A intimação veio com a confirmação do evento, lá por julho/agosto. A rainha estaria entre nós, e Neném disse que tinha de ir. Ok, também sempre fui fã. Mais: sempre considerei legítima sua majestade. Só que não tenho mais saco pra viagens de fim-de-semana só pra curtir shows. Em 96, cabia o bate-e-volta pra ver os Pistols em Sampa, mas hoje ... Porém, quando Neném pronuncia o nome certo – em vez de "Rio" ou "São Paulo", o mui mas hermoso "Buenos Aires" -, basta: sua majestade do lar ganhou mais uma. Mas percalços surgiriam.
Primeiro, baldeação aeroviária: subir até SP só pra descer tudo de novo (?!), aterrissar em Congonhas e rumar pra Guarulhos. Ali, o necessário lanchinho sai por quase 20,00 - beirute (com carne velha) e suco de laranja (sem gosto), numa lanchonete que tem filiais em POA. O resto da viagem é dedicado a atividades nobres: leitura e sono. Num rápida sacada na "tripulação", o que mais tem são patys e maurícios deslumbrados à procura de "um evento de primeiro mundo", desses que quase nunca vêm a POA.
No desembarque no destino final, a velha alegria. Mas no trajeto de Ezeiza até o hotel, vejo que aqueles casebres, raros há vinte anos, já se transformaram em barracos, multiplicando-se barbaramente: por aí, Buenos Aires já se parece com POA, Rio ou São Paulo. Do hotel, a primeira impressão é boa, mas ao chegar ao quarto o ar condicionado não funciona. No café-da-manhã, ao menos, o velho padrão de qualidade. Confiro os jornais. No La Nación, o Estudiantes ainda chora a arbitragem da final da Sul-Americana, ocorrida há três dias no Beira-Rio, e El Cabezón D’Alessandro demonstra sua "evidente alegria" com o momento no Inter e a vida em Porto Alegre. No Clarín, um colunista narra o encontro entre Madonna e a Presidente Cristina Kierchner na Casa Rosada. Diz que os homens foram o tema da charla: a recém-separada cantora perguntou à Chefe de Estado há quantos anos é casada com Néstor Kierchner. "Há 33", foi a resposta. Madonna a cumprimentou e colocou seu caso como contraponto. "Cristina, que é uma dama", diz o texto, "escutou em tom compreensivo. E privou-se de comentar sua frutífera vida com Néstor ..., a qual mais de uma vez ambos mencionaram em público". Falaram ainda da eleição de Obama, e a coluna fecha com fofoca: a popstar quer conhecer o ex-delantero da seleção Gabriel Batistuta.
Após o café, hora de sacar los tickets. Na loja, o cara se dá conta de que pagamos a mais pelo envio que não houve (única opção na hora da compra pela internet, depois receberíamos comunicado de que não disponibilizam este serviço pro exterior!). Sim, boludo, entonces la plata ... "No. Tu te equivocaste!". Argentino é ruim de negócio. Próxima parada, Palermo. Em vários locais que entramos, tocam MPB, com a devida reverência ao que é clássico, mas com o senso de que aquilo é também pop na essência (desnecessário comentar a falta dessa noção no pessoal das gravadoras e rádios por aqui). Há espaços generosos de música brasileira nas lojas, algumas mais bem nutridas que muita loja grande do BR, e o anúncio de um show do Celso Viáfora, saudado com um dos grandes compositores da MPB atual. Nas livrarias, o tradicional banquete, mas não dou sorte. Entusiasmado com o Perec que acabara de ler, confiro se não tem A Vida – Modo de Usar, há anos esgotado no BR. Lá, também. Os pockets não tão baratos: Os Inomináveis, Los Enfant Terribles, ... entre 40 e 50 pesos. (Os da L&PM são mais em conta; por outro lado, nas coleções dos hermanos não há livros de culinária ou de dicas para uma vida saudável). Rápida passagem pela Recoleta, Ateneo, hotel. Novo contato com a recepção e a promessa de que o ar vai finalmente ser consertado. Na volta, o problema persiste. Mas o golpe duro percebemos na manhã seguinte.
São 11h quando Neném volta à sala do café. Pálida. Trêmula. Sim: os ingressos desapareceram. De dentro da mala, no quarto do hotel. Tá certo que os deixamos no bolso de fora da mala, coisa bovina mesmo, mas o ocorrido é incompatível com um estabelecimento que ostenta 4 estrelas. Pior ainda o encaminhamento dado ao caso pela "administração": nenhum. A atendente, uma ruiva evidentemente mal amada, inverte as coisas - de vítimas passamos a culpados -, e até ironiza nosso pedido de providências. Niña de mierda. O gerente é mais educado, mas sabe que voltamos no dia seguinte - pra uma medida judicial, só voltando ao país, contratando advogado local, .. -, óbvio que não vai se coçar. Restam o B.O. na comisaria de policia e a resignação. E a sorte (?) de conseguir comprar os ingressos de novo: uns chilenos não podem ficar e resolvem negociar as entradas - que serão pagas pela minha prestativa cunhadinha, pois a grana, menos de 24h do vôo de volta, já tá escaesseando (e aquela caixa de 5 CD's do Dylan - Biograph - a 135 pesos e tenisinho Adidas por 300 vão ter mesmo de ficar pra outra). Que o show mais caro de nossas vidas ao menos valha a pena, e não se fala mais nisso.
