Bota magnética nisso. Tão magnética que, apesar de pesar (bem) mais de 100 quilos – ela diz que são só 97, mas repara na foto aí e me diz se é só isso –, não apenas virou musa fashion como adquiriu até um inusitado status de símbolo sexual. É mole? Com certeza – na região abdominal, nas cochas, nos braços, no pescoço, por tudo –, mas pelo jeito há quem goste: ela foi considerada a "Mulher Mais Sexy do Ano" pelo semanário britânico New Musical Express em 2007. Um ano antes, já tinha sido eleita pelo mesmo NME a pessoa mais cool do rock atual. De lá pra cá, capas e mais capas de revistas bacanas, algumas delas nuazinha em pelo – como o primeiro número da Love, cuja matéria de capa destacava os "Ícones de nossa geração: Iggy Pop, Amy Winehouse, Lilly Allen, Eva Mendes, Courtney Love, Anjelica Huston, Kate Mosso, Pixie Geldof (filha de Bob), Sofia Coppola, ... e ela, Beth Ditto.
A gordinha simpática é vocalista do The Gossip, trio formado no Arkansas de Bill Clinton há 10 anos, mas que tem sua base em Olympia, estado de Washington, no gelado noroeste dos Estados Unidos, perto de Seattle e Portland, no Oregon, epicentro da mais profícua cena rock daquele país desde antes do grunge – é também entre Portland e Olympia que a gravadora Kill Rock Stars, que lançou os três discos de estúdio do Gossip, mantém suas bases. O Gossip apareceu pro mundo pop principalmente por conta de uma turnê com o White Stripes, em 2001, e além de Beth tem ainda o guitarrista Nathan e a baterista Kathy, o que reforça as comparações com a banda de Jack e Meg White: as duas formações não têm baixista, o som é indie rock lo-fi, econômico, mesclado com as raízes da música americana. Mas o negócio para por aí: enquanto os WS carregam no blues e no folk, o vozeirão de Beth e a levada pegajosa de Nathan apontam para o groove do soul e do funk. As performances de palco são contagiantes, pra quem já teve a oportunidade de vê-los, nem que seja no Youtube. Não foi o meu caso.
Uns dois anos atrás, na Usina do Gasômetro, tava passando um documentário excelente – na minha modesta opinião, um dos melhores filmes desta década fácil, fácil –, chamado ‘Tarnation’ (muito em breve pauta aqui do blog), feito com pouquíssim grana e muita inventividade, de um cineasta americano, Jonathan Caouette. A Coordenadoria de Cinema e Vídeo trouxe o cara, não só pra mostrar o ‘Tarnation’, nunca lançado no Brasil, mas também pra uma palestra e exibições de outros trabalhos seus, e entre esses, um outro documentário sobre o festival alternativo ‘All Tomorrow’s Parties’, que já teve curadoria de Morrissey e do Sonic Youth, entre outros. Lá pelas tantas, entre as loucuras de bastidores daquela galera escalada pro evento e cenas de shows de vários grupos, eis que aparece uma banda fazendo um som contagiante com o mínimo de recursos, muita pegada e muito suíngue, e com uma vocalista enorme, mas sem o menor medo de ser feliz, surpeendentemente se movimentando sem parar, e dotada de um vozeirão de cantora black de arrepiar. O Cauoette, a quem já tínhamos cumprimentado após a exibição de ‘Tarnation’, dias antes, passava por trás da platéia presente, e eu tive de perguntar: como é o nome da banda da gordinha? "The Gossip", ele respondeu. "Cool, isn’t she?". "Definately". Corri pra internet. ‘That’s Not What I Heard’ (2000), ‘Movement’ (2003) e ‘Standing in the Way of Control’ (2005) são os ótimos discos de estúdio, todos lançados pela Kill Rock Stars. ‘Undead in NYC’ (200) e ‘Live in Liverpool’ (2008) são os ao vivo. ‘That’s Not ...’ e ‘Standing ...’, pra quem quiser baixar, cabem em um único CD. Pudera, as músicas do Gossip são curtíssimas: no primeiro álbum, a mais longa faixa é ‘Heartbeats’, que não chega a 2 minutos e 30 segundos. Ou seja, O Gossip o pessoal do Gossip é daqueles que reza rigorosamente pela cartilha do indie rock: menos sempre é mais. E o negócio pega forte: experimenta ficar parado ao ouvir ‘Yr Mangled Heart’, por exemplo.
Mas voltando a Beth. A moça, além de carisma pessoal, grande voz e o inusitado que faz dela uma figura sui generis no universo rock de hoje, tem atitude de sobra, e é isso que a faz ser a personagem que é. ‘Standing in the Way of Control’, a música ("We live our lives/Because we're standing in the way of control"), é uma resposta irada à decisão governamental de vetar casamentos de pessoas do mesmo sexo – Beth, além de lésbica assumida, é defensora ferrenha e implacável dos direitos dos gays, e feminista convicta. Até pousou peladona pra capa da revista erótica On Our Backs, dedicada ao público gay feminino, o que define como um grande momento de sua vida. Também costuma tirar a roupa em pleno palco, mostrando não só a avantajada comissão de frente, mas o resto todo, incluindo a perereca. Protestou contra a rede de lojas Topshop, por esta não disponibilizar roupas pra gente do tamanho dela – prontificou-se, inclusive, a projetar ela mesma os modelos. Canta ‘Smells Like Teen Spirit’ nos shows de sua banda. Considera-se punk de carteirinha e tem verdadeira devoção pelo X-Ray Spex, grupo britânico da safra 1977 (geração dos Pistols, Clash, Damned, Buzzcocks, ...), que legou ao mundo o clássico ‘Free Germ Adolescents’ (1978) e tinha na vocalista Poly Styrene uma das figuras mais emblemáticas do punk londrino, e cujo single de estreia, ‘Oh Bondage, Up Yours!’, um potente libelo feminista. Um ano atrás, quando o grande assunto do showbizz era uma possível volta do Led Zeppelin, Beth deu de ombros: "não poderia me importar menos com isso. Sinceramente, preferia que fosse o X-Ray Spex quem estivesse voltando". Também diz que não depila as axilas nem usa desodorante, já foi parar num hospital psiquiátrico e namora um rapaz – travesti, a mulher do casal, obviamente.
Beth, que quase apresentou-se no Brasil ano passado com sua banda – o Gossip tava escalado pro Tim Festival, mas cancelou na última hora –, tem um disco solo, não lançado, com produção do lendário Calvin Johnson, líder do influente Beat Happening e dono da K Records, de Olympia, Washington (Kurt Cobain tinha o símbolo da K tatuado no braço). Com Johnson, gravou a faixa ‘Lightning Rod for Jesus’, que aparece no álbum solo dele de 2002, ‘What Was Me’. Aproveitando o prestígio angariado junto aos modernos – fez amizade com Kate Moss e recebe regularmente consultoria fashion da top magrela –, escreve uma coluna semanal no respeitabilíssimo jornal inglês The Guardian, todas as sextas-feiras, intitulada ‘O Que Faria Beth Ditto?’ (te mete!). Mora em Portland. Veio pra ficar, não há dúvida.
A fofucha Beth Ditto, novo sex symbol e ícone fashion, na Love, no NME e indo às compras com Kate Moss: e aí, que tal?
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