quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (15)

Tá aí o playlist do primeiro programa de 2010, neste sábado às 10 da noite na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Enjoy!

1º bloco:

NEON INDIAN – 6669 (I Don’t Know If You Know)


Projeto múlti-mídia envolvendo som e imagem, formado em Austin, no Texas, estreou
com o E.P. ‘No Way Down’, no ano passado, sucesso entre o povo indie, por conta de faixas venenosas como ‘6669 (I Don’t Know If You Know)’ ‘Deadbeat Summer’. Até o verão de 2008 ninguérm sabia quem era o Neon Indian, até que as identidades foram reveladas: Alan Palomo, antes conhecido pelas bandas Ghosthustler e VEGA é o responsável pelo som, e a vídeo-artista Alicia Scardetta, pelo visual. O álbum de estreia, ‘Psychic Chasms’, veio este ano.

BEAR IN HEAVEN – Wholehearted Mess

Este é do Brooklyn, em Nova Iorque, empresa de um cidadão chamado Jon Philpot, cantor, compositor e múlti-instrumentista. Na ativa desde 2002, estreou com o E.P. ‘Tunes Nextdoor to Songs’ em 2007, e já tem dois álbuns: ‘Red Bloom of the Boom’ (2007) e ‘Beast Rest Forth Mouth’, lançado agora em outubro de 2009. Referências vão do krautrock de Can e Neu! ao pop eletrônico indie de Animal Collective e Panda Bear.

FEVER RAY – When I Grow Up

Projeto-solo de Karin Dreijer, da dupla eletrônica sueca de Estocolmo The Knife, formada com seu irmão, Orlof. Pois o Fever Ray começou a surgir depois de encerrada a promoção do álbum ‘Silent Sound’, de 2006, quano a Karin também dava à luz a seu segundo filho. Passou a trabalhar então com o produtor Christoffer Berg, já seu7 conhecido das mixagens dos álbuns do Knife e uma versão instrumental de ‘If I Had a Heart’ pintou na página do Fever Ray no MySpace no ano passado. O álbum inteiro, simplesmente denominado ‘Fever Ray’, foi disponibilizado ali também pra dowload em janeiro deste ano, e a versão física do disco alguns meses depois.


2º bloco:

CLINICThe Return of Evil Bill

Mais um talentoso quarteto musical que sai de Liverpool, o Clinic foi formado em 1997 e faz um som que mixa guitarrinha surf music com drum machines, as vanguardices do Velvet Underground ao art-punk do Wire. Já com o single de estreia, ‘I.P.C. Sub-Editors Dictate Our Youth’, entraram em nono lugar na tradicional listinha de melhores singles de 1997 do lendário DJ britânico John Peel. Em 1999, o single ‘The Second Line’ foi usado na Inglaterra como trilha de um comercial da Levi’s. O álbum de estreia, ‘Internal Wrangler’, de 2000, causou sensação nos dois lados do Atlântico, rendendo participações em festivais importantes , como o Meltdown e All Tomorrow’s Parties e uma grande turnê abrindo para o Radiohead. O Clinic já tem cinco álbuns, sendo o último do ano passado, ‘Do It!’. No Brasil, saíram o segundo, ‘Walking With Thee’ (2002), e o terceiro, ‘Winchester Cathedral’ (2004).

UNWOUND – Look a Ghost

Banda de Seattle formada no auge da era grunge – 1991, ano do estouro planetário de Nirvana e Pearl Jam –, mas com um som com intenções mais ‘artísticas’, com experimentalismos que lembram Sonic Youth, Fugazi, Gang of Four e outras guitar bands clássicas – e sem perder a capacidade de soar urgente. O trio, formado pelo guitarrista e vocalista Justin Trosper, o baixista Vern Rumsey e pelo baterista Brandt Sandeno – depois substituído por Sara Lund – deixou sete discos e acabou no auge, em 2002, um ano depois de lançar o álbum duplo ‘Leaves Turn Inside You’ pela mesma Kill Rock Stars que editou toda sua discografia.

DISMEMBERMENT PLAN – A Life of Possibilities

Outra banda americana importante dos anos 1990 que também já encerrou suas atividades, esta de Washington DC, formada em 1993 e dissolvida dez anos depois. Eram basicamente uma guitar band, mas que lançava mão de elementos sutis – batida de hip-hop (que lembra até funk carioca em algumas músicas), baixo jazzy, sintetizadores quase escondidos na mixagem, o uso da bela voz do vocalista Travis Morrison como mais um instrumento – pra fazer a diferença. Deixaram cinco discos, sendo o último ‘Terrified’ (2002). Um dos melhores é ‘Emergency & I’, lançado em 1999, que entrou em quase todas as listas de melhores daquele ano das revistas e sites especializados.


