sexta-feira, 30 de abril de 2010

COMPANHIA MAGNÉTICA NO RÁDIO (32)

Tá aí o há horas prometido espacialzinho do Pavement, um resumo dos cinco álbuns de carreira da banda californiana que tá voltando. Na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede) neste sábado, 1º/05, às 22h. Enjoy!

1º bloco:
Patrimônio da cena indie dos anos 1990, um dos baluartes do som lo-fi, tendo deixado 5 ótimos álbuns, 9 E.P.’s e um considerável e fiel séquito de fãs, os californianos de Stockton voltam à ativa depois 11 anos depois de encerradas as atividades, em princípio para apenas alguns shows, nos principais festivais de rock americanos e europeus. De quebra, é lançada uma coletânea bacana lá fora, ‘Quarantine The Past’, misto de ‘greatest hits’ com raridades.

O início do Pavement remonta ao ano de 1989, inicialmente apenas como um despretensioso projeto de estúdi dos guitarristas e cantores Stephen Malkmus e Scott Kanberg, que registravam o material usando as alcunhas de ‘S.M.’ e ‘Spiral Stairs’, respectivamente. Gravavam num estúdio chamado Louder Than You Think, de propriedade de um ripongão de nome Gary Young, que viria a ser o primeiro baterista do Pavement, e o cara que, após ouvir as duas primeiras canções da dupla , vaticinou: “esse idiota do Malkmus é um completo gênio como compositor”. Já no começo, apareceriam problemas nas relações pessoais do grupo, o que seria uma marca até o fim da trajetória do Pavement: Jason Fawkes, o baterista escolhido pra substituir Gary Young, que compreensivelmente se dedicava mais a seu estúdio do que à banda ainda iniciante, e o temperamental Malkmus de cara já não se bicaram muito, e então Young acabou voltando.

Só em 1992 é que o Pavement realmente foi virar uma banda de verdade, profissionalmente falando, com as entradas de Mark Ibold – aliás, um dos primeiros fãs do grupo –, e o percussionista Bob Nastanovich. ‘Slanted and Enchanted’, o álbum de estreia, foi lançado pela Matador Records, teve críticas muito positivas – hoje, é considerado um dos melhores discos de rock da década de 1990 – naquele ano – embora circulasse já em versão cassete um ano antes.

Summer Babe (Winter Version)
Trigger Cut/Wounded-Kite at :17
Here



Cut Your Hair



2º bloco:


Confirmando o problema crônico que sempre foi a total falta de tato, principalmente de Malkmus, em lidar com as questões de relacionamento, Young – ainda que dono de um comportamento frequentemente bizarro, foi dispensado pelo grupo em um famoso episódio ocorrido em um quarto de hotel em Copenhague, na Dinamarca, em 1993. Seu substituto, Steve West, era um antigo conhecido de Malkmus, e entrou quando a banda já se preparava para gravar o segundo disco, ‘Crooked Rain Crooked Rain’, lançado em 1994 e tão aclamado quanto o primeiro. Mais melodioso e menos barulhento que o antecessor, pagando tributo ao rock clássico tanto quanto às velhas influências mais experimentais, como The Fall e Sonic Youth, o álbum chamou atenção também pelo teor ferino da letra de ‘Range Life’, que dava alfinetadas em bandas como Smashing Pumpkins e Stone Temple Pilots – embora o compositor Malkmus garanta que não se tratava de seu ponto de vista, mas da personagem da canção, um hippie jurássico, mas o fato é que Billy Corgan, o líder dos Pumkins não gostou, e mais: contratado pra ser o headliner do festival Lollapalooza daquele ano, diz que se o Pavement estivesse escalado, sua banda abandonaria o festival. Muios anos depois do incidente, Malkmus e Corgan ainda seguiriam trocando farpas pela imprensa.

