"Para criar o personagem que se tem em mente, é necessário ao diretor engajar-se numa batalha com seu ator que geralmente termina com a submissão ao desejo do ator. Como não tenho o menor desejo de gastar minha energia em uma batalha como essa, eu apenas uso atores profissionais ocasionalmente".
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"A imagem é algo totalmente diferente. É totalmente inocente. Há nela algo de virginal.
Uma ideia estabelecida determina que a imagem é subjetiva. Isto é falso. Em todo o caso, podemos dar-lhe elementos suficientes para que alcance grande subjetividade.
No meu filme Il Messia, a maneira pela qual os apóstolos-pescadores vão pescar é tão importante para compreender o pensamento de Jesus quanto sua palavra. Inversamente, para que essa palavra adquira sua significação total, é necessário que o homem que se expressa seja situado em seu contexto histórico preciso.
Por esta razão, dou tanta importância aos detalhes em meus filmes, e também, por isso, utilizo planos-sequência em que posso introduzir uma quantidade de mensagens suficientes para permitir a todos uma abordagem segundo sua própria natureza.
Censuram-me muito por não fazer nenhum esforço para seduzir e por filmar 'frio'. É bem verdade que recuso, acima de tudo, o falso calor e que nunca tomo o espectador pelo braço para dizer-lhe: 'Olhe assim, pense assim; atenção, agora você tem de se emocionar!'.
Quero que as coisas gerem outras coisas, este é o grande debate."
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"Foi para trazer, na medida de minhas modestas possibilidades, a primeira pedra destinada à construção de um tal projeto que, há 15 anos, inaugurei a série de meus filmes 'educativos': Pascal, L'Etat del Ferro, Il Messia, A Tomada do Poder por Luís XIV, etc.
Antes, eu também havia produzido espetáculos à minha maneira. Roma, Cidade Aberta continha uma análise da sociedade, mas uma grande ambiguidade de ordem estética flutuava no filme. Era um cinema inconsciente. No dia em que tomei consciência do que havia feito e do que queria fazer, retirei-me do sistema e abandonei esse mundo de aparências, que se vinga ao me considerar um fantasma.
'Rosselini, mas ainda existe?', um dos maiores distribuidores italianos perguntava a um de meus amigos, há alguns meses. O que se equivalia dizer: 'se nem Fulano nem Fulana fazem sua distribuição, e se não vou financiá-lo, é que está morto!' Atitude lógica. Está claro que essas pessoas e eu não temos o mesmo ofício."
(Roberto Rossellini, cuja data de nascimento completa hoje 103 anos. Pai espiritual do neo-realismo italiano, com o seminal 'Roma, Cidade Aberta', de 1945, migrou mais tarde para a televisão, onde, em vez de buscar um confortável refúgio, continuou experimentando. A editora Nova Fronteira lançou por aqui, em 1992, seu 'Fragmentos de Uma autobiografia', contundente manifesto publicado já postumamante em 1977, e dividido em sete ensaios: 'A sociedade do espetáculo', 'Da ignorância', 'Italianissimo', 'Aos franceses', 'Famílias', 'Sobre Uma Caixa de Prata' e 'Índia'.)
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"A imagem é algo totalmente diferente. É totalmente inocente. Há nela algo de virginal.
Uma ideia estabelecida determina que a imagem é subjetiva. Isto é falso. Em todo o caso, podemos dar-lhe elementos suficientes para que alcance grande subjetividade.
No meu filme Il Messia, a maneira pela qual os apóstolos-pescadores vão pescar é tão importante para compreender o pensamento de Jesus quanto sua palavra. Inversamente, para que essa palavra adquira sua significação total, é necessário que o homem que se expressa seja situado em seu contexto histórico preciso.
Por esta razão, dou tanta importância aos detalhes em meus filmes, e também, por isso, utilizo planos-sequência em que posso introduzir uma quantidade de mensagens suficientes para permitir a todos uma abordagem segundo sua própria natureza.
Censuram-me muito por não fazer nenhum esforço para seduzir e por filmar 'frio'. É bem verdade que recuso, acima de tudo, o falso calor e que nunca tomo o espectador pelo braço para dizer-lhe: 'Olhe assim, pense assim; atenção, agora você tem de se emocionar!'.
Quero que as coisas gerem outras coisas, este é o grande debate."
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"Foi para trazer, na medida de minhas modestas possibilidades, a primeira pedra destinada à construção de um tal projeto que, há 15 anos, inaugurei a série de meus filmes 'educativos': Pascal, L'Etat del Ferro, Il Messia, A Tomada do Poder por Luís XIV, etc.
Antes, eu também havia produzido espetáculos à minha maneira. Roma, Cidade Aberta continha uma análise da sociedade, mas uma grande ambiguidade de ordem estética flutuava no filme. Era um cinema inconsciente. No dia em que tomei consciência do que havia feito e do que queria fazer, retirei-me do sistema e abandonei esse mundo de aparências, que se vinga ao me considerar um fantasma.
'Rosselini, mas ainda existe?', um dos maiores distribuidores italianos perguntava a um de meus amigos, há alguns meses. O que se equivalia dizer: 'se nem Fulano nem Fulana fazem sua distribuição, e se não vou financiá-lo, é que está morto!' Atitude lógica. Está claro que essas pessoas e eu não temos o mesmo ofício."
(Roberto Rossellini, cuja data de nascimento completa hoje 103 anos. Pai espiritual do neo-realismo italiano, com o seminal 'Roma, Cidade Aberta', de 1945, migrou mais tarde para a televisão, onde, em vez de buscar um confortável refúgio, continuou experimentando. A editora Nova Fronteira lançou por aqui, em 1992, seu 'Fragmentos de Uma autobiografia', contundente manifesto publicado já postumamante em 1977, e dividido em sete ensaios: 'A sociedade do espetáculo', 'Da ignorância', 'Italianissimo', 'Aos franceses', 'Famílias', 'Sobre Uma Caixa de Prata' e 'Índia'.)
Um pedaço da história: 'Roma, Cidade Aberta'
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