sexta-feira, 13 de agosto de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (45)

Sorry, moçada. O playlist do penúltimo programa só vai hoje, com quase uma semana de atraso. Sorry again: neste sábado, 14, também não vai ter programa, pois acontece a cerimônia de encerramento do Festival de Gramado. Mas no próximo, tem especial, um programa inteirinho dedicado aos 'cowpunks' originais, os Meat Puppets, ainda hoje na ativa, mas só com as gravações clássicas dos anos 1980. Enjoy.


1º bloco:

16 HORSEPOWER – South Pennsylvania Waltz

Banda formada em 1992 em Denver, no Colorado, um dos baluartes do chamado ‘alt country’ (o country alternativo), veículo de David Eugene Edwards, cantor, compositor e múlti-instrumentista (ele toca guitarra, banjo e bandoneon), que também tem outro projeto muito bacana chamado Woven Hand, que a gente mostra num dos próximos programas. Edwards é filho de um pastor e a religiosidade do pai o influenciou de maneira decisiva: as letras do 16 Horsepower são carregadas de imagens cristãs e temas como culpa e redenção – ao estilo de Nick Cave, de quem Edwards é fã confesso. Além das referências da música americana de raiz (country, folk, bluegrass), o som do grupo também tinha forte apelo do rock gótico, em especial Joy Division e Gun Club (de quem regravou a clássica ‘Fire Spirit’), o que lhe valeu a fama de Ter criado um novo gênero, o ‘gothic americana’. Por “diferenças pessoais, espirituais e políticas”, a banda se separou em 2005. Deixou um E.P., dois álbuns ao vivo, quatro discos de carreira e uma coletânea excelente chamada ‘Olden’ (2003), com versões nunca lançadas de canções antigas.

BEACHWOOD SPARKS – Confusion is Nothing New
Grupo de Los Angeles, claramente influenciado pelo country rock psicodélico sessentista de Byrds, Love e Buffalo Springfield, formado em 1997, encerrou as atividades em 2002, mas voltou à ativa em 2008. Tem como figuras centrais o baixista Brent Rademaker, que também tem uma outra banda muito legal, chamada The Tyde, e o cantor e guitarrista Chris Gunst, ex-Strickly Ballroom – os dois integravam antes um grupo chamado Further. O Beachwood Sparks tem dois elogiados álbuns, sendo que o primeiro, homônimo, lançado em 2000, tem uma sonoridade mais mais rock, enquanto que o segundo, ‘Once We Were Trees’ (2001), é mais viajandão, tem uma sonoridade mais ‘spacey’ – não por acaso um resenhista definiu o som dos caras como “cosmic country-pop”. Atualmente, os caras trabalham em um novo disco.

UNCLE TUPELO – Gun
Talvez a mais mítica dessas bandas de country alternativo, não só por ter sido uma das primeiras a fundir a fúria punk à música caipira americana, mas também por contar com dois carismáticos cantores/guitarristas/compositores que formaram outras duas bandas que deram o que falar depois: Jeff Tweedey é o líder do incensado Wilco, enquanto que Jay Farrar é o cabeça do Son Volt. O Uncle Tupelo, que tirou seu nome de uma clássica canção gospel, durou apenas 7 anos, deixou quatro cultuados álbuns, incluindo o clássico ‘No Depression’ (1990), cujo título virou sinônimo de artistas de rock alternativo que se voltam para as raízes da música americana, e ‘March 16-20, 1992’, gravado ao vivo em estúdio pelo guitarrista do R.E.M., Peter Buck. Mas o disco que talvez melhor traduza esse mix Hank Williams/Leadbelly/Replacements/Hüsker Dü do grupo seja o segundo, ‘Steel Feel Gone’, de 1991. Com o estremecimento das relações entre Tweedy e Farrar, o UT encerrou as atividades em 1994, com o primeiro levando o baterista original, Mike Heidorn, para o Wilco, e o segundo o seu substituto, Ken Coomer, e os múlti-instrumentistas John Stirratt e Max Johnson para o Son Volt.

2º bloco:

PANDA BEAR – Slow Motion

Incensado projeto do prolífico Noah Lennox, também fundador do quentíssimo Animal Collective e integrante de outros grupos como Jane e Together. O PB faz som eminentemente eletrônico, de referências múltiplas e variadas, e Noah se vira em várias funções: além de ser o cantor de peculiar timbre de voz (começou cantando em corais de igreja nos tempos de colégio), pilota teclados, samplers, toca guitarra e até bateria – na turnê mais recente do Animal Collectvie, era ele o percussionista (se diz influenciado por Stewart Copeland, do Police). O Panda Bear tem três álbuns, sendo que o mais recente, ‘Person Pitch’, de 2007, foi eleito disco do ano pelo site Pitchfork. O novo single, ‘Tomboy’, saiu este mês.

HOW TO DESTROY ANGELS – A Drowning
Nova banda do atormentado Trent Reznor, que deu férias por tempo indeterminado para o Nine Inch Nails ano passado, depois de 20 anos de atividades. O How To Destroy Angles, que tirou seu nome de um single do Coil lançado em 1984, tem ainda a cantora indiana Mariqueen Maandig, mulher de Trent, e o múlti-instrumentista e produtor Atticus Ross, velho colaborador do NIN, e é um projeto novíssimo: iniciou pouco tempo depois do último show do Nine Inch Nails, em setembro de 2009. Segundo os mais rigorosos, trata-se de um Nine Inch Nails com uma mulher no vocal, pois o grupo também faz um rock eletrônico denso, que tem referências que vão do som industrial ao trip-hop, do som gótico à IDM, mas a presença de Mariqueen, que contribui para uma atmosfera mais sensual e onírica, faz toda a diferença. Todo o material lançado pela banda é deste ano: um E.P homônimo de 6 faixas, o singleA Drowning’, colocado na rede para free download, o vídeo de ‘True Believers’ e a faixa ‘The Believers’, disponível num iPad lançado pela revista Wired.