3º bloco: THE REPLACEMENTS (‘Let It Be’, 1984/‘Tim’, 1985)

Patrimônio americano, um dos expoentes da última grande geração do rock da América do Norte – aquela do final dos anos 1970/início dos 1980, que tinha Hüsker Dü, R.E.M., Sonic Youth, Meat Puppets, X, Black Flag, Dead Kennedys, Minor Threat, Bad Brains, Mission of Burma, ... enfim, a primeira geração do pós-punk americano – e também uma das que melhor fez a transição do universo indie para o das grandes gravadoras. Os ‘Mats’, como eram carinhosamente chamados pelos fãs, assim como o igualmente seminal Hüsker Dü, vieram da improvável Minneapolis, Minessotta – terra que também revelou Prince, os irmãos Cohen e as Babes in Toyland. A formação do grupo deu-se há exatos 30 anos, em 1979, e a formação inicial tinha como núcleo os irmãos Bob (guitarrista) e Tommy Stinson (baixo), mais o baterista Chris Mars, que ensaiavam na garagem seu som sujo e rápido, de inspiração punk, quando juntou-se a eles um sujeito que se tornaria não apenas a voz, a figura de frente da banda, mas também uma das figuras mais respeitadas entre os compositores surgidos nos anos 1980, Paul Westerberg.

Já no início, os caras já demonstravam uma das principais características que marcaria sua trajetória: o gosto pela confusão. Ainda sob o nome de Impediments, os quatro começaram a adquirir má-fama nos bares de Minneapolis por conta dos shows caóticos, geralmente prejudicados pela bebedeira excessiva das figuras. Tiveram então de mudar de nome, adotando a definitiva alcunha de Replacements, justamente porque ninguém queria mais dar espaço a eles. Mas mesmo com todo o receio, um selo de gravação da cidade, o Twin/Tone, interessou-se pelo quarteto, que acabou assinando contrato e lançando seu debut, o furioso ‘Sorry Ma, Forgot to Take Out the Trash’, em 1981, seguido do ‘Stink E.P.’ um ano depois. No segundo álbum, ‘Hootenanny’, de 1983, é que começa a ser gestado o mito Replacements, com a base de fãs aumentando e o grupo adicionando elementos de country, folk e o rock americano de raíz à sua fórmula anterior. Não perderam agressividade e ainda ganharam em maturidade. E preparando o caminho para seus dois discos clássicos, lançados nos dois anos psteriores.

Let It Be’, de 1984, seria o último álbum dos caras por um selo indie. É considerado um dos grandes discos do rock americano dos anos 1980 lançados por um selo independente, ao lado de ‘Zen Arcade’ (Hüsker Dü), ‘Meat Puppets II’ (Meat Puppets), ‘Double Nickles on the Dime’ (Minutemen) e ‘Sister’ (Sonic Youth), por conta do crescimento da banda como um todo, mas principalmente de Westerberg como compositor – repara nos versos de ‘Answering Machine’: ‘Tente mudar uma situação numa carta/Perdendo a esperança, nunca estaremos juntos/Minha coragem está no auge/Você sabe o que estou dizendo/Como você diz Ok pra uma secretária eletrônica?/Como você diz boa noite para uma secretária eletrônica?’. Com o sucesso do disco, naturalmente surgiu o interesse das majors, e a Sire levou o passe dos Replacements em seguida.

E no universo das grandes gravadora, não apenas a banda não se acomodou como lançou mais um clássico, ‘Tim’, em 1985. O disco, que era pra ser produzido pelo ídolo de Westerberg, o ex-líder do Big Star Alex Chilton, acabou tendo o ex-Ramone Tommy nas picapes, e rendeu mais uma enxurrada de críticas super positivas, mas os caras pareciam se sentir pouco à vontade no mainstream: Westerberg e colegas apareciam bêbados nos shows e na TV (o vocalista produziu um pequeno escândalo ao pronunciar palavrão durante uma apresentação no ‘Saturday Night Live’), recusaram-se a fazer vídeo-clipes acessíveis – curiosamente, o de ‘Bastards of Young’, em que aparece praticamente apenas uma caixa de som cuspindo a música, acabou virando um clássico –, ... tudo isso impediu que os Replacements alçassem voos mais altos. Ainda vieram mais três álbuns respeitáveis até o penduramento das chuteiras em 1991. Desde então, Westerberg desenvolve admirável carreira-solo, que já conta com oito discos (dos quais só saiu aqui ‘Stereo’, de 2002), Tommy Stinson tocou em várias bandas (até no Guns N’ Roses), e seu irmão Bob, que havia sido expulso do grupo após a tour de ‘Tim’ por estar sempre bêbado e/ou chapado demais pra tocar, morreu de uma previsível overdose em 1995. Curiosidade: Westerberg completou 50 anos na última quinta-feira, último dia de 2009.

I Will Dare
Androginous
Answering Machine


Bastards of Young
Left of the Dial
Here Comes a Regular



Os 'Mats' em ação: beberagem, barulho, malícia e um dos melhores compositores do rock das últimas três décadas


Paul Westerberg, um sobrevivente: cabeça, alma e coração dos Replacements

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