quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Just Say NO!: cinco razões pra não ir aos shows do Metallica e do Guns ‘N’ Roses (porque pra não ir no Cranberries é desnecessário explicar)

1. Começamos pelo preço, lógico: por 140,00 (preço mínimo do Metallica) ou 130,00 (ingresso mais baixo pra ver o Guns), dá pra fazer várias coisas mais interessantes:

a) comprar o último Sonic Youth, ‘The Eternal’ (25,60), o melhor disco deles desde ‘Murray Street’ (2002), o novo dos Flaming Lips, ‘Embryonic’ (muita doideira e participações de Karen O e do MGMT em nada menos que 18 faixas! Sai por 33,60), mais o registro da clássica apresentação do grande Leonard Cohen no festival da Ilha de Wight em 1970 (CD + DVD por apenas 50,40). Ainda sobra uns 20,00 ou 30,00;

b) quer ter a sensação de um show de verdade? Não tem problema: foi relançado o clássico documentário sobre o Festival de Altamont, dos Stones, em que os Hell’s Angels botaram as garras de fora e acabaram ocasionando uma tragédia. ‘Gimme Shelter’ (32,00) tem direção do craque Alber Maysles. Também saiu o registro do histórico show do Nirvana no Festivald e Reading de 1992 (44,80), e, já faz um tempo, o melhor filme de rock a passar por aqui na última década, ‘A Festa Nunca Termina’ (29,90), de Michael Winterbottom, que refaz a trajetória do figuraça Tony Wilson, dono da Factory Records, e da cena musical de Manchester, a partir do Joy Division e dos Happy Mondays;

c) faz horas que não lê um livrinho bacana? Temos o produto, também: ‘Uma Temporada no Inferno com os Rolling Stones’ (39,90), do jornalista Robert Greenfield, conta a história das gravações de ‘Exile On Main Street’, em que Jagger, Richards (principalmente esse último) e cia. se afundavam nas drogas enquanto registravam aquele que, pra muitos, é o melhor (e último grande) disco dos Stones; do Greenfield, tem também ‘Bill Graham Apresenta: Minha Vida Dentro e Fora do Rock’ (59,00), em parceria com o próprio Graham, empresário que foi o dono de duas das casas de shows mais importantes da história do rock, o Fillmore East e o Fillmore West; a biografia do figuraça Serge Gainsbourg, ‘Por Um Punhado de Gitanes’ (38,00), herói nacional francês até hoje por conta da idiossincrasia, escrita pela jornalista Sylvie Simmons; a bio em quadrinhos do man in black original, ‘Johnny Cash – Uma Biografia’ (44,00), feita pelo cartunista alemão Reinhard Kleist. Tá, mas aí ultrapassou o preço dos ingressos, informados lá em cima. Sim, mas não te esquece que aqueles são os mais baratos – os mais caros vão de 160,00 (ai!), pro Metallica, e 280,00 (my goodness!) pro Guns;

d) o ingresso pra ver o Franz Ferdinand, em março, tá à venda por 100,00 (segundo lote), e, convenhamos, trata-se de uma banda muito mais consistente que essas duas – sem falar que tá recém no terceiro disco, ou seja, ainda não enfrentou o desgaste natural que sempre pinta em bandas mais ‘rodadas’;

e) o Gossip toca no Brasil nos dias 19 (São Paulo) e 20 de março (Rio), e o preço inicial dos ingressos, na internet – por enquanto, só pra SP –, também é de 100,00. Arruma uma passagem com preço promocional – tem tempo de sobra – e estadia na casa de alguma parceria, a relação custo-benefício ainda é mais vantajosa.

2. As figuras em questão:
Comecemos pelo Metallica: um bando de coroas disfuncionais metidos a garotos brigões, que chegaram ao cúmulo de entrar em conflito com os próprios fãs, quando estourou a mania de baixar som vias programas de compartilhamento de arquivos – uma mania que veio pra ficar, absolutamente democrática, que não atrapalha os lucros de artista nenhum, e sim das gravadoras, que, como se sabe são verdadeiras máfias de sangue-sugas. Quem trabalha sua base de fãs não perde dinheiro e ainda ganha em credibilidade. Os velhinhos reacionários do Metallica não perceberam isso, e optaram por fazer o jogo das grandes corporações, processando o Napster, inclusive. Lamentável. Quanto ao Axl, que foi o que sobrou do G’N’R, depois de incontáveis chiliques, resolver montar e remontar a banda a seu bel prazer, tirando não apenas os bons músicos que havia na banda (Izzy Stradlin, o cara que era de fato o 'diretor musical' ’a trupe, foi o primeiro a não aguentar os pitis da boneca e pular fora), mas também figuras carismáticas – alguém é capaz de imaginar o Guns sem Slash e Duffy? Ontem, ainda saiu a notícia de que num show no Canadá, semana passada, fãs do grupo que entravam com algum adereço relacionado ao antigo guitarrista – uma camiseta ou até mesmo sua tradicional cartola, eram orientados pela segurança a se desfazer dos objetos (!) ou então vestirem a camiseta do avesso. Definitivamente, o cara morre e não vê tudo em termos de estrelismo dos frequentadores do showbiz. Ainda por cima, tem o passado fascista do cantor da banda americana, às voltas com ataques diretos a imigrantes, negros, gays. Imagino que sejam todos eleitores e entusiastas de Bush Jr. e Schwarzenegger. Definitivamente, esses caras – Axl, James Hetfield, Lars Ulrich – não merecem teu suado dinheirinho.

