De novo, dois bloquinhos retrô - um com um ícone do rock, outro com uma das bandas mais queridas da seara alternativa das duas últimas décadas -, além de três lançamentos recentes. É neste sábado, 08, às 22h, na FM CULTURA (107.7 no dial ou www.fmcultura.com.br na rede). Enjoy!
1º bloco:
CRYSTAL CASTLES – Celestica
Projeto de um cidadão chamado Ethan Kath, que tirou o nome dos desenhos da She-Rah e He-Man, e da cantora Alice Glass. Fazem pop eletrônico experimental, barulhento com referências ao Suicide e ao pop eletrônico oitentista. Uma das curiosidades é que os caras usam um teclado com seu som modificado por chip de computador da famosa (pra quem era adolescente nos anos 1980, é claro) marca de jogos eletrônicos Atari – que teve um game lançado em 1983 que também serviu de inpiração pro nome usado pelo duo. O ‘modus operandi’ dos caras também é sui generis: a canção ‘Alice Practicing’ era pra ser o que o título sugere, uma demo gravada despretensiosamente em um ensaio, sem pretensão maior de virar canção, só que foi parar no My Space e rendeu um convite de várias gravadoras, acabando por ser lançada em single em 2006. O disco de estreia, homônimo, é de 2008. O novo, recém-lançado lá fora, também chama-se simplesmente ‘Crystal Castles’. Entre um e outro, fizeram vários remixes, pra bandas como Liars, Klaxons, Bloc Party e Health. Como o novo disco vazou todinho na internet no mês passado, a banda acabou liberando-o pra download logo depois. O lançamento físico saiu agora, neste mês.
CARIBOU – Odessa
Projeto de um cidadão chamado Dan Snaith, canadense de Ontario, ex-acadêmico de matemática (é de uma família de matemáticos) e que ganhou fama na cena eletrônica do início dos anos 2000 gravando sob a alcunha de Manitoba, e cujos primeiros E.P.’s e álbum encantaram a imprensa especializada. Forçado a deixar pra lá a alcunha de Manitoba após o líder da lendária banda punk Dictators, Handsome Dick Manitoba o processou pelo uso indevido de seu nome (ou sobrenome) de guerra, rebatizou-se como Caribou, e já tem três álbuns sob a nova identidade, o mais recente deles lançado no finzinho do mês passado, ‘Swim’. Ao vivo, Snaith (ou Caribou) apresenta-se com uma banda de apoio, fazendo as vezes de percussionista.
PANTHA DU PRINCE – Stick to My Side (c/ Noah Lennox)
Obra do produtor alemão Hendrik Weber, que também já gravou usando nomes como Glühen 4 e Panthel, embora seu trabalho mais conhecido seja mesmo sob a alcunha Panthe Du Prince. Inicialmente ligado ao selo alemão Dial, de Hamburgo, especializado em techno experimental, gravou seu álbum mais recente, ‘Black Noise’ (o terceiro, deste ano) pela gravadora britânica Rough Trade. O disco tem participações de Noah Lennox (Animal Collective e Panda Bear) e Tyler Pope (guitarrista do !!!) e a música do Pantha Du Prince, com referências tanto ao techno (especialmente o de Detroit) quanto a cena shoegazer do rock britânico do final dos anos 1980/início dos anos 1990 (My Bloody Valentine, Slowdive, Ride), é densa e sombria.
2º bloco:
TEENAGE FANCLUB – ‘Catholic Education’ (1990)
Há 21 anos na ativa, uma das bandas mais importantes do rock alternativo dos anos 1990 e 2000, prestes a lançar mais um álbum, pinta por aqui com seu clássico disco de estreia, lançado há 20 anos e que não só serviu, de certa maneira, de inspiração para o grunge, como virou também uma das referências do brit pop. O Teenage Fanclub, formado em 1989 em Glasgow, na Escócia, pelos guitarristas Norman Blake e Raymond McGinley e pelo baixista Gerard Love – todos cantores e compositores, uma das marcas do grupo – e tinha como baterista Francis McDonald, o primeiro de vários na função. De cara, chamavam a atenção nos shows o mix de pegada punk com harmonias vocais à Beach Boys e referências a outras clássicas bandas sessentistas californianas, como os Byrds – embora a grande inspiração do grupo sempre tenha sido o powerpop do Big Star de Alex Chilton – e o revezamento dos vocais principais entre os três homens de frente.
