sexta-feira, 2 de julho de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (41)

Tá aí o programa deste sábado, 03/07, às 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Conforme o anunciado, um especial bacana do Sonic Youth, reunindo os três discos lançados na segunda metade dos anos 1980 - os últimos independentes, antes de asinarem com a Geffen e por lá ficarem quase 20 anos, e também os mais importantes, por serem os atestados definitivos da maturirade do quarteto novaiorquino, equilibrando o noise e as vanguardices da cena no wave com o pop e o rock. Enjoy!


1º bloco: ‘EVOL’ (1986)

O Sonic Youth tinha um míni-LP, dois álbuns e aproximadamente cinco anos de carreira, em 1986, quando o rumo da sua música passou a mudar. Antes associado à cena no wave novaiorquina (Swans, Lydia Lunch), ao lançar ‘EVOL’ abraçava de forma mais direta referências do pop e do rock também – sem deixar de lado as famosas experimentações, como as mudanças de afinações das guitarras, por vezes tocadas com baquetas e até chaves de fenda (!), o farto uso de feedback e drones, criando assim uma atmosfera densa, ruidosa, hipnótica e dissonante, herança das participações de Thurston Moore e Lee Ranaldo na orquestra de guitarras do compositor de vanguarda Glenn Branca, além da influência de compositores minimalistas como John Cage e Steve Reich e o free jazz.

‘EVOL’, lançado em maio de 1986, foi o primeiro disco do Sonic Youth com Steve Shelley na bateria – em substituição a Bob Bert –, o que também colaborou decisivamente para a nova dinâmica da música da banda, e também o primeiro pelo lendário selo californiano SST Records, de Greg Ginn, ex-guitarrista do Black Flag, e que lançou, entre outros, os Meat Puppets, o Hüsker Dü, o Minutemen e o Dinosaur Jr., além do próprio Black Flag. O pessoal do Sonic Youth sempre foi fã da gravadora, com Lee chegando a dizer que era “a única companhia em que nós realmente faríamos tudo para estar”. O terceiro álbum do grupo teve participações de velhos amigos: a doidona Lydia Lunch e o baixista Mike Watt, ex-Minutemen. Esse último credita à convivência com a banda sua decisão de continuar a tocar: deprimido com a morte de seu amigo D Boon, vocalista e guitarrista do Minutemen, em dezembro de 1985, que decretou o fim da banda, havia decidido abandonar a carreira.

Tom Violence
Shadow of a Doubt (*)
Green Light
Express to Yr. Skull


(*) A letra faz referência ao filme homônimo de Alfred Hitchcock, ‘A Sombra de Uma Dúvida’ (1943), e também a ‘Pacto Sinistro’ (1951)


2º bloco: SONIC YOUTH – ‘Sister’ (1987)

Mais equilibrado que o disco anterior na mistura de experimentalismos e melodia, ‘Sister’, lançado em junho de 1987, foi também a confirmação da maturidade do Sonic Youth, e o primeiro em que o senso melódico começa a passar à frente – sem, contudo, deixar de lado as vanguardices que sempre caracterizaram o som do quarteto. É também o primeiro disco conceitual dos caras, parcialmente inspirado em um episódio que marcou a vida do escritor de ficção científica Philip K. Dick (‘Andoides Sonham com Carneiros Elétricos?’, conto que deu origem a ‘Blade Runner’, ‘O Homem Duplo’): o título refere-se à irmã do autor, que morreu logo após o parto, fato que atormentou Dick por toda a vida.

‘Sister’, todo gravado em equipamento analógico, pra dar um ar “vintage” à sonoridade, foi o segundo e último álbum pela SST, e é tido como um dos melhores discos não só do Sonic Youth e do som indie, mas mesmo do rock dos anos 1980, só perdendo para o álbum seguinte do grupo. Foi também o primeiro deles a sair no Brasil, em vinil, pelo selo Stilleto (com distribuição da Eldorado).

Schizophrenia
Tuff Gnarl
White Kross



3º bloco: SONIC YOUTH – ‘Daydream Nation’ (1988)

O disco mais ambicioso do Sonic Youth – era, originalmente, um álbum duplo em vinil –, foi também o último do grupo a sair por um selo independente (o Enigma, com quem a banda teria problemas), em maio de 1988. Foi gravado em um estúdio localizado em um porão em Nova Iorque, com co-produção e engenharia de som de Nick Susano, um sujeito que mal conhecia o grupo. Expert em hip-hop, mostrou para o grupo seu trabalho em ‘Black Steel in the Hour of Chaos’, do Public Enemy, temendo a reação dos caras, mas eles gostaram. Agendaram, então, três semanas de gravações ao custo de U$ 1.000 ao dia, mas as longas jams do quarteto, além da insatisfação de Kim Gordon com alguns de seus vocais, fizeram com que o custo final da empreitada chegasse a U$ 30.000, o que levou Thurston a chamar ‘Daydream Nation’ de “nosso primeiro álbum não econômico”. O método de composição mudou neste quinto álbum do quarteto: ao invés de Thurston levar as ideias básicas de melodias e progressões de acordes para os ensaios, como de costume, o grupo preferiu as improvisações das suas tradicionais jam sessioms, que velhos amigos como Henry Rollins notavam serem uma característica marcante do grupo não muito explorada nos discos.

Lançado em outubro de 1988, ‘Daydream Nation’ agradou de cara, sendo adotado pelas college radios americanas, pela imprensa especializada tanto americana quanto inglesa, e até frequentando as paradas: entrou em 99º lugar nos charts britânicos (o que não deixa de ser considerável para uma banda do undeground) e na 20ª posição da então recém-criada parada de ‘Modern Rock Tracks’ da revista americana Billboard. É, sem dúvida, um clássico do rock: em 2006, foi incluído numa nova leva de 50 álbuns a serem adicionados no Registro Nacional de Gravações da Biblioteca do Congresso Norte-Americano.

Teen Age Riot
Eric’s Trip
(*)
Hey Joni (**)
Candle (***)

(*) baseada no famoso monólogo de Eric Emerson, músico, dançarino e ator, em ‘Chelsea Girls’, filme de Andy Warhol
(**) referência a Joni Mitchel, verdadeira obsessão dos caras, e também à clássica canção ‘Hey Joe’, de Billy Roberts, imortalizada por Jimi Hendrix
(***) faz referência às velas queimando que estampam a capa e a contra-capa do disco, trabalho do artista alemão Gerhard Richter intitulado ‘Kerze’ (‘vela’, ou ‘candle’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário