quarta-feira, 18 de agosto de 2010

My Life in Lists – discos (90’s)

BEASTIE BOYS – Check Your Head (1992)
Um dos dois discos fundamentais do trio Ad Roc/Mike D/MCA – o outro é ‘Paul’s Boutique’ (1989) – ‘Check Your Head’ não é um disco apenas de hip-hop: aqui os caras se armam de guitarra, baixo e bateria, e, com o auxílio do percussionista Eric Bobo e do tecladista Mark Ramos Nishita (AKA Money Mark), samples de Jimi Hendrix e referências que vão de Sly Stone ao soul jazz e as trilhas blaxpoitation setentistas, compõem um álbum excitante (originalmente duplo em vinil), inspiradíssimo. Clássicos às pencas: ‘Jimmy James’, ‘So Watcha Want’, ‘Gratittude’, ‘Funky Boss’, ‘Pass The Mic’, ‘Someting’s Gotta Give’ ... O álbum de hip-hop da era grunge.

NIRVANA – Nevermind (1991)
Falar da importância do segundo álbum do Nirvana para a indústria é chover no molhado, típico caso de “antes e depois de”. Não que ‘Nevermind’ tenha causado uma ruptura estética significativa – tudo que está aqui já havia sido trabalhado por ‘n’ bandas antes –, mas ao escancarar as portas das majors e das paradas para o som alternativo, acabou por tornar o negóciod e música pop um pouco mais decente. Sem falar no fato inescapável de ter servido perfeitamente de trilha sonora para a juventude angustiada de seu tempo – outro clichê. Podem ficar brabos, ms é verdade: o Nirvana foi o que ficou do grunge. Os outros são todos secundários. A famigerada ‘Smells Like Spirit’, ‘Breed’, ‘Drain You’, ‘Polly’, ‘Something In The Way’, ‘Come As You Are’, ‘In Bloom’ ... Nada se perdeu. O posterior ‘In Utero’ é tão bom quanto este – mas mais contido, travado, bem no clima junky em que Kurt se meteu e infelizmente não saiu.

CHEMICAL BROTHERS – Dig You Own Hole (1997)
Poucos discos de rock soam tão rock como este segundo álbum dos irmãos químicos, Ed Simmons e Tom Rowland. Uma colagem sensacional de sons lisérgicos, que chega ao absurdo de juntar mais de 300 samples em uma só música (convenientemente batizada ‘Databank’), tem a manha de chamar o pessoal do Mercury Rev (em 'The Private Psychedelic Reel’, veradeira sinfonia psicodélica) e revisitar a beatle ‘Tomorrow Never Knows’ (‘Setting Sun’, cantada por Noel, do Oasis). E ainda tem o baticum viciante de ‘Block Rockin’ Beats’, a bela ‘Where Do I Begin’ (com a voz de Beth Orton), o transe de ‘It Doesn’t Matter’, a paulada funky da faixa-título. Diversão non stop para as massas.

PRODIGY – The Fat of the Land (1997)
Ao lado de ‘Nevermind’ (Nirvana), o álbum punk noventista. Tem muito de Sex Pistols aqui, não só no visual do doidão Keith Flint, mas na levada agressiva de uma pá de faixas: ‘Serial Thrilla’, a cover de ‘Fuel My Fire’ (L7), especialmente ‘Firestarter’ (um hino roqueiro dos 90’s), mesmo ‘Smack My Bitch Up’ e ‘Breathe’. ‘Narayan’ leva o ouvinte às nuvens, ‘Mindfields’ faz pensar que uma bad trip pode não ser tão ruim assim, ‘Diesel Power’ é hip-hop esquizo/chapadão (com rap de um dos heróis de Liam Howlett, Kool Keith) ... Quem não ouviu o disco três, quatro vezes, em mais de uma ocasião, e a excitação só aumentava após cada uma delas? Nunca mais o Prodigy voltou à velha forma, uma pena.

DEPECHE MODE – Violator (1990)
O disco definitivo do Depeche, que serviu para que os antigos detratores, preconceituosos, firmasse novo conceito sobre o grupo. Denso, dark, retrato perfeito das incertezas da virada dos anos 1980 para os 1990, um ‘Achtung Baby’ (ou ‘Zooropa’) mais sofrido. David Gahan prova pela enésima vez que é um baita intérprete – e repetiria o feito várias vezes depois. Ao hit ‘Enjoy the Silence’ (‘Words like violence/Break my silence/Come Crashing In/Into My Little World’) somam-se composições inspiradas como ‘The World in My Eyes’, ‘Halo’ (minha preferida), ‘Personal Jesus’ (gravada depois por ninguém menos que o men in black em pessoa, Johnny Cash), ‘Policy of Truth’, ‘Clean’. O Depeche é um caso sério, não dá pra querer negar.