FLYING LOTUS – Mmmhmm
Codinome de um cidadão californiano de Los Angeles chamado Steven Ellison, 26 anos, que fez fama com o tema da animação ‘Adult Swim’, do Cartoon Network, e desde então vem fazendo música eletrônica experimental, com uma penca de referências bacanas: hip-hock, jazz, trilhas de filmes blaxploitation, techno, house, drum’n’bass, IDM ... Ellison geralmente faz a música no seu laptop, manipula tapes e toca-discos, mas no mais recente, ‘Cosmogramma’, lançado em maio deste ano, há também a colaboração de músicos, responsáveis por guitarras, baixos, instrumentos de sopro, cellos, violinos e até harpa. Curiosidade: Ellison é sobrinho de Alice Coltrane, grande compositora e pianista do jazz e viúva do mestre John Coltrane.


3º bloco: LYDIA LUNCH – ‘Queen of Siam’ (1980)

Lydia Koch, 51 anos (nascida em 2 de junho de 1959 em Rochester, Nova Iorque), é uma das personagens mais sui generis da música americana das últimas três décadas: começou fazendo parte da barulhenta cena no wave novaiorquina, gravou um disco com influência do jazz e do pop sessentista, passou a gravar discos apenas falados, atuou em e dirigiu filmes underground, sempre mantendo a postura feroz, provocativa, anti-comercial e niilista. Também teve sua vida marcada pelo uso abusivo de drogas pesadas, em especial a heroína.

Lydia chegou à big apple aos 16 anos, e logo passou a viver em uma comunidade de artistas, onde recebeu seu nome de guerra: como ela tinha o hábito de roubar os almoços dos outros, passaram a chamá-la “Lydia Lunch”. E foi depois de um show do Suicide, no lendário Max’s Kansas City, que decidiu abraçar a carreira musical, formando o Teenage Jesus & The Jerks, grupo noise do qual fazia parte também o saxofonista James Chance. O Teenage e os Contortions, a banda liderada por Chance, fariam parte do clássico álbum-manifesto ‘No Wave’, produzido por Brian Eno, lançado em 1978, e que contava também com o DNA de Arto Lindsay e um grupo chamado Mars. No mesmo ano, Lydia também participou do disco de estreia dos Contortions, ‘Off White’, usando o pseudônimo “Stella Rico”, e também atuou no filme ‘Black Box’, curta-metragem dirigido pelo casal de cineastas indie Scott e Beth B, no qual fazia o papel de uma torturadora. Na sequência, viriam outras participações em filmes underground, sendo o mais notório deles ‘Fingered’, de Richard Kern, em que faz cenas de sexo explícito. Alguns dos filmes dos quais participou ele mesmo escreveu e dirigiu.

‘Queen of Siam’, seu álbum de estreia solo, foi gravado em Nova Iorque em 1979 com arranjos do craque Billy VerPlanck, lendário trombonista e arranjador que trabalhou com big bands famosas como a de Tommy Dorsey, e lançado um ano depois. Tinha também o não menos lendário Robert Quine, e-guitarrista de Richard Hell e Lou Reed, e a própria Lydia, além de cantar suas composisções e versões de clássicos como a lúgubre ‘Gloomy Sunday’ e a solar ‘Spooky’, também faz solos de guitarra em duas faixas. O álbum saiu pelo selo Triple X e foi reeditado em CD ano passado pela gravadora Chery Red. Como todos os trabalhos de Lydia, apesar de elogiado, pouca repercussão teve em termos de vendas.

Dois anos depois, a rainha das trevas da cena novaiorquina lançaria ‘13.13’ com o auxílio de integrantes dos Weirdos, e uma série de colaborações viria, com gente como o Birthday Party de Nick Cave, os alemães experimentais do Die Haut, o Sonic Youth, os alemães nervosos do Einsturzende Neubauten, o maluco Michael Gira, ex- Swans, entre outros. Nos anos 1990, teve um grupo de curtíssima duração com Kim Gordon (Sonic Youth) chamado Harry Crews, homenagem ao escritor cult americano, e seguiu lançando seus discos apenas falados – faceta que dominou sua obra principalmente na primeira metade da década de 2000 –, com parcerias que vão desde sua amiga Exene Cervenka (ex-vocalista do X) ao romancista que deu voz ao submundo novaiorquino, Hubert Selby Jr. (de ‘Réquiem para Um Sonho’ e ‘Última Saída para o Brooklyn’). Sua carreira literária tem resultados controversos, segundo os resenhistas. Em 1997, publicou sua autobiografia, ‘Paradoxia’, em que abordava sem rodeios sua infância, a agitada vida sexual, o uso abusivo de drogas e também seus problemas psíquicos. Seu último disco é do ano passado, ‘Big Sexy Noise’, do grupo homônimo que mantém com James Johnston, Terry Edwards e Ian White.

Mechanical Flattery
Gloomy Sunday
Spooky
Atomic Bongos
Lady Scarface

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