* escrito (e reescrito diversas vezes) entre dezembro (desde o penúltimo dos quatro shows de Madonna na Argentina, em 07/12/2008) e janeiro de 2009
Primeiro, baldeação aeroviária: subir até SP só pra descer tudo de novo (?!), aterrissar em Congonhas e rumar pra Guarulhos. Ali, o necessário lanchinho sai por quase 20,00 - beirute (com carne velha) e suco de laranja (sem gosto), numa lanchonete que tem filiais em POA. O resto da viagem é dedicado a atividades nobres: leitura e sono. Num rápida sacada na "tripulação", o que mais tem são patys e maurícios deslumbrados à procura de "um evento de primeiro mundo", desses que quase nunca vêm a POA.
No desembarque no destino final, a velha alegria. Mas no trajeto de Ezeiza até o hotel, vejo que aqueles casebres, raros há vinte anos, já se transformaram em barracos, multiplicando-se barbaramente: por aí, Buenos Aires já se parece com POA, Rio ou São Paulo. Do hotel, a primeira impressão é boa, mas ao chegar ao quarto o ar condicionado não funciona. No café-da-manhã, ao menos, o velho padrão de qualidade. Confiro os jornais. No La Nación, o Estudiantes ainda chora a arbitragem da final da Sul-Americana, ocorrida há três dias no Beira-Rio, e El Cabezón D’Alessandro demonstra sua "evidente alegria" com o momento no Inter e a vida em Porto Alegre. No Clarín, um colunista narra o encontro entre Madonna e a Presidente Cristina Kierchner na Casa Rosada. Diz que os homens foram o tema da charla: a recém-separada cantora perguntou à Chefe de Estado há quantos anos é casada com Néstor Kierchner. "Há 33", foi a resposta. Madonna a cumprimentou e colocou seu caso como contraponto. "Cristina, que é uma dama", diz o texto, "escutou em tom compreensivo. E privou-se de comentar sua frutífera vida com Néstor ..., a qual mais de uma vez ambos mencionaram em público". Falaram ainda da eleição de Obama, e a coluna fecha com fofoca: a popstar quer conhecer o ex-delantero da seleção Gabriel Batistuta.
Após o café, hora de sacar los tickets. Na loja, o cara se dá conta de que pagamos a mais pelo envio que não houve (única opção na hora da compra pela internet, depois receberíamos comunicado de que não disponibilizam este serviço pro exterior!). Sim, boludo, entonces la plata ... "No. Tu te equivocaste!". Argentino é ruim de negócio. Próxima parada, Palermo. Em vários locais que entramos, tocam MPB, com a devida reverência ao que é clássico, mas com o senso de que aquilo é também pop na essência (desnecessário comentar a falta dessa noção no pessoal das gravadoras e rádios por aqui). Há espaços generosos de música brasileira nas lojas, algumas mais bem nutridas que muita loja grande do BR, e o anúncio de um show do Celso Viáfora, saudado com um dos grandes compositores da MPB atual. Nas livrarias, o tradicional banquete, mas não dou sorte. Entusiasmado com o Perec que acabara de ler, confiro se não tem A Vida – Modo de Usar, há anos esgotado no BR. Lá, também. Os pockets não tão baratos: Os Inomináveis, Los Enfant Terribles, ... entre 40 e 50 pesos. (Os da L&PM são mais em conta; por outro lado, nas coleções dos hermanos não há livros de culinária ou de dicas para uma vida saudável). Rápida passagem pela Recoleta, Ateneo, hotel. Novo contato com a recepção e a promessa de que o ar vai finalmente ser consertado. Na volta, o problema persiste. Mas o golpe duro percebemos na manhã seguinte.
São 11h quando Neném volta à sala do café. Pálida. Trêmula. Sim: os ingressos desapareceram. De dentro da mala, no quarto do hotel. Tá certo que os deixamos no bolso de fora da mala, coisa bovina mesmo, mas o ocorrido é incompatível com um estabelecimento que ostenta 4 estrelas. Pior ainda o encaminhamento dado ao caso pela "administração": nenhum. A atendente, uma ruiva evidentemente mal amada, inverte as coisas - de vítimas passamos a culpados -, e até ironiza nosso pedido de providências. Niña de mierda. O gerente é mais educado, mas sabe que voltamos no dia seguinte - pra uma medida judicial, só voltando ao país, contratando advogado local, .. -, óbvio que não vai se coçar. Restam o B.O. na comisaria de policia e a resignação. E a sorte (?) de conseguir comprar os ingressos de novo: uns chilenos não podem ficar e resolvem negociar as entradas - que serão pagas pela minha prestativa cunhadinha, pois a grana, menos de 24h do vôo de volta, já tá escaesseando (e aquela caixa de 5 CD's do Dylan - Biograph - a 135 pesos e tenisinho Adidas por 300 vão ter mesmo de ficar pra outra). Que o show mais caro de nossas vidas ao menos valha a pena, e não se fala mais nisso.
* escrito (e reescrito diversas vezes) entre dezembro (desde o penúltimo dos quatro shows de Madonna na Argentina, em 07/12/2008) e janeiro de 2009
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