Blake, McGinley e Love já haviam tocado juntos em uma banda chamada Boy Hairdressers, que saiu da famosa cena C86 – “class of 86”, uma leva de bandas que surgiram naquele ano fazendo um som que remetia ao pop ensolarado dos anos 1960 –, que gravou apenas um single e encerrou as atividades, dando origem ao BMX Bandits, que também teve curta duração. Já como Teenage Fanclub, assinaram contrato na Inglaterra com a lendária Creation Records (Jesus & Mary Chain, Oasis) e nos Estados Unidos com a Matador Records (Yo La Tengo, Pavement), e durante as gravações do seu primeiro disco, ‘A Catholic Education’, já havia trocado de baterista, com Brendan O’Hare substituindo Francis McDonald. Entre os 9 álbuns do Teenage – ou ‘The Fannies’, como são chamados carinhosamente pelos fãs –, é o que tem o som mais sujo, agressivo, urgente, e seu lançamento no mercado americano certamente teve grande impacto sobre o pessoal do grunge, cujo som também sempre teve o mesmo conceito e as mesmas referências (Kurt Cobain era grande fã dos caras). É também o álbum de discurso mais forte e direto, deixando de lado a sutileza características das composições posteriores do grupo: canções amargas e desiludidas como ‘Everybody’s Fool’ somam-se a ataques à igreja, como a faixa-título e à apatia da molecada, como as duas duas ‘Heavy Metal’.
Na sequência de ‘A Catholic Education’, o Teenage lançaria, em 1991, o desleixado ‘The King’ só pra cumprir o contrato com a Matador Records, gravadora que estavam deixando, e o incensado ‘Bandwagonesque’, então eleito melhor disco do ano pela revista Spin (à frente até de ‘Nevermind’, do Nirvana, ‘Out of Time’, do R.E.M. e ‘Loveless’, do My Bloody Valentine) e que levou a Rolling Stone a elegê-los, na sua edição de fim de ano, como a banda mais quente para 1992. O quarto álbum, ‘Thirteen’ (1993), gravado já com novo baterista – Paul Quinn, ex-Soup Dragons –, não teria essa receptividade toda, e a própria banda, exercitando uma sinceridade pouco comum no show businness, se disse decepcionada com o resultado. O quinto, ‘Grand Prix’ (1995), os colocou de volta ao noticiário – e agora, eram também referência pro britpop (o folclórico líder do Oasis dizia então que o Teenage era a “segunda melhor banda do mundo”). ‘Songs from Northern Britain’ (1997) e ‘Howdy!’ (2000) tem sonoridade mais folky, acústica, ‘Words of Wisdom and Hope’ (2002) foi gravado em parceria com Jad Fair, e ‘Man-Made’ (2005), o primeiro lançado pelo selo do próprio Teenage, PeMa, foi inteiramente gravado pelo cabeça do Tortoise, John McEntire, em seu estúdio em Chicago. Em breve, deve sair ‘Shadows’, que teve suas primeiras gravações feitas em agosto de 2008.
Everything Flows
Everybody’s Fool
Catholic Education
Critical Mass
O núcleo dos 'Fannies', seu trio de compositores/cantores/instrumentistas: vinte anos de carreira sem deixar a peteca cair não é coisa comum no meio alternativo
3º bloco:
JOHNNY THUNDERS & THE HEARTBREAKERS – ‘Live at Max’s Kansas City’ (1979)
Uma das figuras mais mitológicas da história do rock, um dos caras que melhor encarnou o trinômio básico aquele – “sex, drugs and rock’n’roll” –, e provavelmente o sujeito cuja morte por overdose foi a mais previsível de todas no meio, John Anthony Genzale, Jr., nascido no Queens, em Nova Iorque, em 15 de julho de 1952, e precocemente falecido em 23 de abril de 1991 em New Orleans, iniciou cedo sua trajetória. Fã incondicional de Keith Richards – sua principal inspiração tanto no som, quanto no estilo de vida e até no visual –, depois de se recusar a cortar o cabelo e por isso perder a vaga no time de basquete no colégio, formou sua primeira banda, Johnny and The Jaywalkers, onde atendia por Johnny Volume. Passou a frequentar os endereços quentes do rock na big apple aos 16 anos: primeiro, indo ao shows no Fillmore East, depois curtindo a balada em bares como o Nobody’s, na famosa Bleecker Street, futuro endereço do C.B.G.B.’s, no no Village. Na mesma rua, como atendente em uma loja especializada em artigos de couro, conheceu Arthur Kane e Billy Murcia, que tocavam, respectivamente, baixo e bateria em uma banda chamada ‘The Actress’, que passaria a se chamar New York Dolls com as entradas do vocalista David Johansen e do guitarrista Sylvain Sylvain. A essas alturas, o guitarrista John Genzale já se chamava Johnny Thunders – nome tirado de uma HQ da DC com o mesmo nome –, e os Dolls eram uma das sensações do underground novaiorquino com seu rhythm ‘n’ blues sujo e visual andrógino/debochado (pareciam uma versão drag dos Stones), inspiração para a cena punk que logo viria. Os Dolls duraram quatro anos e lançaram apenas dois discos, ambos clássicos, mas até hoje são referenciais.