MASSIVE ATTACK – Mezzannine (1998)
O álbum mais sombrio do então trio de Bristol, e que trouxe os caras ao Brasil: a turnê de divulgação de ‘Mezzaninne’ inclui datas no falecido Free Jazz Festival, e Porto Alegre viu o show, excelente, no Teatro do Sesi. Se o primeiro disco é um clássico absoluto dos anos 1990 – ‘Blue Lines’ lançou as bases do triphop –, e o segundo, e o luxuoso ‘Protection’ segurou a onda, este é o disco mais roqueiro do grupo – a ponto de causar discordâncias internas sérias. A matadora sequência de abertura – a pesadona ‘Angel’ (regravada pelo Sepultura), a sinistra ‘Risingson’, o hit ‘Teardrop’ (com a brilhante participação da fada dos cocteau Twins, Liz Fraser), a orientalizada ‘Inertia Creeps’ – é inigualável, mas ‘Man Next Door’, com Horace Andy mais uma vez arrasador e sample muito bem sacado de ‘10:15 Saturday Night’, do Cure, ‘Dissolved Girl’ e a faixa-título não ficam muito atrás. Só este ano é que o Massive Attack foi entregar aos fãs um álbum digno de sua gloriosa trinca inicial – mas ainda assim ‘Heligoland’ não resiste à comparação com ‘Mezzaninne’.

PJ HARVEY – Dry (1993)
O feroz álbum de estreia de Polly Jean tornou-se um dos preferidos de Kurt Cobain, logo que lançado. Não é difícil entender por que: boas melodias, influência sutil porém marcante do blues, letras iradas. ‘Sheila NA Gig’ e ‘Dress’ são os hits, mas tem ainda o lamento de ‘Oh My Lover’, ‘Happy and Bleeding’ (sobre mesntruação!), a acachapante ‘Water’ (minha preferida) ... O início de uma trajetória brilhante.

MERCURY REV – Desserter’s Songs (1998)
Este disco marca uma guinada significativa do grupo americano: um álbum pastoral, de tinturas folk, depois dos ultra-barulhentos trabalhos iniciais – chegaram a ser expulsos do palco de um show no Festival Lollapalooza, em meados dos anos 1990, porque as autoridades de uma localidade do interior dos Estados Unidos, atendendo reclamações da vizinhança, constataram que o MR tocava em um nível de decibéis muito acima do permitido. ‘Desserter’s ...’ abre com a floydiana ‘Holes’, tem ainda a linda ‘Tonite It Shows’, a arrepiante ‘Endlessly’ (e seu som de serrote), a bacana ‘Goddess On a Hiway’, as sinfônicas ‘Opus 40’ e ‘Hudson Line’. A participação dos The Band Garth Hudson e Levon Helm é um achado. O disco psicodélico/onírico da década.

SONIC YOUTH – Goo (1990)
Certo que não é o melhor disco de Thurton, Kim, Lee e Steve, mas aqui o caráter sentimental fala (muito) mais alto: foi o álbum que mais ouvi em uma época muito especial, meu exílio norte-americano (e só fui ver os caras ao vivo 5 anos depois, em San Francisco, e depois de novo em São Paulo, em 2000). O primeiro álbum do SY por uma major traz canções com claro teor pop mas a velha pegada punk/experimental que fez a fama do grupo na trinca clássica que o antecede (‘EVOL’/‘Sister’/‘Daydream Nation’). Os petardos vão se sucedendo: ‘Dirty Boots’, ‘Tunic (Song For Karen)’ (sobre Karen Carpenter, uma das obsessões do quarteto), a feminista ‘Kool Thing’ (com participação engraçada de de Chuck D), ‘Mote’ (cantada por Lee), ‘My Friend Goo’, ‘Disappearer’, a instrumental ‘Mildred Pierce’, ‘Cinderella’s Big Score’. Quem falou que este álbum não está altura dos clássicos do grupo?

PAVEMENT – Crooked Rain, Crooked Rain (1995)

A última bolachinha a ser incluída na lista, ganhando no tapa de ‘Angel Dust’ (Faith No More, 1992) e ‘Chocolate and Cheese’ (1994, Ween). A melhor guitar band dos anos 1990 (quen me perdoem os fãs dos Pixies), e o álbum mais equilibrado, tão espontâneo quando o debut, ‘Slanted and Enchanted’, mas sem a tosqueira, e já incluindo as referências ao rock e ao pop clássicos que dominariam sua produção nos discos finais. Um disco que tem composições como ‘Range Life’, ‘Gold Soundz’, ‘Cut Your Hair’, ‘Elevate Me Later’ e ‘Stop Breathin’ não tem nada faltando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário