Dr. Pretorius: ‘Você sabe quem é Henry Frankenstein, e quem é você?’
O Monstro: ‘Sim, eu sei. Ele me fez dos mortos. Eu adoro mortos. Odeio vivos (*).’
Pretorius: ‘Você é bastante sábio (**).’
(*) ‘Hate living’.
(**) ‘You’re wise in your generation’.
(Diálogo entre o cientista louco Dr. Pretorius/Ernst Thesiger e o Monstro/Boris Karloff, no impagável ‘A NOIVA DE FRANKENSTEIN’, dirigido por James Whale em 1935. O melhor de todos os filmes baseado na obra de Mary Shelley, em vez de assustar, diverte: trata-se de uma das melhores comédias de todos os tempos, travestida de filme de horror, valorizada sobretudo pelos diálogos de duplo sentido, como o reproduzido acima, e o subtexto – a trama pode ser entendida tanto como uma ode à tolerância quanto uma parábola gay (em uma determinada sequência, o monstro fugitivo, com quem Whale claramente simpatiza, encontra guarida na casa de um cego, que o acolhe e agradece aos céus por não estar mais entregue à solidão). O filme começa com um diálogo entre Mary Shelley/Elsa Lanchester, seu marido, o poeta Percy Shelley/Douglas Walton e o amigo Lord Byron/Gavin Gordon, sobre a repercussão da obra dela, ‘Frankenstein’, nos meios literários. Mary observa que seu intuito era narrar uma fábula moral, em que um homem resolve brincar de Deus e desencadeia trágicas consequências, e acrescenta que a história do Dr. Victor Frankenstein/Colin Clive e sua criatura não acabaram ali. A partir daí, ficamos sabendo que o Monstro sobreviveu ao incêndio narrado no primeiro filme – ‘Frankenstein’, rodado quatro anos antes –, e, paralelamente, o bizarro Pretorius chantageia Victor Frankenstein para que o ajude num outro experimento: criar uma companheira para o Monstro. A sequência do "nascimento" da nova criatura é um momento antológico do cinema de ficção, assim como o visual da noiva – também encarnada por Elsa Lanchester –, com os desenhos de raios de luz que ornamentam sua cabeleira. Os cenários, exagerados e distorcidos, inspirados no expressionismo alemão, também contribuem para o clima do filme. O realizador James Whale, retratado em seus últimos dias por Bill Condom em 1998 em ‘Deuses e Monstros’ – que deu uma indicação ao Oscar para sir Ian McKellen pelo papel – nasceu em Dudley, na Inglaterra, em 22 de julho de 1893, e faleceu em 29 de maio de 1957, em Hollywood, afogado na sua piscina de sua casa. Já havia se retirado do cinema em 1941, logo após iniciar ‘They Dare Not Love’, completado por Charles Vidor. Deixou clássicos do horror como a excelente versão de ‘O Homem Invisível’, de 1933, e ‘A Casa Sinistra’, de 1932, e a segunda – e, para muitos, melhor – versão de‘Show Boat’, musical do trio Edna Farber/Jerome Kern/Oscar Hammerstein II. O primeiro ‘Frankenstein’, de 1931, filme que marcaria sua carreira, foi o segundo longa que dirigiu.)
O quarteto Victor Frankenstein/Colin Clive, a Noiva/Lanchester, o Monstro/Karloff e Dr. Pretorius/Ernst Thesiger: poucos filmes são tão divertidos - e sugestivos - como esse precursor do "terrir" do talentoso Whale
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