sexta-feira, 23 de julho de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (44)

O programa deste sábado, 24, às 22h na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede) tem quatro lançamentos entre os mais quentes do ano até aqui, baluartes da música eletrônica, um DJ doidão, powerpop de primeira e pop escocês com suíngue negro lá dos anos 1980, mais falado do que ouvido. Enjoy!


1º bloco:
TEENAGE FANCLUB – Baby Lee

Pintando mais uma vez por aqui o excelente grupo escocês liderado pelo trio de compositores/cantores Gerard Love, Norman Blake e Raymond McGuinley, na ativa há 21 anos, desta vez com álbum novo, o nono na carreira, ‘Shadows’, recém-lançado. É o primeiro disco a sair pela própria gravadora da banda, Pema – na América, o lançamento é da Merge, do pessoal do Superchunk –, produzido pelo próprio Teenage, e com participação de Euros Child, do Gorky’s Zygotic Mynci. O disco começou a ser gravado ainda em 2008, no esquema sem pressa que tem caracterizado o grupo na última década – um álbum a cada cinco anos –, tem o mesmo tom reflexivo do anterior, ‘Man-Made’ (2005), e as velhas referências de Beatles, Byrds, Love, Big Star e Velvet Underground.

SLOAN – Money City Maniacs
Grupo canadense de Halifax, influências muito parecidas (pra não dizer absolutamente idênticas) às do Teenage (country rock californiano, psicodelia sessentista, power pop), sucesso estrondoso em casa, nem tanto fora – nem mesmo no vizinho Estados Unidos: contratados da Geffen Records, mesma gravadora do Nirvana, no auge do estouro grunge, foram deixados de lado pelo selo, que não percebeu que o momento de volta às raízes, “back to basic” do grunge tinha tudo a ver com os caras. O Sloan, que chegou a considerar encerrara as atividade à época, depois de ótimos discos como ‘Smeared’ (1993) e ‘Twice Removed’ (1994), deu seu grito de independência em 1995, restabelecendo-se com ‘One Chord to Another’ (1996), sucesso tanto no Canadá quanto nos EUA. Seguiram-se outros grandes discos, como ‘Navy Blues’ (1998), um consagrador CD duplo ao vivo um ano depois, faixas em trilhas sonoras de filmes bacanas, uma coletânea fazendo a retrospectibva de seus primeiros 15 anos de carreira – estão na estrada desde 1991 –, sendo que seu último álbum é de 2008, ‘Parallel Play’.

BEULAH – A Good Man is Easy to Kill
Esta já encerrou as atividades – em 2004, com oito anos de carreira e cinco álbuns no currículo. A dupla de líderes, Miles Kurosky e Bill Swann, eram colegas em uma empresa em San Francisco, e, apesar de uma ligeira inmplicância mútua, juntaram-se pra fazer um som que lembrasse a psicodelia e o folk rock californianos dos anos 1960 (Byrds, Love, Buffalo Springfiled, Beach Boys). Juntaram-se ao pessoal da Elephant 6 (selo/cooperativa de Neutral Milk Hotel, Olivia Tremor Control e Apples in Stereo, entre outras bandas, com as quais, por sinal, o Beulah também excursionou). ‘When Yourheartstrings Break’ (1999), gravado no capricho com vários músicos adicionais executando flautas, arranjos de cordas e órgãos, e ‘The Coast Is Never Clear’ (2001, curiosamente lançado em 11 de setembro, dia dos ataques terroristas às torres gêmeas e ao prédio do Pentágono) são seus discos mais conhecidos e aclamados.


2º bloco:
UNKLE (c/ SLEEPY SUN) – Follow Me Down

Projeto do dono do selo Mo’ Wax, o DJ inglês James Lavelle, que faz um mix de batidas de hip-hop com gêneros variados da electronica. Já teve em suas fileiras DJ Shadow, gravou com uma série imensa de convidados bacanas – Thom Yorke (Radiohead), Richard Ashcroft (ex-Verve), Mike D (Besatie Boys), Jason Newsted (ex-Metallica), Josh Homme (Queens of the Stone Age), Ian Astbury (Cult) –, uma cacetada de remixes para bambambans que vão do Portishead a Howie B, fez trilha sonora para documentários, e tá de ábum novo, ‘Where Did the Night Fall’, lançado em maio, com nova formação, que inclui Pablo Clements no lugar de Richard File, como companheiro de Lavelle, mais uma penca de convidados legais (Mark Lanegan, The Black Angels, Big Japan, e o som mais “orgânico”, com um time de músicos, além da parafernália eletrônica.

BOMB THE BASS (c/ GUI BORATTO & RICHARD DAVIES) – Price On Your Head
Um dos nomes fundamentais da cena eletrônica britânica da virada dos anos 1980 para os 90, o DJ londrino Tim Simenon é um garoto-prodígio. Começou discotecando no Wag Club londrino ainda adolescente, em meados dos anos 1980, logo passou a fazer experimentos com teclados eletrônicos e beatboxes, fez curso de produção num college londrino e com 20 anos de idade já gravava um dos discos que impulsionaram a cena rave – ‘Into The Dragon’ (1988). Tornou-se logo referência, produzindo singles clássicos como ‘Buffalo Stance’, de Neneh Cherry, e ‘Crazy’, de Seal, mais tarde colaboraria com Sinéad O’Connor, Bono, Massive attack, Bowie, Depeche Mode, Primal Scream, mas aos poucos a carreira de produtor foi fazendo que a de performer fosse ficando de lado: apenas dois álbuns foram lançados na década de 1990 – e na primeira metade. Mas eis que há dois anos, o cara resolve dar as caras de novo com material próprio: ‘Future Chaos’ veio em 2008, com as participações de Jon Spencer e Mark Lanegan, entre outros, e teve boas críticas, assim como o novo, ‘Back to Light’, que conta com o auxílio de um dos nomes mais quentes da electronica hoje, o brasileiro Gui Boratto, e o vocalista Richard Davies, do Muse, entre outros convidados.

GONJASUFI – Dednd
Sumach Ecks é o verdadeiro nome deste DJ californiano de San Diego, bicho-grilo de carteirinha (tem longos dreadlocks), que é também instrutor de ioga, começou seus experimentos musicais fazendo rap com o pessoal do Masters of Universe, trabalhou ainda como DJ no projeto Killowatz, até que resolveu se dedicar ao seu trabalho-solo chamado Gonjasufi (em shows, ele já usou os nomes de Sumach Valentine e Randy Johnson). Já viveu na praia, depois no deserto, e desde 2006, com o auxílio de Flying Lotus e Gaslamp Killer, baluartes do hip-hop underground, vem lançando seu material, com fartas referências à psicodelia sessentista mais hard, com som tecaldinhos vintage e guitarras com pedal de fuzz, à música oriental, ao hip-hop mais entorpecido dos anos 1990 e ao funk viajandão de George Clinton e seu P-Funk. Gonjasufi tem apenas um álbum, ‘A Sufi and a Killer’, lançado este ano, pelo selo Warp.


3º bloco: ORANGE JUICE – ‘You Can’t Hide Your Love Forever’ (1982)

Cult band escocesa de Glasgow, formada na Segunda metade dos anos 1970, impulsionou a forte cena musical de seu país (Josef K, Fire Engines, Scars) na década seguinte, com um pop inteligente, vibrante, com muita influência da soul music americana e que tornou-se referência para inúmeros grupos que vieram depois – inclusive o citado Teenage Fanclub, que abriu este programa, The Vaselines, Aztec Camera. Não chegaram a durar uma década, deixaram apenas três álbuns (os dois primeiros são clássicos), mas revelaram ao mundo o talento do cantor e compositor Edwyn Collins.

As origens do OJ remetem ao ano de 1976, quando Collins fundou seu primeiro grupo, o Nu-Sonics (tomando emprestado o nome de um marca de guitarra barata), que tinham em sua formação , além de Collins como cantor e guitarrista, o baixista David McClymont, o baterista Steven Daly e o guitarrista James Kirk. Adotaram o nome de “suco de laranja” em 1979, ano em que Collins completava 20 anos de idade – ele nasceu em Edimburgo em 23 de agosto. O Orange Juice foi uma das primeiras bandas do pós-punk britânico a assumir influências do funk e da disco – mas num clima mais melódico, menos ruidoso e agressivo que a dissonante Gang Of Four, por exemplo. A temática das canções também diferia da maioria das bandas do período: as letras otimistas tinham até um certo ar de ingenuidade e inocência raros então. Embora Collins fosse o principal compositor do grupo, Kirk também compunha e cantava suas composições.

O single de estreia do grupo veio no começo de 1980: ‘Falling and Laughing’, gravada ao custo de menos de 100 libras, e saiu por um selo chamado Postcard, especializado em pop indie de qualidade. Teve ótima repercussão junto à imprensa especializada, assim como os posteriores, já preparando o terreno para o aguardado primeiro álbum, que acabaria sendo lançado por uma major: a essa altura, a Polydor levou o passe dos caras e bancou o resto das gravações. ‘You Can’t Hide Your Love Forever’ saiu em março de 1982, e logo depois a formação do Orange Juice era modificada, com a entrada do guitarrista Michael Ross (oriundo de outra influente banda escocesa do período, o Josef K) e do baterista Zeke Manyika (africano do Zimbábue) e as saídas de Daly e Kirk. ‘Rip It Up’, o disco seguinte, foi ainda mais aclamado que o anterior, a faixa-título rendeu o único hit do grupo nas paradas (oitavo lugar na parada de singles britânica), e influenciaria, com sua levada funk e uso de sintetizadores, boa parte da acid house britânica do final da década de 1980.

Mas no começo de 1984, Ross e McClymont, os últimos remanescentes da formação original além de Collins, também resolveram pular fora, e o terceiro disco, ‘The Orange Juice’, foi gravado por Collins, Manyika e músicos convidados – antes, a dupla ainda lançaia um E.P., chamado ‘Texas Fever’. Desmobilizado, o Oranje Juice encerraria as atividade logo depois, e, de maneira curiosa, a gravadora que resolvera dispensar Collins decidiu lançar Manyika como artista-solo. Collins só voltaria a ter um hit em, 1995, quando a canção ‘A Girl Like You’, de seu terceiro álbum, ‘Gorgeous George’, lançado um ano antes, foi parar na trilha do filme ‘Empire Records’. Mas com a ascensão de novas bandas escocesas ao cenário pop mundial, nos anos 1990 e 2000, como Belle & Sebastian, Franz Ferdinand, ... o interesse pela música do Oranje Juice volotou, e a coletânea ‘The Glasgow School’, lançada em 2005, foi considerada a melhor reedição daquele ano pela revista inglesa Uncut. Para esse ano, o selo americano Domino promete a reedição dos três álbuns.

Falling and Laughing
Tender Object
L.O.V.E. Love
Three Cheers For Our Side
Felicity

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