Thunders não perdeu tempo: após sua saída das “bonecas de Nova Iorque” – que ainda se apresentaram durante um tempo, com Sylvain e Johansen à frente –, formou logo os Heartbreakers no auge da explosão punk, com o baterista Jerry Nolan, que substituíra o falecido Billy Murcia nos Dolls, e o ex-baixista do Television, o também figuraça Richard Hell. O guitarrista Walter Lure completou logo depois a formação inicial, que não durou muito: como Hell percebeu que a bola nos Heartbreakers pertencia a Thunders e que portanto dificilmente teria espaço para suas composições, pulou fora para formar seu próprio grupo, Richard Hell & The Voidoids, sendo substituído por Billy Rath. Com esta formação, Johnny Thunders e os Heartbreakers registraram em 1977 seu único álbum de carreira (de estúdio) do grupo, ‘L.A.M.F.’ (abreviatura de ‘Like a Mother Fucker’), e mudaram-se para Londres, onde Thunders era extremamente popular junto à galera punk – tanto que, ao lançar seu primeiro disco solo, ‘So Alone’, com participações de Steve Jones, Paul Cook, Phil Lynott, Chrissie Hynde e outros, um ano depois, excursionou junto com os Sex Pistols, o Clah e o Damned na histórica “Anarchy Tour”. Suas performances de palco à epoca – muitas vezes bêbado e/ou chapado, não dizendo coisa com coisa – tornaram-se lendárias.
Encerradas as atividades dos Heartbreakers, e iniciada a carreira-solo, ainda encontraria tempo para parcerias tanto com antigos fãs como com velhos ídolos: tocou em um grupo chamado Gang War, que formou com o ex-guitarrista do MC5, Wayne Kramer, e também fez parte do The Living Dead, com Sid Vicious. Os Hartbreakers ainda se reuniriam esporadicamente até a morte de Thunders, em 1991, e uma dessas, em 1979, no mesmo Max’s Kansas City que fez a fama dos Dolls, do Suicide e do Velvet underground, entre tantos grupos seminais do barulhento rock novaiorquino foi gravada, dando origem ao clássico álbum ao vivo lançado no mesmo ano. A performance do grupo foi tão elogiada que rendeu o convite para mais uma apresentação no Max’s, só que o quarteto era de tal forma devotado ao uso de drogas pesadas – em especial, a heroína –, que o novo show (ou tentativa de show) resumiu-se a apenas cinco canções, que entrariam numa segunda edição do disco, lançada apenas em 1996 pelo combativo selo americano ROIR.
Thunders, que nos últimos três anos de vida teve como acompanhante uma banda chamada The Oddballs, foi achado morto em um quarto de hotel em New Orleans, em 23 de abril de 1991, aos 38 anos de idade. Embora estivesse chapado, como de costume, sua biógrafa Nina Antonia garante que o nível de drogas achado no organismo não dava pra ser considerado fatal. A famosa ex-groupie Pamela Des Barres, em um livro chamado ‘Dark Moments in Music Babylon’, publicou uma entrevista com a irmã de Thunders em que ela diz que a autópsia confirmou evidências de leucemia em estado avançado, o que ninguém ligado ao músico sabia, e a família do guitarrista, não conformada com as poucas informações sobre o caso, pediu mais de uma vez que o mesmo fosse reabaerto, o que não aconteceu. O certo é que o velho junkie Thunders sempre foi um ávido consumidor de substâncias ilícitas e nos últimos tempos andava tomando metadona, para ver se ao menos minimizava seu vício em heroína.
Milk Me
Chinese Rocks
London Boys
One Track Mind
Too Much Junkie Business
Johnny (1952-1991) nos tempos de New York Dolls: a dúvida nunca foi 'se' nem 'como', mas 'quando' os excessos iam cobrar a conta definitiva
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