O disco seguinte, ‘Wowee Zowee’, sairia já no ano seguinte, 1995, e teve mais controvérsia: o mais variado disco do grupo – que inclui influências que vão do country às baladas –, definido por Malkmus como “o último disco clássico do Pavement” desgostou Kannenberg, que não aprovou principalmente a pressa nas gravações, o tempo curto entre os lançamentos de ‘Crooked Rain’. Pra completar, a banda, por essa época, passava praticamente o tempo inteiro chapada, e as apresentações eram verdadeiramente caóticas. Escalados para o Lolapalooza daquele ano, ficaram conhecidos como “a banda que arruinou o festival”.

Gold Soundz
Range Life

Rattle By The Rush
Grounded







3º bloco:

Com o prestígio devidamente consolidado – ainda que os tumultos todos se sucedendo –, o Pavement planejou, para seu quarto disco, um som mais mainstream, já que o time tava ganhando jogando desse jeito, angariando fãs entre os admiradores de um rock mais clássico. A estratégia deu certo: produzido por Mitch Easter (cantor e compositor indie dos anos 1980, líder do Let’s Active, que produziu, entre outros, o R.E.M. ), ‘Brighten the Corners’, de 1997, vendeu mais do que os anteriores, amparado principalmente pelo sucesso dos singles de ‘Stereo’ e ‘Shady Lane’ – curiosamente as duas primeiras faixas do álbum, que também foi o primeiro a incluir as letras no encarte. Mas parece que a banda sempre gostou de se auto-sabotar: mesmo com o sucesso batendo à porta, os cinco preferiam se dedicar mais a projetos paralelos.

O derradeiro álbum seria ‘Terror Twilight’, de 1999, ainda mais acessível e melódico. O título (“O Terror do Crepúsculo”) foi sugerido por Nastanovich, que explica: “é o curto lapso temporal entre o pôr-do-sol e o cair da noite; é considerado o período mais perigoso no trânsito, porque metade das pessoas está com os faróis acesos e a outra não. É quando a maioria dos acidentes acontece”. O disco era pra ser produzido pela própria banda, mas após as primeiras e frsutrantes sessões de gravação, o quinteto decidiu apelar para um profissional, e o conceituado Nigel Godrich, conhecido por seu trabalho com R.E.M., Radiohead e Beck, foi chamado. Mas até a escolha de um produtor virou motivo de problema na banda: Nastanovich diz que ficou satisfeito com o trabalho de Godrich, mas saiu reclamando que o cara deu atenção excessiva a Malkmus e praticamente ignorou o resto da banda. A dissolução já estava a caminho.

Na turnê de seis meses que se seguiu ao lançamento do álbum, Malkmus já praticamente não falava com mais nenhum de seus companheiros de banda. E ainda fazia piada a respeito, chamando a si mesmo de ‘’The Little Bich’. O repertório das apresentações ao vivo incluía muito mais canções antigas do que novas, o que alguns críticos interpretaram como um sinal de que a banda parecia um bando de veteranos tocando seus sucessos em uma turnê de despedida. Em um show na Brixton Academy de Londres – que acabaria sendo o último do Pavement –, Malkmus colocou um par de algemas junto à haste de seu microfone e disse à platéia que aquilo simbolizava “o que era estar em uma banda por todos esses anos”. Era o fim. E pra honrar a tradição, até a separação foi a mais desagradável possível: Malkmus chamou Kannberg e disse que este precisava informar no site do grupo que els não eram mais uma banda; Kannberg disse que precisava reunir os demais integrantes pra informá-los, então, que a banda estava se dissolvendo; mas Malkmus pulou fora e deixou a tarefa ingrata inteiramente para Kannberg, e assim foi feito – embora West sustente até hoje que jamais recebeu o comunicao pessoalmente de alguns dos companheiros, tendo ficado sabendo via internet.

Stereo
Shady Lane

Spit On a Stranger
The Hexx



O Pavement, com Malkmus à frente: o cara pode ser um total 'asshole', mas a música é do cacete

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