3. O som, que é, afinal de contas, o que realmente interessa:
O Metallica foi uma das bandas mais importantes do metal nos anos 1980, promovendo uma pequena (na verdade não tão pequena assim) revolução no estilo, que, a partir das fusões com outros estilos, passou a ter a credibilidade que não possuía antes. Com o álbum preto (‘Metallica’, de 1991), estourou nas paradas como já prometia desde o anterior (... And Justice For All’, 1988), quando ‘One’ obteve alta rotação na MTV. O problema é que por conta de baladinhas radiofônicas e a produção pra levantar arena de Bob Rock (Aerosmith, Motley Crue, Bom Jovi, sente o drama!), a coisa diluiu de tal maneira que os antigos fãs, mais radicais, largaram a banda, por notarem que o som agressivo e sem concessões de antes deu lugar a um negócio que até poderia se batizar de um novo gênero que surgia, o que não é exatamente um elogio: o trash radiofônico. Quanto ao Guns, Axl juntou tanto músico que a maçaroca rococó – que substitui o hard rock altamente derivativo mas razoavelmente honesto do início – dos caras soa, às vezes, como um troço semi-progressivo (aquelas músicas longas como ‘November Rain’ e ‘Estranged’, argh!), às vezes baladinhas FM padrão, às vezes rockzinhos manjados. Mas o pior mesmo é o seguinte: quando se sente falta daquele marketing surrado de banditismo roqueiro – quebra-quebra de hotéis, encrencas com integrantes de outras bandas, detonação desenfreada, que também fez a fama do Oasis –, é porque o negócio realmente tá carente. O Guns, hoje, não tem mais nada a ver, é totalmente over – se já não era antes.

4. O local dos shows:
Parque Condor (?), em substituição ao glorioso ‘Zequinha Stadium’ do tio Noveletto, pro show do Metallica, é uma total incógnita. Conheces? Nem eu. Eles (promotores do evento) também não devem conhecer. Eu não encararia. Gigantinho (Guns), casa de shows do CAMPEÃO DE TUDO, tem aquele velho e conhecido problema da acústica. Dizem que o COLORADO, em seu projeto de reformas do BEIRA-RIO, prevê uma ajeitada no Gigantinho também. Precisa.

5. Por fim, deixar de ir a esses ‘espetáculos’ seria também um ato político: dar uma banana nesses ‘promotores de eventos’ da cidade, que só trazem gente em final de carreira, enganadores ou bandas no auge do sucesso (mas longe da relevância artística).

2 comentários:

  1. Alô José!!! leio entusiasmado esse post sobre a farsa roqueira trash metal melódico que ambas as bandas em tour pelo país representam tão bem. Só faltou o Kiss para completar a trinca. Mr Johnny Cash é 'A RECOMENDAÇÃO'. Mas lhe passo outras duas: Invictus, do melhor diretor de cinema da atualidade, Mr Clint, e o documentário sobre o Tyson que, injustamente, só entrou emcartaz em uma miserável sala aqui da pauliceia encharcada. Fui, mas volto. Abraços, irmão.

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  2. Bah, mas onde é que tu andavas, homem? A pauliceia encharcada e o pampa na seca total, com um calor insuportável de 40 graus (com sensação pra mais de 45). O Batista, ex-dupla Gre-NAL, hoje comentarista da RBS ('hein, ô, Batista'), desmaiou em pleno ar, hoje, enquanto comentava o jogo do teu time. Foi atendido e passa bem, ao que consta. Pelo menos não temos por aqui terremotos ou tsunamis, mas vamos combinar que é só o que falta: cada chuva mais grossa que dá é um monte de desabrigados, desabamentos, vítimas, gente que perde tudo. E querem fazer Copa no Brasil. Por aqui, logo que saiu o anúncio, ouvi falarem até em limpar o Guaíba - ouvi sim e não adianta dizer que não! -, mas depois que viram que nem pro sonhado metrô vai ter financiamento, pararam de viajar um pouco. É uma pouca vergonha. O pior é que daqui a pouco essas malas tão de novo na TV, no Rádio, na rua pedindo voto. Mas nesse fim-de-semana vi um filme brasuca do c*: 'Se nada mais der certo', com o grande João Miguel ('Estômago'), o Cauã Reymond (bah, o cara se sai bem, devo dizer que não levava fé no sujeito, talvez por preconceito - galã de novela ...). Mas quem rouba a cena é uma atriz chamada Caroline Abras, que compõe um dos personagens mais inesquecíveis dos últimos anos no cine BR, a(o) traficante Marcin. Tem ainda o Milhem Cortaz compondo mais um tipo marcante, a traveca Sybelle, que diz a Marcin que ele(a) deve ser mais 'profissionalista', numa das primeira cenas do filme - o Cortaz tava em 'Carandiru' e 'Tropa de Elite' (nesse último faz aquele 'recruta' pra quem o Capitão Nascimento 'pede pra sair', porque ele tá 'com medinho'.) É um filmão, mas deprê pra burro, 'no future' total. Ainda tem uma cena que eu gostaria de ter feito: na hora de dar um golpe no QG de uns políticos, aparece um trio armado e mascarado. De quem são caras nas máscaras que os caras usam? Collor, Sarney e FH. A fudê. Ah, em breve devo estar fazendo o texto sobre a nossa saudosa 103.3, que por sinal este ano completa seus 15 anos. Abraço, irmãozinho, te cuida e não some.

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