“Estávamos assistindo à guerra às 18:30 no jornal, todos os dias. O governo não havia prendido a controlar a mídia nestes assuntos, ainda. Assistimos imagens, diretas, de pessoas explodindo, corpos e sangue, de crianças morrendo ... Tudo isso deu início ao movimento pacifista. Da mesma forma que o movimento dos direitos civis teve seu início com imagens de cães mordendo as pessoas negras. Cães que os policiais e xerifes soltavam e que atacavam os negros no chão. Quando assistimos a essas imagens, o país inteiro acordou”.
“Comecei na época das câmeras leves, que de repente estavam seguindo as pessoas, com câmeras leves de 16 mm. Vimos o que pensávamos ser os Maysles (NOTA: os irmãos Albert e David, documentaristas, papas do “cinema direto”, diretores de ‘The Beatles: The U.S. First Visit’ e do controverso ‘Gimme Shelter’, dos Rolling Stones e ) e os sócios de Drew (NOTA: Robert Drew, documentarista americano, adepto do cinema-verdade, famoso pelo filme ‘Primary’, cobrindo as primárias do Partido Democrata ocorridas no estado de Wisconsin entre os pré-candidatos à Presidência John Kennedy e Hubert Humphrey). Estávamos vendo todos esses documentários fabulosos, dizendo: É assim que é a vida. A câmera está pegando tudo. É impressionante’. Assim, o público acreditou. É nesta época que temos a citação famosa de Godard: ‘O cinema é a verdade 24 quadros por segundo’. Digo o inverso, acho que é a mentira 24 quadros por segundo. Sendo um diretor de filmes, sei como é fácil, em documentários como ‘Be Black Baby’ e ‘Hi, Mom!’, você poder manipular as imagens e as pessoas vão acreditar no que você quiser”.
“A maior tragédia que eu já presenciei é que a televisão tornou-se só comerciais de informações. A informação programada. Não há mais informação de verdade. Recebemos a informação que eles querem, é como a censura do governo sobre informações. Falam sobre a liberdade da imprensa, mas todas as agências da mídia são controladas por grandes empresas. Vemos o que elas querem que vejamos. No final das contas, foi nos anos 60 que tudo começou a ferver na América: (os 60) marcaram o início do movimento feminista, o início da liberdade política para os negros, muita música excelente, as drogas que expandiam a consciência. Foi uma época realmente fascinante e inspiradora. Muitos dos cineastas da minha geração produziram obras que tornaram-se a base do cinema americano contemporâneo. Eles foram produtos dos 60’s. Grandes artistas têm de estar no lugar certo no momento certo. Nunca perdi meu espírito 60’s”.
“Depois de montar o filme (NOTA: ‘Get to Know Your Rabbit’, seu primeiro e frustrante filme – um curta – para a major Warner Bros.), não gostaram do que havia feito, não gostaram das minha mudanças para melhorá-lo ...Então eles ‘me mandaram pra casa’. É interessante o fato de Orson Welles estar naquele filme, porque ele foi um homem que nunca descobriu como se beneficiar do sistema de estúdios. Só que uma parte de produzir filmes é a capacidade de lidar com esse sistema. Os grandes cineastas aprenderam a lidar com ele: Ford, Hitchcock ... Conseguiram trabalhar dentro do sistema e realizar suas extraordinárias visões. Não se pode simplesmente dizer: ‘Sou um artista, eles não me entendem’. Não faz sentido. É uma indústria, administrada por homens gananciosos, e você tem de fazê-los executar o que você quer. Fala-se de ‘Soberba’ (NOTA: ‘The Magnificent Ambersons’, o segundo filme de Orson Welles, rodado um ano depois de ‘Cidadão Kane’, e totalmente mutilado pelos produtores), que é um filme fantástico mas foi destruído. Onde estão as cenas cortadas de ‘Soberba’? Pode-se discutir todas as razões do mundo, eu penso no meu filme todos os dias, no meu estúpido filme curto ‘Get to Know Your Rabbit’. O fato é: a culpa é minha! Eles foram mais espertos do que eu. A mesma coisa aconteceu com Orson Welles. Enfim, meu desejo é: quero assistir a meu filme e estar satisfeito com ele. Somente por mim mesmo. Posso assiti-lo, na tela da minha televisão, e dizer: ‘Aquilo foi ideia minha, e eu a realizei. Vou ficar do lado dele’. O que está errado é o que eu errei. Não foi porque outra pessoa chegou e mudou as coisas”.
(Brian De Palma, em entrevista à TV francesa, à época do lançamento de ‘Femme Fatale’, nos extras de ‘Saudações’ – ‘Greetings’, de 1968 –, seu primeiro longa, lançado em DVD este ano pela Lume. Filho típico dos 60’s, o cineasta americano natural de Newark, New Jersey, que completa 70 anos no próximo 11 de setembro, é parte da brilhante geração que renovou o cinema americano entre o final dos anos 1960/início dos 70 – Copolla, Scorsese, Spielberg. De Palma ainda não teve lançado por aqui seu contundente ‘Redacted’, de 2007, um docudrama ambientado na Guerra do Iraque, rodado em câmeras de vídeo de alta definição, em que episódios como o estupro de uma colegial iraquiana por soldados americanos recebem tanta atenção como o olhar sobre a moderna cobertura jornalística da guerra, como farto uso do universo tecnológico – reportagens em blogs pela web, uso de parafernália digital ...)
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