiths, Johnny Marr, é de se esperar mais brilho – que aqui aparece em conta-gotas, como em ‘Autumn Beds’.

AIR
Caso típico de ‘tente de novo’.

MAXÏMO PARK
Parecido com Interpol um pouco além da conta.

Reedições (as que CM lembra de cabeça):
PATTI SMITH, NEIL YOUNG, LOU REED, DAVID BOWIE, BEASTIE BOYS, THE SLITS,
THE FEELIES, CAPTAIN BEEFHEART & HIS MAGIC BAND, ROLLING STONES, BEATLES
. Desnecessário comentar que os ‘remasters’ do quarteto são o evento do década.

Datas a serem lembradas (Woodstock já rendeu demais, por favor):

Os trinta anos de lançamento de ‘Entertainment!’, a gloriosa estreia da seminal GANG OF FOUR.
Idem em relação a ‘Cut’, debut das sensacionais SLITS.
Os 50 anos de vida e 30 de carreira do venerável JÚLIO RENY.
Quinze anos sem KURT COBAIN, o último cara com colhões no rock.
Vinte e cino sem MARVIN GAYE, o soulman cuja alma não cabia no corpo.
Os 60 anos do ‘chefão’ BRUCE SPRINGSTEEN.
O ano em que finalmente resolveram fazer um documentário sobre o cara mais louco e genial do rock brasileiro de todos os tempos – ARNALDO BATISTA, é claro.
O ano em que finalmente resolveram encarar a questão SIMONAL – mas cá pra nós, X-9 ou não, o negão era um nojo de tão marrento. Máscara total. Mas era o único capaz de reger sozinho o Maracanazinho entupido de gente como se fosse sua obediente orquestra e encarar Sarah Vaugh sem olhar de baixo pra cima.

Shut Up!:
BONO. Esse realmente abusou, ganhou o troféu ‘por que no te callas?’ de 2009, contrariando aquela velha máxima de que 'em boca fechada não entra mosca'. Aliás, não seria também o caso de ‘quem te viu, quem te vê’?

Pergunta que não quer calar:
As gravadoras e rádios (salvo as exceções de sempre, é claro) jogaram a toalha definitivamente?

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